quarta-feira, dezembro 31, 2014

Treta da semana (atrasada): Umbiguismo.

Algumas pessoas, raras, são tão geniais e têm um pensamento tão avançado para a sua época que muitos dos seus contemporâneos, não conseguindo alcançar tal visão, as julgam palhaços. Pessoas como Copérnico, Galileu, Darwin e Batatinha, por exemplo. Gustavo Santos é mais um nome a acrescentar a esta lista. É difícil perceber isto à primeira porque Gustavo Santos é um homem modesto. Logo no seu perfil, pede aos leitores «Não me chamem "famoso" ou "vedeta da televisão"»(1) e apresenta-se simplesmente como «um homem que sabe quem é e o que anda aqui a fazer». Parece pouco, mas as aparências enganam. O pensamento de Santos não só é revelador, avassalador e revolucionário como toca várias áreas distintas daquilo que preocupa a humanidade.

Durante milénios, pessoas relativamente inteligentes como Platão, Kant e Mill procuraram soluções para o problema de avaliar actos, guiar decisões e encontrar a melhor forma de viver. Pelo caminho inventaram conceitos confusos como virtudes, deveres, imperativos, utilidades, contratos sociais e noções de justiça. Uma enorme baralhada que não ajuda ninguém. Num rasgo de genialidade, Gustavo Santos revela-nos que a resposta esteve sempre ali, mesmo à nossa frente. No umbigo. «O amor da minha vida sou eu, ponto final parágrafo […] O amor da tua vida és tu.»(2) «Ser feliz é saber quem somos e respeitar o que desejamos, materializando. É sermos a pessoa mais importante da nossa vida»(3).

Também na etimologia o trabalho de Gustavo Santos sobressai. A palavra “presente”, que muita gente julgava vir do Latim praesum, do “é perante”, afinal separa-se em “pré” e “sente”. Portanto o presente, afinal, é o que ocorre antes de sentirmos, que Gustavo Santos separa do agora que é o que ocorre depois de sentirmos (2). Por exemplo, o período de aproximação rápida entre o martelo e o polegar é o presente, enquanto o agora é o período durante o qual o incauto martelador grita “F***-se! M**** para isto! Quem me mandou a andar a pregar coisas à p*** da mobília! C******!” É supreendente como a análise etimológica cuidada e bem fundamentada dá novos sentidos à nossa vida.

Mas o génio de Gustavo Santos não se limita à ética ou a questões linguísticas. Mostra-nos também como terminar, de uma só vez, com todo o sofrimento da humanidade. A doença, a fome, a miséria, as guerras, o ódio e a sede de poder assolam muitos milhões de pessoas tornando a sua vida num inferno. Não é preciso que assim seja e, graças a Gustavo Santos, já sabemos como resolver este problema. «Descobri que era um homem feliz quando percebi que a minha felicidade apenas dependia de mim»(4). É esta mensagem importante que temos de transmitir a toda a gente. A quem tiver perdido a casa e a família num bombardeamento e esteja agora a fugir de uma guerra. A quem tenha os filhos a morrer de sede. Aos órfãos esfomeados e abandonados e a quem a vida se esvai em pus e sangue numa cubata. A todos esses, que se julgam infelizes vítimas das circunstâncias, temos de dizer que a felicidade só depende deles. Que a fome não é uma tragédia. É uma oportunidade. Que a guerra não é um mal. É um desafio. Que se a morte dos filhos os entristece é porque, incautos, não decidiram amar-se a si próprios acima de tudo.

Gustavo Santos diz-se um “life coach”, alguém que treina os outros para viver. Na sua modéstia, aponta que apesar de ter «formação segundo as normas da ICF, International Coaching Federation», o que lhe dá «verdadeiras habilitações para trabalhá-lo com as mais variadas pessoas [...] é o facto de ser um homem verdadeiramente feliz.»(4) E qual é o segredo dessa felicidade? Que ideia invulgar permite a Gustavo Santos dizer tanta coisa genial sem corar de vergonha? É talvez a mais importante de todas, e aquela que dá a Gustavo Santos o lugar merecido no fecho de mais um ano de tretas:

«Tudo o que vale a pena nesta vida é aquilo que sentimos; o que pensamos [...] é mau entretenimento.»

Sigam o conselho de Gustavo Santos. Não pensem. Sintam apenas. Senão, se se metem nesse mau entretenimento que é pensar, não sentirão a genialidade de Gustavo Santos e ainda podem acabar confundindo-o com um palhaço. Até par ao ano, e bom 2015.

1- Gustavo Santos, Arrisca-te a viver, perfil.
2- Gustavo Santos, Quanto tempo esperarias pelo amor da tua vida?
3- Revista Progredir, Entrevista a Gustavo Santos
4- Gustavo Santos, Arrisca-te a Viver.
5- Gustavo Santos, Arrisca-te a Viver, Coaching.

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. «Descobri que era um homem feliz quando percebi que a minha felicidade apenas dependia de mim»

    «Tudo o que vale a pena nesta vida é aquilo que sentimos; o que pensamos [...] é mau entretenimento.»

    Para onde foi o cérebro dele? Era verde, veio uma vaca e comeu-o?

    Quanto a equacionar "felicidade" com sermos a pessoa mais importante da nossa vida (egoísmo), pode haver uma associação, mas pode não ser causal no sentido que ele quer implicar, e é ainda provável que ser altruísta crie felicidade (1,2).

