quarta-feira, agosto 28, 2013

Austeridade, parte 2: taxas de juro.

Na primeira parte argumentei que o aumento da dívida pública em Portugal não se deveu a anos de “boa vida” mas sim aos problemas do sector bancário e, por consequência, da economia privada (1). Entre 1991 e 2009 a dívida pública portuguesa oscilou entre os 60% e 70% do PIB. Foi de 2009 em diante que cresceu para mais do dobro, por problemas que a austeridade só tem agravado. Nesta parte vou abordar a história de que nos endividámos demais, os mercados perderam confiança e é por isso que as taxas de juro subiram e precisámos de resgates. No fundo, que a culpa é nossa e não estaria cá a troika se não tivéssemos esbanjado tanto.

Superficialmente, isto parece ser verdade para a Grécia. A Grécia aldrabou as contas e, no início de 2010, quando as taxas de juro apertaram, tinha uma dívida pública de 140%. No entanto, mesmo para a Grécia a história não pode ser tão simples. Os investidores que “perderam a confiança” ao saber das aldrabices dos gregos eram os que tinham ajudado os gregos a aldrabar (2) e toda a gente sabia das aldrabices, só fingia não saber porque não dava jeito (3). Até 2008, com a dívida pública quase a 120% do PIB, as taxas de juro da Grécia eram iguais às da Alemanha. E de 2012 para cá têm diminuído apesar do perdão de boa parte da dívida pública grega. Claramente, não pode ser uma simples questão de “confiança dos investidores”.

Quando consideramos Portugal e a Irlanda, a discrepância entre a narrativa da confiança e a realidade é ainda maior. O gráfico abaixo mostra a variação das taxas de juro e da dívida pública para a Alemanha (DE), Grécia (GR), Irlanda (IR) e Portugal (PT). Os dados são do Banco Central Europeu (BCE) (4), o valor da dívida pública para cada ano foi atribuído ao dia 31 de Dezembro desse ano e os valores das taxas de juro às datas indicadas pelo BCE*.


(clique a imagem para ver maior)

A Irlanda tinha uma dívida pública muito baixa até ter de salvar os bancos privados. Não havia indícios de excessos na função pública. No entanto, em 2010, depois de subirem as taxas de juro da Grécia e quando a dívida pública da Irlanda ainda era semelhante à da Alemanha, as taxas de juro da Irlanda dispararam também. Com Portugal foi quase o mesmo. A dívida pública era maior do que a irlandesa, mas o aumento inicial não foi tão brusco e acompanhou, aproximadamente, a da Alemanha, que também se endividou mais nessa altura de crise. Mas enquanto as taxas de juro dos outros países dispararam, pondo em perigo o próprio Euro, as taxas de juro da Alemanha caíram tanto que chegaram a ficar abaixo da inflação. Aparentemente, conforme a Alemanha se endividava, “os mercados” ganhavam tanta confiança que estavam dispostos a ter prejuízo só para emprestar dinheiro ao Estado alemão. Quando consideramos os factos, a história da confiança dos mercados não faz sentido nenhum.

Há outra explicação mais plausível. Segundo os números que consegui encontrar, há cerca de 80 biliões de dólares em títulos de dívida no mercado e, só nos EUA, 800 mil milhões trocam de mãos em cada dia (5). Extrapolando para o mundo todo, o volume diário de transacções andará à volta dos 2% do total. Como os títulos de dívida pública têm prazos típicos de cinco a dez anos, este mercado secundário será facilmente dezenas de vezes maior do que o mercado primário. Este volume imenso deve-se ao uso destes títulos para muitos fins, desde especulação e garantias para empréstimos até detalhes de logística. Por exemplo, se é preciso notas e moedas na filial de Paris, mais vale vender alguns activos a um banco francês que leve lá o dinheiro do que transportar toneladas de euros pela Europa em carros blindados. A consequência é que o preço dos títulos de dívida – e, portanto, as taxas de juro – é mais determinado pela oferta e procura no mercado secundário do que pela tal “confiança” do investidor.

Apesar de, oficialmente, os títulos de dívida serem todos iguais na zona Euro – como foram na prática até 2008 – quando os bancos tiveram de os vender para tapar o buraco dos créditos sub-prime, começaram naturalmente pelos menos desejáveis. Se muitos tentam vender a mesma coisa o preço baixa. E quando, vendo o preço baixar, tentam despachar tudo o mais depressa possível, o preço colapsa. Foi isso que fez disparar as taxas de juro da Grécia, depois da Irlanda e de Portugal. Por outro lado, com todos a refugiarem-se nos títulos de dívida alemães, o preço destes subiu, fazendo descer as taxas de juro. Só com este efeito secundário da crise a Alemanha já poupou quarenta mil milhões de euros (6). Vendo a coisa mal parada, no final de 2011 o BCE criou um programa de empréstimos bancários a 1% aceitando como garantia títulos de dívida de qualquer país europeu (7). Isto deu a todos os bancos privados a possibilidade de usar os títulos de dívida para obter dinheiro fácil e fez cair as taxas de juro. A subida até final de 2011 e a descida a seguir não se devem à confiança, à austeridade ou ao sacrifício das pessoas. Resultam apenas das pressões do mercado secundário e das políticas do BCE.

