sábado, março 26, 2011

Saímos da frigideira...

O ping demitiu-se. Agora deve vir o pong. Outra vez. De 1976 para cá, o PSD foi responsável por 70% do défice e o PS pelos restantes 30% (1). Agora é preciso uma atitude completamente diferente mas, suspeito, vai tudo continuar na mesma. Os ratos continuam a eleger ora os gatos brancos, ora os gatos pretos, na esperança que os gatos de agora sejam melhores que os de ontem. Se bem que, na verdade, não haja muita escolha. Talvez se os partidos tentassem colaborar mais e passar menos tempo a tramarem-se uns aos outros as coisas melhorassem um pouco.

Assim, vão piorar. O PSD já disse que deve aumentar os impostos, o que seria boa ideia se fossem os impostos certos. Mas vão aumentar «os impostos sobre o consumo, e não [os] impostos sobre o rendimento das pessoas»(2). Até soa bem, se não olharmos para os detalhes. Mas o que chamam “consumo” não é só carros e whisky. É também electricidade, água, arroz e farinha. E o rendimento não é um prémio justo que cada um ganha pelo seu esforço e pelo que contribui para a sociedade. Ao contrário do que a direita sempre presume, o rendimento é, principalmente, o que calha a cada um na lotaria do capitalismo. É pura sorte (ou azar) que um professor universitário ganhe mais dinheiro do quem recolhe o lixo. São apenas pressões de oferta e procura, sem nada que ver com o mérito ou esforço de ninguém. É isto que faz com que um trabalho desagradável, monótono e com horários horríveis pague menos do que um trabalho interessante e confortável.

O PSD está a planear mais uma medida injusta, a somar a outras que o PS tem tomado. Ouvi um comentador na TV a dizer que o IVA era “de certa forma democrático” porque afecta todos de igual maneira. Isto é um disparate. Um aumento no IVA não afecta de igual maneira quem ganha 500€ e quem ganha 10.000€. Dói muito mais a quem ganha menos. Obviamente, porque cada euro vale mais para quem tem menos. Mas isto não é verdade apenas em termos absolutos. É verdade até em termos relativos. Dez porcento do rendimento faz mais diferença na qualidade de vida de quem ganha 500€ do que na de quem ganha 10.000€. Os 50€ de diferença para o primeiro sempre lhe tapa um pouco mais do mês. Os 1.000€, ao segundo, não representam nada que lhe fizesse falta e do qual se tenha de privar. Por isso, se quisermos exigir o mesmo sacrifício de todos, não só temos de cobrar mais a quem ganha mais mas temos também de cobrar uma fracção maior. E isto assumindo que vamos exigir o mesmo sacrifício a todos quando uns estão muito melhor do que os outros. É uma questão controversa, mas é difícil defender que todos os pobres o são porque merecem e não por algum azar, genético ou social, fundamentalmente injusto.

O IVA esta longe de um sacrifício justo. Dá a impressão de ser progressivo por ter taxas mais baixas para os “bens essenciais”, mas essa impressão depende da premissa questionável de que os pobres têm menos direito a café ou enlatados e que, por isso, é legítimo taxar esses bens como se fossem só para os mais ricos.

Trocar o Sócrates pelo Passos Coelho não vai fazer nada aos problemas fundamentais. Não vai resolver as injustiças desta “política de austeridade” que cobra aos mais pobres as aldrabices pelas quais os ricos ficaram ainda mais ricos. O combate ao tachismo vai continuar meramente cosmético, porque vai deixar na mesma o rendado de influências, favores e negociatas que o PS e o PSD têm urdido conforme alternam no poder. Ninguém vai mexer no sistema financeiro pelo qual os contribuintes financiam os bancos privados por intermédio dos bancos públicos, e os Estados são obrigados a contrair empréstimos com os bancos privados, subordinando o governo democrático às leis de mercado em vez de ser o mercado regulado pelas leis da democracia (3).

Além disso, as próximas eleições vão novamente dizer à malta do PS e do PSD que podem fazer o que quiserem porque terão sempre o lugar assegurado. Se não for numa legislatura, será na outra a seguir.

1- Manuel Caldeira Cabral, Jornal de Negócios, 10-9-2009, Afinal, quem aumentou a despesa pública?
2- Negócios Online, Passos Coelho assume "compromisso" de não cortar salários nem pensões mas admite subida de IVA
3- José Castro Caldas, A “esquerda” que se sujeita e a direita que mente

55 comentários:

  1. A divisão esquerda e "direita" na Europa é uma farsa, e Portugal não fica atrás.

    O Partido Social[ista] Democrata é uma variação do socialismo que tem controlado o país há décadas (com os resultados que sabemos).

    Sai o esquerdista Sócrates, entre o esquerdista mascarado de "direita" Coelho. Vira o disco e toca o mesmo.

    ResponderEliminar
  2. Manuel Caldeira Cabral, Jornal de Negócios, 10-9-2009, Afinal, quem aumentou a despesa pública?

    http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=386210&template=SHOWNEWS_V2

    O link no html do artigo não deve estar activo.

    ResponderEliminar
  3. Este "Mats" vẽ-se á distânçia...

    Conheci muitos clones como ele nas igrejas evangélicas... Aposto que se "borra todo" quando um americano lhe sorri...

    ResponderEliminar
  4. http://www.youtube.com/watch?v=pb8sZR-bI6o

    ResponderEliminar
  5. 1ºFalando sério: ~Entrámos na pior frigideira do Tarrafal político

    2º O PRESIDENTE DE QUASE TODOS OS PORTUGUESES E OS MIL E UM CLONES DO PAULO FUTRE DO BE AO CDS PASSANDO PELO PSD Y PS

    CUSTARAM MAIS AO PAÍS NESTES DIAS QUE O QUE VÃO CORTAR AOS FUNCIONÁRIOS E DAQUI A UNS TEMPOS AOS REFORMADOS

    AQUI HÁ UM ANO QUANDO EU COMECEI A FAZER ESTA MERDA

    HAVIA UMA DATA DE PESSOAL DO BANCO DE PORTUGAL QUE ANDAVA EM PÂNICO

    AGORA INFELIZMENTE TODOS ESTÃO HABITUADOS Á CATÁSTROFE

    E PENSAM QUE....ENFIM É FALTA DE VISão seu barbudo rijano

    eu que nunca votei em nenhum partido

    vou provavelmente votar não em branco ou nulo

    mas nunca num voto de protesto

    é necessário unidade e não divisão

    demonizar alemães e ...fazer teatros e manipular o outro partido

    de modo a arrasar o país

    e um presidente que escolheu um lado em vez de unir

    e ontem foi passear para a rua do Alecrim na faculdade aí do barbudo

    com um circo à sua volta

    não é um palhaço mas anda lá perto

    ResponderEliminar
  6. Comentariile ulterioare vor fi trimise la bandalheira2012@gmail.com

    ou seja resumindo isto chegou à bandalheira ainda em 2011

    isso dos cálculos do PSD para 70% do défice quando as progressões automáticas do guterres e o 14ºmês cavaquista e a harmonização de pensões e as obras de ambos e dos seus sucessores

    cravaram o país de igual modo atribuir mais peso a um lado

    exceptuando Miguel Cadilhe e poucos mais parece que não há consciência nesta bandalheira em que nos afundámos em 36 anos

