quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Uma questão de ganância.

O João Teixeira, presidente da Associação Fonográfica Portuguesa (1), escreveu no Público uma «Carta aberta à ministra da Cultura sobre os efeitos da pirataria na Internet no estrangulamento da música portuguesa»(2). Ironicamente, a carta só está aberta a quem pagar uma assinatura do Público ou tiver pouco respeito pela “propriedade” intelectual.

Outra ironia, dupla, é o João Teixeira querer que Portugal proteja a sua «indústria cultural» para «defender a sua Cultura». É irónico, por um lado, porque a maior parte da indústria que a AFP representa são empresas estrangeiras e, pelas estatísticas da AFP, menos de um terço da música que vendem é nacional. E é também irónico porque o termo “indústria cultural”, hoje muito na berra, vem de um termo depreciativo da crítica literária e social que designa o fabrico em massa da “cultura” de consumo popular (2). A indústria cultural está para a cultura como a pastilha elástica está para a gastronomia.

Como é inevitável nestas coisas, o João Teixeira queixa-se do «roubo online» pelo qual se viola «direitos de propriedade intelectual». É uma inversão curiosa de conceitos. O roubo é o acto de privar alguém daquilo que é seu, e os direitos de propriedade são o que nos protege de quem nos quer privar do que é nosso. Mas, no copyright, é o contrário. Chamam roubo ao acto de partilhar a informação, que não priva ninguém de nada que seja seu, e chamam direitos de propriedade a mecanismos legais para privar as pessoas dessa informação.

Mas a tese principal do João Teixeira é ainda pior. Defende o João que a necessidade de «implementar soluções legislativas que restrinjam fortemente a disponibilização ilegal de obras» é uma «Questão de bom senso» para proteger «autores, compositores, artistas, músicos e outros». Isto parte da falsa premissa de que os criadores de música precisam de protecção legal. É verdade que a venda de cópias está em queda, mas quem compõe, toca e canta ganha cada vez mais dinheiro porque outros rendimentos, como o dos espectáculos, têm aumentado substancialmente. Este aumento não só compensa a queda das vendas de CDs, no volume total, como até beneficia os artistas porque a venda dos CDs é o que lhes dá a menor percentagem (4). E o problema dos CDs não é legal. É um problema tecnológico e cultural.

O fonograma, como objecto de posse e transacção comercial, é uma coisa tão ultrapassada como a grafonola. Haverá sempre quem goste de ter discos ou coleccionar CDs, porque gosta desses objectos em si, mas como mero suporte para música esta tecnologia está desactualizada. E a tecnologia que pôs a cópia ao alcance de todos tornou a música novamente em cultura.

Antes da industrialização da cópia ninguém comprava canções nem tinha músicas. Ouvia, aprendia, compunha, tocava e partilhava, mas não tinha. Só quando a cópia se tornou um negócio de fábricas e empresas é que grande parte da música, e de outros bens culturais, se transformou em coisa que se compra, vende e tem. Tudo atributos estranhos à cultura. Agora esse hábito de ter músicas vai voltando a desaparecer. Se quero mostrar uma música aos meus filhos não vou ao armário procurar o CD*. Vou ao Google. Quanto mais acessível algo está, menos necessidade sentimos de o “ter” como propriedade. E isso é que é cultura, aquilo a que todos podem aceder sem que ninguém seja dono.

Os monopólios que a associação dos fonogramas exige não são para proteger a criatividade, nem os artistas nem a nossa cultura. São para se meterem entre cada artista e o seu público, para dificultarem o acesso à cultura e para nos proibir de fazer cópias – que é tudo o que eles fazem – para cobrarem dezenas de euros por cada copy e paste. Isto não é bom senso. É apenas o choradinho de quem quer vender uma coisa que já não serve para nada.

* Tenho uma data deles, mas do tempo em que este negócio não me metia tanto nojo.

1- www.afp.org.pt
2- Público, 7-2-2011, Caderno, Opinião. Obrigado a quem me enviou o email com a notícia.
3- Wikipedia, Culture industry
4- TorrentFreak, Artists Make More Money in File-Sharing Age Than Before It

38 comentários:

  1. Num novo concurso, a IGAC cola o roubo à cópia: http://www.somostodosautores.igac.pt/
    O mais execrável é isto ser dirigido a alunos entre os 6 e os 12 anos.

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  2. Boa refutação para o conceito de "roubo" de informação. Claramente partilhar (que é o que se faz) não é roubar.

