quinta-feira, fevereiro 26, 2015

A visão.

Numa conversa no Facebook, o Miguel Pereira criticou o meu ateísmo escrevendo que «Dentro da tua visão ateísta, vazia de "qualquer implicação ética, moral, legal ou o que seja", não há nada de errado com a escravatura, desde que os seus [praticantes] consigam racionalizar isso em seu favor.» A ideia do ateísmo ser intrinsecamente imoral ainda persiste em países teocráticos, onde se considera o ateísmo uma forma de terrorismo, ou entre crentes menos progressivos, como o falecido José Policarpo, para quem o ateísmo seria «o maior drama da humanidade»(1). Felizmente, em sociedades laicas, a maioria dos crentes percebe que fazer do ateu um bicho papão é demagogia ridícula. Por isso, o mais interessante no comentário do Miguel são outros dois erros que, sendo mais subtis, são mais comuns.

O ateísmo consiste simplesmente em encarar todas as religiões como o crente encara aquelas que não são a sua. Ou seja, como fenómenos humanos e culturais em vez de conhecimento acerca do divino. E, tal como concluir que Odin ou Osiris não existem não nos diz nada acerca da escravatura ou do homicídio, também o ateísmo, por si só, não tem implicações éticas nem morais. Em contraste, para o crente, assumir que os dez mandamentos, a sharia ou o dharma foram inspirados por uma divindade suprema parece resolver o problema de encontrar regras morais. Esta diferença cria a ilusão de que o ateu se priva de moralidade por não tomar o atalho da fé quando, na verdade, o crente que fundamenta a sua moral na religião é que perde a parte crucial do processo de adoptar valores morais.

A moral é o conjunto de regras que regulam o nosso comportamento enquanto a ética é a procura racional e crítica pelas melhores regras, fundamentando-as em princípios universais e consistentes. Por isso, quem adopta um sistema moral simplesmente por ser o da sua religião fica com uma moral sem ética. O ateu também pode cometer este erro se for buscar cegamente os seus valores a algum lado, de forma acrítica. A uma ideologia política, por exemplo. E, com a secularização da sociedade, cada vez mais crentes compreendem que a sua crença é demasiado pessoal para fundamentar regras sociais, recorrendo à ética para filtrar criticamente as regras que adoptam da sua religião. Por exemplo, poucos cristãos portugueses de hoje concordarão com Tomás de Aquino acerca da necessidade de matar os hereges (2). O que importa não é ter uma religião mas sim ter ética. Ou seja, procurar as melhores regras morais de forma crítica e consciente em vez de adoptar aquelas só porque estão naquele livro.

O outro erro do Miguel é o de sobrestimar a importância do ateísmo para o ateu. É uma dificuldade comum no diálogo entre ateus e crentes. Se o Miguel falar com um budista, muçulmano ou judeu, intuitivamente percebe que essas religiões serão tão fundamentais para esses crentes quanto o cristianismo é para o Miguel, constituindo para estes uma visão do mundo e até uma parte importante da sua identidade pessoal. Mas o ateísmo não é nada disso. O Pai Natal não existe, Zeus não existe, Jesus, se existiu, foi apenas um homem e Maomé ou andava a enganar os seguidores ou estava tão iludido quanto eles. Isto são meros factos históricos que não constituem qualquer “visão ateísta” nem são particularmente importantes. É verdade que muitos ateus se preocupam com a persistência de crenças falsas e, entre estas, as crenças religiosas sobressaem pela popularidade. Mas isto deve-se apenas aos problemas que as crenças falsas podem causar, quer seja a crença de que se vai para o paraíso se se matar infiéis quer seja a crença de que não se deve vacinar as crianças. O que me leva a escrever tanto sobre ateísmo e religião é a influência das crenças religiosas. Se não fosse isso, explicar que não existem deuses seria tão importante quanto explicar que não existe Pai Natal.