    ResponderEliminar
  7. Provavelmente amanhã um perspectiva político qualquer

    Ou um krippahl louçanista qualquer fará uma análise torpe da realidade

    vocês seus imbecis acham que ando nestas parvoíces internéticas para chatear imbecis que nunca vou ver na vida

    é simplesmente para libertar pressão...das más escolhas que fiz
    em apoiar a merda de país que me viu nascer e dificilmente me enterrará
    excepto se tiver um ataque carduco...boa sorte para todos
    e que haja caixotes de lixo com sobras para aqueles que não têm internet

    ResponderEliminar
  8. e ESSA dos impostos certos e dos impostos errados

    são impostos

    logo não são voluntários

    como diria o jão vasquismo

    pensar em impostos e não pensar em reduzir aquilo em que eles são gastos

    institutos a menos precisam-se universitários em particular
    e centros de desformação e desemprego

    acho que o fim de semana embrutece ou como diz aquele sócio do sporting

    estou arrasca da garganta mas continuo gritando

    não gosto de futebol mas é interessante ver as reacções nas massas de gente
    e nos indivíduos faz sempre lembrar que o homem é uma coisa extra ordinária e vice-versa

    ResponderEliminar
  9. No link para o artigo no Jornal de Negócios falta-lhe o href=.

    ResponderEliminar
  10. Também não me parece que trocar o PS pelo PSD vá mudar alguma coisa. As soluções de um são pouco diferentes das do outro, e vão dar ao mesmo... à mesma m****!

    Só o crescimento económico é que resolve o problema do deficit e dos juros da dívida. Ora, aumentar impostos abranda o crescimento. Sobretudo um imposto como o IVA. Reduz o consumo, logo reduz o crescimento. Mas reduzir a despesa do estado não é melhor. Veja-se o David Cameron em Inglaterra. Entrou a cortar em tudo e este ano já reviu para baixo as previsões de crescimento e para cima o deficit!

    A Irlanda também foi pelo caminho da "austeridade", depois de receber ajuda externa. Está pior agora, e a pagar juros mais altos, do que antes. Grécia, idem aspas. Giro, não é?

    Estamos numa situação de ficar presos por ter cão ou por não ter. Estando a economia fraca e o desemprego elevado, quer aumentar impostos, quer cortar na despesa, vai dar ao mesmo... crescimento ainda mais fraco, mais deficit, mais divida pública, maior percentagem do PIB só para pagar juros. Segundo li, mesmo que haja ajuda externa da Europa/FMI, lá para 2014 só para pagar juros vão ser 8% do PIB português. O-i-t-o!!!!

    Como é que se saí disto???? Aumentar a despesa do estado (a tradicional politica anti-cíclica)? A pedir dinheiro emprestado a 7% não está fácil. Onde é que o estado pode investir que dê retornos superiores a 7%? Só se for emprestando dinheiro à Grécia e Irlanda que estão a pagar mais de 12% e 9% respectivamente! :)

    Parece-me que o próximo governo, seja ele qual for, vai ter de avaliar muito bem o efeito no crescimento do PIB de qualquer aumento de impostos ou corte na despesa, para evitar que a emenda seja pior que o soneto.

    E também me parece que o PSD sabe muito bem que também não tem solução para isto. Quer é aproveitar a cartada de acusar o PS de gerir mal as contas públicas para chegar ao poder e tomar uma série de medidas ideológicas. Veja-se as ideias principais do "manual para governar" que a Visão revelou:
    http://gotadeagua53.blogspot.com/2011/03/livro-de-instrucoes-para-governar.html
    http://aeiou.visao.pt/365-ideias-para-o-psd-governar=f593771

    Mais uns links recomendados do New York Times referindo Portugal:
    Some Weigh Restructuring Portugal’s Debt
    The Austerity Delusion – Paul Krugman

    ResponderEliminar
  11. André,

    Tinha-me esquecido do href :) Obrigado, já corrigi.

    ResponderEliminar
  12. Nelson,

    Yup. Só agora vi o teu comentário. Obrigado à mesma :)

    ResponderEliminar
  13. Banda,

    Nos teus comentários vislumbra-se ocasionalmente a insinuação de algo que poderia ter interesse, se fosse possível compreender o que escreves.

    Dá para escreveres de uma forma mais inteligível?

    ResponderEliminar
  14. Nelson,

    Obrigado pelos links. Isto é bem visto:

    «The lesson is clear, argues Barry Eichengreen, an economist and an expert on the euro and its origins — sustained austerity that is not supplemented by some form of debt reduction in which the holders of bank or government debt are forced to take a loss is not just unworkable but unfair as well.

    “When you reduce the incomes of the people who service the debt but you don’t reduce the incomes of the bondholders, you won’t reduce the level of debt,” he said. “Some might call it shared sacrifice, but some people are not sharing.”»

    ResponderEliminar
  15. Nelson,

    eu concordo com a análise de que Portugal se encontra num beco sem saída. Mas qual é a solução? Parece-me óbvio que só pode ser uma federação europeia nos moldes da federação alemã, onde existe uma transferência de fundos das regiões mais ricas para as mais pobres.

    O facto de esta ser uma solução que nem sequer é discutida em Portugal prende-se com o medo da perda de soberania e de prestigio. Embora ambos não ponham comida na mesa nem criem emprego. Para além de que a situação actual - como descrito no blogue - só serve para distribuir tachos entre os suspeitos do costume, que não têm o menor interesse em proceder a reformas estuturais, e muito menos combater a corrupção e o nepotismo que são as chagas do sistema português. Aliás, são estes os defensores mais acérrimos da tal soberania.

    Claro que seria necessário superar também a resistência (fanática) da Alemanha e dos países ricos, que acham (sabem?) que vão ter que pagar a conta de uma federação, mas se esquecem convenientemente que devem grande parte (se não toda) a sua riqueza à União Europeia e ao euro. Mas essa é outra conversa.

    ResponderEliminar
  16. Concordo com grande parte do teu texto, mas discordo desta parte:


    «Ao contrário do que a direita sempre presume, o rendimento é, principalmente, o que calha a cada um na lotaria do capitalismo. É pura sorte (ou azar) que um professor universitário ganhe mais dinheiro do quem recolhe o lixo. São apenas pressões de oferta e procura, sem nada que ver com o mérito ou esforço de ninguém.»

    O que a direita presume não está 100% correcto, mas não está 100% errado. Um mérito do capitalismo é fazer com que as pessoas se adaptem às necessidades sentidas de uma forma que tem em conta as suas próprias preferências pessoais e aptidões.
    Se existisse mais falta de gente para recolher o lixo do que de professores universitários, o salário dos primeiros seria provavelmente superior ao dos segundos, o que levaria essa falta a ser suprimida primeiramente pelas pessoas com menos objecções a lidar com o lixo.
    E não é só lotaria. Existe em muitos casos muito mérito pessoal envolvido no percurso de vida que lava alguém até uma profissão. Claro que o mercado sozinho não funciona devidamente, por N razões que bem conhecemos. Mas tem um papel importante que não pareces estar a reconhecer.

