sexta-feira, dezembro 07, 2012

Factos, valores e raciocínio, parte 1.

No seguimento da conversa sobre a homeopatia (1), o Desidério tentou descrever como devemos «pensar sobre problemas morais e políticos»(2). A intenção foi boa. A execução é que não. Concordo que o problema principal é não haver «um tribunal de última instância a que possamos recorrer» para determinar os valores correctos. Os valores são critérios de preferência, necessariamente subjectivos, pelo que é inútil argumentar com quem discorda dos nossos valores assumindo como premissa que os nossos são melhores. Infelizmente, o Desidério ignora as suas próprias recomendações. «Um aspecto curioso do cientificismo é a ideia de que tudo o que não é ciência não tem qualquer interesse nem valor cognitivo. Logo, é irrelevante o conhecimento da história e da filosofia, porque essas coisas não são científicas. A ironia é que quem assim pensa depois raciocina sobre questões políticas e morais à toa, sem qualquer conhecimento do que distingue um raciocínio plausível nestas áreas de um raciocínio ingénuo.»(2)

O Desidério considera que um raciocínio moral que descure a história e a filosofia é ingénuo porque o Desidério dá valor à história e à filosofia. Não dando o mesmo valor à astrologia, por exemplo, o Desidério não considera que um raciocínio moral será ingénuo só por ignorar signos e horóscopos. Mas isto resulta dos valores do Desidério. Se à pessoa hipotética que o Desidério critica só importa “o que é ciência”, ela também não julgará ingénuo ignorar a filosofia. Isto não é um problema no raciocínio. É apenas consequência dos seus valores e, sem um “tribunal de última instância” para estes, não se pode classificar um raciocínio de “ingénuo” só por partir de valores diferentes. Além disso, o Desidério critica um espantalho. Qualquer pessoa dá valor a coisas “que não são ciência”, nem seja ir à casa de banho quando está aflito, dormir descansado e não levar pontapés na cara. O Desidério assume um ser inexistente que só dá valor ao “que é ciência” para concluir que é ingénuo ter valores diferentes dos do Desidério e depois afirma que «temos de levar muito a sério o que as pessoas que estão em conflito connosco realmente pensam». Ao contrário dos valores, que são subjectivos, um raciocínio pode ser objectivamente incorrecto. Este é um bom exemplo disso.

Mais à frente, o Desidério agrava a confusão quando invoca Rawls. Uma forma de conceber a justiça é imaginar que estamos a criar leis e regras morais para uma sociedade antes de saber se vamos nascer ricos ou pobres, rapazes ou raparigas, bonitos ou feios, fortes ou fracos e assim por diante. Esta ideia de Rawls é boa porque, atrás deste véu de ignorância, podemos identificar valores consensuais distintos dos que somos tentados a defender quando já sabemos o que nos calhou. Por exemplo, um rico pode achar que não devia pagar tantos impostos mas, se não soubesse se ia nascer numa família rica ou pobre, provavelmente veria com melhores olhos a redistribuição fiscal. No entanto, a abordagem de Rawls não serve quando os próprios valores estão em causa. Quem gosta mais de arriscar irá preferir uma sociedade com menos redistribuição e mais oportunidades de enriquecimento enquanto que alguém avesso ao risco preferirá mais apoio social mesmo à custa de mais impostos. Esta experiência conceptual de Rawls é boa para identificar os nossos valores mais fundamentais e derivar deles regras sociais mas não serve para resolvermos divergências entre esses valores.

É por isso que esta forma de pensar sobre o problema da homeopatia não serve: «eu não sei se serei como sou — sensato, científico e tudo isso — ou um tresloucado. [...] Fazendo este simples exercício torna-se óbvio que não tem qualquer relevância que os tresloucados realmente sejam tresloucados e não tenham razão [e] a minha preocupação [é que todos se sintam] tão bem nessa sociedade quanto possível, sem prejudicar o outro». Isto pode ser óbvio para o Desidério mas não é consensual. O Desidério prefere uma sociedade onde as pessoas se “sintam tão bem quanto possível” mesmo que vivam enganadas. Eu, pelo contrário, dou mais valor à verdade e prefiro uma sociedade que distinga entre verdade e falsidade mesmo que isso seja desconfortável. Principalmente quando se trata do Estado certificar profissões, que é o que estamos a discutir para a homeopatia. Nesse caso parece-me óbvio que importa saber se estão a certificar algo que é verdade ou as parvoíces de algum tresloucado.