Este é o aspecto do ateísmo que é mais difícil para o crente compreender e que, mesmo quando compreende, é difícil de aceitar. Que haja outras religiões o crente pode aceitar consolando-se com a ideia de que, pelo menos, todas exigem fé na existência de algum deus. Daqui é um pequeno passo para incluir nas “outras religiões” uma caricatura do ateísmo. O fundamental, para alguém como o Miguel, é que a ideia de deus permaneça a mais importante para definir coisas como a moral ou a visão do mundo, nem que seja pela descrença. Mas não é esse o caso porque aquilo que determina a visão do mundo ou sistema moral de um ateu não exige assumir nada acerca de Zeus, Osiris ou Jeová. Por exemplo, para mim, a condenação moral da escravatura não tem nada que ver com deuses nem com o ateísmo. Tem que ver apenas com as pessoas. E a conclusão de que as teses sobrenaturais das religiões são mera ficção não constitui, para mim, nenhum fundamento para uma “visão ateísta” ou moralidade. É apenas bom senso. Reconhecer esta perspectiva é difícil para alguém como o Miguel porque implica reconhecer que ninguém precisa de definir a sua visão do mundo ou a sua moral com referência aos deuses, à fé ou à falta dela. Para quem assume que a ideia do divino é uma coisa fundamental e que, por isso, se esforça tanto para acreditar em proposições obviamente falsas, é naturalmente constrangedor perceber que a ideia é desnecessária e que o esforço é inútil.

1- DN, Cardeal diz que maior drama é a negação de Deus
2- Senza pagare, S. Tomás de Aquino explica o perigo da heresia

14 comentários:

  1. Penso que ainda há espaço para explorar um outro tipo de argumento. A busca pelas melhores regras, quer a um nivel individual quer pelos "criadores" de livros sagrados, não é arbitrária do ponto de vista biológico. Observando diversas espécies de animais de intensa interacção social é possivel inferir que estas também se regem por uma "moral", ou seja, também tém códigos de conduta que regulam a interacção social.
    Em geral, qualquer espécie com necessidades cooperativas tem "moral", mesmo as que não tém religião. Uma questão interessante é se as espécies culturais, que não a humana, vão além do que está pré-programado e também desenvolvem morais culturais.....

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    1. Refere-se aos leões que matam gazelas?

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    2. Os leões não são da mesma espécie das gazelas. Os códigos morais em questão são intra-espécie.
      Mas já agora não te ocorreu perguntar se não me referia ao Cristo e seus sanguinários seguidores a lambuzarem-se vorazmente com um inocente cordeiro?

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  2. Em geral concordo com a visão do Ludwig. Quem disse que os ateus têm de ser insensíveis? Até parece que o humanismo nasceu nas religiões...

    Acrescento ainda: é uma pena que as pessoas se deixem ficar demasiado pelo conhecimento obtido por uma só crença. Faz falta que as religiões (e as culturas de uma forma mais abrangente) sejam ensinadas e que as pessoas possam entrar em contacto com outras forma de ver e de viver o mundo.

    Basta ver a reacção que o boguer Lucas deixou a respeito do meu comentário no post anterior. Só mostra uma completa incapacidade para lidar com quem pensa de forma diferente. Acresce a isto a ideia de que a ciência é "só mais uma crença", e com isso deixam de pensar de forma abstracta e fora das ideias pessoais e culturais - é realmente uma pena.

    Pessoalmente, definir-me-ia como um crente com demasiadas dúvidas, perto até de ser ateu. Mas também dizem que ter dúvidas é sinal de religiosidade, pelo que ainda não sei realmente o que me define.
    Também já pensei em converter-me ao Budismo - dizem que permite que se seja religioso e ateu em simultâneo... O problema do vegetarianismo é que me deixa aqui a pensar. Não há realmente bela sem senão, e que seria de mim sem uma bela posta mirandesa de vez em quando?