    ResponderEliminar
  17. João Vasco,

    O mercado tem muitas vantagens, mas o meu ponto é que aquilo que determina o rendimento da pessoa X não é o mérito ou esforço da pessoa X. É o equilíbrio entre a oferta e a procura daquilo que a pessoa X faz, e isso depende de todos os outros excepto da pessoa X.

    Não é lotaria no sentido de ser um número tirado à sorte, mas é lotaria no sentido de não ser nada que a pessoa X possa determinar.

    Excepto no caso da especulação financeira. Só aí, e se a pessoa X tiver bateladas de dinheiro, é que o seu rendimento pode ser função da sua capacidade para manipular os preços do mercado. Mas, nesse caso, presume-se que o mercado não esteja a funcionar bem.

    É claro que podes, retrospectivamente, dizer que aquele tipo ganha muito dinheiro como cozinheiro porque é excelente a fazer banana split, enquanto o outro só é bom em açorda, e foi por esse mérito que venceu. Mas essa é uma explicação falsa, porque se os outros todos gostassem mais de açorda teria sido o contrário.

    ResponderEliminar
  18. «quilo que determina o rendimento da pessoa X não é o mérito ou esforço da pessoa X.»

    Mas em parte é o mérito e o esforço.

    Mérito e esforço na medida em que para ter certas profissões é preciso um treino que exige mérito e esforço; mas também mérito e esforço de escolher uma profissão que pode não ser a dos nossos sonhos, mas em relação à qual existe uma necessidade sentida.

    Por exemplo, o Alfredo certamente preferia ser realizador de cinema a ser chef do restaurante que criou na sua rua, mas sabe que existem imensas pessoas com vontade de ser realizadoras de cinema e pouca procura de realizadores, e, pelo contrário, falta de restaurantes na sua rua. Neste caso o rendimento dele é superior porque acreditou que o esforço de ter uma profissão que não era a da sua preferência justificava esse rendimento adicional.

    Há sorte? Claro que há. O Alfredo podia não ter hipótese de criar o seu restaurante mesmo que quisesse. É só sorte? Não. O Alfredo poderia ter tomado muitas outras opções que exigissem menos esforço e mérito, e resultassem num rendimento mais baixo.

    ResponderEliminar
  19. O ping pong político que vivemos em Portugal irrita-me profundamente. Isto principalmente porque, para o bem ou para o mal, nenhum dos lados pode fazer planos duradouros, nenhum dos lados pode tomar medidas a longo prazo porque na legislatura seguinte lá vem o pong estragar o que foi feito e fazer coisas completamente opostas.

    Com esta crise a classe política perdeu uma grande oportunidade de mostrar ao povo português que o que lhes interessa é o estado do país e não assentarem-se no pódio do governo. Se a Assembleia da República se tivesse juntado toda para tentar encontrar soluções para nos tirar desta encrenca, em vez de terem agarrado a oportunidade de terem uma hipótese de serem eles os próximos no tacho, tinha dado muito melhor impressão.

    Assim estou profundamente desiludido com os políticos que temos e vejo-me indeciso entre duas opções: dar o meu voto de apoio a quem está mais a par da situação actual e (dizem várias fontes) quem menos porcaria fez nos últimos 40 anos a governar, ou dar o meu voto de desagrado por todas as opções actuais.

    O meu voto de desagrado seria claramente para todo o sistema político e principalmente para os políticos actuais. Acho que para Portugal poder deixar de estar no ping-pong constante muito tinha de mudar e isto de quem está no poder ser manipulado por voto popular acaba por ser das características mais nefastas para a nossa situação política. É demasiado fácil para quem não está no poder convencer as pessoas que quem está no poder está lá mal, quando (na minha opinião) o verdadeiro mal está no ping-pong constante.

    ResponderEliminar
  20. Se o BE se aliar com a CDU, pode entrar um novo candidato ao poder na equação, por improvável que seja que de facto o consiga.

    E essa hipótese já esteve bem mais longe de ser realidade...

    ResponderEliminar
  21. André Esteves,

    Este "Mats" vẽ-se á distânçia... Conheci muitos clones como ele nas igrejas evangélicas... Aposto que se "borra todo" quando um americano lhe sorri...


    Só se for "um" americano como esta:

    "Conservative Dream"

    ResponderEliminar
  22. André Esteves, mais uma coisa: as igrejas evangélicas portuguesas estão (infelizmente) infestadas de esquerdistas - desde pastores até aos músicos ou seja lá o que fôr.

    Se tu realmente tivesses "conhecido muitos clones" saberias disso.

    As áreas onde os evangélicos (como um todo) ainda são conservadores é na área da matança de bebés (infanticídio abortista) e no ""casamento"" homossexual.

    Enquanto não houver uma desesquerdização das igrejas (tanto católicas como evangélicas), a sociedade portuguesa vai continuar descer até ao abismo.

    Sim, porque se ficarmos à espera dos ateus para melhorar a sociedade, nunca mais é Sábado. :-)

    ResponderEliminar
  23. «continuar descer até ao abismo»

    O abismo onde a ditadura de Salazar, da direita conservadora, com apoio da hierarquia da Igreja, deixou o país?
    Ou aquele onde a monarquia, com apoio da Igreja e dos sectores mais conservadores, o tinha deixado antes?

    ResponderEliminar
  24. O que me chateia..., é que oiço mesmo muita gente a comentar isto, mas depois acaba sempre um dos dois no poleiro..., enfim...

    ResponderEliminar
  25. João Vasco,

    O abismo onde a ditadura de Salazar, da direita conservadora, com apoio da hierarquia da Igreja, deixou o país? Ou aquele onde a monarquia, com apoio da Igreja e dos sectores mais conservadores, o tinha deixado antes?


    Pior, porque quem vai estar no leme são os esquerdistas. e todos sabemos como ficam as nações depois deles "tomarem conta" delas (ex: URSS, Cuba, Coreia do Norte, etc).

    ResponderEliminar
  26. A Coreia do Norte não sei, mas a Rússia não estava muito bem antes da revolução comunista, estava aliás muito mal.

    Também sei que ficou muito mal quando o capitalismo selvagem entrou em acção.


    Sobre isto ler o que escrevi aqui:

    http://esquerda-republicana.blogspot.com/2010/10/esquerda-e-as-ditaduras-comunistas-ii.html

    e a continuação aqui:

    http://esquerda-republicana.blogspot.com/2010/10/esquerda-e-as-ditaduras-comunistas-iii.html

    ResponderEliminar
  27. Mats,

    Mostra carácter e verdadeira fé em Cristo e na vida eterna...
    Dá a cara e deixa de usar pseudónimos.

    ResponderEliminar
  28. LK:

    “É pura sorte (ou azar) que um professor universitário ganhe mais dinheiro do quem recolhe o lixo.”

