quinta-feira, novembro 28, 2013

Fine-tuning e verosimilhança, parte 1.

«... imagine uma poça a despertar de manhã e a pensar “Este é um mundo interessante em que me encontro – e um buraco interessante em que me encontro – acomoda-me perfeitamente, não é? De facto, espantosamente bem, deve ter sido feito de propósito para me conter aqui dentro!” Esta é uma ideia tão poderosa que, conforme o Sol se ergue no céu, o ar aquece e a poça vai ficando mais pequena, mantém-se freneticamente agarrada à noção de que vai tudo correr bem porque o mundo foi feito de propósito para si; por isso, o momento em que se evapora apanha-a de surpresa. Penso que é algo que todos temos de ter em conta.»
Douglas Adams, The Salmon of Doubt

No passado dia 21 o Bernardo Motta e o Ricardo Silvestre debateram a (in)existência de Deus na Universidade Católica. Enquanto espero pela gravação do debate queria dar já uma achega ao argumento do fine-tuning que o Bernardo apresentou nos slides e resumiu no blog (1). Este argumento diz que Deus deve existir porque os modelos da física moderna contém parâmetros cujos valores não são determinados pela teoria e, se fossem diferentes, o universo não comportaria vida como a conhecemos. Por exemplo, se a energia libertada na fusão de hidrogénio em hélio fosse maior as estrelas não durariam o suficiente para que vida como a nossa evoluísse e se fosse menor as estrelas não dariam energia suficiente (2). Assim, defende o Bernardo, tem de haver um deus que assegure os valores certos para estes parâmetros de modo a que nós possamos existir. Ou seja, que faça o buraco à medida da água da poça.

A primeira confusão deste argumento é logo a definição do problema. O problema do fine tuning é um problema do modelo. O modelo tem demasiados parâmetros soltos que têm de ser ajustados para prever correctamente o que observamos. Isto não é desejável. É sempre melhor minimizar as pontas soltas. Mas este problema do modelo só é um problema do universo se o modelo estiver completo. O problema de fine-tuning que o Bernardo invoca não é o problema real do modelo ser muito sensível a parâmetros soltos mas sim o problema meramente hipotético do modelo estar correcto nesse aspecto e o universo sofrer do mesmo excesso de parâmetros. Tanto os dados que temos como a experiência contradizem esta premissa.

O modelo standard das partículas subatómicas tem 25 parâmetros que não são determinados pela teoria subjacente. Além disso, o modelo do universo a grande escala tem mais um parâmetro solto, a constante cosmológica (4). Mas uma razão forte para não concluir logo que o universo tem estes parâmetros soltos é estes modelos serem incompatíveis. Como a descrição relativística da gravidade não encaixa nos modelos da mecânica quântica para as restantes forças não se justifica assumir que estes modelos estão completos e que o que falta neles falta no universo.

Além disso, o problema do fine-tuning é frequente na história da ciência. Antes da teoria atómica dos elementos a química era um pantanal de parâmetros aparentemente arbitrários e leis que não se sabia de onde vinham. Quando se percebeu que todas as moléculas eram compostas por átomos de umas dezenas* de elementos diferentes o número de parâmetros soltos diminuiu drasticamente. Quando se descobriu que as propriedades químicas e físicas de cada elemento são determinadas pela combinação de apenas três partículas diferentes – protões, neutrões e electrões – o número de parâmetros soltos caiu novamente. Este ciclo ocorre em todas as áreas da ciência pela forma como a ciência progride. Inovações teóricas e tecnológicas permitem novas experiências, estas revelam dados novos que os modelos precisam de explicar o que, por sua vez, obriga a formular novas relações e parâmetros conforme os dados vão surgindo. Só quando alguém finalmente percebe como as coisas encaixam é que há tal “mudança de paradigma” que leva a novas teorias que atam as pontas soltas. É disso que estamos à espera agora.

