quinta-feira, maio 22, 2014

Filosofar.

O Niel DeGrasse Tyson disse que a filosofia é uma perda de tempo, não serve para nada e não sai da cepa torta. O Massimo Pigliucci contrapôs que, pelo contrário, a filosofia é uma actividade meritória, útil e que demonstra progredir, mesmo que progrida de forma diferente da ciência (1). Eu estou de acordo. Com ambos. Gosto especialmente da forma como Pigliucci descreve a filosofia:

«Podes pensar na filosofia como uma exploração do espaço conceptual, em contraste com o empírico, acerca de muitos tipos de questão que vão da ética à política, da epistemologia à natureza da ciência. Imagina um terreno multi-dimensional de formas de pensar acerca de cada questão (como: será que teorias científicas descrevem o mundo como ele é ou devemos pensar nelas como apenas empiricamente adequadas?). O filósofo explora esse terreno construindo argumentos, considerando contra-argumentos e descartando ou refinando certas perspectivas.»

Esta descrição da filosofia como a exploração de formas de pensar acerca das questões em contraste com o teste empírico de hipóteses exprime bem a tese que já tenho aqui defendido: não há uma separação entre filosofia e ciência. Consideremos, por exemplo, o trabalho de Sara Seager (2), professora de física no MIT e consensualmente reconhecida como cientista. Em 2010 publicou o Exoplanet Atmospheres:Physical Processes, a bíblia dos processos atmosféricos de planetas fora do nosso sistema solar. Se bem que, agora, já haja dados espectroscópicos acerca da composição química das atmosferas de alguns desses planetas, os dados são mais recentes do que a maior parte do trabalho de Seager neste campo. Ela doutorou-se em 1999 com uma dissertação sobre atmosferas cuja composição ninguém conhecia. Ou seja, na acepção de Pigliucci – com a qual concordo inteiramente – a maior autoridade científica sobre atmosferas de planetas de outros sistemas solares é tão filósofa quanto cientista, pois o seu trabalho principal foi o de explorar o espaço conceptual de como pensar acerca da modelação dessas atmosferas. E se vos parecer estranho chamar a isto filosofia, pensem no que as pessoas diriam há uns séculos de quem especulasse sobre a atmosfera de planetas de outros sistemas solares*.

Isto é verdade por toda a ciência. A teoria da relatividade também resultou de Einstein ter explorado o espaço conceptual das formas de pensar acerca do espaço e do tempo antes ainda de ter dados concretos que fundamentassem a sua teoria. Em geral, antes de se poder testar empiricamente qualquer hipótese é preciso explorar o espaço conceptual onde a hipótese se encontra, esse tal espaço das formas de pensar acerca do problema. Portanto estou de acordo com Pigliucci. A filosofia é uma parte essencial da procura pelo conhecimento e da forma como compreendemos a realidade.

Mas também concordo com Tyson porque me parece que, infelizmente, para a maioria dos que se dizem filósofos e são reconhecidos como tal, a filosofia não é tanto uma exploração do espaço conceptual para além dos dados conhecidos mas mais uma desculpa para ignorar os dados que já se tem. Esta atitude pode ir de meramente ignorante a deliberadamente desonesta e está enraizada na cultura de muitos filósofos. Se alguém num departamento de filosofia quiser escrever uma tese sobre o tempo vão mandá-lo ler Platão, ou Agostinho, ou Heidegger ou o filósofo preferido do orientador. Mas será raro o filósofo que mande o orientando aprender matemática e estudar a teoria da relatividade ou mecânica quântica. Isso é ciência, não é filosofia, justificará o filósofo.

