domingo, fevereiro 24, 2013

Treta da semana: o caso Relvas.

O Miguel Relvas foi ao ISCTE falar sobre jornalismo a convite da TVI. Alguns alunos, que a TVI não convidou para falar, vaiaram o ministro, gritaram e pediram que se demitisse. Após uns momentos de sorriso amarelo, o ministro foi-se embora (1). Para Santos Silva isto foi inaceitável, anti-democrático e uma «limitação ilegítima à liberdade de expressão»(2). Daquele que tinha sido convidado para subir ao pódio, é claro, que a liberdade dos outros era a de ouvir em silêncio. Segundo o líder parlamentar do PSD «Portugal precisa de políticas e políticos livres [que] gritam livremente pelas suas ideias» e o do CDS reforçou que «o direito de falar é um direito absoluto, mas não tão absoluto que iniba os outros de falar» (3). A conclusão óbvia destas premissas é que quando o Miguel Relvas fala os estudantes devem ficar inibidos de gritar livremente pelas suas ideias. Numa democracia, quem grita livremente são os políticos, não o povinho.

O Henrique Raposo ainda vai mais longe. Escreve que os «meninos e meninas [que] têm usado "Grândola Vila Morena" como forma de calar outras pessoas [...] revelam uma total intolerância em relação ao outro lado; [...], respiram e transpiram ódio, um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes. E, de forma mui fascista, esta malta tem orgulho nesse ódio»(4). Certamente que o fascismo aqui é uma alusão à táctica da PIDE de vaiar e apupar os detractores de Salazar que discursassem contra o governo, em universidades públicas, a convite de canais privados de televisão. Ou talvez até aluda à Alemanha nazi, quando agentes da Gestapo trauteavam Wagner sempre que alguém discursava contra Hitler perante a comunicação social.

Subjacente a este repúdio do protesto dos estudantes está a violação da liberdade de expressão. O Miguel Relvas tinha ideias importantes para exprimir. O Miguel Relvas foi ao ISCTE exprimir essas ideias e, certamente, muita gente as queria ouvir. Afinal, trata-se de um estudioso que consegue dominar num par de dias matérias que o estudante médio demora cinco anos a aprender. Fascistas, não o deixaram falar. O Miguel Relvas perdeu assim a única oportunidade que alguma vez terá de dizer o que pensa, e nós todos ficaremos para sempre privados da sua sabedoria. Se fosse preso, torturado ou até morto numa prisão oculta, ao menos ainda poderia escapar-se alguma obra sua que nos transmitisse o seu pensamento. Um ensaio sócio-político, um diário ou até um trabalho de fim de curso. Mas não. Nada de censurar com prisão, tortura ou morte, coisas de fascismo amador e ditaduras de meia-tigela. Estes estudantes do ISCTE são da raça fascista mais violenta e perigosa, aquela que grita “demissão!”, “a propina dói!” e chega até a cantar músicas do Zeca Afonso. Nem sequer Wagner. É logo Zeca Afonso.

Sobretudo, os estudantes foram mal educados. Não é assim que se resolve os problemas. Quando um governo afunda o país, ignora tudo o que prometeu para ser eleito e vende os bens do Estado ao desbarato, a forma correcta de intervenção é pôr o dedo no ar e esperar em silêncio que o Miguel Relvas ceda a palavra. Afinal, o Miguel Relvas só abandonou a carreira académica e dedicou-se ao poder político, a grande custo pessoal e financeiro, pela sua enorme vontade de servir o próximo e de zelar pelos nossos interesses. Por isso, há que confiar, dizer com licença e agradecer no fim.

1- Sol, Relvas vaiado impedido de falar
2- TVI, «É inaceitável que um ministro seja impedido de falar»
3- I online, Maioria condena censura a Relvas. Oposição rejeita demarcar-se
4- Henrique Raposo, O fascismo do "Grândola Vila Morena"

47 comentários:

  1. Ao teu texto, cheio de certeira ironia e sarcasmo certeiros, só não lhe perdoo uma omissão.

    Não há qualquer referência ao absurdo desta gente estar indignada com a "violação da liberdade de expressão" de Miguel Relvas, o mesmo que, perante a despreocupação geral, ameaçou jornalistas, removeu um director de informação incómodo, tirou do ar programas de rádio por críticas à ditadura angolana, etc...

    Com mais do que um repórter de imagem a ter sido agredido fisicamente, em diferentes ocasiões, durante este governo, esta gente vem agora mostrar-se preocupada com a "liberdade de expressão". Os hipócritas!

    A prova que não se preocupam com a Liberdade de expressão é que os estudantes fizeram isto a Miguel Relvas e não ao ministro que já o devia ter substituído, logo no episódio (esse sim pidesco, fascista) da ameaça à jornalista de revelar dados pessoais, sabe-se lá por que meios conseguidos.

    Mas se calhar esse ponto é bastante sério, e talvez tornasse o texto mais pesado. Não sei. Sinto que lá faz falta, mas tenho dificuldade em fazer piadas com isso. Com pena minha, tenho esperança que tenhas mais jeito ;)

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    1. ironia e sarcasmo aquilo?

      deve estar muito bem camuflada ó bruto

      e aqui o antoine de saint ex u puré nunca deve ter assistido a uma reunião da reitoria

      a universidade é o quê?

      bolas aquilo são 7 gatos num saco

      cabrão o meu departamento não é uma sinecura como o teu Universidade num monte qualquer idos de 198?

      e as lutas para ver quem entra em sabática para destacamentos vários em fundações autarquias viagens de estudo de 2 anos
      produção de monografias

      se calhar este antónio é bioquímico ou quimico orgânico e os gases dos solventes alteraram-lhe a percepçõ unibersitária

      no caso do jã bascus é mais a cinética dos tetrahidrocanabinóis que lhe canibalizam os 10 cantos que tem nos chá velhos de cammomile please