Há também explicações propostas para o eventual problema do universo ter parâmetros soltos. Uma bastante intuitiva é a desta bolha de espaço-tempo ser apenas uma de infinitas, cobrindo, no conjunto, todas as combinações de valores para esses parâmetros. Naturalmente, aquela onde nós existimos tem de ser uma das que permitem a nossa existência, pela mesma razão que o planeta em que nascemos foi o único do sistema solar, aparentemente, que comporta vida. O Bernardo alega que isto não resolve o problema da afinação mas está enganado porque se há infinitos universos não é preciso afinar nada. Por muito improvável que seja a combinação de valores que permite a vida, entre infinitas bolhas de espaço-tempo será inevitável haver universos que comportem vida sem qualquer afinação prévia. Tem mais razão ao apontar que esta explicação «é ainda especulação sem suporte experimental» (1) mas isso não é uma objecção relevante. A hipótese deste universo ser único é igualmente especulativa e até menos plausível porque se é possível haver uma bolha de espaço-tempo então também deve ser possível haver outras. Não se justifica assumir que esta é a única. Além disso, a proposta do Bernardo, de que um deus criou este universo com os parâmetros certos, é igualmente especulativa. Finalmente, o próprio problema do universo exigir fine-tuning é especulativo. Apenas sabemos que os modelos que temos agora precisam de afinamento. Não se justifica para já concluir que todo o universo sofre do mesmo.

Resumindo, este argumento do Bernardo é um apelo à ignorância. Invoca Deus apenas porque não sabemos o que determina os parâmetros que deixamos soltos nos modelos. Com isto o Bernardo tenta demonstrar que “Deus existe” é a hipótese que maximiza a verosimilhança porque assim é mais provável o universo ser como é. Mas desmontar essa confusão exige explicar um pouco desse método de selecção de modelos e tem de ficar para a segunda parte.

*São mais de cem mas, na altura, só conheciam uns 60.

1- Bernardo Motta, Debate "Deus (não) existe?"
2- Para outros exemplos: Wikipedia, Martin Rees's Six Numbers
3- Wikipedia, Fine-tuned universe

7 comentários:

  1. O padre e astrónomo George Coyne também apresentou uma resposta a esse argumento:
    "To me, it's a scientific problem, it's a scientific observation that has not yet a scientific answer. But to bring in God to explain this, to me is the great God of the gaps. Because, first of all, why would you bring in God? This is a scientific issue. (...) One of the explanations is this Multiverse theory (...)"

    Deixo umas referências, que não servem como prova, mas como exeplos de indícios para uma alterativa ao argumento teológico:
    * Cosmological Avatars of the Landscape I: Bracketing the SUSY Breaking Scale
    * When Universes Collide
    * Observing the multiverse with cosmic wakes
    * Can we predict Λ for the non-SUSY sector of the landscape?
    * http://news.discovery.com/space/lhc-discovery-maims-supersymmetry-again-130724.htm
    * Dark Flow: A Mysterious Force From Outside of our Local Universe
    * "The Great Attractor" --Is Something is Pulling Our Region of the Universe Towards a Colossal Unseen Mass?

    Também observo que encontrarão facilmente argumentos teológicos a favor da existência de multiversos.

    Cumps.

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    1. e do inverso....bolas...e de sóis que existem em universos não inerciais....

      logo pode-se parar a terra...no espaço e o sol ficar parado dias no céu


      expilica todos os milagres deus joga aos dados com a terra no multiverso...


      The novel is set in the 26th and 27th centuries. The opening chapters cover a period of some thirty years, with the bulk of the story set in the years 2610 and 2611 AD.

      A timeline in the appendix briskly covers the future history of the human race, from the settling of the Moon and the opening up of space to commercial exploitation to the founding of the Confederation. Essentially, humanity has split into two strands, the Adamists and Edenists. The Edenists possess the affinity gene, which allows telepathic communication between one another and the construction and use of bio-technological (or 'bitek') constructs, including sentient, living starships (voidhawks) and enormous space habitats. The Edenists have a much greater standard of living than their Adamist counterparts. The Adamists are 'classic' humans who employ mechanical and cybernetic technology and use implants (including 'neural nanonics', essentially computer systems built into the brain which allow anything from enhanced memory and entertainment access to controlling starships) to achieve their ends. The Adamists reject bitek for religious and cultural reasons, but it is later revealed that certain individuals working within Earth's government have discouraged the use of bitek for fear of losing their ability to influence the development of mankind. Some Adamists still use bitek, such as 'blackhawks', advanced living spacecraft similar to Edenist voidhawks but with enhanced combat capabilities.