Este problema pode ser ilustrado com uma experiência conceptual, uma abordagem característica da filosofia. Vamos imaginar que 99% dos biólogos se dedicavam a escrever sobre os pântanos e as florestas húmidas de Vénus. Até meados do século XX era comum pensar-se que as nuvens de Vénus eram água e que Vénus era um planeta tropical húmido. Depois descobriu-se que a temperatura média de Vénus é de 420ºC e as nuvens são de ácido sulfúrico, mas vamos imaginar que a maioria dos biólogos descartava esses dados (“isso é física, não é biologia”, diriam), prosseguindo a tradição de escrever sobre pântanos e florestas em Vénus. Nestas circunstâncias, teria razão quem dissesse que a biologia era perda de tempo. Afinal, só uma pequena parte do que a disciplina produzisse teria interesse. Mas também teria razão quem dissesse que a biologia era uma parte importante da procura pelo conhecimento porque a biologia em si, tirando os 99% de trapalhice, seria à mesma legítima e útil.

A impressão que tenho do contacto com a filosofia, desde as aulas de mestrado ao que leio e discuto, é a de que a filosofia tem muito valor mas muitos filósofos abordam esta pesquisa pelo espaço conceptual da forma errada. Por um lado, porque não reconhecem a importância dos dados empíricos e da filosofia que se faz em ciência e agem como se fosse melhor explorar conceitos ignorando a realidade. Por exemplo, na filosofia da mente há muita gente séria que julga mais importante ler Husserl do que saber uma pontinha que seja de neurologia. Depois só lhes sai disparates. Por outro lado, esquartejam o espaço conceptual em coutadas estéreis de onde se recusam sair. É comum formarem cliques de fulanistas ou sicranélicos, cada um com a sua “tradição”, como se a filosofia fosse um clube de futebol ou uma religião. Entalam-se assim em preconceitos que impedem qualquer progresso. Por exemplo, andam há vinte séculos às voltas com o tal “problema do mal” que não é mais do que o problema de partirem de uma premissa falsa acerca da existência de certo deus.

A filosofia, enquanto pesquisa por um espaço conceptual, é fundamental para o progresso intelectual. Infelizmente, para muitos “filosofia” é apenas uma desculpa para inventar tretas sem ter de considerar os factos. Isto pode dar literatura com piada mas fica-se por aí.

* Admito que, além de dizerem que era filósofo, provavelmente diriam também que era herege e que tinha de morrer na fogueira. Mas o que me interessa aqui é a primeira parte, antes de vir a Inquisição.

1- Massimo Pigliucci, Neil deGrasse Tyson and the value of philosophy (via Facebook).
2- Wikipedia, Sara Seager.

20 comentários:

  1. Ah! Deus não existe, Ludwig? Mostra-me então cientificamente como chegaste a essa conclusão. Mas, por favor, não vás buscar o teu amigo imaginário unicórnio voador, ou o esparguete qualquer coisa ou o bule de chá. Para variar, uma coisa séria :-)

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  2. Sem problema, António. Só é preciso primeiro perceberes como funciona a ciência.

    Durante uns tempos julgou-se que a luz, sendo uma onda, se propagava por uma substância que permeava todo o espaço, e pela qual a matéria normal se podia deslocar livremente. Era o éter luminífero, invisível, inaudível, inodoro e muito difícil de se provar que não existia.

    Mas, se a luz realmente se propagasse como uma onda mecânica por esse meio, então a velocidade da luz medida em direcções diferentes, aqui na Terra, teria valores diferentes por causa da Terra se deslocar pelo éter luminífero também. Quando se conseguiu fazer essas medições e os resultados não foram consistentes com a previsão, os cientistas concordaram que o éter luminífero não existia. Nota bem: não passaram mais uns séculos a discutir o “problema da velocidade ser igual”. Simplesmente reviram a hipótese e passaram para outras.

    Exactamente o mesmo processo pode ser aplicado ao problema da existência de um deus omnisciente, omnipotente e omnibenevolente. Mesmo que esse deus seja tão invisível e tão indetectável, directamente, como o éter luminífero seria, é de prever que se existir tal deus ele vá, por exemplo, avisar as crianças que estejam prestes a pisar uma mina. Afinal, é o que qualquer pessoa minimamente bondosa – ou mesmo minimamente decente – teria a obrigação moral de fazer se visse que uma criança estava prestes a ficar sem pernas por, inadvertidamente, caminhar num campo de minas. Como o que se observa é inconsistente com aquilo que a hipótese implica, é cientificamente justificado rejeitar a hipótese. Exactamente como se fez com o éter luminífero, o flogisto, o calórico e uma data de outras hipóteses que a ciência já descartou.

