domingo, junho 16, 2013

Treta da semana: o incómodo.

Amanhã, os professores do ensino secundário vão fazer greve. Num dia de exame, em vez de esperarem pelas férias. O governo acha que os professores não deviam ter o direito de fazer greve quando incomoda e já vi várias pessoas a criticar esta greve por lhes incomodar que os filhos não tenham exames. É uma chatice. O Henrique Monteiro aponta assim o problema: «As greves serviam para penalizar os maus patrões, os patrões não dialogantes. [...] As greves na função pública [...] são diferentes. Em primeiro lugar, em vez de penalizarem os patrões, penalizam os utentes desses serviços [...] os alunos e pais, no caso do momento, a greve dos professores. [...] os prejudicados de não haver exames não são os patrões dos professores (o ministro e o Ministério da Educação), mas sim os utentes dos serviços de educação - os alunos e os pais.»(1) Há aqui duas confusões importantes.

A primeira, mais geral, é acerca do direito à greve. Parece-me que muita gente julga que o direito à greve vem de uma legislação especial que dá às pessoas o direito de faltar ao trabalho. Não é isso. Todos temos o direito de faltar ao trabalho pelo simples facto de não sermos escravos. É certo que as faltas injustificadas dão ao patrão o direito de sancionar o trabalhador, eventualmente com o despedimento, mas isto é apenas por acordo mútuo no contrato de trabalho. Salvo casos de impreterível necessidade social – que, segundo a legislação da requisição civil, não inclui os exames do ensino secundário – não há ilegalidade nenhuma em faltar ao trabalho. O direito à greve é acerca de outra coisa. Se os empregados protestam faltando ao trabalho, é óbvio que o patrão não os vai despedir todos. Ficava sem ninguém para trabalhar. Mas podia despedir aqueles empregados incómodos que organizam os protestos, normalmente uma pequena minoria. A lei da greve apenas retira esse poder injusto de coacção que impediria os trabalhadores de organizarem sindicatos. Quando há uma greve que nos incomoda, é importante lembrar que esses trabalhadores que faltam ao trabalho não são escravos e não podem ser legitimamente obrigados a trabalhar contra a sua vontade só porque nos dá jeito. A lei da greve apenas limita as sanções previstas no contrato de trabalho, circunscrevendo-se à relação entre os trabalhadores e quem administra esses contratos. Que pode nem ser o patrão, se a organização for grande.

Essa é a outra confusão, que o Henrique Monteiro tão bem exprime. As greves servem para pressionar os patrões. Em muitos casos isto pode ser feito indirectamente pela pressão sobre os clientes, mas no caso da função pública a pressão é directa. Porque, ao contrário do que o Henrique Monteiro julga, os patrões dos professores, e dos funcionários públicos em geral, são os utentes. O ministro da educação é apenas um administrador escolhido em nome dos eleitores para tratar dos detalhes. Não é o patrão da educação. Não é dono das escolas, não paga os salários dos professores com o seu dinheiro nem lucra com o trabalho deles. O ministro da educação é mais um funcionário público. Para bem ou para mal, os patrões somos nós. Todos.

É por isso duplamente errado focar o alegado abuso dos professores em fazer greve logo no dia dos exames. Primeiro, porque ninguém pode legitimamente obrigá-los a vigiar exames se não quiserem. Declarar que é greve apenas limita as sanções aplicáveis segundo o seu contrato de trabalho e não altera em nada os direitos que têm enquanto pessoas. Mas, principalmente, porque a reacção de um patrão perante a greve dos seus funcionários não deve ser simplesmente um “olha que chatice, logo num dia em que não me dá jeito”. No interesse do próprio patrão, deve tentar perceber o problema e o que pode fazer para o resolver.