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  2. É difícil qualificar Relvas e muitos adjetivos justos e nenhum abonatório se podem juntar ao seu nome. Contudo a tolerância obriga a que mesmo pessoas como Relvas se possam exprimir livremente. É certo que a atitude dos estudantes é perfeitamente compreensível, Relvas há muito tempo que se devia ter demitido ou sido demitido, mas não há dúvida que atuaram sem ter em conta um princípio fundamental que é o direito de todos se exprimirem. Os estudantes podiam utilizar outras formas bem mais sofisticadas como pedir o uso da palavra e desmontarem o discurso de Relvas. Claro que estamos numa situação muito especial mas não estamos em ditadura, suponho que não é muito sensato desculpar a ação dos estudantes e muito menos aprová-la, se estas ações se tornarem explosivas no futuro não vão faltar pessoas que as repitam e em contextos que possivelmente não se justifiquem. Acho que os dirigentes do PS foram sensatos e clarividentes.

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    1. Você tem consciência que, por muito polido que seja, este texto é para si, não tem?

      "Claro que estamos numa situação muito especial mas não estamos em ditadura, suponho que não é muito sensato desculpar a ação dos estudantes e muito menos aprová-la, se estas ações se tornarem explosivas no futuro não vão faltar pessoas que as repitam e em contextos que possivelmente não se justifiquem."

      Esta frase é de uma estupidez indescritível. Que non-sequitur mal escrito e idiota. Imbecil mesmo!

      (Como é? Está a sentir a sua liberdade de expressão posta em risco com os meus apupos e insultos?)

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    2. Até parece q o coitado do homem n tem todas as oportunidades q quer para falar para câmaras de TV e para recebermos a liberade dele de nos dizer q norteia a sua vida "pela simplicidade da procura de conhecimento permanente". Mas ele enganou-se e era conhecimento no plural

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    3. E quando Miguel Relvas ameaçou uma jornalista, isso foi um ataque à liberdade de expressão que tenha motivado um comentário internético que seja do António?
      É que na altura, a reacção foi tão fraca, que a porcaria da licenciatura que ele não tem, foi mais importante para as pessoas do que o ataque escandaloso e perigosíssimo à liberdade de expressão que deveria logo resultar na sua demissão.
      Até parecia que quase nenhum português queria saber da liberdade de expressão. Agora, saídos sabe-se lá de onde, aparecem N pessoas preocupadas com limitações à liberdade de expressão. Mas, de forma completamente contrária ao espírito do princípio, a sua preocupação é com aquilo que os fracos e impotentes podem fazer aos poderosos. Quando Relvas acaba com um programa na rádio, ninguém quer saber da liberdade de expressão.

      É uma inconsistência que me dá a volta ao estômago.

      O Bruno Nogueira, como o Ludwig, também conseguiu trazer humor à situação:

      http://www.tsf.pt/Programas/programa.aspx?content_id=904110&audio_id=3067931


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    4. «A Universidade é o lar da permanente discórdia tranquila, do confronto civilizado entre pontos de vista rivais. É assim há 2500 anos. Deve imperiosamente continuar a sê-lo e não imagino nenhum argumento, nenhuma indignação legítima, nenhuma causa superior, que possa por um dia que seja interromper essa tradição de liberdade — que deve ser intocável no interior dos muros de uma Universidade.»
      João Carlos Espada em Cartas de Varsóvia
      Jornal Público de 25-02-2013

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    5. O que a Universidade não é, é uma caixa de ressonância para as cadeias privadas convidarem membros do governo para falar sem contraditório. É uma grande falta de escrúpulo fazê-lo. E o silêncio dos alunos teria sido indesculpável.

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    6. eram alunos? não foram importados das aulas de pensamento acrítico do krippahl?

      nos velhos tempos arrombavam-se as portas da reitoria

      há diferenças entre protestar atirando sapatos a relvas ou a bush

      e cantar desafinadamente uma treta velha que virou a maria da fonte deste regime...ó prole dos Pisani's que nos pisam em cada PPP...e loja de Relvas

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    7. Embora nada tenha a ver com a argumentação do texto há uma pergunta que se seria importante responder: qual é o objetivo político dos manifestantes? Estão a manifestar-se por mero prazer, para contestar o ministro ou o governo? O para quê parece importante. Como estamos a ver, em Itália, o movimento anti-partidos está numa situação em que pode vir a ser governo. Além de ideias genéricas como lutar pela igualdade, contra a corrupção etc que projeto tem para o País? Podemos dentro de algum tempo estar a fazer a mesma pergunta no nosso próprio País.

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    8. António,

      Nestas coisas, o mais esclarecedor é ler o manifesto:

      «Em Setembro, Outubro e Novembro enchemos as ruas mostrando claramente que o povo está contra as medidas austeritárias e destruidoras impostas pelo governo e seus aliados do Fundo Monetário Internacional, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu – a troika.
      Derrotadas as alterações à TSU, logo apareceram novas medidas ainda mais gravosas. O OE para 2013 e as novas propostas do FMI, congeminadas com o governo, disparam certeiramente contra os direitos do trabalho, contra os serviços públicos, contra a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde, contra a Cultura, contra tudo o que é nosso por direito, e acertam no coração de cada um e cada uma de nós. Por todo o lado, crescem o desemprego e a precariedade, a emigração, as privatizações selvagens, a venda a saldo de empresas públicas, enquanto se reduz o custo do trabalho.

      Não aguentamos mais o roubo e a agressão.