      The Adamists are divided into numerous nation-states. The largest and most populous is Govcentral, an amalgamation of Earth's former countries and its orbital ring of 974 large asteroid settlements known as the O'Neill

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  2. Pedro,

    Já não me lembrava desse. É um bom link para mandar ao Bernardo. Obrigado :)

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    1. 2º ou 3º tanto faz
































































      dijous 28 de novembre de 2013




      LUPUS LUPUS HOMINIS EST A ALMA IMPERIALISTA REVELA-SE NA FICÇÃO CONJUNTAMENTE COM ENGENHARIA TEOCRÁTICA EM QUE OS DEUSES SÃO FOCOS PSI E EM VEZ DE SE TRANSPORTAREM OU DE ADVINHAREM O FUTURO COMO UM PSI NORMAL OS SUPER-PSI'S SÃO DEUSES...SEM TEMPO NÃO HÁ ESPAÇO SEM TEMPO PARA A EXPANSÃO NÃO HÁ UNIVERSO MAS PODIA EXISTIR SEM TEMPO NÃO SERIA ERA TETRADIMENSIONAL PODERIA SER UNIDIMENSIONAL OU UM UNIVERSO ADIMENSIONAL CRIADO POR KRIPHAL OU DEMI GÓTICO OU É DEMIGOD?



      ASSALTO RAID É UMA CORRUPÇÃO DE READ

      ACONTECE NO VERBO CRIADO POR DEUSES....

      GUERRA DA ORLA DESTRÓI O IMPÉRIO GALÁCTICO
      AOS MUNDOS PERDIDOS SÓ É DADA TECNOLOGIA SE DEMONSTRAREM TER CIVILIZAÇÕES MANSAS....AND THE MEEK...

      O DEUS SURGE DO KAOS NOVE RELIGIOSOS EM ANEL PRODUZEM O DEUS

      ENGENHARIA TEOSÓFICA DE CERTO MODO COMO OS CRIADORES DE UM SUPER-PROGRAMA

      OU DO SUPER-COMPUTADOR ISAMOVIANO QUE SE FAZ DEUS


      THE GODMAKER'S
      It explores the concepts of war and peace, good government and religious belief. It can be seen as a bridging novel between the all-human Dune universe and the ConSentiency universe series.

      It is a novel expanded from four short stories:

      "You Take the High Road". Appeared in Astounding Science Fiction, May 1958
      "Missing link". Appeared in Astounding Science Fiction February 1959
      "Operation Haystack". Appeared in Astounding Science Fiction, May 1959
      "The Priests of Psi". Appeared in Fantastic Science Fiction Stories, February 1960
      The story focuses on Lewis Orne, an agent for a government agency which develops "lost planets." After correctly identifying a warlike civilization on the planet Hamal, he is drafted into Investigative Adjustment (I-A), which manages dangerous planets. Under the auspices of I-A, he travels to various planets in order to maintain peace throughout the galaxy. At the same time, the priests of the planet Amel, who practice "religious engineering," set about creating the first human god in their history. After resolving a number of dangerous situations, Lewis is injured and has a near-death experience. Following this, his psychic powers develop, and after passing a series of tests he becomes a god.

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  3. A CIÊNCIA DOS VÁCUOS QUÂNTICOS E A DOUTRINA BÍBLICA DA CRIAÇÃO

    A suposição indemonstrável de que os vácuos quânticos são eternos, fora do tempo e deles tudo resultou não explica a origem acidental do Universo, pois os vácuos quânticos são partes integrantes dele, não explicando como é que do nada surgiu alguma coisa, porque eles já são alguma coisa (cuja origem é necessário explicar).

    O verdadeiro “nada” seria a ausência de tudo, incluindo de vácuos quânticos.

    Os vácuos quânticos, feitos de energia, contém pares de partículas virtuais com valores energéticos, aparecendo e desaparecendo, de maneira efémera, que podem ser convertidas em fotões detetáveis.


    Ou seja, os vácuos quânticos existentes no Universo não explicam a origem da energia, na medida em que eles são já energia! E a energia não se causa a ela própria.

    Longe de estarem fora do tempo, neles o tempo já está presente .


    Os vácuos quânticos são estados complexos de campos energéticos dotados de propriedades físicas.