O barrete de ser preciso a troika porque nos portámos mal e a austeridade para “reconquistar os mercados” serve apenas para nos tapar os olhos enquanto saqueiam o Estado ainda mais do que os governos anteriores. Olhem, austeridade e tal, por isso é preciso cortar nas pensões para nacionalizar o banco falido dos nossos amigos e, já agora, vendemos-lhes o CTT por meia pevide que a vida está cara e eles não podem pagar mais. Na verdade, precisámos do dinheiro da troika porque o sistema bancário europeu está mal regulado, não há austeridade que resolva o problema das taxas de juro porque aquilo que as determina está fora das nossas mãos, e isto é tudo uma fantochada para ver se o sistema bancário europeu encolhe antes de explodir. Mas isso fica para o próximo episódio.

* O João Vasco já tinha publicado um gráfico sobre isto, em Os mitos da crise, 1, mas eu prefiro não agregar os países e apontar as diferenças entre eles.

1- Austeridade, parte 1: a crise da dívida pública.
2- Por exemplo, a Goldman Sachs: Spiegel, Greek Debt Crisis: How Goldman Sachs Helped Greece to Mask its True Debt
3- The Epoch Times, EU Knew Greece Cooked its Books When it Joined Eurozone
4- Statistical Data Warehouse, ECB 5- Wikipedia, Bond Market
6- Spiegel, Profiteering: Crisis Has Saved Germany 40 Billion Euros
7- European Central Bank

27 comentários:

  1. Gostava de poder apagar isto da minha memória para poder dormir esta noite em vez de ficar a controlar sentimentos homicidas...

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  2. Não se deve subestimar os nazis. A retórica da ocupação nazi não mudou muito, passou da tanga da hegemonia da raça ariana, para a tanga hegemonia do mercado alemão sobre todos os outros. Quem foi o país mais exposto à crise nos USA? Foi a banca alemã. Porque é que a Alemanha não viu o rating baixar? Porque as agências de rating são umas das responsáveis pelo monumental roubo, e a Alemanha é parte da estratégia de colocar o sul da Europa a pagar as perdas. Os nazis foram irresponsáveis e, como sempre, colocaram os outros a pagar o que eles perderam. E claro inventaram uma tanga para encobrir a delinquência.
    Check it:
    http://www.bloomberg.com/news/2012-05-23/merkel-should-know-her-country-has-been-bailed-out-too.html

    http://www.bloomberg.com/data-visualization/federal-reserve-emergency-lending/#/overview/?sort=nomPeakValue&group=none&view=peak&position=244&comparelist=Deutsche_Bank_AG-Hypo_Real_Estate_Holding_AG-Commerzbank_AG-Dresdner_Bank_AG-Bayerische_Landesbank&search=

    http://www.bloomberg.com/data-visualization/federal-reserve-emergency-lending/#/compare/?comparelist=Deutsche_Bank_AG-Hypo_Real_Estate_Holding_AG-Commerzbank_AG-Dresdner_Bank_AG-Bayerische_Landesbank

    http://online.wsj.com/article/SB10001424052748703865004575649102179786756.html

    Os nazis não morreram, morreram apenas aqueles que eles mataram. Uma Europa que permite a reunificação dos nazis cospe na cara de todas as vítimas deles. O resultado é mais do mesmo: mais vitimas do Deutschland über alles. Mudam-se os nomes, mantém-se a delinquência e a retórica que eles são superiores aos outros e que os outros lhes devem tudo. Uma UE comandada pelo país mais cadastrado de todos, onde pontuam os piores crimes contra a humanidade, repetidamente, tem um futuro fácil de prever.

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    1. Acho que precisa de ser mais moderado.
      Admito que tenha alguma razão quanto à "guerra económica", mas discordo que os alemães sejam moralmente muito piores que os outros povos. Eles simplesmente jogam bem ao 'Capitalismo', e nós temos muita inveja.