Finalmente, o Desidério alega que «no caso da homeopatia [e] no caso do ensino do criacionismo aos filhos dos criacionistas [não] há conflitos inequívocos de interesses. De uma parte há apenas um interesse vago em excluir da nossa sociedade pessoas de um certo tipo.» Não é verdade. Vender água da torneira como cura ou ensinar disparates a crianças criam conflitos inequívocos entre os interesses de quem o faz e os interesses de quem é enganado. Quanto à treta da exclusão, é outro espantalho. O que está em causa é apenas a sensatez de pôr o Estado a certificar crenças como as da homeopatia ou do criacionismo.

O raciocínio do Desidério não serve para pensar em problemas morais e políticos. Não parte das premissas certas, ataca espantalhos, tem inferências inválidas e contradiz-se, ora chamando ingénuo a quem não dá valor à filosofia do Desidério, ora dizendo que é «é completamente irrelevante o que nós achamos que [os outros] deviam preferir». Mas a pergunta é boa. «Como pensar correctamente sobre conflitos morais e políticos?» Como este post já vai longo e ando atrasado com outras tretas, agora tenho de ficar por aqui. Mas na segunda parte, daqui a uns posts, tentarei responder a esta pergunta.

1- A incompreensão profunda das diferenças cruciais. 2- Desidério Murcho, Saber pensar sobre problemas morais e políticos.

34 comentários:

  1. Deixa-me já dizer-te como acho que é melhor pensar nessa questão.

    É lembramo-nos que nós somos o "outro" 7 biliões de vezes contra uma vez o próprio. E que se queremos uma discussão racional não podemos escolher um ponto de referencia priveligiado, no eu ou outro qualquer, pois esse não é partilhavel, ou pode não ser. Além disso, nada na lógica, identifica esses pontos de referencia - em lógica e ciência não há pontos previligiados, com propriedades especiais por pressuposto.



    Penso que se tiveres isto como noção inicial te vez obrigado não só a pensar como queres que seja o mundo como quer que a ele venhas, mas também a considerar o que sabes sobre o como queres que os outros querem que seja o mundo como quer que a ele venham.

    Penso mesmo que muitas questões de conflito moral se resolvem ao admitirmos que somos "o outro" como abordagem funcional.

    Mais uma vez recomendo o "better angels of our nature" acerca deste ponto.

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  2. Em relação ao post, está optimo. Aguardo a segunda parte. (não podes por aí um script para podermos fazer ediçao dos comentários?)

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    1. O Blogger infelizmente é uma plataforma fraquíssima; se a Google não o tivesse adquirido, já teria desaparecido há uma década...

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  3. "...é irrelevante o conhecimento da história e da filosofia, porque essas coisas não são científicas." História é ciência, apenas não é da área da biologia, nem da física, etc.

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    1. ... e a maioria dos doutorados em todo o mundo (incluindo o Ludwig) são "doutorados em filosofia" :)

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    4. Nem tudo na história é ciencia. Mas uma grande parte é. A maior diferença é o grau minimo de rigor aceite. Mas semelhanças são mais que as mães.

      Procura de fontes independentes, naturalismo metodico, procura de consensos, investigação empirica previa a especulação, procura de criar hipoteses e de as testar com os meios possiveis (que são cada vez mais), abertura a refutação, trabalho geral formado por programas de investigação, etc... É uma ciencia.

