domingo, março 16, 2014

O manifesto.

Num raro exemplo de consenso alargado, 74 personalidades de vários quadrantes políticos defenderam que Portugal deve negociar uma reestruturação da dívida (1). Não é um plano detalhado, mas quando um grupo destes defende alguma coisa vale a pena dar ouvidos. É raro a Manuela Ferreira Leite concordar com o Francisco Louçã e ex-ministros socialistas defenderem o mesmo que conselheiros (agora também ex) de Cavaco Silva. Aponta o manifesto que o Estado português não consegue pagar todas as dívidas a tempo, que esta crise não é só nacional e que é preciso negociar a nível europeu como e quando a dívida será paga. Concordo e subscrevo. O resto do post é sobre alguns dos argumentos contrários que me deram vontade de responder.

O José Gomes Ferreira escandaliza-se por dizerem que é preciso reestruturar a dívida. Não por não ser preciso nem por não se reestruturar, porque até menciona que «Portugal já fez e continua a fazer uma reestruturação discreta da nossa dívida pública». Escandaliza-se por o dizerem: «uma reestruturação de dívida pública não se pede, nunca se anuncia publicamente. Se é preciso fazer-se, faz-se. Discretamente, nos sóbrios gabinetes da alta finança internacional.» Ou seja, numa redefinição inovadora da democracia representativa, defende que a decisão mais importante para a economia e bem estar dos portugueses durante as próximas décadas deve ser tomada às escondidas. Como se não tivéssemos já problemas que chegue com negociatas discretas em gabinetes sóbrios.

Um problema fundamental com o “argumento” – num sentido lato – do José Gomes Ferreira é assumir que os mercados não sabem o que se passa e que, para conquistar a sua confiança, não podemos dizer verdades óbvias. Assume também que a descida das taxas de juro da dívida pública se deve à fabulosa gestão do nosso país. Parece-me mais realista assumir que quem gere estes investimentos não é completamente ignorante e que a descida das taxas de juros de todos os países com problemas – incluindo a Grécia, que desceu de 10.95% para 7.7% no último ano (2) – se deve a um conjunto mais complexo de factores do que o alegado efeito do “gabinete sóbrio”. Por exemplo, o BCE aceita títulos de dívida pública como garantia para empréstimos mesmo que tenham ratings desfavoráveis (3). Como o BCE empresta dinheiro aos bancos privados com juros abaixo da inflação, até títulos que sejam lixo servem para os bancos fazerem dinheiro. Literalmente. Como salienta o manifesto, esta crise é um problema internacional e não é mera função do que fazemos ou dizemos por aqui.

O Pedro Romano é menos famoso do que o José Gomes Ferreira mas tem a virtude de escrever coisas mais relevantes do que um chorrilho de ataques pessoais e perguntas retóricas. Uma crítica que faz ao manifesto é ser «vago em relação ao que efectivamente propõe.»(4) É verdade. O manifesto diz que é preciso reestruturar mas não diz como é que se vai conseguir essa reestruturação nem como será negociada. No entanto, a via alternativa também é parca em detalhes. Dizer que é preciso um saldo primário de 2% ou 3% e um crescimento de 1.8% também não diz como é que vão conseguir as duas coisas ao mesmo tempo. Outro ponto que o Pedro refere é que «o país, como um todo, não ganha nada em reestruturar cerca de 60% da sua dívida, já que aquilo que ganha enquanto contribuinte acaba por perder como investidor» porque 60% da dívida pública é detida por investidores nacionais. Mas o país não é só um todo. É composto por pessoas para quem a reestruturação da dívida e a austeridade têm efeitos muito diferentes. Em Portugal, 1% dos depositantes detém quase metade do dinheiro dos depósitos bancários (5) e, se considerarmos o dinheiro em fundos de investimento, é provável que a desigualdade seja ainda maior. Alguns são fundos de pensões, que devem ser protegidos, mas muitos detentores da dívida pública são bancos privados a gerir fundos de investimento de pessoas que não correm perigo de passar fome. Ainda que “o país, como um todo” fique na mesma, há uma questão política, e não económica, de decidir se o problema da dívida vai ser resolvido apenas sacrificando os que têm menos ou se os ricos também vão suportar uma parte do sacrifício que, sendo ricos, será sempre uma parte muito modesta.