      Indignamo-nos com o desfalque nas reformas, com a ameaça de despedimento, com cada posto de trabalho destruído. Indignamo-nos com o encerramento das mercearias, dos restaurantes, das lojas e dos cafés dos nossos bairros. Indignamo-nos com a Junta de Freguesia que desaparece, com o centro de saúde que fecha, com a maternidade que encerra, com as escolas cada vez mais pobres e degradadas. Indignamo-nos com o aparecimento de novos impostos, disfarçados em taxas, portagens, propinas… Indignamo-nos quando os que geriram mal o que é nosso decidem privatizar bens que são de todos – águas, mares, praias, território – ou equipamentos para cuja construção contribuímos ao longo de anos – rede eléctrica, aeroportos, hospitais, correios. Indignamo-nos com a degradação diária da nossa qualidade de vida. Indignamo-nos com os aumentos do pão e do leite, da água, da electricidade e do gás, dos transportes públicos. Revolta-nos saber de mais um amigo que se vê obrigado a partir, de mais uma família que perdeu a sua casa, de mais uma criança com fome. Revolta-nos o aumento da discriminação e do racismo. Revolta-nos saber que mais um cidadão desistiu da vida.

      Tudo isto é a troika: um governo não eleito que decide sobre o nosso presente condicionando o nosso futuro. A troika condena os sonhos à morte, o futuro ao medo, a vida à sobrevivência. Os seus objectivos são bem claros: aumentar a nossa dívida, empobrecer a maioria e enriquecer uma minoria, aniquilar a economia, reduzir os salários e os direitos, destruir o estado social e a soberania. O sucesso dos seus objectivos depende da nossa miséria. Se com a destruição do estado social a troika garante o financiamento da dívida e, por conseguinte, os seus lucros, com a destruição da economia garante um país continuamente dependente e endividado.

      A 25 de Fevereiro os dirigentes da troika, em conluio com o governo, iniciarão um novo período de avaliação do nosso país. Para isto precisam da nossa colaboração e isso é o que não lhes daremos. Porque não acreditamos no falso argumento de que se nos “portarmos bem” os mercados serão generosos. Recusamos colaborar com a troika, com o FMI, com um governo que só serve os interesses dos que passaram a pagar menos pelo trabalho, dos bancos e dos banqueiros, da ditadura financeira dos mercados internacionais. E resistimos. Resistimos porque esta é a única forma de preservarmos a dignidade e a vida. Resistimos porque sabemos que há alternativas e porque sabemos que aquilo que nos apresentam como inevitável é na verdade inviável e por isso inaceitável. Resistimos porque acreditamos na construção de uma sociedade mais justa.

      A esta onda que tudo destrói vamos opor a onda gigante da nossa indignação e no dia 2 de Março encheremos de novo as ruas. Exigimos a demissão do governo e que o povo seja chamado a decidir a sua vida.

      [continua]

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    9. Unidos como nunca, diremos basta.

      A todos os cidadãos e cidadãs, com e sem partido, com e sem emprego, com e sem esperança, apelamos a que se juntem a nós. A todas as organizações políticas e militares, movimentos cívicos, sindicatos, partidos, colectividades, grupos informais, apelamos a que se juntem a nós. De norte a sul do país, nas ilhas, no estrangeiro, tomemos as ruas! »

      Algumas observações pessoais de seguida.

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    10. Há manifestações que contestam determinadas políticas, outras que propõem alternativas concretas. Dependendo das políticas contestadas ou alternativas propostas, sou favorável a ambas.

      Claro que quanto mais concreta for a alternativa, menos abrangente é tende a ser a causa (até mesmo porque poucas pessoas conhecerão os detalhes) e portanto menor será a manifestação.
      Uma grande manifestação geralmente é de contestação.

      Há alguns anos atrás considerava que não fazia muito sentido manifestar-me porque "há muito desemprego" visto que aquilo que separaria os partidos seriam as propostas para o combater. A ideia era que ambos queriam diminuir o desemprego, estavam em linhas gerais de boa fé, mas tinham opiniões diferentes sobre a melhor forma de fazê-lo.
      Isto já não era verdade na altura, e ainda menos verdade é hoje.
      Não existe boa fé, existem apoios políticos poderosos dos quais só se prescinde quando existe pressão popular.

      Nos EUA, 80% do eleitorado está contra os subsídios à indústria petrolífera, mas os subsídios continuam porque aquilo que os congressistas ganham em contribuições de campanha por votarem a seu favor conquista mais votos do que aqueles que eles perdem pelo facto dos eleitores informados os penalizarem.

      E em Portugal acontece o mesmo: as PPPs não são devidamente renegociadas, pagamos mais de 1000 milhões de euros por ano em juro do que aquilo que pagaríamos se tivéssemos as condições dos Irlandeses, decidimos negociar o petróleo do Algarve sem cobrar NADA em royalties, decidimos vender a EDP com base num processo denunciado pela Transparency International como sendo contra todas as boas práticas, com algumas ilegalidades ao barulho, e que culminou com a EDP a contratar a "lista de agradecimentos" de Passos Coelho com salários generosos, e por aí fora.

      Isto acontece porque quem está no poder sente que ganha mais em ter o apoio político dos poderosos que em preocupar-se com o bem comum. A contestação do "está mal" muda essa equação. Se as pessoas atingidas pela miséria que nos causam ganham mais voz, escolher pisar-lhes os calos já pode não ser a opção mais vantajosa.

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    11. O que defendem os movimentos apartidários?
      Nacionalizar a banca, sair do euro, não pagar aos credores?
      O movimento italiano cinco estrelas, vencedor das eleições, defende a saída do euro mas parece não ter a mínima ideia como fazê-lo.

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    12. Pensei ter respondido acima: há propostas variadas.
      Há movimentos que defendem umas coisas, e outros que defendem outras.

      Existe pelo menos um movimento apartidário que defende não pagar nada aos credores ( http://cadtm.org/Portugues ), existe pelo menos um movimento apartidário que defende a renegociação com os credores ( http://auditoriacidada.info/ ) e existem outros movimentos que têm apresentado outras propostas de diminuição de despesas (renegociação com as PPPs - a TIAC http://www.transparencia.pt/ tem feito um bom trabalho a este respeito, renegociação das rendas do património imobiliário do estado) ou aumento das receitas (a ARL tem proposto o fim da isenção do IMI à Igreja Católica, bem como o fim da devolução do IVA, etc..).