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  3. Ludwig,

    misturas a teu bel-prazer teísmo, ateísmo, crentes, não crentes, ciência, moral, ética, religião... Quando se esperaria, segundo a melhor praxis crítica, uma cuidadosa destrinça, para não confundir ignorantes ou incautos, eis que temos mais do mesmo, porque ler exige, pensar cansa e demora e laborar ainda mais.
    Demais a mais, não tens a objetividade nem a imparcialidade adequadas e necessárias ao tratamento destas questões.
    Tens as tuas opiniões e estás no teu direito, mas não vais muito além disso. E já não espero, porque não acredito, que venhas algum dia a mudar. Tu não te estás nas tintas para a religião, nem para os cristãos...Tu estás-te nas tintas para a verdade. Embora te arrogues detentor dela. E era preciso que a verdade fosse a tua paixão, para poderes mudar.
    Aquilo que tem valor para cada um de nós é importante e pode ser decisivo nos processos de pensamento, ação e produção.
    Mas nada, nem ninguém te obriga a reconhecer valor, seja no que for.
    No teu foro íntimo,o rei és tu. A tua consciência moral nem sequer existe.
    O ateu, ao pressupor a completa e absurda irracionalidade de tudo (paradoxalmente racional e argumentada), não reconhece limites, porque o limite está nele próprio e é, ele próprio, o critério, o único critério. A noção de dever, para o ateu, é, em última análise, uma aberração, como aliás tudo o mais.
    A noção de conveniência dos fins é que lhe dita a conveniência dos meios.
    A liberdade do ateu nunca poderia ser exercício de um qualquer dever, porque ela é (ou não é) o exercício de um poder.
    Se Deus não existe, dentro desses limites de poder, tudo te é permitido. O poder, o ser, é a racionalidade do ateu. Um homem, sem Deus, não é um deus é deus, é o fim e o critério e a medida.
    Nenhum sacrifício pessoal para este deus tem justificação e nenhum valor mais alto se alevanta.
    A ética, a moral, as leis, as religiões, a ciência, as artes, a vida, tudo, está na disposição da vontade ou dos caprichos do indivíduo, para quem não há outra razão melhor que ele próprio.
    O cristão, até o mais simples e analfabeto, se cristão de verdade, sabe claramente que há valores maiores que a própria vida, que o universo... E não tem dúvidas, porque sente e pensa isso como uma evidência, sem que isso o diminua, bem pelo contrário...
    O ateu não deve nada, nem sequer procurar verdade e coerência.

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  5. OS PROBLEMAS LÓGICOS DO LUDWIG COM VALORES E NORMAS MORAIS

    Sempre que tenta defender as (suas) normas morais o Ludwig envolve-se em contradições lógicas, confirmando a irracionalidade do ateísmo. Vejamos:

    1) O Ludwig é naturalista, acreditando que o mundo físico da matéria e da energia é tudo o que existe. Sendo assim ele tem um problema, porque valores e normas morais não existem no mundo físico, porque não são matéria ou energia.

    2) O Ludwig diz que a observação científica é o único critério válido de conhecimento. Ora, nunca ninguém observou valores e normas morais no campo ou em laboratório, nem eles podem ser fotografadas, tocadas, cheiradas, medidas ou pesadas.

    3) O Ludwig diz que a moral é de criação subjetiva. Ora, se são os sujeitos que criam valores e normas, então eles não estão realmente vinculados por eles, podendo cada um criar valores e normas a seu gosto, o que nega a própria existência de normas morais.

    4) Se a moral é subjectiva, como o Ludwig diz, dificilmente se poderá justificar qualquer pretensão de conferir validade universal às pretensas normas proclamadas pelo Ludwig.

    5) O Ludwig está sempre a dizer aos outros que não devem dizer aos outros o que devem ou não devem fazer. Ou seja, ele faz exactamente o que diz que os outros não devem fazer.

    6) O Ludwig afirma que o Universo, a vida, o Homem e o seu cérebro foram o resultado de processos aleatórios e irracionais, pretendendo depois deduzir normas morais da ideia de racionalidade universal, o que é irracional e ilógico porque, em seu entender, só existe mesmo a irracionalidade universal.

    7) Dos milhões de anos de processos cegos e aleatórios de crueldade, dor, sofrimento e morte que supostamente estão na origem do homem não se deduz logicamente qualquer dignidade intrínseca do ser humano nem qualquer dever moral ou racional de fazer isto ou aquilo.

    Conclusão: sempre que fala em valores e normas morais o Ludwig é irracional e arbitrário.

    P.S.

    É claro que muitos ateus têm valores! Também eles foram criados à imagem de um Deus moral e muitos vivem com dignidade e liberdade numa civilização judaico-cristã.

    O problema é que os ateus não conseguem justificar logicamente esses valores a partir da visão do mundo naturalista e evolucionista a que aderem pela fé.

    Como diz a Bíblia (Romanos 1, 21 e 22):

    “tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças…”

    “…dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”.


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    1. Criacionista, o Ludwig não acredita "que o mundo físico da matéria e da energia é tudo o que existe" ... Sei disso por causa de discussões que tive com ele sobre o assunto.