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  4. As dificuldades em ser objetivo, claro e lógico são mais que muitas, até para quem se arroga, com mais ou menos legitimidade (e isto é o quê?)um estatuto de cientista, filósofo...Mas a dificuldade em assumi-lo parece ser bem maior. É tudo muito difícil, mas o mais difícil parece ser a assunção dos próprios limites. Não me perguntem o que é que dá credibilidade ao discurso de alguém. Mas há erros que não podem ser cometidos porque põem em causa a construção. As palavras não se deixam enganar, não é da sua natureza. Mas nós somos enganados e deixamo-nos enganar pelas palavras, pelas frases, pelos conceitos...
    Alguém disse que os sábios só falam do que sabem. Tenho pensado nisto, a propósito.
    Ainda não encontrei nenhum.
    Quem resiste a agitar a bandeira das suas opiniões? Há, porém, quem o faça como se se tratasse de algo indiscutível, do género «tudo é discutível e isto é indiscutível».
    Há imenso para aprender e para investigar, mas muita gente pretende causar a impressão que sabe mais do que é suposto.
    Detenhamo-nos, por exemplo, nas ciências. Mal viram a unha e já declaram ter dissecado o braço. Ainda não perceberam o que é a ciência, o que são as ciências, e para que serve o método científico e já pretendem convencer (quem?)de que tudo a ciência criou e que antes da ciência nada existia.
    Alguns dizem que buscam conhecer a realidade. Estes anunciam propósitos de conhecimento. E os engenheiros? Uns e outros aceitam a realidade como ela é? Respeitam-na? Promovem-na? Como? Ou a ciência não é, toda ela instrumental, pré-ordenada a objetivos, não simplesmente ao que as coisas são, mas fundamentalmente ao que queremos que sejam.
    E as questões do dever-ser? O que achamos que deve ser isto ou aquilo? Qual é o papel da vontade de cada um de nós na definição das normas?
    E as questões do poder-ser?
    Mas fica sempre por resolver da melhor maneira a questão do controlo necessário da vontade arbitrária, caprichosa, suicida, pérfida e diabólica, que se marimba para o ser, o dever-ser e o poder ser e que prefere o mal ao bem, a destruição e a morte à saúde e à vida, a guerra à paz, a injustiça à justiça, a crueldade à compaixão...
    E não é aqui que emergem considerações morais?
    As confusões na abordagem derivam amiúde da confusão das premissas para as conclusões. De não se definir claramente as regras sobre o que e do que se vai falar. Estas falhas são imperdoáveis em ciência e filosofia, porque tolhem o entendimento e o esclarecimento. Se são falhas intencionais, tudo muda de figura.
    Quanto à História, se alguém estiver interessado e caso ainda não tenha lido, há um livro extraordinário de R.G.Collingwood, A ideia de história, que problematiza o pensamento histórico.

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    1. É, as palavras. Palvras cujo resultado prático parece ser tão inteligivelmente homeopatico como o fundo teorico em que firmam tão pertinente ousadia. Ousadia de assim propor nada e tudo ao mesmo tempo, numa questão de compaixão intelectual pelo questionar atento e inconsequente de quem não pretende intrometer-se nem passar despercebido e no entanto usufrui de tudo o que produzem aqueles de quem desdenha por supor talvez que não sabem o que fazem. E as questões? Belas questões, a falácia do naturalista, a naturalidade da falácia, a inferencia perdida, morta, abafada, esquecida, de todas as palavras derramadas.

      Derramadas por quem? Quem se rala? Quem não se rala? Procurar o sentido da vida ou dar à vida um sentido? Eis a questão. Aceitar deambular por meandros humidos e fosseis cognitivos de dúvidas enterradas ou explorar justificações plausiveis pela carga numerica, de um numero atómico impossivel de esquecer? Promessas quanticas de um fundo epicamente biblico do retorno do homem à origem. E entre todos assim suspeitar de outra história. O ser que se transubstancia na sua própria essencia. E a inferencia. A inferencia.

      Quanto ao fim da história não percam os próximos capitulos desta novela filosofo-mexicana.

      Obrigado Carlos.

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    2. Obrigado João,

      espero que consigas fingir que és inteligente.