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  3. Pessoalmente não gosto do Relvas (provavelmente terei embirrado com ele logo que o vi).

    Contudo a respeito desse personagem, muito mais relevantes que o próprio é a desmesurada atenção que lhe é dada. Essa sim é inquietante.

    Só para não repetir o que já foi tratado por outros, deixo aqui um link interessante para o artigo de opinião do Alberto Gonçalves intitulado "fascistas espontâneos":

    http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3071119&seccao=Alberto Gon%E7alves&tag=Opini%E3o - Em Foco

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  4. Concordo com o João Vasco. É aberrante que seja um ministro como Miguel Relvas a beneficiar de uma defesa incondicional da liberdade de expressão, quando conhecemos bem e imaginamos ainda melhor o valor que o próprio lhe atribui.

    Mas este caso chama-me a atenção por outro motivo, que me leva a concordar ainda mais com um «pormenor» do post do Ludwig. Que tipo de coisas podemos tolerar da boca de um ministro? É que este, como tantos outros que transformam o seu discurso do pré para o pós eleições, mentiu como um imbecil. E não creio que a liberdade de expressão se sobreponha alguma vez ao dever de aderência à verdade e ao respeito que um representante dos cidadãos deve ter pelos cidadãos, agora transformados em gorduras do Estado. Este é o motivo mais forte para que este indivíduo não ser sequer convidado a falar para uma plateia universitária. Como parece ter dito o Carlos Espada, lindamente citado pelo António, a universidade é o lar do «confronto civilizado».

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  5. Ainda sobre a liberdade de expressão. Algum de nós acharia particularmente grave se por exemplo um grupo de deputados do PSD começasse a cantar quando algum do PS lançasse na assembleia mais uns minutos de inocuidade discursiva? A mim parece-me que não. O que é particularmente grave, do ponto de vista do interesse geral, é a tradicional vandalização da liberdade de expressão pelo próprio discurso político. Depois dessa, escusam de se vitimizar com qualquer outro tipo de vandalização.

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  6. João Vasco,

    É certo que possa parecer uma incoerência isso que dizes. A aparente ausência de indignação perante as atitudes anti-democráticas de Relvas é um vazio constrangedor, mas não sob uma outra perspectiva. Esqueces-te que tu e eu nos indignámos, e somos portugueses como os outros...

    E a verdade é que os portugueses podiam ter ignorado ambas as situações! E, sem que isso tenha sido interpretado dessa forma até hoje, sentiram-se ultrajados com uma forma de corrupção que insulta o esforço de gerações. É uma forma de corrupção, que inverte os valores do esforço e do mérito e que já demitiu ministros noutros países, por bem menos.

    Duvido que os portugueses simpatizem com os tiques fascistas de Relvas. Mas o que eles realmente não toleram é que depois de se esforçarem anos a fio, passando dificuldades imensas, sacrificando tudo em benefício dos filhos, pagando propinas onerosas e contraindo dívidas e abdicando de muitos luxos - tudo isso para poderem garantir que os filhos tenham um futuro melhor que o deles - venha um sujeitinho execrável cuspir nos diplomas honestos dos que se realmente se esforçaram, trocando favores por mentiras. Isso é o maior insulto que se pode fazer a um português, em qualquer parte do mundo. Houvesse um traço cultural geral, eu apostava nesse.

    E acho uma pena que, perante um caso autêntico em que os portugueses se indignaram, com tanta força como razão, com as mentiras de Relvas, te foques naquilo que não fizeram de forma suficientemente satisfatória para ti.

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    1. Um ministro ameaçar uma jornalista é verdadeiramente sinistro. Ameaçá-la com a divulgação de dados pessoais que sabe-se lá como foram obtidos é ainda mais sinistro.

      Isto era caso para um Governo de um país decente cair por inteiro. Cair o ministro era o MÍNIMO.
      Em vez disso, este episódio foi quase uma nota de rodapé na telenovela da sua licenciatura manhosa. Para mim a importância dos dois episódios é quase incomparável, mas ao contrário.

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    2. Repara que eu não disse que o que o Relvas fez à jornalista não é horrível.

      O que eu disse é que a escalada ao poder do Relvas é horrível. E também já caíram ministros por causa disso.

      O Relvas inverteu um princípio de civilização que é o mérito. É só um princípio de civilização... Se pensares que ainda há portugueses da geração dos nossos pais que se lembram do tempo em que só comiam batatas (estou a pensar num caso concreto enquanto escrevo isto) percebes o que eu quero dizer. Esse esforço é insultado pela maneira como Relvas passa à frente de todos, impunemente. Isso é extremamente humilhante para milhões de portugueses.

      Ao saberem concretamente que Relvas mentiu para subir, os portugueses ficaram a saber que o seu esforço não vale nada para os nossos governantes. E o esforço dos portugueses não é uma ideia abstracta, não é uma "telenovela" como dizes.

      O esforço dos portugueses foi ter de abandonar a família para ir viver a milhares de quilómetros de distância durante décadas. É cagar sangue da fome que se tem. É cavar pedregulhos num ermo infértil até à tuberculose. É ir matar homens desconhecidos e arriscar a morte numa terra desconhecida.

      E depois de anos e anos e anos deste esforço, que felizmente nem eu nem tu conhecemos, quem é que nos governa? O Relvas... Um energúmeno que não tem nada dele nem nada para dar ao país. Os seus tiques autoritários são, perante este insulto, quase um corolário.

      Porque tu me conheces, acho que escuso de explicar que acho que o que ele fez à jornalista é absolutamente inaceitável e que merecia pelo menos a demissão imediata. Mas não consigo ler-te uma comparação com telenovelas sem sentir um grande desconforto... Não é uma telenovela (por muito que os media assim o pintem) nem uma questão menor. São os calos dos portugueses a ser pisados.