    No dia em que as posições se inverterem isto é houver um número maior de pessoas que preencham os lugares de professores e um número escasso de pessoas para recolher o lixo a sociedade não tem outra alternativa que não seja melhorar o salário de quem recolhe o lixo e baixar os salários dos professores (recentemente os salários dos professores baixaram e, possivelmente, vão ainda baixar mais)

    Os trabalhadores das refinarias a trabalhar no Alasca auferem melhores salários que muitos engenheiros a trabalhar em New York.

    “São apenas pressões de oferta e procura, sem nada que ver com o mérito ou esforço de ninguém”

    A oferta e procura são conceitos que não deixam de reflectir a realidade não obstante as imperfeições dos mercados.

    “É isto que faz com que um trabalho desagradável, monótono e com horários horríveis pague menos do que um trabalho interessante e confortável.”

    A razão é muito mais simples: há um número muito maior de pessoas disponíveis para executar esses trabalhos.

    “não só temos de cobrar mais a quem ganha mais mas temos também de cobrar uma fracção maior.”

    E isso é feito através do IRS.

    “Trocar o Sócrates pelo Passos Coelho não vai fazer nada aos problemas fundamentais.”

    E se trocássemos por Paulo Portas, Francisco Louçã ou Jerónimo de Sousa fazia? E temos ainda a alternativa de não fazer qualquer troca.

    “Não vai resolver as injustiças desta “política de austeridade” que cobra aos mais pobres as aldrabices pelas quais os ricos ficaram ainda mais ricos.”

    Mais pobres e mais ricos não são generalizações? No meio desta crise não houve ricos que ficaram menos ricos e ricos que ficaram pobres?

    “O combate ao tachismo vai continuar meramente cosmético, porque vai deixar na mesma o rendado de influências, favores e negociatas que o PS e o PSD têm urdido conforme alternam no poder.”

    Se os partidos e os políticos são maus por que razão todos aqueles que dizem mal não se filiam nos partidos no sentido de os tornar melhores?

    “Ninguém vai mexer no sistema financeiro pelo qual os contribuintes financiam os bancos privados por intermédio dos bancos públicos, e os Estados são obrigados a contrair empréstimos com os bancos privados, subordinando o governo democrático às leis de mercado em vez de ser o mercado regulado pelas leis da democracia (3)”

    Em Portuugal apenas um banco se portou mal. E maioria dos bancos por esse mundo fora não teve problemas. O sistema financeiro não pode se acusado pelo mau comportamento de algumas instituições.

    ResponderEliminar
  29. António,

    «No dia em que as posições se inverterem isto é houver um número maior de pessoas que preencham os lugares de professores e um número escasso de pessoas para recolher o lixo a sociedade não tem outra alternativa que não seja melhorar o salário de quem recolhe o lixo»

    Precisamente. Ou seja, o salário do professor e do homem do lixo, para o mesmo professor e o mesmo homem do lixo, pode ser completamente diferente em função do que se passa no mercado, independente de qualquer questão de mérito ou esforço de cada um desses indivíduos. Isto porque o salários, e os preços em geral, são uma propriedade emergente do conjunto de interacções que compõe o mercado e não um indicador de mérito ou demérito de nenhum dos indivíduos envolvidos, quando considerado isoladamente. Daí ser um disparate defender que é injusto taxar o rendimento, visto que o rendimento tem pouca correlação com a justiça.

    «E se trocássemos por Paulo Portas, Francisco Louçã ou Jerónimo de Sousa fazia?»

    O Portas não, que é mais um dos habitués. Com esse teríamos mais uns submarinos ou coisa assim, mas era a mesma coisas. Os outros teriam duas vantagens grandes. Por um lado meter um cagaço à malta do costume, que se vai revezando no poder. E, por outro, ter lá alguém que ainda não tem os amigos todos nas empresas e bancos para receber dinheiro do Estado. Muita gente julga que o nosso problema é não termos uma liderança capaz. Eu acho que estão enganados. Temos líderes muito capazes, mas capazes de zelar pelos interesses deles, e nos lixar a nós. Eu preferia trocar essa gente por pessoas menos competentes, que pelo menos teriam mais dificuldade em nos roubar tanto...

    «Mais pobres e mais ricos não são generalizações? No meio desta crise não houve ricos que ficaram menos ricos e ricos que ficaram pobres?»

    A crise acentuou as diferenças económicas entre pobres e ricos. Portanto, pelo menos em média houve mais ricos a ficar mais ricos e mais pobres a ficar mais pobres, do que vice-versa.

    «Se os partidos e os políticos são maus por que razão todos aqueles que dizem mal não se filiam nos partidos no sentido de os tornar melhores?»

    Dilema do prisioneiro. O esforço que eu teria de despender para me filiar num partido, aturar discursos imbecis, perder que tempos em reuniões e comícios e essas tretas, seria completamente desperdiçado a menos que houvesse muito mais gente como eu a fazer o mesmo.

    Por isso opto por usar as novas tecnologias e tentar maximizar a relação entre o número de pessoas a quem chego com as minhas opiniões e o custo, em tempo e também em chatice, que me traz tentar fazê-lo. Com o blog penso que consegui aliar o útil ao agradável.

    Até porque, sem ser filiado em partido nenhum, o meu voto conta muito mais. Os partidos esforçam-se muito menos por caçar votos aos seus militantes.

    «O sistema financeiro não pode se acusado pelo mau comportamento de algumas instituições.»

    Eu não estou propriamente a acusar o sistema financeiro. Estou a acusar os políticos por legislarem de forma a que o sistema financeiro fica a controlar a democracia, em vez de ser ao contrário.

    ResponderEliminar
  30. «Ou seja, o salário do professor e do homem do lixo, para o mesmo professor e o mesmo homem do lixo, pode ser completamente diferente em função do que se passa no mercado, independente de qualquer questão de mérito ou esforço de cada um desses indivíduos. Isto porque o salários, e os preços em geral, são uma propriedade emergente do conjunto de interacções que compõe o mercado e não um indicador de mérito ou demérito de nenhum dos indivíduos envolvidos, quando considerado isoladamente.»

    Parece-me que estás enganado. O mérito e o esforço estarão relacionados com aquilo que o professor universitário e o homem do lixo auferem independentemente de qual dos trabalhos seja melhor pago.

    Repara: se a necessidade de professores e homens do lixo fosse igual, se o treino e mérito exigido para ser uma coisa ou outra fosse igual, o trabalho que envolvesse maior esforço seria provavelmente aquele que as pessoas iriam preterir, pelo que haveria menos oferta de mão de obra um portanto um rendimento maior.
    Por isso, quer fosse o ser professor universitário, quer fosse ser homem do lixo o trabalho melhor pago, haveria uma relação entre o esforço e o pagamento.

    O mérito e o esforço associados a uma actividade são mesmo um aspecto importante do preço de mercado da mão de obra. Não são tudo, mas não são um aspecto irrelevante, nem por sombras.