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    3. "guerra económica" é o mesmo que dizer "guerra na física". A física não tem guerras, e a economia também não. A economia, como a física, é uma disciplina de percepção das regras da realidade e não um comportamento. Economia não é obedecer a quem tem dinheiro, como fazem acreditar à população. Dizem à plebe que economicamente viável é quando é do agrado de quem tem dinheiro, e economicamente inviável quando é do agrado de alguém sem dinheiro. Ou seja, apresentam a economia como sendo a obediência a agentes de mercado. As universidades, dentro da sua tradição de delinquência, tem um papel importante de desinformação da população para que obedeça sem questionar aos agentes de mercado. Tal como na primeira idade média diziam que era vontade divina obedecer à nobreza (e por isso não havia forma de não obedecer), agora apresentam mercado como economia, dando a entender que não há forma de não obedecer à nobreza mercantil. Quando o mercado é uma actividade de crematística (a antítese da economia). Mas o analfabetismo é real nas universidades: um dito "economista" não tem sequer a noção de qual é custo económico da existência de um mercado. Não sabem ver qual é o efeito económico de um mercado numa população humana. São realmente analfabetos, e tal como um motor não funciona se não respeitar as regras da física, um mercado nunca funciona porque não respeita as mais elementares regras de economia (e por isso colapsa sempre, como se observa).
      Quanto à cultura alemã (não existem povos, apenas pessoas e culturas) está mais do que demonstrado que é uma cultura insalubre que determinou várias vezes as piores e mais virulentas destruições que se conhecem. Sem higiene cultural não há forma de se viver saudavelmente. Enquanto a barbárie andar à solta temos o resultado disso: o mal viver geral e as dores e sofrimentos decorrentes das patologias que esses atrasados culturais produzem.

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  3. Sim e Não. A análise parece boa. Hão várias explicações para a variação das taxas de juro. Mas o facto de a Oferta/Procura ser a principal razão para tais variações, não implica que outras explicações estejam erradas!

    O Grande problema é a Dependência dos países por dinheiro emprestado! E a culpa foi de quem acreditou em Keynes! Porque enquanto o Deficit for maior que Zero, tudo é insustentável!

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  5. Eu acho que por as culpas todas na Alemanha também não segue. Afinal eles têm a seu favor uma enorme produção, uma dura ética de trabalho, e apesar de tudo têm divida e fraco crescimento.

    Na prática têm o pescoço no cepo também, caso não continuem a ser tão bons a pagar qualquer coisa daquilo que pedem emprestado.

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  6. O problema é a "rat race" em que os paises são obrigados a endividarem-se para poderem fazer o que é preciso, inclusivé para investir no seu desenvolvimento.

    E como os outros fazem, quem não fizer fica para trás.

    Enquanto for possível que a riqueza produzida seja quase toda acumulada fora do domínio das nações e da democracia, provavelmente, isto vai continuar, em episódios cíclicos e com os países com menos crescimento a sofrerem mais.

    0,001 da população mundial tem 30% da riqueza. 99,9% vive apenas com 19% da riqueza. Não há diferença entre seres humanos honestos e trabalhadores que justifique isto. Permitir a tão poucos que acumulem tanto dá nisto. Nações inteiras depois dependem deles.

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    1. Sim. É a "rat race" que leva os lemmings a saltar para o mar, por pensarem que o "rato" à sua frente sabe o caminho para a comida.
      Assim, a riqueza produzida nas nações democráticas já foi gasta no ano anterior, porque violaram a "Regra de Ouro". Quatro anos depois, abandonam o barco.

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  8. "Nesta parte vou abordar a história de que nos endividámos demais, os mercados perderam confiança e é por isso que as taxas de juro subiram e precisámos de resgates. No fundo, que a culpa é nossa e não estaria cá a troika se não tivéssemos esbanjado tanto."

    O raciocínio está ao contrário. Endividámos-nos demais porque assumimos dívida ao ponto de já não conseguirmos suportar uma subida na taxa de juro. Como comparação, uma família não faz nem pode fazer isso. Quando assume dívida encaixa a gestão da mesma nas suas despesas e ainda gera poupança( tem superavit), tem um plano logo desde início de a amortizar a N anos, e quando vai pedir crédito até faz uma simulação com uma subida da taxa de juro, para verificar se nessa situação não entra em falência.

    O estado não faz nada disto. Não quer saber do risco dos juros subir. Assume um total de despesas acima das suas receitas próprias, o que é RIDÍCULO. E este sim é o problema, não é o acumulado da dívida, nem propriamente o de assumir dívida ou o de fazer seja o que for que lhe crie uma nova despesa recorrente. É o problema de não enquadrar, desde o dia 0, a solução para as novas despesas assumidas. É o problema de não conseguir encaixar a subida de juros nas suas contas sem ter de recorrer a medidas extraordinárias. É o problema de precisas de medidas fora do normal para uma situação que devia ser encarada como normal.