    1. http://www.psychologytoday.com/blog/the-hidden-brain/201003/happiness-and-selfishness-paradox
    2. http://www.econstor.eu/bitstream/10419/20786/1/dp1487.pdf

    Maria Teodósio

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  3. Caro Ludwig,

    A solução é 42. O resto são referências a 42!

    Aproveito para desejar um 2015 melhor que 2014! (melhor = mais evoluído, que não resisto a uma pequena provocação :-)

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  4. Nietzsche anunciou a morte de Deus, Darwin destruiu o mito do Homem, Freud matou abusivamente o Pai e, agora, ao que parece, os neurocientistas assassinaram indevidamente a Mãe.

    O drama maior com que os neurocientistas se confrontaram até hoje ( e que jamais poderiam imaginar ) foi o de terem constatado que as suas próprias mães ( à semelhança de todas as mães da humanidade ) nunca gostaram dos filhos, porque ninguém gosta de ninguém. Esta descoberta, que encerra em si todos os condimentos de uma autêntica tragédia grega, foi realizada nos laboratórios do instituto J.Craig Venter há uns tempos. A experiência conduzida pelos investigadores daquele instituto, veio claramente demonstrar que os afectos, tal como o restante cortejo de sentimentos, emoções e pensamentos estão indissociavelmente ligados à sede egoísta dos nossos instintos. Por isso, foi um tremendo choque para os nossos cientistas terem percebido que até o gesto mais desprendido e de amor sublime revelado por uma mãe que sacrifica a sua própria vida para salvar a do filho não passa, afinal, do resultado implacável do seu "proto-egoísmo ".
    Na verdade, para aliviar a pressão homeostática vital, ou equilíbrio psico-funcional, que é experimentada numa situação limite como esta, uma mãe morreria ( aparentemente ) pelo seu filho, para não ter que sentir e enfrentar, se não morresse, a dor horrível da sua perda. Neste sentido, ela não morreria por ele , mas sim indubitavelmente por ela, ou seja: pelo seu egoísmo . Teremos no entanto que realçar que estes processos genésicos não são percebidos conscientemente.
    Assim, arranjar argumentos, doutrinas ou teorias que pretendam rebater esta ontogénica condição da natureza humana, é tarefa impossível. Não há como violar as suas leis. Tentar semanticamente induzir o contrário, é também reincidir na abusiva perspectiva da sua transcendência.

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    1. «[...]porque ninguém gosta de ninguém»

      Eu não posso acreditar que alguém acredite no que publicou!
      Eu definitivamente gosto de alguém! E tenho a certeza que há mais pessoas que gostam de alguém!
      Logo toda a sua argumentação cai por terra, afinal basta um caso para demonstrar a tese como errada. E eu assumo-me como um dos casos, e de certeza que o sr. Fernandes também há-de gostar de alguém, ou será que é uma ilha?

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  5. esta coisa do coaching é uma amálgama de trafulhices que nem sonham

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  6. Como é que pode alguém acreditar ainda no Pai Natal?!
    Um dos problemas com que a negação da primazia do arquicéfalo sobre o neocórtex se defronta para justificar o injustificável, talvez se encontre na desconstrução dos verbos dos afectos ( amar, gostar, estimar,etc). Aquilo que na verdade se antepõe ou se quer antepôr ao permanente emprego da primeira pessoa dos pronomes pessoais na lógica discursiva ( eu,eu,eu e reiteradamente eu) , não é natural. O que é natural, passe a redundância, é a natureza humana. E a natureza humana, na sua ultimidade, é aquilo que todos fazemos para nos atermos. Sem mais. Tudo o resto ( os outros ), é mera paisagem. Podemos ser todos Madres Teresas de Calcutá, mas o que no fundo subjaz é a "nossa" satisfação, a satisfação de agirmos e comportarmos de um determinado modo. E aquilo que de bem possamos fazer ao outro, apenas contará na medida em que realiza a nossa própria homeostase vital. O benefício que eventualmente proporcionámos, foi apenas o meio para atingirmos esse fim. No computo final da operação, naquele lugar onde radica a nossa essencialidade, pouco importa.
    "Eu" gosto; "eu" sou solidário; "eu" amo-te; "eu" sacrifico-me por ti, são tudo balelas do Pai Natal.
    Na verdade, para perceber este gigantesco embuste construído exactamente por um ego que parece alienar-se a ele próprio, é preciso criar as condições ideais para o aparecimento de uma consciência objectiva ( à maneira do método científico), uma unidade o mais densa possível de concentração observacional, com o mínimo de interioridade e o máximo de externalidade possível, em última análise, uma cirúrgica operação de esvaziamento emocional para perceber o "locus" da natureza humana.

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    1. «Na verdade, para perceber este gigantesco embuste construído exactamente por um ego que parece alienar-se a ele próprio»

      Mais uma vez não posso concordar!
      Eu gosto e ponto! Aconselho todos os que não gostam de alguém a arranjar de quem gostar, até porque dizem que faz bem ao coração.

      Definitivamente não concordo com essa visão maniqueista do mundo - pensava até que era coisa de há 2 mil anos... Parece que também tenho direito a estar errado!

      Mais uma vez a resposta é o famoso 42.

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  7. Pastor da Igreja Universal do Reino da Auto-Estima esse GS. :)

    http://ordet1.blogspot.pt/

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