      Naturalismo não é a crença de que a matéria e a energia é tudo o que existe. Estás a confundir com o materialismo ou fisicalismo, mas mesmo assim, também geralmente assume que existem coisas que não são matéria nem energia, mas que surgiram ou dependem deles.

      Elaboraste um argumento começando com uma premissa falsa e uma falácia do homem palha. Não és credível.

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  6. Que vídeo mais ridiculo!!! É este o grande argumento para explicar a origem do mal? A sério?!?

    Eu recomendo meu caro, que compre e leia a Biblioteca Nag Hammadi (em Portugal há uma boa tradução da Ésquilo). Lá pode encontrar uma perspectiva diferente, o gnosticismo, que caso não saiba, era uma das principais vertentes do cristianismo emergente. Lá o Deus de Abraão, Isaac e Jacob é o Arconte, o demiurgo mau e perverso, que por vaidade cria o mundo sem saber que existe para lá dele algo de mais poderoso e abrangente. É uma ideia deveras curiosa e que muito influenciou o pensamento cristão dos primeiros séculos.

    Nada como ter uma perspectiva totalmente diferente, um pouco de cultura religiosa para perceber que existem, mesmo dentro do cristianismo, vertentes com melhores respostas - "a queda" é a origem do mal... realmente! A culpa é da ciência e dos evolucionistas... que miséria de argumentos.
    Imagem só, que até os parasitas, foram criados pelo pecado... realmente é o diabo!

    Esse vídeo é lixo! Pura perda de tempo! Não tem nada de novo, não ensina nada de novo!

    Quando é que os criacionistas aprendem a apresentar factos novos? Quando é vão apresentar uma hipótese que seja possível de por à prova? Quando é que vão conseguir apresentar algo que não seja dizer "a Bíblia diz"? Em suma, quando vão conseguir apresentar uma ideia capaz de fazer frente à evolução, em vez de simplesmente tentarem dizer "eu não acredito na evolução", como se isso fosse importante para a ciência....

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  7. Sou um ávido leitor deste blog e poucas vezes tenho comentários a fazer porque concordo com os argumentos e aprecio o estilo em que são apresentados.

    Com o intuito de alargar um pouco o âmbito do debate, que me parece muito centrado na oposição entre ateismo e a tradicao judeo-crista.

    Neste artigo existem alguns pontos com os quais não concordo totalmente. Na minha visão nem todas as religiões são teístas, por exemplo muitas das variantes do Budismo são ateístas. Buda não é visto como uma divindade, Buda foi um homem que morreu há muito séculos, um homem sábio, mas ainda assim um homem. Os ensinamentos de Buda foram "descobertos" por ele em meditação, sem intervenção direta de entidades divinas, e foram passados por via oral durante séculos. É sabido pelos escolásticos Budistas que muito dos textos foram adicionados posteriormente e alterados durante o processo de transmissão, por isso é difícil suportar opiniões dogmáticas no textos Budistas. Com certeza que muito o farão, mas a opinião comum dos actuais lideres não suporta tal acto.

    Existem deuses(ou anjos) na cosmologia Budista. Mas a diferença em relação a outras tradições religiosas é o peso que estas ideias tem sobre a vida diária do seus praticantes. É perfeitamente aceitável um Budista não aceitar a existência de deuses, negar o renascimento como mera superstição, não aceitar a existência de milagres, e até considerar que Buda nunca existiu e é uma imagem de ficção e, ao mesmo tempo, considerar que a filosofia de vida apresentada nos textos Budistas constitui uma forma de ética ateísta.

    No Budismo a ética é baseado no conceito de karma, no fundo a observação de que tudo o que se diz ou faz tem consequências, e também a classificação destas consequências como positivas ou negativas. Se eu gritar com alguém e for ofensivo, essa pessoa não me vai dirigir palavras simpáticas nem me vai convidar para beber um café; no entanto se for simpático e considerativo, posso esperar um tratamento semelhante. E assim, sem mais, temos uma ética que leva as pessoas a optar pelo bem e afastar-se do mal. Sendo que o mal é tudo aquilo que causa sofrimento a outros. Sem Deus, sem Buda, sem pecados, sem castigos divinos, sem anjos ou demónios a influenciar o nosso comportamento, simplesmente a observação da realidade da nossa experiência. O bem não é propriedade de Deus nem da religião, é propriedade do homem e da sua mente, da capacidade de tomar decisões conscientes, é assim que os homens que não aceitam a Deus distinguem o bem do mal e regram a sua vida. O humanismo não necessita Deus, nem sequer os ensinamentos de Buda, para chegar a regras de conduta que são consideradas por todos como sendo morais. Relacionar a moralidade, a ética ou a noção de bem e mal com a existência de Deus não tem qualquer fundamento.