    Ter as contas públicas no limiar de entrar na bancarrota é uma autentica estupidez, e sim, é culpa "nossa". Ter as contas públicas no limiar de entrar na bancarrota QUANDO uma das despesas é significativa, volátil, e com uma subida possível completamente fora do nosso controlo é simplesmente suicídio colectivo.

    Aconteceu o inevitável pela razão que quiser argumentar, é irrelevante. A razão podia ser outra qualquer, os juros não estão sobre o nosso controlo. O que estava sobre o nosso controlo era não termos uma estado sem estrutura para aguentar a eventual subida de juros, a de não termos um estado que não gera poupança nas alturas boas para poder aguentar as alturas más, como de resto até a treta de teoria Keynesiana parece sugerir.

    Andar a apontar os dedos à crise do sub-prime, ou a outra merda qualquer do género que nos esja externa, como sendo a origem da subida de juros é olhar para onde caímos em vez de olhars para onde tropeçamos.

    Criar uma "crosta" sobre esta ferida, de forma a que no futuro mais nenhuma crise bancária nos faça subir os juros da dívida criando a consequente falência do estado, é a estratégia errada. Nesse hipotético futuro os juros vão subir por outra razão qualquer, que nos esquecêmos de prever, e voltamos à mesma situação de merda em que nos encontramos actualmente.

    A única maneira de não estarmos à mercê dos mercados é não dependermos deles. E a estratégia para isso é precisamente não assumirmos dívida para além daquilo que conseguimos gerir sem grande esforço, e suportando eventuais subidas de juros. É neste sentido que é valido dizer que "a culpa é nossa".

    A conversa do Ludwig Krippahl é a demonstração cabal, para mim, de uma vontade de perpetuarmos o risco e cometermos o mesmo erro.

    "O barrete de ser preciso a troika porque nos portámos mal e a austeridade para “reconquistar os mercados” serve apenas para nos tapar os olhos enquanto saqueiam o Estado ainda mais do que os governos anteriores."

    Facto: As receitas do estado não são suficientes para pagar as despesas do estado. Pode alegar que não gosta da despesa "juros", mas ela é uma despesa assumida.
    Facto: Precisamos de acesso aos mercados para trocar as tranches de dívida. Isto é verdade mesmo que tenhamos superavit público.
    Facto: Não controlamos os juros cobrados pelo mercado.

    Portanto vamos assumir que Ludwig estava ao comando do IGCP. Amanhã precisava de ir ao mercado pedir uns milhares de milhões. Como a Troika não é necessária, pode-nos ajudar a entender como resolvia o problema?

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    1. Totalmente de acordo. A solução é equilibrar a balança. Basta que os portugueses o queiram.
      A Esquerda diz (entre-dentes) que já tentaram "orçamentos de base zero" e "não resultou" !!! ???
      Pergunto: O que é que falhou?
      Na Esquerda há muita gente honesta e bem-intencionada, falta-lhes é o jeito para a Matemática.

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  9. «O estado não faz nada disto. Não quer saber do risco dos juros subir.»

    Mais correcto será dizer que “As nódoas que nos têm governado não fazem nada disto. Não querem saber do risco dos juros”. Caso contrário o problema Estado é tão falacioso como nomear uma nódoa para director de serviço público, verificar que o serviço não funciona e concluir que a solução é privatizá-lo porque o problema é o Estado.

    Mas no geral concordo com o comentário. Também não conheço nenhum swap ruinoso que passe para o lado de cá só porque o empurram do lado de lá.

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  10. Epícuro,

    Isto não é culpa dos nazis, um partido político que tem muito pouca influência na banca internacional. Se bem que, infelizmente, a austeridade esteja a contribuir para a popularidade do nacionalismo por toda a Europa.

    Nem sequer tem que ver com os alemães em si. Como os exemplos que deste demonstram, o sistema bancário é uma malha mundial, acima de qualquer país ou ideologia política.


    João,

    A ideia de que devíamos ter poupado em vez de contrair dívidas é um erro, mas vou precisar de um post para isso. Parece que esta série vai ter mais episódios do que previ inicialmente. Mas a ideia de que foi a dívida que despoletou isto é fácil de refutar. Basta ver no gráfico a evolução conjunta da nossa dívida e da da Alemanha ao mesmo tempo que as taxas de juro divergiam.

    Quanto ao «a Troika não é necessária», não foi isso que eu escrevi. Até a banca internacional se desalavancar o suficiente para começarem os haircuts á dívida, vai ser preciso a troika porque não há mais fonte de financiamento. O que eu escrevi foi que a vinda da troika não foi por nos endividarmos demais. Foi porque os títulos de dívida pública de Portugal não são tão atraentes como outros, como a Alemanha. Para impedirmos a subida súbita das taxas de juro era preciso termos uma economia mais forte do que a da Alemanha, e isso é um alvo pouco realista. Especialmente se o tentássemos atingir sem empréstimos.