Neste caso não é difícil. Há muitos detalhes, como as propostas de lei da mobilidade, cortes nos salários, regras dos concursos e assim por diante, mas não é importante perceber o problema a esse nível. O principal é óbvio. Este governo – ou seja, os administradores que os patrões contrataram – está a demonizar toda a função pública e, principalmente, os professores do ensino básico e secundário. Reduziu o número de professores de 130 mil para 100 mil, cortou-lhes os salários e inventa constantemente regras para chatear. O objectivo claro é o de reduzir o professor a alguém que aceite o cargo por não ter alternativas e que, por isso, saia barato. Isto vai dar uma educação de porcaria, mas por alguma razão os ministros têm os filhos em escolas privadas (2).

Quem tem filhos na escola pública não devia ver esta greve como uma chatice. Devia vê-la como um alerta, como qualquer patrão faria. Quem não tem filhos na escola devia pensar o mesmo. Porque somos os patrões desta gente toda, de professores a ministros, com a responsabilidade de perceber o que se passa e fazer algo para o resolver. E porque a qualidade do ensino não afecta apenas os nossos filhos. A qualidade do ensino influencia a sociedade toda. O nível de criminalidade, o desenvolvimento tecnológico, a cultura e até as nossas pensões quando nos reformarmos vão depender muito do sucesso académico destas crianças. Crianças que cada vez estão em turmas maiores, cada vez têm professores menos motivados e cada vez têm menos respeito por quem as tenta educar. Este último é até um factor pelo qual os patrões dos professores e dos ministros são directamente responsáveis.

1- Henrique Monteiro, Professores: as greves contra os utentes
2- Que neste momento não são necessariamente as melhores –ver aqui no Aventar – mas estão-se a esforçar por isso.

33 comentários:

  1. "e cada vez têm menos respeito por quem as tenta educar. Este último é até um factor pelo qual os patrões dos professores e dos ministros são directamente responsáveis."

    Acho que não. Se perdem respeito por quem as tenta educar é, entre outras coisas, porque estes desrespeitam a sua função ao escolher como forma de fazer valer os seus pontos de vista desrespeitar e boicotar o momento mais importante do percurso académico dos alunos.

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    1. bom boy é uma questão cultural o respect

      boi cota o quê boi cota nada que percurso académico há no Haiti?

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  2. NG... Ai esta' o exemplo perfeito do que e' explicado no texto acima.
    O seu comentario transborda daquela mentalidade tacanha e ignorante que promove o mau comportamento nas escolas.

    Como e' obvio pela sua observacao, Voce nao poe os pe's numa escola desde que era crianca, nao faz ideia da realidade das escolas e apresenta aquela postura ridicula pos-moderna de que as criancas nao devem ser responsabilizadas por nada, que nunca sao culpadas e que sao muito sensiveis.
    Tambem a sua interpertacao esteriotipada sobre os professores mostra apenas ignorancia.

    Se soubesse alguma coisa sobre a realidade das escolas, saberia que hoje em dia um dos mais graves problemas para a educacao e' o facto de nao existirem formas de controlar as criancas e como tal elas tornarem impossivel o decorrer normal de uma aula. Bastam 3 criancas mal comportadas e todas as outras 27 serao prejudicadas pois o M. Educacao nao oferece solucoes para resolver os problemas. Pessoas ignorantes como o senhor levantam logo a voz declarando que se eles nao teem o respeito de algumas criancas e' porque nao se fazem respeitar... ??? WHAT???
    Nem vale a pena tentar argumentar consigo. Convido-o a pedir a um qualquer professor para o acompanhar durante um dia de aulas. Faca isso e depois diga-nos o que pensa sobre o ensino, os professores e o que realmente esta' mal.

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    1. Bastam 3 criancas mal comportadas e todas as outras 27 serao prejudicadas pois o M. Educacao nao oferece solucoes para resolver os problemas. Fácil: todos os dias vão para a rua e nunca mais há chatices nas aulas.

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  3. O mais caricato dos constantes ataques aos professores e' que no fim estes sao os unicos que defendem os interesses dos Patroes (todos nós contribuintes) e seus filhos.
    No fim de contas sao eles os unicos a tentarem defender uma escola publica e educacao de qualidade. Os pais nao se juntam para isso, os filhos sao demasiado jovens e ignoram ainda o que e' fundamental para o seu futuro. O Ministerio da Educacao como sempre mete os pes pelas maos e a cada medida torna o ensino pior, quer seja atraves de solucoes para poupar quer seja por idiotices em que ate' se acaba a gastar mais...