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    3. É quem nada sabe de sacrifícios que os vem acusar, com o pretenso moralismo de quem se curva humildemente perante a fatalidade dos factos, de que precisamos de fazer mais sacrifícios...

      E diz-nos que perde o sono com o desemprego! A tolerância dos portugueses é a sorte do Relvas. Quando uma se acabar, acaba-se a outra.

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  7. João Vasco,

    «Não há qualquer referência ao absurdo desta gente estar indignada com a "violação da liberdade de expressão" de Miguel Relvas, o mesmo que, perante a despreocupação geral, ameaçou jornalistas, removeu um director de informação incómodo, tirou do ar programas de rádio por críticas à ditadura angolana, etc...»

    Comecei por incluir isso mas deparei-me com dois problemas. Um foi que estava a destoar um pouco do tom do post. O outro, mais difícil de resolver, é que não era relevante para a mensagem principal. O principal é que a liberdade de expressão não é o direito de ser ouvido por quem não tenha interesse em ouvir. Apontar que o Relvas tentou limitar a liberdade de imprensa poderia dar a entender que eu achava justo limitar-lhe a liberdade de expressão por isso, ou que isso tinha alguma coisa que ver com o ridículo de chamar fascistas a quem canta e apupa.

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    1. Nisto o Bruce percebeu-me bem:

      «A minha estranheza por se beneficiar o Miguel Relvas com a «defesa incondicional da liberdade de expressão» não tem a ver com a relativização desse direito em certas pessoas, mas com a ordem de prioridades da quantidade de gente que se tem agora manifestado pela primeira vez e pelos motivos errados, se pensarmos no cadastro deste senhor. Foi isto que me pareceu ler no comentário do João Vasco, e concordei.»

      Cada "defensor" da "Liberdade de expressão" de Relvas devia pintar a cara de vergonha por só se lembrar da importância da "Liberdade de expressão" agora.
      Enquanto jornalistas eram ameaçados e agredidos e programas eram suprimidos, etc.. nem um pio. Se eles quisessem saber da "Liberdade de expressão", Relvas não teria sido impedido de falar pelos estudantes do ISCTE mas sim porque já teria sido demitido devido aos seus ataques perigosos e inadmissíveis à "Liberdade de expressão".

      É uma hipocrisia que me aborrece.

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  8. Bruce,

    «Concordo com o João Vasco. É aberrante que seja um ministro como Miguel Relvas a beneficiar de uma defesa incondicional da liberdade de expressão, quando conhecemos bem e imaginamos ainda melhor o valor que o próprio lhe atribui.»

    Nisso não concordo. Acho que até o Hitler, o Estaline e o Pol Pot, quanto mais o Relvas, teriam sempre direito a exprimir-se livremente. O valor do direito de se exprimir livremente não é maior ou mais pequeno conforme o sujeito dê mais ou menos valor a essa liberdade nos outros.

    É claro que se um tipo é chato e mentiroso ninguém vai querer ouvi-lo, e quanto a isso não há direito que lhe valha. Se o público apupa o cantor que desafina ou vaia ou humorista sem piada também não se alega que é violação de direitos. O político mentiroso e sem pinta está na mesma categoria.

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  9. Ludiwg, uma micro-clarificação.

    Para mim é inegável que o acto de vaiar incorpora uma agressão ao vaiado, e talvez nisso não concordes comigo. Mas parece-me que a defesa da liberdade de expressão, suscitada neste caso pela corte política, procura tirar proveito desse prejuízo individual e apenas por isso tem sido acolhida por uma fatia da sociedade civil. Claro que eu defendo a liberdade de expressão da mesma forma para toda a gente, o que não aprovo é a invocação selectiva dos direitos individuais nem o suporte automático com que muita gente acolhe este tipo de manipulação.

    A minha estranheza por se beneficiar o Miguel Relvas com a «defesa incondicional da liberdade de expressão» não tem a ver com a relativização desse direito em certas pessoas, mas com a ordem de prioridades da quantidade de gente que se tem agora manifestado pela primeira vez e pelos motivos errados, se pensarmos no cadastro deste senhor. Foi isto que me pareceu ler no comentário do João Vasco, e concordei.

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    1. «A minha estranheza por se beneficiar o Miguel Relvas com a «defesa incondicional da liberdade de expressão» não tem a ver com a relativização desse direito em certas pessoas, mas com a ordem de prioridades da quantidade de gente que se tem agora manifestado pela primeira vez e pelos motivos errados, se pensarmos no cadastro deste senhor. Foi isto que me pareceu ler no comentário do João Vasco, e concordei.»

      Percebeste perfeitamente.
      Foi isso mesmo que quis dizer.

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  10. Ludwig, agora uma macro-clarificação. Dizes

    «O político mentiroso e sem pinta está na mesma categoria [do músico que desafina ou do humorista sem piada].»

    Discordo completamente. Estive algum tempo a matutar se era mesmo completamente, e é. Um representante eleito, ainda mais envolvido em decisões com o impacto nas vidas de cada um de nós como as que este governo tem tomado, não está de forma nenhuma em pé de igualdade com o produto arbitrário e inconsequente de um qualquer saltimbanco. Por isso não me custa nada identificar obrigações nesta função de representar os outros que se sobrepõem à liberdade de expressão. A mentira deixa de se inscrever apenas na liberdade de dizer parvoíces e passa a ser uma ofensa grave aos direitos de todos. Aliás, a própria legislação prevê as diferenças.

    Repara que a liberdade de expressão não deixa por isto de ser um valor transversal. Mas, submetido o indivíduo à responsabilidade de uma função, em consciência e por livre escolha, há liberdades do indivíduo que devem encolher os corninhos.