    Longe de serem eternos e infinitos, tudo indica que os vácuos quânticos, contêm um número limitado de partículas efémeras, indiciando que a velocidade da luz pode ser inconstante, o que não deixa der ser interessante para algumas cosmologias criacionistas.

    Hoje sabe-se que o mundo quântico é muito mais complexo e padronizado do que se pensava, corroborando a sua
    criação racional.

    Além disso, os vácuos quânticos caminham da ordem para a desordem, não podendo ser eternos.

    Longe de existirem para além do Universo, as partículas subatómicas são partes dele estabelecendo complexas Inter-relações!



    Estudos recentes mostram afinidades entre a física quântica e a teoria dos jogos, apontando para a racionalidade global, não local, que permeia o universo micro-físico e o transcende, corroborando a criação racional do Universo.

    Mesmo o mundo quântico tem marcas de inteligência e design.

    Ora, se o Universo teve um princípio e se a energia não se cria a si própria, permanecendo constante, então quem criou essa energia?

    E de onde vem a racionalidade global de que participa o mundo quântico?

    Génesis 1:2 tem a resposta:

    “ E disse Deus: haja luz! E Houve luz!”

    Luz é energia! Deus é Razão!

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  4. Foi encontrado mais um esqueleto de dinossauro extremamente bem preservado, corroborando a ideia de que o registo fóssil, longe de testemunhar a evolução, testemunha o sepultamento abrupto e recente de triliões de seres vivos nos cinco continentes...

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  5. A CIÊNCIA DAS HOMOLOGIAS E A EVIDÊNCIA DE UM CRIADOR COMUM

    Os evolucionistas têm usado a ideia de evolução a partir de um antepassado comum para explicar as semelhanças que se observam entre seres vivos.

    Porém, este argumento entra em crise quando confrontado com semelhanças anatómicas e genéticas muito fortes em seres vivos tão diferentes entre si que não podem ter evoluído a partir de um antepassado comum.

    Um exemplo disso é o sistema de ecolozalização e de bio-sonar das baleias e o dos morcegos, em que se observam semelhanças anatómicas e funcionais, inexplicáveis com base num antepassado comum.

    O funcionamento destes sistemas é muito semelhante, apesar das diferenças entre baleias e morcegos.

    No caso dos golfinhos e dos morcegos há inclusivamente semelhanças genéticas sem um antepassado comum.

    Também existem homologias significativas entre a música produzida pelas aves e a música produzida pelos seres humanos, sem que se possa falar de qualquer suposta proximidade evolutiva.

    Muitos outros exemplos poderiam ser apresentados.

    Podemos ter estruturas e funções anatómica, fisiológica e até geneticamente semelhantes entre seres vivos muito diferentes, sem que isso seja o resultado de um antepassado comum.

    Mas então isso é resultado de quê?

    Os evolucionistas têm que falar em "evolução convergente" e abandonar o seu modelo clássico de antepassado comum.

    Isso força-os a acreditar que a natureza, apesar de operar por processos aleatórios, cegos e irracionais, sem qualquer inteligência e planeamento ou capacidade de imitação, "evoluiu" sistemas extremamente complexos, integrados e precisos, muito idênticos, em seres vivos completamente diferentes

    Ainda por cima, esses sistemas encontram-se perfeitamente adaptados às características morfológicas dos seres vivos em causa (nadadores ou voadores) e ao meio ambiente em que vivem (submarino ou aéreo)!

    Em termos probabilísticos, isso é um absurdo.

    Já Charles Darwin confessava que lhe dava náuseas o pensamento de que diferentes tipos de olhos poderiam ter evoluído aleatoriamente de forma independente.

    Mas como naturalista que era, rejeitando a priori um Criador, Darwin não tinha outra alternativa se não acreditar nisso, por mais improvável e absurdo que fosse.

    Afinal, não deduziu ele a origem acidental da vida a partir da observação de que tentilhões “evoluíam” para… tentilhões?

    Os criacionistas, diferentemente, consideram que tudo isso corrobora inteiramente a existência de um Criador comum que usou os mesmos princípios na codificação da instruções necessárias a criar essas estruturas.

    Se esta explicação se adequa a estes casos, ela adequa-se a todos os outros.

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