    Triste pais aquele em que nao se respeita a educacao e nao se exige o melhor dela...

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  4. Olá:

    Tenho visto muita queixa mas muito pouco clara. Consegues dizer sumariamente o que eles reivindicam e como isso afecta a qualidade do ensino?

    Outra coisa. Eu acho optimo que as pessoas lutem pelo que querem, (lutem sem violencia). Mas não compreendo porque o hão de fazer numa altura tão critica. Não confio no estado para depois resover o problema de exames mal feitos e prevejo uma aleatoriedade enorme na entradda para o ensino superior se houver greve agora.

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    1. «Mas não compreendo porque o hão de fazer numa altura tão critica.» Eu acho que é de propósito para tornar a greve polémica.

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    2. Na internet alguém escreveu um texto satírico que me parece muito adequado para discutir a questão das greves:

      «ELOGIO DA GREVE MANSA

      A greve é um direito constitucional
      Desde que não seja no meu quintal
      E não belisque a conveniência geral

      Não afecte a produção das farinhas
      Nem ponha em causa a criação de galinhas
      Nem traumatize as pobres criancinhas

      O melhor seria ouvir os poderes instalados
      E fazê-la no dia e hora mais adequados
      Para não haver prejudicados

      Talvez ao domingo depois do sermão
      No feriado da Imaculada Conceição
      Ou dia de São Nunca (que é santo pagão)

      Nos restantes dias a greve já cansa
      Agitando a louca bandeira da esperança
      Que a melhor das greves é a greve mansa»

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    3. Achas que não há limite à greve do ponto de vista da consequência?

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    4. A lei prevê limites do ponto de vista da consequência - os serviços mínimos. Não me parece desequilibrada.

      Quanto ao texto que partilhei, advoga que às greves devem corresponder consequências palpáveis: que as greves não sejam inconsequentes.
      Ler nisso a ideia de que não devem existir quaisquer limites parece-me um exemplo da falácia do terceiro excluído, e portanto um erro crasso.

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    5. João Vasco:

      Parece-me que te precipitas. Eu apenas perguntei se achas que não há limite à greve, não disse que o texto o dizia ou que tu o dizias. O texto também não o desdiz e o seu humor vai ao ponto de gozar com as mais infamas consequências da greve, o que no contexto em que é invocado, levanta a questão.

      Não pressupondo à partida que tu achas que a lei já prevê todos os casos pertinentes de serviços mínimos, apesar de considerares o que está feito equilibrado, a questão agora é se não haverá situações não previstas. E de como se deveria agir num desses momentos sem insultar a democracia.


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    6. « Eu apenas perguntei se achas que não há limite à greve, não disse que o texto o dizia ou que tu o dizias.»
      Eu sei que só fizeste a pergunta. Eu disse que ler no texto a resposta seria um erro crasso, não que o tinhas cometido.

      «Não pressupondo à partida que tu achas que a lei já prevê todos os casos pertinentes de serviços mínimos, apesar de considerares o que está feito equilibrado, a questão agora é se não haverá situações não previstas. E de como se deveria agir num desses momentos sem insultar a democracia.»

      Assim:
      http://expresso.sapo.pt/colegio-arbitral-da-vitoria-a-sindicatos-requisicao-civil-esta-excluida-fne=f813347

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    7. "Eu sei que só fizeste a pergunta. Eu disse que ler no texto a resposta seria um erro crasso, não que o tinhas cometido."

      Não te referias a mim mas a um leitor hipotético? Ok.

      Parece-me uma boa resposta. Proceduralmente é correcto. Mas não diz nada acerca das razões de tomar uma tal decisão. Isso interessava-me mais.

      Até admito que os professores possam fazer greve em todas as alturas de exames, (já que a vigilancia podia ter sido assegurada por outros agentes competentes para o caso) mas deste modo, sem recorrer a alternativas, não estou a ver como não é um serviço minimo.