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    3. Tal como a dor do poeta, fingida na sua própria realidade, por vezes a inteligencia tem de fingir ser inteligencia para que quem observa a reconheça. Mas fingir é roto. E a inteligencia está sobrevalorizada. Os homens não se medem aos pontos de QIs. Se bem que como Descartes dizia a inteligencia parece ser a coisa mais bem distribuida, pois todos dela julgam ter toda a que precisam. De inteligencia todos precisam mais que daquela que julgam precisar e para ver isso inteligencia é preciso. E tal como o peixe que morde o anzol, de tanta liberdade de escolha tinha, também o homem que julga ter o que Descartes considerou equalitário, num sarcasmo filosofico sem precendentes e consequentes, pelo menos se esquecermos Voltaire, assim escolhe não dizer que julgar pela inteligencia é uma injustiça entregue em bandeja dourada, por Deus à criação. Enfim as palavras. E a inferencia. De que querer mais intelgencia é o insulto holocaustico da alma, da entidade e da propria inferencia que da inteligencia emerge.

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  5. Ludwig,

    Um offtopic .:. Atheist Census

    http://www.atheistcensus.com/

    Brasil esta na frente [não sei como] ;-)

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  6. Ludwig:

    "Qualquer pessoa dá valor a coisas “que não são ciência”, nem seja ir à casa de banho quando está aflito, dormir descansado e não levar pontapés na cara. "

    Em ciencia, afirmações banais, não requerem mais que explicações banais, desde que não concluas daí que há certezas acerca fa factualidade delas. Mas tudo o que dizes é previsto pela ciencia. Não sei como nao pode ser cientifico, no minimo na sua compreensão e plausibilidade de ter sido um facto.

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  8. "Eu, pelo contrário, dou mais valor à verdade e prefiro uma sociedade que distinga entre verdade e falsidade mesmo que isso seja desconfortável." E no caso da homeopatia é mais desconfortável prolongar as doenças, embora como no caso das pessoas que tomam os placebos, estas pensem que estão a caminhar para uma cura e isso as faça felizes, o que pode igualmente ser verificado quando se recorre á medicina "normal".

    "O que está em causa é apenas a sensatez de pôr o Estado a certificar crenças como as da homeopatia ou do criacionismo." Certo. Neste caso não é propriamente uma questão de acreditar porque dá conforto, é uma questão de acreditar porque para muitas pessoas o facto de existirem profissionais credenciados a trabalharem em medicinas alternativas chega como evidencia de que funciona (falácia do apelo á autoridade) e se a homeopatia é vista legalmente como um tratamento tão bom como qualquer outro, as pessoas vão cometer um erro de raciocínio semelhante ao apelo á autoridade ("é certificado, funciona").

    Quanto ao criacionismo, esse problema já abrange também o domínio do "conforto". É mais confortável se o que se aprende na escola não esteja contra aquilo em que se acredita. É claro que os criacionistas também recorreriam logo á falácia do apelo á autoidade ("o professor X disse..."). O criacionismo, pode ser ensinado nas aulas de religião e moral, mas têm que ensinar o mito da criação cristão em conjunto com outros mitos da criação, como o mito que é. Como cá em Portugal o ensino da religião e moral é restrito ao catolicismo, não se deve ensinar o criacionismo como uma opção válida, privilegiando este sobre os outros mitos e tendo em conta que a primeira menção á evolução humana aparece no 7º ano (bem como a primeira menção á origem da vida), enquanto que as aulas de religião e moral são leccionadas desde o 5º ano, mantendo as crianças cujos pais são criacionistas (ou simplesmente não se importam) no engano e na ignorância.

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  9. A Madalena, o Ludwig, o Desidério... conseguem dizer algo que não seja baseado na autoridade ou numa crença qualquer? Quando raciocinam não o fazem a partir de premissas (a que estão acostumados, que lhes dão jeito, que querem, em que acreditam, que elegem, etc...) seja pelo motivo que for? Têm consciência disso (o espectro da consciência é capaz de ser muito mais largo do que outro qualquer) e de o assumirem (porque não basta ter consciência das coisas)sob pena de não poderem contribuir para debates proficientes que não encalhem sistematicamente como o lixo no filtro?
    Eu quero pôr em causa causas e declaro-me homem de causas.
    Agora, quando se trata de causas, trata-se de causas e quando se trata de ciência, ou de filosofia, trata-se (devia tratar-se) de algo diferente.
    A filosofia costuma ensinar subtilezas necessárias.