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  3. Raio de exemplo!
    É muito bom ler o Ludwig e tanto para concordar como para discordar.
    Mas o uso do «problema do mal» neste artigo parece-me tão desleixado que "exijo" esclarecimentos.
    Lemos: «"problema do mal” que não é mais do que o problema de partirem de uma premissa falsa acerca da existência de certo deus.».
    Ora, não sei e acho que ninguém sabe que premissa existencial é essa. O problema é, desde a origem, conceptual. Trata-se de saber se um Deus que é super em poder, saber e bondade é *possível*. Tal ser é *compatível" com a existência do mal? E mesmo a existência do mal não está garantida porque todo o mal que possas apontar poderá ser mal relativo, blah, blah.
    Enfim, aguardo, obrigado pelos bons textos.

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  4. Inteiramente de acordo, aliás este não é um problema apenas da filosofia, é das humanidades em geral, onde se inclui também as artes. Os discursos podem ser diferentes, podem ser mais interpretativos, mas precisam de levar em conta o conhecimento produzido, e não serem apenas baseados em teoria do passado, que entretanto se pode ter demonstrado errada.

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  5. Obrigado pela resposta, Ludwig. Provaste que tens uma ideia pessoal de Deus a quem atribuis determinados comportamentos de acordo com as tuas expectativas. Como a tua Deus não age como pretendes então não existe, concluis. Felizmente que 1) ou sabes como eu responderia 2) ou não tens expectativas nenhumas a meu respeito (sou um caso perdido de casmurrice ou sou um ignorante quanto ao funcionamento da ciência e não quero ver a luz) e então podes afirmar que eu existo dado que respondi como achaste que eu devia responder.

    O teu problema é que atribuis a Deus, que colocas como hipótese, características humanas que eu e tu possuímos e até lhe apontas mais defeitos dos que nós os dois dado que nós avisaríamos a criança e o Deus em que acreditas não avisaria. Por isso, não aceitas o problema filosófico do mal. Nem o aceitas discutir. Colocas uma mina debaixo da primeira premissa e fazes como que ele impluda. Assim não há filosofia que resista. Rebentas com ela. Parece-me que os filósofos profissionais não te ficarão muito agradecidos. Para eles fazes o papel de "criacionista". A tua Bíblia é o cientismo.

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    1. Caro Parente, não percebo nada dessa reação. Primeiro, o Ludwig teve o cuidado de dizer de que Deus falava. Esse Deus até é bem abrangente, está de acordo, por exemplo, com o que me ensinaram no 2º catecismo (no 1º Deus era só "o nosso pai do céu"). Não vejo, portanto, a avançar uma «ideia pessoal de Deus» que, por ser pessoal, seria arbitrária, um espantalho, etc. Se fosse uma ideia errada e arbitrária, então bastaria avançar outra e melhor e tentar travar o argumento.
      Em segundo lugar, não percebo como podes dizer que o Ludwig não aceita o problema filośofico do mal quando... ele acabou de o apresentar o argumento com que responde a esse problema. É certo que o Ludwig está a brincar com a própria cabeça, no 1º texto descarta o problema e nos comentários discute-o, mas isso é outra questão.

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  6. O problema do Ludwig é sempre o mesmo e não há quem lho resolva, porque é daquelas coisas que ninguém pode fazer por ele. Agora a filosofia é ciência e a ciência é filosofia. Quando se põe a filosofar o Ludwig é científico. Quando se trata de ciência, está tudo em aberto. Parabéns senhor Ludwig, pelo contributo para a ciência (e para a filosofia). Está muito satisfeito com a filosofo-ciêncio-filosofa, ou seja, encontrou a pedra filosofo-científica. Há coisas que não o eram antes de o serem?

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  7. O problema das respostas religiosas é que são válidas se e só se lhes dermos o desconto que são para uso interno. Ou como os livros para uso do delfim...