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    8. «Não te referias a mim mas a um leitor hipotético? Ok.»

      A tua pergunta não fazia formalmente qualquer acusação de que eu não via limites. Eu quis responder nos mesmos termos, sem afirmar formalmente que estavas equivocado ao pensar que eu não os via. Quis manter exactamente o mesmo espaço entre o que pode ser sugerido pelo contexto e o que é dito explicitamente, pois espero um critério de leitura consistente.
      Quem se importar mais com o que é sugerido do que com o que é afirmado formalmente lerá uma resposta à (suposta) sugestão, quem der mais importância às afirmações explícitas perceberá que não cometi qualquer injustiça na minha resposta.
      Desde que o critério seja o mesmo para pergunta e resposta, está tudo certo.


      «Mas não diz nada acerca das razões de tomar uma tal decisão. Isso interessava-me mais.»
      Não percebi.


      «Até admito que os professores possam fazer greve em todas as alturas de exames, (já que a vigilancia podia ter sido assegurada por outros agentes competentes para o caso) mas deste modo, sem recorrer a alternativas, não estou a ver como não é um serviço minimo.»

      Essa não foi a minha resposta.

      Nota bem: eu afirmo que considero a lei equilibrada. Tu dizes que a lei não prevê tudo, e perguntas como é que se deve fazer para preservar a democracia nas situações em que a lei não é clara.
      A resposta mais simples é: nos Tribunais. É para isso que servem.
      Daí a notícia que citei, onde aconteceu precisamente isso.

      Os Tribunais não são infalíveis, e poder-se-ia argumentar que tomaram uma má decisão. Pessoalmente não tenho qualquer razão para supor que assim foi.
      De qualquer forma, mantenho que são a resposta directa à pergunta que me colocaste.

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    9. João Vasco:

      A minha pergunta foi num contexto onde eu considero o momento critico para uma greve e tu respondes com um texto a fazer humor usando ninharias. Tudo bem. A minha questão vai para lá do texto. Vai à tua opinião para saber onde está o nosso ponto de convergência acerca destas coisas. De onde esperava que a resposta fosse dirigida a mim e não a leitores hipotéticos. Assim fico sem saber também a quem te diriges com a questão das sugestões/afirmações. Mas nota uma coisa: não é dar mais importancia a uma ou a outra. É a maneira como deve ser abordada. As afirmações são para ser tomadas como posições; aquilo que é sugerido deve ser antes de mais confirmado. E eu considero que no contexto e lendo o texto a questão era pertinente, antes de avançar para o concreto. Isto também não é por teimosia mas porque a metadiscussão é de facto importante. Já percebi a tua parte, apresento desculpas quanto à minha sugestão de teres sido precipitado, embora ressalve uma boa razão para o ter julgado.

      O resto da minha resposta teve de ser em cima do joelho e como não queria deixar de responder lá foi, por isso é natural que tenha ficado pouco clara.

      Quando eu pergunto como deve ser resolvido o problema de momentos imprevistos e críticos numa perspectiva de greve, a minha preocupação inclui o que tu respondeste, e é de facto directa. Mas inclui também aquelas coisas que devem ser levadas em consideração por quem está a tomar legitimamente essa decisão. Donde a minha insistência.

      Entretanto a discussão com o Ludwig avançou mais depressa e parece-me que tenho bastantes pontos em que concordo com ele. Se de facto a discussão te interessa avança até lá.

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    10. «Já percebi a tua parte, apresento desculpas quanto à minha sugestão de teres sido precipitado, embora ressalve uma boa razão para o ter julgado. »

      Ok :)

      «Quando eu pergunto como deve ser resolvido o problema de momentos imprevistos e críticos numa perspectiva de greve, a minha preocupação inclui o que tu respondeste, e é de facto directa. Mas inclui também aquelas coisas que devem ser levadas em consideração por quem está a tomar legitimamente essa decisão. Donde a minha insistência.»

      Tentei ler uma segunda vez e continuei sem entender o que queres dizer com isto.