Finalmente, o Pedro escreve que «a propagação pública da ideia de que a reestruturação é inevitável não tem qualquer real utilidade para Portugal: não melhora a sua posição negocial, não sensibiliza a Europa e nem contribui, sequer, para uma preparação atempada desse processo.» Para algumas pessoas é provável que o melhor será ninguém fazer ondas e não considerar alternativas. Há uns meses, o César das Neves também criticou «quem apela ao perdão da dívida pública portuguesa, esquecendo-se que parte é detida por bancos portugueses que, em consequência, poderão falir ou ter de se capitalizar, em ambos os casos com consequências sobre os seus depositantes e valores acima dos 100 mil euros garantidos.»(5) Quem anda a negociar coisas pelos tais gabinetes sóbrios certamente se preocupa com isto. Mas para a maioria dos portugueses, aquela maioria que os políticos eleitos deviam representar, o perigo de cortes nos depósitos acima dos 100 mil euros não é uma preocupação significativa.

O perigo deste manifesto, e a razão do forte repúdio, é revelar que o fundamental não é o problema económico de como pagar a dívida mas sim a decisão política de quanto e quando devemos pagar. Para bem de todos e não apenas dos que têm mais de cem mil euros no banco.

Editado às 18:06 para corrigir o apelido do José Gomes Ferreira (estava Pereira, nem sei explicar porquê). Obrigado pela correcção.

1- O texto integral está aqui no Público. Via Ladrões de Bicicletas
2- BCE, Long-term interest rate statistics for EU Member States
3- Por exemplo, para Portugal, desde 2011: BCE, 7 July 2011 - ECB announces change in eligibility of debt instruments issued or guaranteed by the Portuguese government
4- Desvio Colossal, Três notas sobre o manifesto da reestruturação da dívida pública
5- Jornal de Negócios (09-2013), João César das Neves: “Se a dívida fosse repudiada a perda cairia em sua casa”

9 comentários:

  1. "É raro a Manuela Ferreira Leite concordar com o Francisco Louçã"

    Raro e suspeito

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    1. ora nem por isso, são e coño mistas que comem na mesma gamela
      como o zé castro caldas que se licenciou aos 34 anos e arranjou logo trabalho numa universidade muito carenciada de mão de obra pois em 1988 exportávamos economistas à barda

      tive por acaso dois colegas de curso do castro caldas na remoção de escolhos económicos

      era o que chamávamos aos barris de 200 litros de perigosos detritos económicos
      um deles acho que ficou em karlmarxstadt

      o outro foi pró ku vait vender frigoríficos

      arranja aí um lugarzinho pró gamnma ó krip all

      nós te rogamos pá

      é cu gajo precisa de trabalho senã pira de vez
      ntrare Afişări de pagină
      Portugalia
      1
      já representa 1% de todos os meus visitantes
      assim num dá né,,,,

      74 personalidades concordaram que é necessário preparar o pós-coelhone

      de resto as europeias vão ser uma debacle du regimen das grandes

      olha su gajo que saiu da cadeia esta semana é eleito

      ficamos com um skin no parlamento europeu e com a filha do le pen e se elles se casam e vêm viver pra Odivelas

      inté a op(p)ortunityleilões saiu daí
      ficava mesmo ao pé do Lidl dava-me um jeitão
      agora ire pra Cascaes pôrra nem morto

      inda encontrava o Louçã a visitar os amigos da linha

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  2. As razões da crise são bem conhecidas.

    Viviamos num mundo em que as dívidas soberanas eram como notas de banco, o imobiliário subia e o céu era o limite e havia uma confiança infinita no sistema financeiro.

    As autarquias ganhavam com as licenças de construção, as fábricas de Paços de Ferreira naw tinham mãos a medir a fazer cozinhas, havia emprego, o estado recebia IVA, os bancos pediam dinheiro uns aos outros para crédito à habitação.
    Como o céu era o limite estado, autarquias, bancos e particulares endividavam-se como se não houvesse amanhã. Os lucros depositavam-se nos bancos que estavam acima de qualquer suspeita.

    Um belo dia descobriu-se que o snr Lehman mais ou menos sozinho enganou meio mundo. Que nos confins da Europa o banco dos amigos de sua excelência o presidente da república era uma associação de malfeitores.

    Noutro belo dia descobre-se que há casas como o caraças a mais e que a maioria dela não valem a ponta dum corno.

    Outro belo dia Portugal, a Grécia e a Irlanda descobre-se que estão falidos e que muito possivelmente não vão pagar as dívidas. Surgem fundadas dúvidas quanto à capacidade de Espanha, Itália e mesmo da França de pagarem.

    Ora isto tudo resulta em quê ?

    Os bancos tem como capital um monte de casas que não valem a ponta dum corno, dívidas soberanas de duvidoso valor .

    Autarquias, estados e particulares devem mais do que podem pagar. Os bancos não tem como devolver a guita dos depositantes.

    Portanto pagar as dívidas parece tarefe impossível. Não há guita.

    Não as pagar é igualmente impossível. O sistema bancário ia falir.

    Assim foi adoptado o modelo quântico da economia.