    Bruce,

    Houve muita asneira, mas o disparo das taxas de juro não tem nada que ver com a asneira que houve. Sem essas asneiras do BPN, swaps, PPP e afins estaríamos com menos uns pontos percentuais na dívida pública mas com troika à mesma. A única coisa que nos tinha safo disto teria sido o BCE iniciar aquele programa de empréstimos no início de 2010 em vez de no final de 2011.

    Bizarro,

    Desculpa lá, mas agora é tarde demais... :)

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    1. Quando me refiro aos nazis estou a referir-me à cultura alemã, cujo nazismo é o seu expoente. O lema "Deutschland über alles" - alemanha sobre todos (os outros) - continua a ser o mesmo, hoje. Subestimar uma cultura cujo o lema é uma ameaça aos outros, ainda por cima com o cadastro criminal dos alemães, é uma falha que se paga caro, como estamos a assistir hoje. As pessoas fogem dos efeitos dos mercados como fogem dos efeitos da guerra, só que dão o nome de emigrantes aos refugiados do mercado. Ninguém põe em causa o que "os mercados" estão a fazer às pessoas. Limitam-se a resignar-se e continuam a obedecer-lhes. Um animal adestrado não foge, é adestrado, perdeu a capacidade de ser ele próprio - é um lixo de si mesmo. É o que observamos hoje, a plebe europeia é um lixo de si mesmo, um grupo mansos de adestrados aos merceeiros.

      O sistema financeiro (a banca é apenas uma parte) é mais do que uma malha, é um grupo organizado, que actua em grupo e divide os resultados entre si. "Os mercados" são uma rede de delinquência organizada, actua para roubar o resto do planeta, com sucesso. As agências de rating mostram essa actuação. Por exemplo, há muito que os USA estão falidos, mas o rating não baixa, nem se vêem acções especulativas para o abater. "Os mercados" (a trupe de Bilderberg) actuam em conluio, tem inclusivamente encontros para definir o que vão fazer, e o que a plebe vai ouvir dos "economistas", e o que vai ser determinado aos fantoches dos governos. A alemanha é o cavalo de tróia dos USA na europa. Anda e andou a desestabilizar o euro para aumentar as suas exportações (as noticias a por em causa o euro desde 2009 vieram maioritariamente dos nazis) e principalmente para inviabilizar o euro como moeda de transacção internacional.
      Podemos andar a discutir a retórica que esse grupo está a usar, como a tanga de que é preciso pagar os prejuízos da corporação financeira, porque se enganaram ao quantificar o que havia a roubar, e agora a população tem de se desenrascar para pagar o que eles decidiram roubar. Podemos fazer de conta que somos todos estúpidos, como se fossemos universitários, idiotas da ciência e afins analfabetos. É giro, mas não resolve.

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    2. Infelizmente já não vou a tempo de ver as verdadeiras regras do mercado em acção, quando a população colocar o grupo de Bilderberg e os seus "meninos dos mercados" a fazerem literalmente o negócio da vida deles. Uma guilhotina ao lado dos "meninos dos mercados e seus donos" é a melhor forma de aplicar a lei da oferta e da procura. Quanto é que os meninos da corporação financeira estão dispostos a pagar para manter os seus pescoços e os das suas famílias? Quando a população fizer o negócio da vida dos agentes de mercado (dos mercados), vai descobrir que afinal não deve assim tanto à banca, aos investidores e aos seus "mercados". Vai descobrir que com uma guilhotina fazem-se excelentes negócios com os mercados. A guilhotina é o melhor negócio para os mercados. A lei da oferta e da procura não é bem como eles dizem. A lei da oferta e da procura funciona apenas quando for a população a negociar a vida dos mercados, e não o contrário como agora, em que são "os mercados" a a negociar a vida da população.
      Mas infelizmente já não vai ser neste tempo de universitários, cientistas e demais analfabetos adestrados "aos mercados".

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    3. "Mas a ideia de que foi a dívida que despoletou isto é fácil de refutar."

      Outra vez: Não interessa o que despoletou "isto", se não fosse a crise bancária seria outra coisa qualquer. O que interessa é que nos metemos a jeito por vontade própria.

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  11. Ludwig,

    «Houve muita asneira, mas o disparo das taxas de juro não tem nada que ver com a asneira que houve.»