    Explico:

    O problema do mal é resolvido pelo Craig, e penso que é a resposta melhorzita, dizendo que como não é possível demonstrar que Deus pudesse resolver as coisas de maneira melhor ligo não é possível demonstrar que agiu mal.

    Claro que o mesmo podemos dizer de qualquer acto reprovável.

    Não será possível demonstrar que se o palito ou o Stalin não fizessem o que fizeram o resultado não teria sido melhor.

    Penso que para qualquer pessoa razoável considera este argumento pobre.
    Se , como na legítima defesa, houve a defesa dum bem maior tem de ser demonstrado.

    Depois há o partir para conclusões mais ou menos lógicas partindo de princípios suspechosos.

    O perspectiva e a maior parte dos crentes afirmam que tem valores não subjectivos.

    Que não que são perpétuos e imutáveis e que tem uma certeza absolutissima da sua itrelatividade.

    Quando se pergunta em que se baseiam dizem que é em textos de autor anónimo e de confiabilidade mais que duvidosa.

    Quando reperguntados a doutrina divide-se:

    O perspectiva e o Mats metralham com versículos da Bíblia que afirmam que a Bíblia só fala verdade. Acrescentam extratos de artigos científicos que de alguma forma lhes podem ser favoráveis. Ignorando no mesmo artigo o que menos lhes agrada.

    Os católicos dizem que ele há textos, e autores, e filosofia que , sem sombra de dúvida, e para além do texto, que convém ver no contexto e no sob e sub texto, que com grande profundidade, tendo em conta a profundidade do assunto, remetem para outros textos, cuja profundidade e valir filosófico, para além de qualque dúvida, demonstram à saciedade e duma forma definitiva que o alegado legado é, sem qualquer relativismo , e para sempre a verdade absoluta.

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    1. O Sousa Ponte há de ver que a única parte dos artigos científicos que os criacionistas rejeitam nunca diz respeito aos factos. mas apenas à especulação, imaginação e ficção que eles contêm. Os criacionistas não rejeitam a ciência, mas apenas a ficção científica mascarada de ciência.

      Se tiver dúvidas, podemos sempre discutir a parte do artigo científico que nós rejeitamos e irá ver que isto é rigorosamente verdade.

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  8. Googlamos Massimo Pigliucci e aparece logo a quadrilha do costume: Dennet, Harris, Krauss, Shermer,.. Que seita!

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  9. FILOSOFIA HUMANA, REVELAÇÃO DIVINA E CRIAÇÃO DO UNIVERSO

    Os antigos filósofos gregos especulavam naturalisticamente sobre se o Universo veio da água, da Terra, do ar, do fogo, de uma quinta-essência ou de tudo ao mesmo tempo.

    Alguns diziam que o Universo é número, tendo uma estrutura matemática.

    Outros discutiam sobre se ele é uno ou múltiplo, atual ou potencial, se resultava de colisões aleatórias de átomos ou se estava subordinado a um princípio racional ordenador.

    No século I d.C., o historiador judeu Flávio Josefo notava que cosmologias dos gregos se cancelavam umas às outras, ao passo que aos judeus foi dada a única, verdadeira e imutável revelação divina acerca da Criação do Universo.

    Hoje em dia, em pleno século XXI, estamos exatamente na mesma situação. Já no ano 2014 foram há poucas semanas publicadas duas séries de estudos científicos acerca da origem do Universo.

    O primeiro foi publicado por cientistas do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics, e o segundopelo físico alemão C. Wetterich, da Universidade de Heidelberg.

    Nenhum dos estudos adotava premissas criacionistas, bem pelo contrário. Todos os cientistas envolvidos adotavam a visão do mundo naturalista.

    No entanto, os resultados a que chegam não ficam muito longe dos resultados a que chegavam as antigas cosmologias gregas.

    Do Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics chega-nos a conclusão de que o Universo teve um princípio, surgiu de repente, resultou de uma explosão quente e encontra-se em expansão.

    Da Universidade de Heidelberg dizem-nos que o Universo é infinito, que surgiu lentamente de um degelo frio e que se encontra em retração!