      «Entretanto a discussão com o Ludwig avançou mais depressa e parece-me que tenho bastantes pontos em que concordo com ele. Se de facto a discussão te interessa avança até lá.»

      Eu estava a responder à pergunta que me fizeste. Se consideras que a pergunta foi respondida, e que a discussão com o Ludwig está interessante, esta linha de conversa está arrumada :)

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  6. Está aqui uma resposta a parte das minhas questões se alguém daqui estiver interessado:

    http://duvida-metodica.blogspot.pt/2013/06/para-que-servem-os-professores.html

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  7. NG (Nuno Gaspar?)

    A ideia de que há tantos miúdos na escola a comportar-se de forma aberrante e impeditiva do ensino porque os professores fizeram greve hoje é, para ser simpático, um absurdo. Este problema passa pela minoria significativa de pais que não é capaz de educar os filhos, se bem que também comece na propaganda do governo (deste e do anterior) segundo a qual os professores não merecem consideração nenhuma e são só uma fonte de despesas e sorvedouro do erário.

    Imagina-te a dar aulas a turmas nas quais há sempre uns poucos alunos que, durante as aulas, desatam a gritar, ou sobem para as mesas, ou atiram coisas aos colegas, e se riem quando os tentas disciplinar. Nota que não lhes podes fazer nada, legalmente. Podes pedir para saírem da sala, mas se disserem que não saem só fazes má figura. O máximo que podes fazer é uma participação aos pais que, nesses casos, não fazem nada. Esse é um dos problemas que os professores destes níveis enfrentam (eu, felizmente, safei-me disso). A origem disto não é as greves...

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    1. Obviamente a greve não explica tudo, Ludwig. Mas não contribui para que os professores sejam mais respeitados pelos alunos. E sim, o hiperrelativismo que tudo permite e contemporiza, também filho dos inimigos do livre arbítrio instalados nas estruturas de ensino, dá nessas macacadas nas salas de aula e no vandalismo galopante pelas ruas desse mundo fora com que os mesmos se excitam.
      Nuno Gaspar

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  8. João,

    «Achas que não há limite à greve do ponto de vista da consequência?»

    Eu acho que sim. O direito de abandonar o posto de trabalho deve ser pesado em conjunto com outros direitos e obrigações. No entanto, a fasquia a partir da qual se pode legitimamente obrigar alguém a cumprir uma tarefa sob pena de prisão, por exemplo, é muito alta. Um polícia durante um assalto, um cirurgião durante a cirurgia, um motorista de autocarro a 100km/h na autoestrada são exemplos de situações em que seria criminoso abandonar o posto sem mais nem menos.

    Mas na maior parte dos casos parece-me claro que a autonomia da pessoa – nomeadamente, o seu direito de decidir se faz aquele trabalho ou se vai para casa – deve ser superior. E em todos esses casos o direito à greve deve ser respeitado. Nota que o direito à greve não é o direito de faltar mas apenas uma limitação às sanções previstas pelo contrato de trabalho cumpridos os requisitos formais de aviso prévio e afins. Esse deve aplicar-se sempre que for um direito da pessoa dizer porra, isto assim não.

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    1. Deixa-me invocar um exemplo mais moderado que os teus mas bastante radical:

      Achas que os médicos das urgencias por exemplo, podem deixar de assegurar serviços mínimos durante um dia que seja?

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  9. João,

    «Achas que os médicos das urgencias por exemplo, podem deixar de assegurar serviços mínimos durante um dia que seja?»

    Não. Porque acho que se todos os médicos decidirem demitir-se no mesmo dia, o Estado deve obrigar alguns a manter o serviço de urgência (por requisição civil) até que a situação se resolva. Por isso, também considero que numa greve dos médicos devem assegurar serviços mínimos.

    Como não me parece que, caso os professores se demitam todos, faça sentido uma requisição civil a obrigá-los a vigiar os exames, também não me parece que deva haver serviços mínimos em caso de greve.

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  10. Se os professores se demitirem todos pode deixar de haver aulas. Mas os alunos que já as tiveram (ou até os que estudaram em casa) podem continuar a fazer exames, se houver professores. Não estou a ver onde a tua lógica segue. Parece-me até que começo a ver boas razões para considerar exames um serviço minimo.