    Paga-se e não se paga a divida.

    Isto funciona assim :

    Numa situação de falência como tivemos o lógico seria cortar nas despesas do estado que são principalmente ordenados da função pública e pensões.

    O bico de obra é que reformados e funcionários públicos estão muito endividados.

    Se não pagarem ao Ulrich este que pediu o dinheiro para lhes emprestar ao commerzebank não vai pagar aos alemães.

    O ulrich entregava a chave do banco ao Coellho e o Hans do commerzebank à Merkel

    Assim foi decidido que as dívidas são para pagar quânticamente.

    A troika empresta-nos dinheiro para pagar ordenados e pensões, reformados e funcionários públicos pagam ao Ulrich, o Ulrich paga ao commerzebank, o commerzebank empresta dinheiro ao governo alemão que o empresta à troika e a troika empresta a Portugal.

    Como atrás do tempo tempo vêm já ninguém se lembra que os bancos , países e pessoas estão falidos.

    Coisas da mecânica quântica que são difíceis de perceber.

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    1. non num belo dia a alemanha encorajou todo o sul da europa a endividar-se para comprar tuneladoras gigantes para túneis vários e até para buracos sem fundo no cais do sodré

      para comprar submarinos para afundar a invencível armada russa ou turca tanto faz

      e obviamente a comprar gruas e betoneiras e camiões da mercedes pra levar o cimento e a areia das praias

      os países não estão falidos pois podem imprimir moeda

      como os norte-americanos

      e em 12 anos de euro imprimimos bué

      não chegou foi prás despesas dos governos

      o facto de numa união económica os super-ávites não poderem ser permitidos mas existirem de facto

      diz muito da união em que a banca franco-lux-alemã faliu mas quem lhe pagou a falência foi o resto da europa

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  3. ...a narrativa sobre austeridade, cantada pelos arautos oficiais do reyno, à roda da nossa querida “divida soberana” que, como povo, nos condena a um infindável degredo – traz-me à memória, os «Cem Anos de Solidão» de Gabo e uma metáfora certeira…na mágica Macondo de insondáveis mistérios é-nos relatada a história de «Francisco o Homem» que salta de aldeia em aldeia. Com este homem pregoeiro viaja uma velha – tão gorda que precisa de 4 índios para a carregar – e uma mestiça famélica. Enquanto Francisco desfia o rosário dos acontecidos, a troco duns cobres, a velha prostitui a neta, de mealheiro ao colo. De tão gorda precisa de 4 índios para viajar e fá-lo, com um único fim; recuperar o valor da casa que a desleixada deixara arder ao adormecer sem antes apagar a vela...esta conta o caso a Aureliano seu 69º cliente da noite e diz-lhe que pelas contas da avó, à razão de 70 homens por noite, levará ainda mais 10 anos antes de liquidar a dívida toda; casa em cinzas, o custo dos índios, as despesas da viagem mais a muita alimentação da velha…

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    1. non porque podes perfeitamente ir para o escudo e fazer o ajustamento em 1 ano

      não resolves o problema dos 10 mil medeiros ferreiras que custam tanto como o milhão de pensionistas a 200 euros por mês nem os mil milhões em afundações

      esses serão sempre pagos em dollar-equibalentes

      logo comparar um país que pode aplicar 20 ou 50% de imposto sucessório sobre toda a obra feita em euros com uma gaja que podia fugir mas não foge pois não sabe pra onde

      é estúpido

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    2. mas num te prócupes comigo já somos dois

      a fazer cu'mentários para uma europa que se desmorona

      olha vai ver se cobras 10% dos 200 milhões de euros cus chinocas levam daqui todos os meses
      só em peças falsas de automóvel....perdão peças de mecânica alternativa e em metadona e sais de banho aqui o deserto compra 5 a 6 milhões por semana

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  4. bom krip o medeiros ferreira o emídio catum e esses 74 gajos são responsáveis directa ou indirectamente por 150 mil milhões da dívida

    que em emídios catum dá uns 900 deles
    em submarinos 300
    em bpn's são uns 30 ou 50 para os 150 mil milhões
    em Fresenius products são 600 anos de fresenius em portucale7
    em centros culturais a dívida são 100 mil a 70 mil isso depende
    em remodelações do Festroia A 10 milhões dá pra 15 mil remodelações dela

    em universidades novas dá pra uns 1000 e tal anos lectivos e inda sobram uns séculos de politácnico du santana carrilho

    em camiões da Mercedes em 2ª mão dá uns 10 milhões deles com 500 mil quilómetros cada um

    em manutenções militares e messes de oficiais dá pra quase 700 anos de manutenção militar

    em vascos da gamma isse já dá pra menos de 100 mil deles

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