    Também me parece evidente que não. Mas a voragem dos mercados não é coisa de hoje nem de ontem... Vou tentar uma comparação: o elevador do meu prédio, vamos supor, tem três cabos a suspendê-lo. Acontece que, sem dar cavaco a ninguém, o administrador do condomínio começou a encaminhar o orçamento da manutenção para as jóias da esposa (tal como os nossos governos em concubinato com as putas do regime) e o elevador começou a chiar. Ao contrário do administrador, que tinha as chaves lá de cima e ia espreitando, ninguém no prédio sabia que já se tinham partido dois dos três cabos. E como ainda havia um cabo a resistir vagamente, o administrador seguiu descontraído a sua política orçamental na firme convicção de que um solavanco final era extremamente improvável. Aliás, ficou muito muito surpreendido quando alguém espirrou e o elevador caiu. Nunca!, jamais!, ele poderia prever tal coisa.

    Voltando à dívida externa impagável, diria que estás a amnistiar o admnistrador e culpar as forças nefastas do prédio ao lado. A mim parece-me muito mais razoável apontar a responsabilidade aos que endividaram o Estado para efeitos de todo o tipo de negociatas e nunca nesse processo suicidário respaldaram o endividamento num modelo de desenvolvimento para lá do betão e do asfalto que, pelo menos, perspectivasse o pagamento futuro da dívida contraída.

    Dirás que outros países tinham uma dívida e um défice superior ao nosso quando o engenheiro Sócrates nos deixou ao abandono e veio a troika. Acontece que isso não quer dizer rigorosamente nada, pela simples razão de que quem se lixou fomos nós. Por isso não sei se concordo sequer com a ideia de que este governo nos está a roubar mais do que os anteriores, conforme sugeres no post. Um copo só transborda depois de alguém o encher.

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    1. Ludwig, outra vez: as vossas racionalizações de que não foi culpa nossa são um tiro completamente ao lado. Até porque vocês já sabem ou deviam saber que os mercados não são agentes racionais, ao contrário do que muitas vezes querem pintar!

      Nós podíamos ter feito tudo mas tudo certinho e mesmo assim, devido a um conjunto qualquer de factores que saem fora do nosso controlo, os juros do financiamento subirem.

      Tornando a repetir a comparação com uma dívida familiar, também não é ela que controla a taxa directora do seu crédito. E se a taxa subir muito para além do que foi previsto, temos pena. Ou se corta noutras despesas para se aguentar os novos juros, ou se declara falência e sofre as consequências. Mas tudo isto foi ou devia ter sido assumido quando se contraiu a dívida. E até a família mais bem comportada do mundo pode cair neste drama.

      Portanto que se mete no jogo, aceita as consequências. Chorar que não temos culpa não nos serve de nada, e só nos impede de não tornar a fazer asneira.

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  12. «Sem essas asneiras do BPN, swaps, PPP e afins estaríamos com menos uns pontos percentuais na dívida pública mas com troika à mesma.»

    Depois há o problema de sustentares esta afirmação. Porque a relação numérica entre dívida soberana e dívida odiosa é desconhecida, tal como desconhecemos a relação numérica ente investimento judicioso e despesa imbecil apesar de legítima. (alguns de nós, contribuintes, eleitores e cidadãos, consideram-nas igualmente indesculpáveis)

    Ou seja, perante uma afirmação como a tua, por mais bem intencionados que sejam os nossos esforços de objectividade podemos servir-nos apenas de uma lista de casos flagrantes, muito mais extensa do que os exemplos que dás, e de uma percepção da idoneidade que nos oferecem os actos visíveis dos agentes do governo.

    E também nesta avaliação chego a um resultado substancialmente diferente do teu. Não é de forma nenhuma vestigial o volume de endividamento que resulta das tais «asneiras», digamos assim. Atenção: mesmo sem considerarmos o efeito difuso e provavelmente ainda mais volumoso que uma liderança rastejante tem no resto da economia. Paralela?

    Claro que sem a informação necessária ninguém está em condições de assegurar quantos «pontos percentuais» são totalizados no historial dos nossos representantes eleitos ou nomeados, mas a partir do momento em que se cortam serviços básicos ou o rendimento a milhões de pessoas para tentar cobrir um só desfalque da longa lista de desfalques penso que a única alternativa da civilização (democrática) é chamar os responsáveis pelos nomes. Ora, vendo bem, é exactamente o contrário de dizer que os responsáveis não são os responsáveis.

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  13. Bruce,

    Quanto à dívida ser impagável, é uma questão de prazo. Se tens 100% do PIB em dívida mas tens taxas de 2% e podes ir rolando a dívida enquanto a amortizas para pagar tudo nos próximos 200 anos, a coisa não tem grande problema. Se as taxas de juro passam a 10% e tens de pagar tudo já sem mais empréstimos, ou se só tens empréstimos com taxas muito acima do crescimento do PIB e tens de os pagar rapidamente, não consegues.