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    2. "...conseguem dizer algo que não seja baseado na autoridade ou numa crença qualquer?" Que não seja baseado na autoridade, aqui vão uns exemplos: a evolução ocorre, o homem e o chimpanzé partilham um ancestral comum, cães e lobos são capazes de se cruzar e gerar descendências fértil, na PCR utiliza-se uma enzima designada taq polimerase resistente á temperatura (elevada) a que ocorre o processo (não é pelo que o professor X diz que passamos a aceitar como verdadeiro).
      Relativmente á palavra crença: crença significa que se aceita algo como verdadeiro e essa crença pode ser justificada com observações, evidências. Note-se que no texto eram referidas especificamente "crenças como as da homeopatia ou do criacionismo", portanto, crenças que carecem de justificação.

      "Quando raciocinam não o fazem a partir de premissas (...que lhes dão jeito...)?" A parte do "que lhes dão jeito" pode não corresponder ás premissas de que se parte: por exemplo, a premissa que todos os eventos têm causa pode estar fundamentada pela observação, no entanto esta pode ser falsa - o que não quer dizer que se parta desta "porque dá jeito". Outro exemplo: Eu não parto da premissa de que o criacionismo é falso quando estudo ciências e raciocino sobre genética porque "me dá jeito", mas sim porque me baseei em evidências e observações para poder partir dessa premissa.

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    3. Isso é o que a Madalena diz. E não vou discutir. Agora, transforme as suas afirmações numa verdade. Ou, por outra, tente demonstrar ou provar o que diz.

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    4. "tente demonstrar ou provar o que diz." Que parte?

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    5. Por ex., que não são baseados na autoridade os exemplos referidos.
      O problema da justificação das crenças passa sempre por apurar primeiro a crença, o objeto da crença e a estrutura da própria crença. A justificação depende disso. Se alguém lhe disser, por exemplo, que é criacionista, não pode dizer que essa crença é injustificada, pelo menos, enquanto não souber o que é que essa pessoa entende (e não interessa o que é que se entende)por criacionismo e por crença no criacionismo. As discussões, frequentemente, fazem-se sobre pressupostos que estão muito longe de serem claros, compreendidos e aceites pelos intervenientes. Por ex., quem assume um preconceito sobre o que pensa determinada pessoa sobre um conceito ou uma coisa ou uma imagem, ou uma hipótese, ou um problema, normalmente tira conclusões baseadas no próprio preconceito (ou prejuízo), não naquilo que essa pessoa realmente pensa.
      A propósito, se quando se estuda ciências não se estuda criacionismo, como há-de pronunciar-se sobre criacionismo?

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    6. Não se dá criacionismo nas aulas de ciências, no entanto nada impede qualquer pessoa com acesso a Internet de dar uma vista de olhos por sites como este, ou ver um documentário como este e depois pronunciarmo-nos sobre o criacionismo.

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    8. "Por ex., que não são baseados na autoridade os exemplos referidos."

      Por exemplo: Para o caso da taq, sei que esta é resistente ás temperaturas da PCR porque executo o procedimento e sei os resultados finais (aceda aqui: http://www.e-escola.pt/topico.asp?id=328 - está descrito o procedimento para a execução da PCR); Para "a evolução ocorre" basta assistir á elaboração de uma arvore filogenética baseada em análises sequenciais de DNA ou observar a evolução bacteriana em laboratório.

      Quanto ao criacionismo, numa discussão com alguém que tenha essa crença podemos perceber que quem acredita nisso não é capaz de justificar a sua crença (pode tentar, nunca disse que não podia, mas não consegue) - até hoje ainda não vi nenhum criacionista que consiga justificar a sua crença no criacionismo.

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    9. O problema, como referi no comentário anterior, são as ideias feitas. Quando se discute com ideias feitas, sempre que essas ideias não coincidem, a tendência parece ser falar-se de coisas diferentes. Mas isso não é discussão. Não é de todo inútil que sobre um assunto qualquer várias pessoas exprimam o que pensam, ainda que estejam a falar de coisas diferentes. E se, falando de coisas diferentes, exprimirem pensamentos de tal modo semelhantes que parece falarem do mesmo, também pode ser útil.

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  10. João,

    «Mas tudo o que dizes é previsto pela ciencia.»