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  11. João,

    «Não estou a ver onde a tua lógica segue.»

    Segue aqui:

    O teu direito de ser atendido no hospital naquele momento em que te estás a esvair em sangue é mais importante do que o direito dos médicos de decidirem deixar de trabalhar naquele dia. Por isso, é aceitável a aplicação de medidas coercivas que subordinem a liberdade daquelas pessoas às tuas necessidades imediatas.

    Em contraste, o teu direito de fazer o exame de Português naquele dia em vez de o fazeres duas semanas mais tarde quando o problema estiver resolvido não é suficientemente importante para justificar a aplicação de medidas coercivas que obriguem os outros, mesmo contra a vontade deles, a fazer-te o jeito.

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  12. "Em contraste, o teu direito de fazer o exame de Português naquele dia em vez de o fazeres duas semanas mais tarde quando o problema estiver resolvido não é suficientemente importante para justificar a aplicação de medidas coercivas que obriguem os outros, mesmo contra a vontade deles, a fazer-te o jeito."

    Se isso fosse apenas como dizes estaria de acordo. Mas há alunos que fizeram, outros que não fizeram e outros que fizeram em condições sub-optimas para comparação de desempenhos. Começa o caos no protocolo de exames. TEm de ser igual para todos. E foi isso que acrescentei logo ao principio como razão paralela para ter duvidas sobre o direito dos professores.

    Talvez possas é dizer que isso já não é problema deles. Mas era previsivel.

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  13. João,

    «Mas há alunos que fizeram, outros que não fizeram e outros que fizeram em condições sub-optimas para comparação de desempenhos»

    Isso foi por imbecilidade do ministério. O razoável é que, marcando uma greve para o dia de um exame, a data do exame fosse alterada. Isto serviria o propósito da greve, que era mandar um sinal claro aos pais de que há problemas no ensino, sem criar estas situações de injustiça.

    A casmurrice do Crato de mandar fazer o exame sabendo que milhares de alunos não o poderiam fazer demonstra bem quem é que se está nas tintas para os alunos e para o ensino.

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  14. hi hi hi hi

    No meio disto tudo tem alguma piada ver-te começar a fumegar, Ludwig.

    Mais vale tarde do que nunca, ó homem da racionalidade serena!

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  15. Ludwig:

    "Isso foi por imbecilidade do ministério."

    Ok, mas isso era esperado. Podiam ter tomado inumeras soluções, mas estavamos mesmo a ver que não iam tomar nenhuma...

    Os professores deviam saber (e daí esperar uma greve com alto impacto, talvez demasiado impacto).

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  16. "Isto serviria o propósito da greve, que era mandar um sinal claro aos pais de que há problemas no ensino"

    Bastava fazer greve na altura de dar as notas do segundo período. Para os pais interessados a mensagem ia chegar.

    Fazer greve no momento mais critico da vida de alunos em que muitos andaram anos a pensar naquele momento, acho que é um exagero. A mim parece-me mesmo um tiro nos pés para quem quer dizer que está a fazer esta greve pelos alunos.

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  17. LUDWIG KRIPPAHL (LK) ENCONTRA O FILÓSOFO SÓCRATES E DIALOGA COM ELE SOBRE AS ORIGENS


    LK: Sabes Sócrates, estou convencido de que os micróbios se transformaram em microbiologistas ao longo de milhões de anos e que os criacionistas fazem alegações infundadas acerca dos factos.

    Sócrates: A sério? Grandes afirmações exigem grandes evidências!! Quais são as tuas? Se forem realmente boas, convencerão certamente os criacionistas!

    LK: É simples! O meu “método científico”, o meu “naturalismo metodológico”, o meu “empírico”, a minha “abordagem dos problemas” e o “consenso dos biólogos” são infalíveis. Se os criacionistas soubessem bioquímica, biologia molecular, genética, geologia, etc., poderiam observar que:

    1) moscas dão… moscas!

    2) morcegos dão… morcegos!