    ResponderEliminar
  31. João Vasco,

    «Parece-me que estás enganado. O mérito e o esforço estarão relacionados com aquilo que o professor universitário e o homem do lixo auferem independentemente de qual dos trabalhos seja melhor pago.»

    Mesmo que conseguisses medir esforço e mérito, o que verias é que, entre os professores universitários e entre os homens do lixo, a correlação destes factores com o salário seria tão próxima de 0 que bem podias ignorá-la. Comparada às forças da oferta e procura, a contribuição do esforço e do mérito é irrisória.

    «O mérito e o esforço associados a uma actividade são mesmo um aspecto importante do preço de mercado da mão de obra.»

    Exacto. O mérito e o esforço associados à actividade. Não o mérito e o esforço de quem a desempenha. Por exemplo, numa sociedade onde toda a gente tem pavor de sangue, um tipo a quem o sangue não incomode pode ganhar muito dinheiro como médico ou enfermeiro com muito menos esforço do que aquele que associam à actividade. Ou se muita gente dá grande valor a uma cara bonita, alguém com uma cara bonita pode ganhar muito dinheiro mesmo que não tenha sido por mérito seu que lhe calhou uma cara bonita.

    Mas o meu ponto é mais simples do que isto. Imagina que queres prever os preços da mão-de-obra, e usas dois modelos. Num modelo usas como variáveis apenas o esforço e o mérito de cada trabalhador, individualmente, ignorando as opiniões de terceiros acerca dessa actividade. Noutro modelo usas como variáveis a oferta e a procura dos outros indivíduos todos, ignorando o mérito e o esforço do trabalhador cuja mão-de-obra estás a avaliar.

    Parece-me que o segundo modelo terá um erro muito menor que o primeiro, precisamente porque aquilo que os outros todos pensam (o mercado) é um factor muito mais determinante do salário que cada um de nós aufere do que o nosso mérito ou esforço individual.

    O que não quer dizer que o mérito e esforço não valham nada. Acho que até são o que vale mais. Mas valem em satisfação por fazer um trabalho bem feito, pelas relações com os colegas, e outros factores humanos que, apesar de serem os mais importantes, não contam para o IRS nem para o PIB.

    ResponderEliminar
  32. «Parece-me que o segundo modelo terá um erro muito menor que o primeiro, precisamente porque aquilo que os outros todos pensam (o mercado) é um factor muito mais determinante do salário que cada um de nós aufere do que o nosso mérito ou esforço individual.»

    A mim parecem-me ambos os modelos errados, e é isso que quero chamar à atenção.

    Não te esqueças que as pessoas também têm escolha na actividade que querem desempenhar, e às vezes olhar para as actividades em relação às quais faz falta quem as desempenhe, e não apenas para as nossas preferências pessoais em termos da actividade que gostaríamos de desempenhar, resulta num maior rendimento ao fim do mês, do qual podes querer abdicar ou não. E o caso extremo disto é mesmo a decisão de trabalhar ou não.

    Posto isto, concordo contigo que concluir que alguém tem muito mérito ou se esforça muito apenas porque ganha um bom salário ou vice versa é um disparate.

    E convém lembrarmo-nos também que existem profissões nas quais a falta de escrúpulos é um mérito acrescido.

    Um advogado que ganha muito provavelmente tem muito mérito. Mas se esse mérito vem das suas capacidades intelectuais, do seu profundo conhecimento das leis, do tempo que passa a estudar e especializar-se na sua área, ou se o seu mérito é também não deixar a sua consciência interferir no seu trabalho, é algo que não podemos saber olhando para o seu salário. Podem também ter sido cunhas e sorte, por outro lado. Enfim, há muitos factores...

    Mas o mérito e o esforço são parte, e nada irrelevante.

    ResponderEliminar
  33. «São apenas pressões de oferta e procura, sem nada que ver com o mérito ou esforço de ninguém. É isto que faz com que um trabalho desagradável, monótono e com horários horríveis pague menos do que um trabalho interessante e confortável.»

    Dito assim até parece que a única coisa que distingue a profissão de recolhedor de lixo da de professor universitário é uma ser monótona e desconfortável e a outra interessante e confortável. Toda a gente está habilitada para a primeira. Já para a segunda, é preciso mérito e esforço provados ao longo de décadas de trabalho. Sem o incentivo de ganhar melhor, quem se daria ao trabalho? É mais fácil ser professor primário (sem desprimor para os professores primários, que muito respeito). Sim, há também o incentivo da curiosidade e interesse pessoal mas mesmo com essa recompensa, se se fosse pago como se se andasse a recolher lixo, quantos professores universitários haveria? Os quais, aliás, não ganham assim tão bem e já têm experiência suficiente de ganharem pouco para poderem fazer o que gostam. E depois há o que um professor universitário tem de pagar para o ser, ou seja o que investe, do que ganha, na sua própria formação contínua. Parte do que ganha serve para isso. Mas suponho que não estou a dar nenhuma novidade ao Ludwig...

    ResponderEliminar
  34. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  35. Emma,

    «Dito assim até parece que a única coisa que distingue a profissão de recolhedor de lixo da de professor universitário é uma ser monótona e desconfortável e a outra interessante e confortável.»

    Pode não ser a única coisa, mas é a mais importante. Porque se eu me visse na necessidade de recolher lixo para sustentar a minha família, o meu doutoramento não me valeria de nada. A única coisa que determinaria o meu salário seria a pressão económica de oferta e procura, não o meu grau académico.

    «Toda a gente está habilitada para a primeira. Já para a segunda, é preciso mérito e esforço provados ao longo de décadas de trabalho. Sem o incentivo de ganhar melhor, quem se daria ao trabalho? É mais fácil ser professor primário (sem desprimor para os professores primários, que muito respeito).»

    Falando por mim (e é difícil falar por outros, nestas coisas), isto está completamente errado. Eu não tirei uma licenciatura, mestrado, doutoramento e mais uns anos como post-doc com vista ao grande salário que teria no futuro se arranjasse emprego na universidade. Eu fiz isso porque era isso que eu queria fazer, e porque tive oportunidade de o fazer. O meu trabalho, para mim, não é um esforço que eu me obrigo a fazer para que possa ganhar dinheiro. Faço o que gosto, principalmente, porque gosto.

    Mas se fosse professor primário, ou mesmo da secundária, era muito diferente. Já dei aulas na secundária, quando era estudante, e isso sim é um esforço. E se bem que goste muito de ensinar coisas aos meus filhos, é porque são meus filhos. Uma vez, a convite da professora, dei uma aula sobre astronomia à turma deles. É daquelas coisas que se faz bem de vez em quando, mas ensinar crianças com 9 anos é muito diferente de ensinar adultos, e a turma dos meus filhos até é uma boa turnma...

    Por isso, na minha experiência, ser professor primário é muito mais difícil do que ser professor universitário. É certo que tive de estudar para uma série de canudos, mas estudar é fácil. E a preparação das aulas é mais exigente, mas essa parte também não me custa fazer. Quanto às aulas, dar a adultos é um prazer, mas às crianças dos outros é um grande esforço.