    A ciência é o método para compreender a realidade. Não é a realidade em si, nem sensações, nem valores, nem vontades. Por exemplo, se te sentes aflito para ir à casa de banho, isso não é ciência. Ciência é o método que te permite compreender o que se passa na bexiga, rins, etc.

    A tentação de comprar pastilhas elásticas à saída do supermercado não é ciência. Ciência foi o método que permitiu perceber o comportamento do consumidor ao ponto de lhe espetar com as guloseimas quando espera para pagar.

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    1. Ciencia não é só o método. É também o corpo de explicações criadas com esse metodo e a evolução racional do proprio metodo.

      O que interessa aqui, é que desse corpo de conhecimentos temos essas questões todas mais ou menos bem explicadas e previstas. Não é o problema de distinguir entre mapa e territorio que é pertinente. Mas sim falar do conhecimento que temos acerca desses actos do ponto de vista de seres conscientes.

      Tu sabes o que são essas sensações, sabes porque podes ceder a determinados impulsos e não a outros, e o metodo pelo qual obtiveste essas sensações, por via de sensores biologicos, é tão utilizado no metodo cientifico como os outros.

      Se estamos a falar do conhecimento das coisas, então estamos a falar da plausibilidade cientificas delas.

      E falar da realidade em si sem ser do que sabemos dela, eu nunca vi.

      Se tu me disseres que não vais á casa de banho ou não precisas de comer ou que não dás importancia a isso, sem mais justificação, é que não é cientifico (como aquele indiano).

      No minimo dos minimos e pondo-me o mais possivel do teu lado, terás de dizer que essas coisas são compativeis e previstas pela ciencia.

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    2. Quanto aos valores, nem todos são ciencia, há escolhas ou coisas a que podemos chamar escolhas, caso possamos de facto escolher.

      Mas muitas escolhas sao sem duvida condicionadas pelo conhecimento (http://www.cronicadaciencia.blogspot.pt/2012/12/liberdade-por-conhecimento-ou-por.html) e o cientifico é melhor.

      Escolher viver é por tudo o que sei uma das escolhas mais fundamentais e não é cientifica. Mas daí para cima tens de ver muito bem o quanto a ciencia se mistura com as outras escolhas.

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  11. Carlos,

    «Quando raciocinam não o fazem a partir de premissas (a que estão acostumados, que lhes dão jeito, que querem, em que acreditam, que elegem, etc...) seja pelo motivo que for?»

    Claro que sim. Mas o facto de raciocinar a partir de premissas não implica que todas as premissas sejam igualmente úteis, nem que se possa concluir o que se quiser de qualquer premissa.

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  12. CRS,

    "O problema da justificação das crenças passa sempre por apurar primeiro a crença, o objeto da crença e a estrutura da própria crença. A justificação depende disso. Se alguém lhe disser, por exemplo, que é criacionista, não pode dizer que essa crença é injustificada, pelo menos, enquanto não souber o que é que essa pessoa entende (e não interessa o que é que se entende)por criacionismo e por crença no criacionismo."

    Nahhh... Tanto trabalho desnecessário, prezado Carlos. Para justificar a crença criacionista, por exemplo, bastava pura e simplesmente comprovar a existência de um âmbito SOBREnatural a influir no que quer que fosse.

    Ainda que se diga, por exemplo, QUE Deus está fora do Universo, que transcende-o (seja lá o que se entenda por isso, já que não temos um exemplo objetivo e paradigmático do que seja algo transcender o Universo), ao agir nesse Universo tal ação pode ser mensurada e comparada com o que conhecemos, e assim podemos dizer se realmente é algo que "veio de fora".

    Por exemplo, dizer que Deus curou uma dor de cabeça, na verdade, não diz muito acerca do que Deus pode fazer (o mesmo é dizer que ele "criou" o Universo, já que tal afirmação não é testável - seja direta ou indiretamente, seja positiva ou negativamente). Já dizer que Deus fez crescer uma perna nova em um cristão penitente que a perdeu em um acidente, isso sim, diria muito sobre ele, pois não conhecemos nenhum processo natural que faça nascer uma perna decepada.

    Mas, como sabemos que isso NUNCA irá ocorrer, a crença no criacionismo nunca poderá ser objetivamente justificado.

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