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    1. BOLAS és duma clareza de vinho tinto
      A mentira deixa de se inscrever apenas na liberdade de dizer parvoíces e passa a ser uma ofensa grave?

      a men tira tira é bué da gay meu

      uns gajos querem cantar enquanto uns brutos losers debitam umas merdas sobre futuros jornaleiros?

      num país sem recursos e privado de cheta

      tanto faz

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  11. Lamento não ter feito esta distinção desde o início, talvez ficasse mais clara a minha posição:

    Defendo a liberdade de expressão como valor universal, independente das capacidades que cada um tem para lhe dar uso. Mas algumas funções, como a do governante, ocorrem num contrato social com regras pré-estabelecidas e a liberdade individual dos agentes fica naturalmente coarctada pelas regras desse contrato. Isto em abstracto. No caso concreto do Relvas, acrescem umas palavrinhas suas ao assinar o auto de posse:

    «Eu, abaixo assinado, afirmo solenemente pela minha honra que cumprirei com lealdade as funções que me são confiadas.»

    Por isso, e sem qualquer contradição, mantendo a liberdade de expressão como valor universal, encontro bons motivos para que um músico desafinado seja apenas um problema estético e um governante mentiroso seja um problema do ministério público. E os alunos do ISCTE, vendo que Relvas se dispunha a ensinar qualquer coisa, fizeram muito bem em mandá-lo calar-se.

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    1. 1º não ia ensinar nada, aquilo são conferências para encher as faculdades de fundos e comerem uns acepipes, enquanto os alunos vão indo para o desemprego...

      Houve um ciclo delas em 1998 tema democracia e ciência e similares numa faculdade de ciências qualquer, a universidade e a faculdade receberam 300 mil contos para organizar o ciclo de conferências, mais umas benesses de PPP's várias na altura a CGD que patrocinava os porta moedas electrónicos e a Mota-Engil ou aquela que saiu da bolsa dos 20 PSI em 2009? a teixeira duarte que faziam por essa altura 45 milhões em obras de modernização do campus universitário

      Só tivemos direito a um secretário de estado vindo do corpo docente da univ e a dois directores de uns ministérios ali ao pé, enquanto isso eram despedidos 200 ex-alunos da tal faculdade por mês ou emigravam para a Bélgica e Suiça como coelhos

      Gastar grana para patrocinar democratizações da ciência e ciência acessível para todos também mereciam uma grandoleira até porque nem havia ainda seguranças na univ e na faculdade na altura

      mas a malta da associação comunista e os do BE marxistas e bons rapazes impediram a manife das forças anti-democráticas e grandoleiras

      é verdade que foi no século passado

      mas o mundo muda muito né?

      Relvas é um produto dum sistema de ensino que pouco ensina

      e só produz palermas com perspectivas muito suas ó perspex

      os políticos profissionais são animais sem honra que por um pouco de poder metem as ideias as ideologias e outras loggias nas gavetas com os amigos junto

      logo a fórmula de aceitação do poder é como a abertura do ano escolar ou a tomada de posse do reitor do fungágá da bicharada

      uma treta vazia de sentido krippahliana ou kafkiana tanto faz ó rapaz dos 9 aos 99....

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  12. De resto entre a liberdade de ser um krippahlóide ou a liberdade de ser viegas vai um pequeno passo

    já na liberdade de ser um relvas idem....

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  13. Ludwig,

    Estive a reler o post e os comentários e o único denominador comum desta coisa toda parece ser a avaliação que todos fazemos do doutor Relvas :)

    Eu vejo isto assim. As reacções de alguns farsantes do PSD conseguiram comover alguma da opinião pública em favor do doutor Relvas, servindo-se da «magia» da simplificação grosseira. Decidiram fingir que numa relação entre um governante e um povo traído o direito mais atendível é o da liberdade de expressão, ainda por cima do governante. E tu escolheste abordar este episódio apenas por essa perspectiva simplificada, penso eu, para explicares aos farsantes que nem mesmo assim conseguem ter razão.

    Então procuraste um argumento para demonstrar que vaiar uma pessoa em palco é um gesto natural no mercado do «liberalismo declarativo», onde as opiniões competem com espontaneidade e em voz alta na cara uns dos outros. Recusas, parece-me, a acusação de autoritarismo aos manifestantes pela simples razão de que o visado tem outras oportunidades de se exprimir noutras freguesias.

    Acontece que além da minha insistência, os comentários do Francisco recordam-nos que não é possível essa simplificação... Ninguém consegue separar o direito de liberdade de falar do doutor Relvas da sua obrigação em ouvir certas e determinadas coisas :)

    Eu também acho que é uma estupidez acusar os manifestantes de autoritarismo, mas porque mandar calar um político mentiroso é um dever de todos, independente dos direitos individuais, se atendermos aos valores envolvidos para além da simples liberdade de expressão. Mesmo que isso o prejudique e encha de vergonha naquele momento e, de preferência, para o futuro.

    Ou seja. Os alunos do ISCTE foram ásperos com o doutor Relvas? Foram. Interferiram com a sua liberdade de expressão? Claro que sim. Conseguiram que ele se calasse e saísse? Conseguiram. Podemos chamar autoritária a esta atitude dos alunos? Não. Primeiro, porque a função de um ministro obriga-o a considerar obrigações que transcendem a sua liberdade individual (como por exemplo a de mentir). E depois porque mandar calar gente desta é a única salvação possível para o país e para o futuro da democracia em geral.

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  14. Uma reflexão que não tem nada a ver com o assunto:

    Se eu fosse o Pedro Passos Coelho e o Relvas o meu melhor amigo e eu fosse PM nestas condições não sei se lhe pediria para se expor tanto para afastar a discussão de coisas complicadas.

    Iria custar-me muito pedir a um amigo do peito chamar sobre si os holofotes.

    Não sei.

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  15. Sousa da Ponte,

    Tendo em conta que o que se passou com o Relvas serviu para divulgar uma manifestação cujo conteúdo político é muito substantivo (acontece no dia da chegada da Troika e faz referência às políticas que têm sido seguidas mais do que aos "actores" do actual Governo), não creio que o efeito que referes tenha lugar.