    3) gaivotas dão… gaivotas!

    4) bactérias dão… bactérias!

    5) escaravelhos dão… escaravelhos!

    6) tentilhões dão… tentilhões!

    7) celecantos dão… celecantos (mesmo durante supostos milhões de anos)!

    8) guppies dão… guppies!

    9) lagartos dão… lagartos!

    10) pelicanos dão… pelicanos (mesmo durante supostos 30 milhões de anos)!

    11) grilos dão… grilos (mesmo durante supostos 100 milhões de anos)!

    Sócrates: Mas, espera lá! Não é isso que a Bíblia ensina, em Génesis 1, quando afirma, dez vezes (!), que os seres vivos se reproduzem de acordo com o seu género? Os teus exemplos nada mais fazem do que confirmar a Bíblia!

    LK: Sim, mas os órgãos perdem funções, total ou parcialmente, (v.g. função reprodutiva) existem parasitas no corpo humano e muitos seres vivos morrem por não serem suficientemente aptos…

    Sócrates: Mas…espera lá! A perda total ou parcial de funções não é o que Génesis 3 ensina, quando afirma que a natureza foi amaldiçoada e está corrompida por causa do pecado humano? E não é isso que explica os parasitas no corpo humano ou a morte dos menos aptos? Tudo isso que dizes confirma Génesis 3!

    Afinal, os teus exemplos de “método científico”, “naturalismo metodológico”, “empírico”, “abordagem dos problemas” e “consenso dos biólogos” apenas corroboram o que a Bíblia ensina!! Como queres que os criacionistas mudem de posição se os teus argumentos lhes dão continuamente razão?

    Não consegues dar um único exemplo que demonstre realmente a verdade daquilo em que acreditas?

    LK: …a chuva cria informação codificada…

    Sócrates: pois, pois… e as gotas formam sequências com informação precisa que o guarda-chuva transcreve, traduz, copia e executa para criar as máquinas que fabricam disparates no teu cérebro…

    …olha Ludwig, não passas de um sofista e de má qualidade… …o teu pensamento crítico deixa muito a desejar… … se fosses meu aluno em Atenas tinhas chumbado a epistemologia, lógica e crítica…

    …em meu entender, deverias parar para pensar e examinar a tua vida, porque uma vida não examinada não é digna de ser vivida…

    …e já agora, conhece-te a ti mesmo antes de te autodenominares “macaco tagarela”…


    P.S. Todas as “provas” da “evolução” foram efetivamente usadas pelo Ludwig neste blogue!




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  18. A questão é que claramente não se está a fazer greve pelos alunos não tão pouco pelo "ensino público". A greve é pelos interesses dos professores.

    Como é que passar de 35h para 40h ou obrigar professores com hórario 0 a darem aulas a 30Kms de distancia acaba com o ensino publico?

    Quanto muito melhora o ensino publico, visto que os docentes dedicam mais tempo à profissão, e escolas que têm falta de docentes para os seus alunos passam a ter capacidade para leccionar as aulas devidas.

    Os professores, sendo uma corporação muito unida e com muita força - porque, até ao governo anterior, ninguem queria ir contra aqueles que estão a formar gerações futuras - foram adquirindo regalias/direitos altamente injustos em relação à restante função publica (tirando, talvez, os juizes) e em relação ao português trabalhador do privado.

    há algum tempo, quando andava na escola, era comum, ao procurar um professor, ouvir respostas do tipo "Sra professora não trabalha às sextas", "Nas férias (dos alunos) os professores só vêm cá se houver marcação prévia" e coisas que tais. E não me digam que os professores estão em casa a trabalhar a preparar aulas e a corrigir testes. porque a maioria dos professores dá a mesma aula há 10 anos, exactamente da mesma maneira e nem por isso é minimamente apelativa para os alunos, e é comum os testes demorarem várias semanas a ser entregues de volta aos alunos.

    Para alem disso, se os alunos (e a maioria dos restantes profissionais) têm de prepar trabalhos, apresentações e estudar no seu tempo livre, porque é que os professores não o têm de fazer?




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