    É claro que isto é subjectivo. A professora dos meus filhos vê-se que gosta da sua profissão. Possivelmente ela dirá o contrário. Mas esse é um ponto crucial. O custo das coisas depende muito de pessoa para pessoa. Para uns tirar um doutoramento pode ser um custo e esforço terrível. Para outros não poder tirar um doutoramento seria um custo enorme.

    Quanto ao mérito, o problema é o mesmo. Ter um doutoramento, publicações, ser professor universitário e assim pode parecer meritório, mas nunca tive de enfrentar dificuldades para o conseguir. A minha família sempre incentivou e apoiou os estudos, tive sempre orientadores com quem tive gosto em estudar, a partir da licenciatura sempre pude guiar os meus estudos pelo que mais gostava, etc. Não vejo que seja assim tão claro que eu tenha mais mérito por ter chegado onde cheguei que alguém com menos sorte por andar a recolher lixo, ou servir à mesa, etc.

    Mas o meu ponto é precisamente que estas avaliações são irrelavantes para determinar o salário. O que importa para o meu salário não é o que eu passei para chegar aqui, que mérito tenha ou quanto me custa dar aulas. É simplesmente o balanço entre a oferta e a procura por aquilo que eu faço, e isso não depende de mim.

    «se se fosse pago como se se andasse a recolher lixo, quantos professores universitários haveria?»

    Numa estimativa informada, se recolher lixo fosse pago a 2000 ou 3000 euros por mês, limpos, não me parece que nenhum professor onde trabalho, de auxiliar a catedrático, trocasse de profissão.

    «E depois há o que um professor universitário tem de pagar para o ser, ou seja o que investe, do que ganha, na sua própria formação contínua.»

    A formação contínua vale por si. Eu não estudo para ganhar mais dinheiro. Eu tento é ganhar dinheiro para conseguir estudar. É o dinheiro que é o meio, não o estudo.

    ResponderEliminar
  36. ««se se fosse pago como se se andasse a recolher lixo, quantos professores universitários haveria?»

    Numa estimativa informada, se recolher lixo fosse pago a 2000 ou 3000 euros por mês, limpos, não me parece que nenhum professor onde trabalho, de auxiliar a catedrático, trocasse de profissão.»

    Ludwig a pergunta não era essa.

    Se recolher o lixo fosse pago como é ser professor universitário, muito mais pessoas escolhiam essa profissão, isso é claro.

    E a pergunta era se ser professor universitário fosse pago como recolhedor do lixo, será que haveriam tantas pessoas igualmente qualificadas dispostas. O meu palpite vai para o "não".

    Não é que não tenhas razão quando falas em toda a imensidão que não é mérito ou esforço. Simplesmente não estás a ver o filme todo quando dizes que estas coisas têm um papel pouco importante. Isso é falso.

    ResponderEliminar
  37. LK:

    “Isto porque o salários, e os preços em geral, são uma propriedade emergente do conjunto de interacções que compõe o mercado e não um indicador de mérito ou demérito de nenhum dos indivíduos envolvidos, quando considerado isoladamente.”

    Até posso concordar que o mercado não seja uma forma óptima de remunerar o trabalho. Mas de todas as formas conhecidas, até hoje, eu não tenho dúvidas de que é a melhor.

    “Os outros teriam duas vantagens grandes”

    Talvez depois de obtidas as duas grandes vantagens o povo tivesse de correr com eles como os romenos fizeram com o clã Nicolae Ceausescu.

    “Temos líderes muito capazes, mas capazes de zelar pelos interesses deles, e nos lixar a nós.”

    Os governantes são eleitos e como de todos os regimes conhecidos o menos mau é o democrata logo os líderes menos maus são os que são eleitos todos os outros são piores.

    “pelo menos em média houve mais ricos a ficar mais ricos e mais pobres a ficar”

    Pode não ser assim, basta que os favorecidos pela crise tenham sido em maior número e montantes mais elevados os muitíssimo ricos. A média nem sempre é uma boa medida e basta ler a Forbes para perceber que há muitos níveis para colocar os ricos.

    “O esforço que eu teria de despender para me filiar num partido, aturar discursos imbecis”

    Esta afirmação é típica de quem sempre viveu em Democracia.

    “Por isso opto por usar as novas tecnologias e tentar maximizar a relação entre o número de pessoas a quem chego com as minhas opiniões e o custo, em tempo e também em chatice, que me traz tentar fazê-lo”

    Uma coisa não exclui a outra.

    “Até porque, sem ser filiado em partido nenhum, o meu voto conta muito mais”

    Não é verdade. Quem está filiado num partido tem a oportunidade de eleger e ser eleito dirigente ou líder partidário. Em Portugal um líder partidário é eleito com menos de 0,03% do eleitorado dado que o número de filiados é mínimo.

    “Estou a acusar os políticos por legislarem de forma a que o sistema financeiro fica a controlar a democracia, em vez de ser ao contrário.”

    A maioria dos políticos não sabe como funciona minimamente o sistema financeiro. Mesmo os chamados reguladores Bancos Centrais e outros não conhecem em profundidade toda a panóplia de instrumentos financeiros. Mesmo os especialistas financeiros não conhecem em profundidade todos os instrumentos conhecem apenas alguns. Os mercados financeiros são altamente especializados.

    É a vida.

    ResponderEliminar
  38. João Vasco,

    «Se recolher o lixo fosse pago como é ser professor universitário, muito mais pessoas escolhiam essa profissão, isso é claro.»

    É. Mas isso não reflectiria nada nem no meu esforço ou mérito nem no esforço ou mérito daqueles que agora recolhem o lixo. Se pagas mais haverá mais procura, se há mais procura o preço aumenta. Mas isso não permite dizer que uma pessoa que ganha 10,000 euros tem dez vezes mais esforço e mérito do que uma pessoa que ganha 1,000. Permite é dizer que o balanço da oferta e da procura faz com que esse trabalho seja pago dez vezes mais.

    «E a pergunta era se ser professor universitário fosse pago como recolhedor do lixo, será que haveriam tantas pessoas igualmente qualificadas dispostas. O meu palpite vai para o "não".»

    Haveria menos pessoas. Se seriam muito menos, não sei, porque há outros factores importantes. No entanto, isto não permite concluir que, por exemplo, quando o Estado baixou o meu salário é porque eu mereço ganhar menos ou porque me passei a esforçar menos.

    Nota que eu não estou a argumentar que o salário não tem influência no número, ou sequer na qualidade, dos candidatos. O que estou a argumentar é que o salário que uma dada pessoa aufere não é um indicador nem do mérito nem do esforço dessa pessoa.

    ResponderEliminar
  39. António,

    «Até posso concordar que o mercado não seja uma forma óptima de remunerar o trabalho. Mas de todas as formas conhecidas, até hoje, eu não tenho dúvidas de que é a melhor.»

    Nem eu. Sou 100% a favor do mercado. Desde que não se caia na ilusão de julgar que as pessoas ganham o que merecem e por isso não é justo que se taxe muito os mais ricos.

    «Talvez depois de obtidas as duas grandes vantagens o povo tivesse de correr com eles como os romenos fizeram com o clã Nicolae Ceausescu.»