    Mas, quanto a mim, a ameaça a jornalistas, a aquisição de dados privados sabe-se lá porque meios, a supressão de programas incómodos, e este tipo de ataques às liberdades fundamentais têm tal gravidade que justificam perfeitamente que Relvas apanhe "fortíssimos ataques" enquanto responsável directo por essas ameaças gravíssimas (!!) à nossa democracia.

    Se este Governo não estivesse a destruir o estado social, a arruinar a nossa economia, a vender o nosso património ao desbarato, a envolver-se em negociatas sujas a torto e a direito, ainda assim eu bater-me-ia pela sua demissão imediata só pelos ataques inqualificáveis à nossa Democracia. E grande parte deles foram protagonizados por Miguel Relvas.
    Se ele é um pára-raios, a "descarga eléctrica" deve ser tão forte que ele não resista. Há outros motivos de crítica importantes, é certo, mas estes justificam perfeitamente toda e qualquer oposição a esse criminoso hipócrita.

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    1. Quando se "ouve" um pouco de raiva nas palavras do João Vasco, que conheço apenas de ler o que escreve aqui e no Esquerda Republicana, é porque a situação é mesmo grave. Isto nem é piada nem sarcasmo. :/

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  17. João Vasco,

    Também me pareces um tipo sereno e ponderado. Só receio é que estejas com saudades do partido do Ricardo Rodrigues, do Mário Lino, do José Lello, do Teixeira dos Santos, do Paulo Campos, dos varas, das felgueiras e tantos outros afonsinhos do condado zoocialista que têm desbaratado a viabilidade desse mesmo partido que, ao que parece, não possui uma única norma de auto-regeneração e raramente produz um sinal de embaraço.

    E esquece o outro fóssil chamado António Costa. Depois do oportunismo falhado de há umas semanas, voltou à baila com a regionalização, como um visionário olhando a vasta planície que ainda falta transformar em gabinetes. Regionalização??? É que se a ideia é unir o partido, prefiro alguém que não procure na forma os problemas do conteúdo.

    Portanto, Jota, não estragues a tua boa reputação.

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  18. Bruce Lóse

    Tu ficaste "empancado" nessa de eu ser o advogado de defesa do PS.

    Eu não devo autoridade a nenhum partido, não tenho "clube". Há muitas pessoas que defendem o PS, têm orgulho em defender o PS, acham que os outros partidos são todos uma treta e que José Sócrates foi o melhor primeiro ministro que Portugal já teve.
    Tu não queres discutir os méritos do PS com essas pessoas, que se orgulham de defender o "seu" partido. Por alguma razão misteriosa, queres constantemente discutir os méritos do PS comigo, que nem sequer votei neles nas últimas legislativas, e neste momento já votei mais vezes no BE que no PS (com mais um voto no Garcia Pereira e na CDU ao barulho). Ora isso não é um debate justo.

    Os teus receios para comigo (algo comoventes) têm pouca razão de ser. Não sou marxista, o que colocaria naturalmente na área de influência ideológica do PS, é certo. Mas o PS insiste em desprezar pessoas como eu, na forma como vem a terreiro defender Miguel Relvas, ou anunciar que gostaria de fazer uma aliança com o CDS, como se quisesse cuspir na cara de todos os portugueses de esquerda que já aturam o suficiente do CDS no governo. O PS tem demonstrado tanta amizade para com Pedro Passos Coelho e o seu Governo desgraçado, que este tem enfrentado oposição interna mais acertiva do que a oposição do PS. O Pacheco Pereira faz críticas mais contundentes que o António José Seguro, e o António Costa pareceu mais preocupado com a "liberdade de expressão" de Miguel Relvas do que com a jornalista que este ameaçou. Aliás, o PS veio pedir esclarecimentos ao Paulo Morais, da TIAC, não só pelas críticas feitas às PPPs (que vergonhosamente o PS continua a defender sem qualquer acto de contrição), mas às críticas feitas a VITOR GASPAR e ao grupo parlamentar do PSD na forma como defenderam os interesses dos concessionários. O Paulo Morais, recordo, escreve no Blasfémias (um blogue de direita) e fez parte do executivo camarário de Rui Rio (PSD) mas é ATACADO pelo PS pelas críticas que fez ao PSD, em particular a Vítor Gaspar.
    Por isso, os teus receios não têm razão de ser: o PS tem feito TUDO o que está ao seu alcance para me alienar como eleitor, com bastante sucesso. Não me estou a imaginar a votar no PS nas próximas legislativas, não importa qual a liderança deste partido.


    Ainda assim, não hesito em notar que o PSD é um partido muito pior para o país que o PS. Não são "todos iguais", e se isso não era evidente antes da eleição de Pedro Passos Coelho, agora é por demais evidente.
    Programas de radio suprimidos, jornalistas ameaçados com a divulgação de dados pessoais, um ataque muito mais rápido, bárbaro e devastador aos serviços públicos - em particular na área da educação e ciência (as Universidades estão a morrer!), uma total incapacidade de defender os interesses nacionais nas negociações internacionais, a corrupção e compadrio que já existiam mas com esteróides e nenhum pudor, e muito mais. É de elementar justiça reconhecer esta diferença.

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  19. João Vasco,

    «ficaste "empancado" nessa de eu ser o advogado de defesa do PS»

    Eu não fiquei empancado coisa nenhuma. Eu fiquei traumatizado! Numa altura em que já ninguém suportava que a força política de esquerda com maior envergadura estivesse nas mãos de usurpadores como o tal engenheiro agora traficante de plasma sanguíneo, andavas tu por aí a cantarolar as vantagens do «voto útil» no PS! Depois disto vou sempre ler-te com alguma reserva.