    A minha tese de que este governo nos está a roubar mais do que os anteriores assenta, principalmente, nas medidas deste governo. Por exemplo, as privatizações e a destruição dos serviços do Estado para aumentar o desemprego, baixar salários, impingir coisas como o cheque ensino e afins.

    Finalmente, digo que as aldrabices como as do BPN não foram determinantes pela combinação de dois factores. Por um lado, porque a maior fatia do orçamento tem sido sempre a das prestações sociais. Somada aos salários, dá cerca de dois terços do orçamento. Mesmo que aí haja aldrabices como pessoal a receber rendimentos mínimos que não devia ou horas extraordinárias a mais, continua a ser redistributivo e faz pouca mossa. E se tivessemos apenas 2/3 da dívida, os bancos internacionais ainda assim iriam livrar-se primeiro dos títulos de dívida portugueses antes de outros de economias maiores e o problema seria o mesmo.

    É claro que se tivéssemos tido políticos tão visionários e santos que isto tivesse ficado melhor do que a Alemanha, com crescimento forte, pouca dívida, exportações e o camandro, então sim, estaríamos nós com a taxa de juro a descer quando se agarrassem todos aos nossos títulos de dívida. Mas isso já me parece wishful thinking a mais até para uma conversa como esta :)

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  14. Epícuro,

    O lema da Alemanha é "Einigkeit und Recht und Freiheit" (unidade e justiça e liberdade). O "Deutschland über alles" é parte do hino, tal como o nosso tem “Às armas, às armas! Pela Pátria lutar!” mas não tencionamos matar ninguém. Quanto ao “cadastro”, Portugal ainda hoje exalta a glória dos tempo dos “descobrimentos” em que Portugal enriqueceu, em grande parte, à custa da escravatura. Se vais culpar pessoas pelos crimes dos seus antepassados penso que tens de pôr toda a gente na cadeia.

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  15. João,

    «até a família mais bem comportada do mundo pode cair neste drama.»

    Exacto. Eu e a minha mulher endividámo-nos para comprar casa. A coisa correu bem. Entre os dois já pagámos a casa e agora não temos problemas com dívidas. Mas podia ter corrido mal. Podíamos ter ficado desempregados, sem conseguir pagar o empréstimo, sem sítio para viver, etc.

    Só que essa possibilidade não permite defender que nunca nos devíamos ter endividado e que devíamos estar ainda a viver em casa dos pais para não arriscar. A ideia de que nunca se deve contrair dívidas e que se deve ser sempre auto-suficiente é um erro. Há situações em que pedir um empréstimo é claramente a opção mais sensata.

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    1. Devo estar a escrever qualquer coisa de errado. Eu não disse que não se devia ter assumido qualquer dívida, disse que existe uma grande diferença de irresponsabilidade entre a maneira como tu (presumivelmente) e a esmagadora maioria das famílias assume dívida, e a maneira como o estado a tem feito.

      É evidente que deves pedir um empréstimo se pensas que o investimento faz sentido. E pode fazer sentido até sem ser do ponto de vista puramente económico. Cada entidade pondera o valor subjectivo que dá à possibilidade de usar o capital hoje quando comparado com a ter apenas no futuro, da maneira que quiser.

      A grande diferença, como já disse e torno a repetir, é que o Ludwig encaixou a -> gestão da dívida <-, tanto os juros como a sua amortização, dentro da sua receita prória e ainda deixou uma margem de erro, chamada poupança/superavit, para poder aguentar com eventuais despesas inesperadas.

      O estado não faz isso. O estado assume uma totalidade de despesas muito acima das receitas (no pico do défice tivemos 1€ emprestado por cada 5€ de despesa). Se o estado fosse o Ludwig, e quisesse assumir uma nova dívida (igual para qualquer despesa, mas pronto) teria de fazer o seguinte:

      1) Calculava qual a nova responsabilidade e se a conseguia encaixar nas suas receitas normais. No caso do governo, se a nova despesa não encaixa-se nas receitas, teria de programar subir os impostos de acordo.

      2) Falava com a sua família e discutia se concordavam com a nova responsabilidade ou não. No caso de um governo que quisesse assumir nova dívida ela podia aparecer no programa eleitoral, assim como a subida de impostos respectiva.

      Acontece que nenhum governo faz nem 1 nem 2, e assumem novas responsabilidades para o futuro resolver, constantemente, e é o que mais gostam de fazer. O povo também gosta, porque não é ele que vai pagar a conta, é o futuro, e o que interessa é ver obra feita. Esta atitude só pode dar asneira, e a asneira está ai. Mais, a dívida nem é assumida com um objectivo claro e definido, serve apenas para tapar buracos (comparando outra vez com uma família, o Ludwig não conseguia fazer tal coisa, nem um sequer um mês).