    Não me parece uma preocupação minimamente realista, quer pelo país que temos agora quer pelo nosso lugar na UE. Mas sim, é fácil assustar os eleitores com esses bichos-papão.

    «Uma coisa não exclui a outra.»

    A militância activa e eficaz num partido, pelo tempo que necessariamente consome, exclui necessariamente muita outra coisa. E exclui a possibilidade de criticar todos os partidos de forma idêntica.

    Para mim a política não é uma questão de clubes. É uma questão daquilo que fazem e se propõem fazer em cada eleição.

    ResponderEliminar
  40. Krippmeister,

    Na Islândia safam-se assim, mas isso por cá é impossível porque há coisas muito complicadas e não há tempo para explicar. E os Islandeses arriscam-se a ficar subjugados por uma ditadura do partido dos verdes, e toda a gente sabe que Hitler era vegetariano, etc

    ;)

    ResponderEliminar
  41. « O que estou a argumentar é que o salário que uma dada pessoa aufere não é um indicador nem do mérito nem do esforço dessa pessoa. »

    Nesta mensagem pode ser só isso, mas por vezes dizes mais ainda: dizes que o rendimento é sobretudo dependente da sorte e de factores externos à pessoa. Discordo.
    Acredito que o mérito, o esforço e as escolhas da pessoa têm um papel muito importante no rendimento dessa pessoa.

    Uns exemplos:

    a) O Gonçalves e o Pedro têm um restaurante. O Gonçalves tem mais talento para a cozinha, logo tem mais clientes e tem um rendimento superior.
    Ou têm ambos o mesmo talento, mas o Pedro dá mais valor ao lazer, por isso põe preços superiores pois prefere ter menos clientes mesmo que isso implique um rendimento menor ao fim do mês.


    b) O Rui quer estudar engenharia e está indeciso se vai para o IST ou para a Independente (neste exemplo o clichê é verdadeiro, independentemente de o ser na realidade ou não). No IST, dizem que é mais fácil encontrar emprego, mas a média de entrada é superior. O Rui estuda esforçadamente para conseguir média e entrar no IST.


    d) Há 5 pessoas, o Paulo, o Joaquim, o André, a Maria e a Ana. Existem 3 vagas para barman, e três vagas para nadadores salvadores, dois anos consecutivos.
    o Joaquim e a Maria gostam é de nadar, por isso vão ser nadadores salvadores sempre.
    A Ana e o Joaquim preferem atender clientes, por isso vão ser barmans sempre.
    O André está disposto a fazer o que for necessário para ganhar o máximo dinheiro.
    Um ano os nadadores salvadores ganham 10 moedas, e os barmans ganham 8.
    No ano a seguir acontece o oposto.
    Sem surpresas, é o André quem consegue mais dinheiro nos 2 anos - consegue 20 moedas em vez das 18 que os colegas conseguiram.

    Estes três exemplos mostram como o esforço, o sacrifício, o talento, o mérito, e as escolhas, têm um impacto relevante no rendimento que se aufere.

    Não é tudo, e o resto é mesmo muito importante. O mito da direita de que isso é tudo é um disparate. Mas se alguma esquerda diz que isso não é nada, não está menos enganada.

    E foi um bocado o que disseste no teu texto.

    ResponderEliminar
  42. ups, passei do b) para o d).

    Bom, leia-se c).

    ResponderEliminar
  43. «É claro que isto é subjectivo. A professora dos meus filhos vê-se que gosta da sua profissão. Possivelmente ela dirá o contrário. Mas esse é um ponto crucial. O custo das coisas depende muito de pessoa para pessoa. Para uns tirar um doutoramento pode ser um custo e esforço terrível. Para outros não poder tirar um doutoramento seria um custo enorme.»

    É claro que é muito subjectivo e todos somos muito diferentes nos gostos e nas motivações. Sou professora universitária há 22 anos e, se pudesse escolher, escolhia ser só investigadora. Dar aulas exige esforço, sim senhor, e nem sempre compensador. Mas isso, claro, é para mim. Tenho colegas ao contrário, fazem investigação pobrezinha porque tem de ser, preferem dar aulas.

    «A formação contínua vale por si. Eu não estudo para ganhar mais dinheiro. Eu tento é ganhar dinheiro para conseguir estudar. É o dinheiro que é o meio, não o estudo.»

    Não era isso que eu queria dizer. Referia-me ao dinheiro que é preciso gastar nisso. Ou seja, contratar alguém como professor universitário implica pagar-lhe o suficiente para que ele possa sê-lo. Com o ordenado de um professor primário não comprava os livros que compro, não ia ao estrangeiro para me qualificar, etc.

    ResponderEliminar
  44. Emma,

    «Não era isso que eu queria dizer. Referia-me ao dinheiro que é preciso gastar nisso.»

    De acordo. Mas isso não tem nada que ver com esforço, no sentido de fazer algo que custa fazer, ou mérito.

    O meu ponto é que se uma pessoa ganha dez vezes mais que outra em empregos num mercado livre, podemos ter a certeza que há diferenças nas relações entre oferta e procura para esses dois empregos. Mas não podemos dizer grande coisa acerca do que, individualmente, essas duas pessoas merecem, do esforço que fazem ou dos obstáculos que tiveram de vencer para chegar onde chegaram.

    Ou seja, não podemos presumir que as pessoas merecem os salários que recebem. Calhou-lhes aquilo. Aqueles genes, aquela família, aquelas oportunidades e aquela conjuntura económica, tecnológica e social. Eu estava bem lixado com a bioinformática se tivesse nascido um século antes :)

    ResponderEliminar
  45. João Vasco,

    «dizes que o rendimento é sobretudo dependente da sorte e de factores externos à pessoa.»

    E é. Por exemplo, o rendimento que podes auferir tem uma variação muito maior com o lugar onde nasces do que tem com a formação académica. Não teres curso superior pode levar a que ganhes um bocado menos em Portugal. Mas nasceres no interior da China ou nas montanhas da Birmânia, ou até em trás-os-montes em vez de em Lisboa, tem muito mais influência.

    E isto sem contar com a família que te calhou, as oportunidades que tiveste durante a infância e assim por diante.

    Finalmente, o salário do emprego que arranjas não é determinado pelo teu mérito. Isso pode influenciar se consegues esse emprego ou outro, mas se consegues um emprego é determinado principalmente pelos outros que concorrem ao mesmo emprego. Se fores o único candidato, é natural que sejam mais permissivos.

    No computo geral, o teu salário é muito mais determinado por factores externos do que pelo teu mérito.

    «O Gonçalves e o Pedro têm um restaurante. O Gonçalves tem mais talento para a cozinha, logo tem mais clientes e tem um rendimento superior.»

    Tu achas que uma pessoa simplesmente "tem um restaurante" só pelo seu mérito próprio, independentemente da família, nacionalidade, sítio onde vive, etc?

    E achas que ter talento ou não conta como uma coisa que uma pessoa decide por si? Ou seja, o Gonçalves merece mais clientes porque o Pedro foi parvo e escolheu nascer com menos talento.