    Ou seja, como diria Flávio Josefo se aqui estivesse hoje, as cosmologias naturalistas continuam a cancelar-se umas às outras, apesar de terem os mesmos dados empíricos.

    A Bíblia ensina que todas as coisas foram feitas pelo Verbo (LOGOS) que é incarnou em Jesus Cristo e habitou entre nós. (Génesis 1; João 1)

    A estrutura matemática do Universo, a sua regularidade e as quantidades inabarcáveis de informação de que ele e a vida dependem corroboram inteiramente o que a Bíblia ensina.

    É por isso que o Apóstolo Paulo, no único texto da Bíblia onde se usa a expressão filosofia, diz:

    “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”.

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    1. Referências sobre as cosmologias que se cancelam uma à outra

      a)

      Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics. "Tremors of the Big Bang: First direct evidence of cosmic inflation." ScienceDaily. ScienceDaily, 17 March 2014. .

      b)

      C. Wetterich. Variable gravity Universe. Physical Review D, 2014; 89 (2) DOI: 10.1103/PhysRevD.89.024005

      C. Wetterich. Universe without expansion. Physics of the Dark Universe, 2013; 2 (4): 184 DOI: 10.1016/j.dark.2013.10.002

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  10. Foi uma pena terem terminado o Rationally Speaking! Ainda bem que o Pigliucci tem um blog novo.

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  11. No princípio dos seus debates com os criacionistas, e para tentar salvar o seu naturalismo filosófico da conclusão lógica de um Criador inteligente, o Ludwig disse que o DNA não codifica nada!

    Sabemos que codifica as instruções para a criação de diferentes seres vivos e sabe-se agora que diferentes palavras significam diferentes instruções nos diferentes seres vivos, o que aumenta a complexidade da vida e mostra a irrelevância das semelhanças de sequências, quando as sequências têm significados diferentes.

    O que eles dizem hoje:

    "All organisms on Earth use a genetic code, which is the language in which the building plans for proteins are specified in their DNA"

    "There is a significant portion of life that uses different vocabularies where the same word means different things in different organisms."

    "Now that our assumptions about the canonical nature of the codon table are shaken up, we will be able to devise new analysis methods that take this phenomenon of unexpected complexity into consideration"

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  12. Júlio,

    «Ora, não sei e acho que ninguém sabe que premissa existencial é essa. O problema é, desde a origem, conceptual. Trata-se de saber se um Deus que é super em poder, saber e bondade é *possível*. Tal ser é *compatível" com a existência do mal?»

    Essa pergunta não levanta problema nenhum. É como a pergunta de se é possível haver um deus em forma de escaravelho que rebola o Sol pelo céu. A resposta é não. O Sol não rebola pelo céu, caso arrumado. Não há “problema do Sol que não rebola”.

    Se a pergunta for simplesmente se é possível existir um ser omnipotente, omnisciente e omnibenevolente e, ao mesmo tempo, haver crianças que ficam sem pernas porque quando estão prestes a pisar uma mina ninguém as avisa que está ali uma mina, também não há problema nenhum em responder. A resposta é também não, uma coisa exclui a outra.

    O “problema do mal” só surge, enquanto problema, quando uma pessoa quer muito que esse deus exista mesmo e então dedica-se a contorcer argumentos em abstracto para parecer que a existência desse deus é compatível com acontecimentos que qualquer ser minimamente decente impediria se tivesse capacidade para isso. Sem essa insistência em manter a premissa errada haveria apenas uma resposta e não um problema.

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  13. António Parente,

    «O teu problema é que atribuis a Deus, que colocas como hipótese, características humanas que eu e tu possuímos»

    Não sou eu que faço isso. Os cristãos é que defendem que Deus é um ser infinitamente bondoso. Assumindo que não estão a brincar com as palavras, “bondoso” é um conceito humano que todos intuitivamente percebemos. Por exemplo, um ser que vê uma criança pequena a pôr uma faca na boca e não intervém não é bondoso. É no mínimo indiferente ou até cruel. Se esse tal Deus é bondoso neste sentido, então a sua existência é incompatível com o que observamos.