    «Tu não queres discutir os méritos do PS com essas pessoas»

    Tens razão, isso é verdade. Não sinto tentação nenhuma de andar por aí à procura desse tipo de pessoas que declaram logo à partida uma vinculação impermeável à mudança de pensamento. Nem me sinto com poderes para enfrentar essa tarefa gaulesa... Quem caiu no caldeirão da pedagogia quando era pequenino foi o Ludwig, não fui eu :) Mas experimenta não ficar zangado com as minhas pequenas provocações, ok? Todo o meu voluntarismo vai no sentido de não deixar que te enganes outra vez...

    «não hesito em notar que o PSD é um partido muito pior para o país que o PS. Não são "todos iguais"»

    E eu também não digo que sejam. Se atendermos à cartilha de intenções de cada um deles eu revejo-me muito mais no PS. Mas se atendermos ao exercício governativo de ambos, e ao facto de um deles se dizer socialista na sua cartilha de intenções, não sei qual me merece mais desprezo. Enfim. Deixemos por agora o partido dos sucateiros e voltemos ao Relvas, partilhando o cachimbo da paz.

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  20. «Não sinto tentação nenhuma de andar por aí à procura desse tipo de pessoas que declaram logo à partida uma vinculação impermeável à mudança de pensamento. »

    Nem eles, nem a malta do PSD, nem a malta do CDS, e imagino que menos ainda os partidos à direita desses. Ficas a conversar em circuito fechado com a minoria que já pensa quase como tu.

    Enfim, não és o único a querer funcionar em circuito fechado, e isso facilita a vida aos poderosos.
    Enfim, foi um desabafo porque vejo em muito do activismo um esforço para "pregar aos convertidos", e frustra-me a incapacidade (à esquerda) de construir pontes e dialogar com quem pensa de forma diferente.

    E não penses que falo de pontes com o PS. Não há pontes entre BE e PCP (ao invés, existiu uma cisão no BE de onde surgiu agora o MAS), não há pontes entre o PAN e o PCTP, não há pontes entre a malta da transição e os partidos, não há pontes entre os indignados e os partidos, entre os sindicatos e os movimentos de precários, e por aí fora. Isto sem sequer falar nos anarquistas, no Zeitgheist, no projecto Vénus, nos Anonymous, etc...

    O truque é esse: pega-se numa opinião legítima que se considere "indefensável" sem compreender a perspectiva do outro, e que não existam abusos (mais opiniões "indefensáveis", ou reincidência no erro), se não passa-se da "reserva" ao simples carimbo de "diálogo não vale a pena".
    Sabota-se qualquer possibilidade de união, e - consequentemente - de vitória.

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  21. «Enfim, não és o único a querer funcionar em circuito fechado, e isso facilita a vida aos poderosos.»

    ?

    Eu não encontro vantagens nenhumas em «funcionar em circuito fechado» e as minhas opções pessoais encaminham-se normalmente em sentido contrário, e é muito raro coibir-me de dar a minha opinião. Esquece lá isso. A única coisa que eu te disse foi que não encontro vantagens em perder a minha paciência trocando argumentos com esse sectarismo vegetativo que anda por aí, tão abundante na blogosfera como na jornalosfera.

    «e frustra-me a incapacidade (à esquerda) de construir pontes e dialogar com quem pensa de forma diferente.»

    A mim também! Até já te disse que a minha maior perplexidade é o PS ter migrado para a direita nas barbas te toda a gente, ao mesmo tempo que se queixa da sua dificuldade em criar pontes à esquerda.

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  22. António,

    «O que defendem os movimentos apartidários?»

    Não faço ideia. Eu defendo que os partidos são tão importantes que devemos libertá-los da ganância e do oportunismo de pessoas tão corrompidas como irresponsáveis. E só depois podemos falar em democracia representativa.

    «Nacionalizar a banca, sair do euro, não pagar aos credores?»

    Eu começava por uma auditoria competente e exaustiva à dívida “pública”. Esclarecer quem deve o quê e porquê. Acho que só um processo assim poderá alguma vez libertar a generalidade das pessoas da sensação de se estar a sacrificar por dívidas alheias e em benefício de uma minoria: a tal que vai continuar nos partidos se o povo português não der um murro na mesa. De tipo tolerância zero.

    Sair do euro, com uma hecatombe à boa maneira da América do Sul, parece-me apenas uma recomendação daqueles a quem não interessa uma auditoria à dívida e que têm a sua pipa de massa bem segura num banco estrangeiro. Estou convencido de que a grande maioria dos cidadãos portugueses não está disponível para mais este obséquio.

    Mas este post é sobre o doutor Relvas...

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  23. Novos estudos mostram que o desenvolvimento embrionário é um processo precisamente regulado, corroborando o seu design (super-)inteligente e refutando a evolução e mostrando funcionalidade.

    Corroborando o design inteligente:

    "During embryo development, genes are dynamically, and very precisely, switched on and off to confer different properties to different cells and build a well-proportioned and healthy animal"

    Refutando a evolução e mostrando funcionalidade:

    "Both the sequences and the intricate genomic arrangement of these elements have remained very stable throughout evolution, thus proving their importance."

    Nota:

    "very stable thoughout evolution" = não há qualquer evidência de evolução.


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  24. É interessante notar que quando os evolucionistas descobrem estruturas moleculares altamente complexas nas espécies existentes aqui e agora dizem que isso é importante para o estudo da sua evolução, quando na verdade nada nessas estruturas prova a evolução, antes corrobora o seu design inteligente.

    O que eles dizem:

    "New research has uncovered a mechanism that regulates the reproduction of plants, providing a possible tool for engineering higher yielding crops"

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  25. Os evolucionistas acreditam, sem qualquer base empírica credível, que as mutações aleatórias e a selecção natural é capaz de transformar micróbios em microbiologistas...

    Infelizmente para eles (e para todos nós) as mutações apenas se encarregam, na sua esmagadora maioria, de degradar o genoma e semear o ruído na informação genética, causando doenças e morte...

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