    O meu ponto principal é que a divisão no debate não deveria ser entre ateísmo e religião, mas sim entre ateísmo e teísmo. E espero que a minha argumentação a favor do humanismo demonstre que isto faz sentido.

    Disclaimer:
    Sou Budista, ramo Theravada, e ateísta. Sou pró-ciência, o método cientifico é aquilo que nos fez evoluir de caçadores a agricultores, de agricultores a fabricantes e que tornou possível estes debates na Internet. O dogma religioso provocou sofrimento a milhões de pessoas ao longo da história (eticamente é mau) e ainda hoje, até no catolicismo progressista renascido depois do fim da inquisição, a leitura cega dos textos é um obstáculo ao avanço da sociedade.

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    1. Caro Rui,

      Antes de mais, devo dizer concordo com o seu texto, em especial com a observação "o debate não deveria ser entre ateísmo e religião, mas sim entre ateísmo e teísmo".

      O problema, parece-me, é fazer estes auto-proclamados defensores dos cristianismo perceber que existem outras religiões e mais importante que isso, existem outras culturas. Culturas essas, para as quais explicar o conceito de pecado é tão estranho como para alguém do nosso Portugal profundo que nunca tenha tido contacto com outra religião além do cristianismo, perceber o conceito de karma e mais estranho ainda do que significa um bodhishattva (sim, eu sei que disse ser Theravada, mas o que interessa é o choque cultural em termos de pensamento).

      De resto, como o próprio Cristo segundo os evangelhos disse: Mt. 7, 3:
      «é mais fácil ver o cisco no olho do irmão que ver a trave à frente dos nossos olhos»

      O que aplicando aos caros criacionistas fundamentalistas podemos parafrasear do seguinte modo: "é mais fácil dizer que os outros é que são fundamentalistas, que ver o nosso próprio fundamentalismo".

      É ainda interessante ver como muitas vezes estas pessoas (fundamentalistas cristãos, em especial) se apressam a criticar a forma dos outros pensar.
      Também para esse caso, devo citar mais uma passagem dos evangelhos: Mt. 15: 7-9 «Fingidos! Razão tinha o profeta Isaías para dizer a vosso respeito: Este povo honra-me com palavras, mas o seu coração está longe de mim. É em vão que eles me adoram, pois ensinam doutrinas que não passam de regras feitas pelos homens.»

      É essencialmente esta a visão que tenho desses fundamentalistas e para ser mais explicito, de todos os fundamentalistas - são uns fingidos que pensam estar acima dos outros e que lhes são moralmente superiores!

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  8. Relativamente à Ética e às posições assumidas pelas duas corrente de opinião que aqui se defrontam: o humanismo de carácter ateísta e o humanismo de carácter religioso, gostava de lembrar que os especialistas na área de Etiologia afirmam que a mente é mais uma excrescência absolutamente dispensável do que outra coisa qualquer mais taumatúrgica. E, no que respeita à sua fantástica especialização, parece que ela é mais uma espécie de tropismo gongórico, muito embora o grau de "sofisticação" atingindo. E, claro está, que a defesa sobre a sua indispensável importância ( a nossa importância ) seja ela própria produzida e advogada em causa própria, ou seja: a mente a defender-se a si mesma.
    Portanto, quando se exalta a Ética como uma qualidade superior, mas que em última análise, segundo a Etiologia, é arbitrariamente gerada pelos instintos, estamos naturalmente a produzir outra excrescência que se designa por Metafísica. Na verdade, a mente, para além de ser apenas um epifenómeno, que não vem acrescentar nada ao devir biológico quanto ao modo de sobrevivência, apenas confirma que todo o comportamento humano, incluindo o cortejo civilizacional e o verniz cultural que o acompanha e tenta suportar ( incluindo a Ética ), por mais sofisticado que se apresente, somente obedece ao arsenal dos instintos.

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    1. :-) Sem recurso intensivo a dicionário, se bem entendi, é assim que eu vejo a coisa......

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