      Gostava de ver um partido fazer algo desse género, a colocar no seu programa eleitoral algo do género: "Vamos modernizar os hospitais e contratar mais profissionais porque bla bla bla. Para isso vamos ter de pedir X emprestado, e assumir uma nova despesa de pessoal e consumo respectivo (um funcionário não custa apenas o seu salário, precisa de local e equipamento para trabalhar) de Y ao ano. Vamos programar pagar a dívida X a 30 anos. Para fazermos face à nova despesa vamos aumentar o IVA em Z%"

      E ai o povo decidia. Seria uma experiência interessante...

      Mas isto é válido para todo o tipo de responsabilidades futuras, seja dívida directa, seja dívida contratual como as PPPs ou swaps, sejam responsabilidades futuras como as da Segurança Social. O que não falta ai é responsabilidade futura que vai ser impossível de cumprir, basta uma breve olhadela para a pirâmide etária para entender que o PIB a médio prazo só pode dar um trambolhão.

      (Página 5)
      http://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=156066969&att_display=n&att_download=y

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  16. «Se tens 100% do PIB em dívida mas tens taxas de 2% e podes ir rolando a dívida enquanto a amortizas para pagar tudo nos próximos 200 anos, a coisa não tem grande problema.»

    Sim, em teoria podemos ter uma equipa de governo persuadida de que os juros fossilizaram nos 2%. Mas se tu não governas as tuas próprias finanças com esse grau de ignorância, tens algum motivo para aceitar que o façam a nível nacional? E se em vez de ignorância for desfaçatez, aceitas ainda melhor?

    «se só tens empréstimos com taxas muito acima do crescimento do PIB e tens de os pagar rapidamente, não consegues.»

    Ora nem mais :)

    «A minha tese de que este governo nos está a roubar mais do que os anteriores assenta, principalmente, nas medidas deste governo.»

    Não quero extorquir-te uma confissão, mas sei que concordas que é muito significativo ter sido o governo anterior, e não este, a lançar um pedido de ajuda financeiro. Bem sei que a refeição do PSD ainda vai a meio e é cedo para comparações, mas olha que é preciso rapar muito salário para chegar ao valor de uma só autoestrada daquelas às moscas. E termos o ordenamento urbano mais ineficiente e asqueroso de que há registo depois dos sarracenos, consolidado para as próximas gerações, também me parece uma proeza difícil de igualar assim às três pancadas...

    Porque é que isto é roubar? Porque as pessoas vivem nas cidades e as cidades vivem nas pessoas. É impossível esperar o melhor de um povo refém de engarrafamentos, a viver em edifícios que nem Jesus Cristo queria se tivesse que pagar durante um mês, quanto mais durante vinte anos... Isto para explicar que a falta de planeamento e a qualidade dos resultados são bem um espelho do tipo de liderança que nos assiste há décadas.

    «a maior fatia do orçamento tem sido sempre a das prestações sociais. Somada aos salários, dá cerca de dois terços do orçamento.»

    Do orçamento. Se não me engano estávamos a falar em endividamento :) E o normal seria que os nossos impostos pagassem as prestações sociais! Se até isso estamos hoje a pedir emprestado eu recomendo-te novamente a minha analogia do elevador, do administrador e das jóias da esposa.

    « se tivéssemos tido políticos tão visionários e santos que isto tivesse ficado melhor do que a Alemanha»

    Ludwig, tem piedade. Santos? Melhor do que a Alemanha? Eu só pedia que não estivéssemos falidos ética e economicamente.

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  17. Sr. Ludwig Krippahl. Não sei se o senhor é alemão ou tem ascendência alemã ou se simplesmente o seu nome me soa a essa língua. Seja como for, estou a contactá-lo por este meio (não fui capaz de encontrar um endereço eletrónico pessoal)para saber se me autoriza a traduzir alguns dos seus posts para a língua alemã, para que estes sejam divulgados em fóruns e espaços de opinião de alguns média bastante relevantes de origem germânica (WELT.de, SPIEGEL, etc.) para aferir a reação dos nossos "Freunde" a pontos de vista que eles aparentemente não têm o prazer de conhecer... nomeadamente no que diz respeito a questões político-económicas, obviamente. Não querendo menosprezar todos os outros assuntos que no seu blog são abordados, cada um deles bastante interessantes e bem fundamentados. Se concordar, posso garantir-lhe que a fonte dos textos será devidamente identificada como sendo de sua autoria, podendo, se assim o desejar, enviar-lhe links dos sítios onde colocarei os textos traduzidos. Posso igualmente enviar-lhe o texto traduzido antes de este ser divulgado. O que é que acha?

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