    Etc.

    Nota que eu não estou a dizer que o Pedro, sem talento, deva ganhar o mesmo com o restaurante. Sou a favor do mercado livre. Se uma rapariga tem uma cara bonita e querem pagar-lhe uns milhões para lhe tirar uma foto, pois bom para ela.

    O que estou apontar é que, uma vez aceite um sistema desses (e é claramente o melhor) não devemos andar enganados a julgar que o mérito se mede em euros. Temos de admitir que não tem nada que ver. Mesmo que ganhe milhões por ter uma cara bonita ou imenso jeito para uma coisa qualquer, isso não quer dizer que uma cara bonita ou imenso jeito seja uma medida do mérito da pessoa. Menos ainda o será o ordenado que tem.

    E uma vez admitido isso podemos pôr de parte a relutância de taxar os rendimentos. É claro que, no caso do PSD, a relutância é porque a malta do PSD tem mais rendimentos do que a média, e preferem que sejam os outros a pagar o IVA, a ficar sem hospitais, escolas, etc. Mas isso já é outro problema.

    ResponderEliminar
  46. Ludwig Krippahl disse...

    Banda,

    Nos teus comentários vislumbra-se ocasionalmente a insinuação de algo que poderia ter interesse, se fosse possível compreender o que escreves.

    Dá para escreveres de uma forma mais inteligível?

    Tendo em conta que todos os restantes escrevem de forma inteligível

    Expresso-me do mesmo modo

    Sentenças curtas e inexistência de vogais não impossibilitam a leitura

    nem a compreensão das ideias

    por exemplo as vossas são semi-alienígenas e mesmo assi compreensíveis

    escrevo (teclo maquinalmente)porque me apetece

    inicialmente fazia-o no intervalo de outras coisas

    reduz a tensão....

    se me compreendem ou não tanto faz

    ResponderEliminar
  47. oportunidade

    o cobre está a ser pago a 8 euros o quilo

    as ATM's a 200 euros o quilo excepto se vazias

    um rapaz empreendedor que junte um grupo de desempregados pode tornar-se milionário em pouco tempo

    obviamente se tiver nascido na margem sul
    e for ex-membro das FP-25 de Abril tem maiores probabilidades de o conseguir

    ResponderEliminar
  48. Ludwig:

    Cada vezque me respondes cometes a falácia do terceiro excluído.

    Tu estás num extremo a dizer que o esforço e o mérito não contam para (quase) nada no que diz respeito ao rendimento que alguém consegue, mas não assumas que por discordar disso eu estou no outro extremo.


    Por exemplo, o facto de alguém ter um restaurante depende muito de factores externos. Essa pessoa pode realmente ter nascido numa situação que não lhe permita, por muito que se esforce para poupar e esteja disposta a arriscar, ter sequer uma roulote para vender hotdogs, quanto mais um restaurante.
    MAS não depende só disso. Para várias pessoas, foi a decisão de poupar, de se sacrificarem, de arriscarem, que fez a diferença entre terem u não terem um restaurante.

    E depois de terem o restaurante, as escolhas, o trabalho e o talento também são muito importantes no que diz respeito ao rendimento que vão auferir.


    «E achas que ter talento ou não conta como uma coisa que uma pessoa decide por si? Ou seja, o Gonçalves merece mais clientes porque o Pedro foi parvo e escolheu nascer com menos talento.»

    Eu não falei em merecer.

    Parte do talento do Ronaldo é consequência do quanto treinou, do quanto investiu. E outra parte é consequência dos genes, da habilidade natural, que muitos outros igualmente esforçados não chegaram tão longe.
    Claro que muito do dinheirão que ele ganha é consequência das pessoas gostarem muito mais de ver futebol do que Xadrês, onde imagino que não fosse tão bom jogador. Mas parte é consequência do seu talento natural para algo que as pessoas gostam, e do facto de se ter esforçado e desenvolvido esse talento.

    Se merece? Não era isso que eu estava a discutir. Tanto é que ao seu texto só obstei à parte em que dizes que o talento e o esforço pouco importam.
    Não são tudo, sem dúvida. Se calhar não são a maior parte.
    Mas são sem dúvida uma parte importante.

    ResponderEliminar
  49. LK:

    “Mas sim, é fácil assustar os eleitores com esses bichos-papão.”

    Os eleitores não são burros. O PCP, logo após o 25 de Abril, retirou à pressa do seu programa o objectivo de instituir a ditadura do proletariado. Mas esse princípio básico da sua doutrina saiu do programa mas não da cabeça dos seus militantes.

    “E exclui a possibilidade de criticar todos os partidos de forma idêntica”

    Criticar todos os partidos estar acima dos partidos considerar os partidos desnecessários e que só gastam dinheiro dos contribuintes, são argumentos muito antigos já Salazar dizia: o trabalho é para os trabalhadores, o estudo para os estudantes e a política para os políticos.

    ResponderEliminar
  50. Os eleitores não são burros.....são ginetes que se deixam montar pelo seu cavaleiro andante

    2011. március 27., vasárnap
    COURAÇADO DE FERRO ÉPICO E DESLUMBRANTE PASSA NO SEU GINETE O CAVALEIRO ANDANTE

    SAIU TODO O POVO FICARAM-SE ALI

    DANSANDO ÀS ESCURAS EM DANSA HEDIONDA

    VEIO O MEIO DIA DURAVA INDA A RONDA

    SEM QUE HAJA DE TANTOS UM SÓ QUE RESPONDA

    A QUEM DÓI DELES OU DELES SE RI


    NEM GÔTA DE CHUVA SÔBRE ELES CAIRA

    O SOL OS TORNARA MAIS NEGROS QUE O BREU

    JÁ TÉ À CINTURA A TERRA OS SORVEU

    CAVADA ESVARRIDA COM TAL VIRA A VIRA

    E O FATO E O CALÇADO DIF'RENÇA NÃO TÊM

    CO'A PRAGA TREMENDA DO IRADO COELHO

    POR LI AOS INFERNOS SE IRIAM DECERTO

    SE A BENÇÃO TRAZIDA PELO SENHOR VELHO

    QUE É PRIOR EM BELÉM SALVÁ-LO NÃO VEM

    ResponderEliminar
  51. ou dito de outro modo sobre as palavras que são escusas às gentes de pou ca fé

    Bem pode a matéria das nossas palavras ser boa

    e contudo acharem que não falamos bem

    os pontos ou fins a que as nossas palavras devem dirigir-se se reduzem a estes dous

    caridade pela indigença mental do próximo e honra a deus

    e toda a palavra que não toca mediata ou imediatamente nestes pontos

    ainda que pareça recta não é recta

    porquanto a intenção recta é que rectifica tôdas nossas acções

    ResponderEliminar
  52. Ludwig:

    Encontrei este grafico:

    http://cronicas-portuguesas.blogspot.com/2010/11/o-tedxlisboa-com-antonio-barreto.html

    Não encaixa no das tuas ligações. Propões alguma interpretação da inconsistencia?

    ResponderEliminar

Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.