    É claro que se tu dizes que “bondoso” neste caso não é o que nós humanos consideramos ser bondoso mas algo completamente diferente, então tens de ser mais específico. Mas se chamas “bondoso” ao acto de poder curar uma criança sem esforço nenhum mas ainda assim deixá-la morrer de cancro, ou poder avisar uma criança que está prestes a fazer algo que a vai matar e não lhe dizer nada, então eu sugiro que uses outra palavra para não enganar. Por exemplo, cruel, maldoso, sacana, estupor... há muitas alternativas.

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  14. Ludwig Krippahl,

    Tens aqui uma discussão mais produtiva do que a nossa:

    http://criticanarede.com/fil_2sobremal.html

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  15. O LUDWIG E O DEUS BONDOSO: CONFUSÕES E CONTRADIÇÕES DE UM PENSADOR (A)CRÍTICO

    O Ludwig defende que o ser humano é o resultado de milhões de anos de desastres naturais, crueldade predatória, mutações, seleção natural, doenças e morte.

    E no entanto, o seu naturalismo leva-o a achar que tudo isso é normal e que a moral é uma criação subjetiva. Ou será que não leva?

    Pelos vistos, não! O Ludwig acha que se Deus existisse, não deveria haver doenças, cancros e morte porque isso é, afinal, objetivamente mau. Pelo menos é assim qualificado pelo Ludwig com grande veemência! Como explicar esta contradição e confusão intelectual do Ludwig?

    A contradição e a confusão do Ludwig vêm do facto de ele saber no seu íntimo, tal como todos nós, que a morte é objetivamente um mal. Ele também sabe, no seu íntimo, que as mutações são más e que geram cancros e morte, e que tudo isso é mau. As mutações geram cancros e nunca evolução. A teoria da evolução é pura imaginação ateísta.

    O Ludwig percebe que um Deus como o descrito na Bíblia nunca poderia ter usado a evolução para criar o mundo e a vida, porque se trata do processo mais irracional, ineficiente e cruel que se poderia pensar.

    E a verdade é que Deus não usou a evolução! A Bíblia ensina que, na sua bondade, Deus criou o mundo racionalmente sem derramamento de sangue e sem cataclismos naturais.

    A evolução é incompatível com a natureza bondosa de Deus,

    Na sua bondade, Deus criou o homem para viver para sempre com Ele em condições paradisíacas.

    A Bíblia ensina que no princípio todos os animais eram herbívoros, não havendo derramamento de sangue. Só depois da queda no pecado as coisas se complicaram para o ser humano.

    Na sua bondade, Deus deu capacidade racional e moral ao homem, não o tendo criado como um robô.

    Deu-lhe uma lei moral e avisou-o de que a desobediência implicaria a corrupção e a morte, porque ninguém pode pecar eternamente diante e contar com impunidade diante de um Deus que é bom e que, por ser bom, castiga o mal.

    O primeiro derramamento de sangue ocorreu quando Caim matou Abel. O grande cataclismo natural foi o dilúvio, quando Deus interveio para castigar e travar a maldade humana.

    Depois do dilúvio Deus deu uma nova oportunidade aos descendentes de Noé, tendo escolhido Israel e dado através dele uma lei moral a toda a humanidade.

    Na sua bondade, Deus afirmou que queria perdoar o ser humano e dar-lhe uma nova oportunidade de viver eternamente com Ele.

    Para isso incarnou em Jesus Cristo, o Messias prometido a Israel, que morreu e ressuscitou com um corpo incorruptível, prometendo vida eterna com Ele numa criação restaurada.

    Mas essa oferta está aí apenas para quem a aceitar. Quem escarnecer de Deus irá conhecer um outro lado da bondade de Deus: o julgamento eterno do pecado.

    Porque um Deus bondoso tem muita paciência, mas não vai tolerar o pecado eternamente.

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  16. Este post vem na linha de um livro que acabei recentemente e recomendo: "Medical Philosophy", de Mario Bunge. Há uma óptima recensão por Harriet Hall no blog "Science-based Medicine". À venda nos sítios online do costume (não, não lucro com a publicidade).

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