    A ter ainda em mente que com a partilha se está a divulgar informação, jamais vários conteúdos (filmes, software, música, etc) teriam tanta exposição se não fossem partilhados. Ocorre-me ainda que com o aumento do fluxo de informação desenvolvem-se indústrias (venda DVDs, velocidade internet, armazenamento)

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  3. Por uma questão de ganância comprem

    O.T's

    15-06-2019 taxa de juro média 4,8% 9,4 anos até à maturidade 6,734 %

    Obrigações Tesouro a 4,95% Outubro 2023 25-10-2023 12,7anos 6,787 %

    Obrigações Tesouro a 4,10%
    Abril 2037 15-04-2037 26,2anos
    6,259 %
    (*) Valor da taxa de rendimento anualizada da Obrigação do Tesouro
    Português no dia de vencimento indicado.

    se não estiverem cá em 2037 deixem aos filhos emigrantes

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. O IGAC tem razão numa coisa: somos todos autores (dos nossos blogs por exemplo).

    E é precisamente nessa qualidade de autor que não reconheço, nem a mim nem ao estado, qualquer legitimidade para proibir que alguém faça seja o que for com obras culturais na privacidade de sua casa, ou nas suas comunicações, desde que para fins privados não lucrativos.

    Se alguém imprime o que escrevo e coloco no meu site, e dá aos amigos ou colegas de trabalho para ler, não tenho nada a ver com isso. Se o manda por correio tradicional, ou email, ou bittorrent, não tenho nada a ver com isso. Alguém até pode gostar tanto do que eu escrevo que o imprima e use como papel higiénico. Também não tenho nada a ver com isso. Nem eu, nem o estado. Por muito que algumas destas práticas sejam potencialmente lesivas para os meus interesses económicos. Há outros direitos mais importantes que os de autor que se levantam nestas situações. O que cada um faz na sua esfera privada é consigo.

    Já se algum jornal alguma vez publicar escritos meus, sem autorização, aí sim já me vejo no direito de me opor a tal, e de recorrer ao estado para me ajudar.

    O IGAC tem razão: somos todos autores. Não vejo é como isso nos dá direito para controlarmos o que acontece nas casas e nas comunicações privadas de cada um!

    Se é legitimo fazê-lo para proteger interesses económicos, então também temos por exemplo de reconhecer às pizzarias o direito de proibir a divulgação de receitas de pizza, assim como a sua confecção doméstica.

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  6. Paula,

    Já tinha lido no teu blog, mas ainda não tive tempo de ir lá ver com atenção. Mas gostei de darem como exemplo que "alguém descobriu a roda, a electricidade e o frigorífico". Além da ideia de terem descoberto o frigorífico (??) os outros dois são um bom exemplo para dar aos miúdos. Se se quiser demonstrar que a "propriedade" intelectual é uma parvoíce, claro :)

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  7. nmhd:

    "Claramente partilhar (que é o que se faz) não é roubar."

    Sim, claramente esse não é o problema. Mas sim partilhar em massa uma coisa da qual não adquiriste o direito de o fazer.

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  8. João,

    «Mas sim partilhar em massa uma coisa da qual não adquiriste o direito de o fazer.»

    A primeira questão é se o direito de partilhar é algo que tenha de ser adquirido (i.e. comprado, pagando em dinheiro), ou se é algo que temos por omissão.

    A outra questão é que mesmo que partilhar seja abusar de um direito que não é nosso, o que está longe de demonstrado, ainda assim isso não é o mesmo que roubar. Tu podes dizer que quem dá cigarros a uma criança está a violar a lei mas é pouco razoável dizer que está a roubar cigarros por os dar.

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  9. Ludwig:

    "A primeira questão é se o direito de partilhar é algo que tenha de ser adquirido"

    Quem produz uma obra deve ter uma palavra a dizer no modo como ela vai ser distribuida.

    "seja abusar de um direito que não é nosso, o que está longe de demonstrado, "

    Não existem direitos absolutos, Ludwig. Sabes disso tão bem como eu. Os direitos são parte de outro contrato maior, são algo que se reivindicou com sucesso e praticamente unanimidade. Mas não são algo que possas demontrar que é universal ou coisa do genero. Depende da sociedade que queres e do contrato social que se negoceia. Até porque direito é algo que só pode ser tão extenso quanto o que a pluralidade permita.

    "não é o mesmo que roubar."

    Foi o que eu disse.

    "Tu podes dizer que quem dá cigarros a uma criança está a violar a lei mas é pouco razoável dizer que está a roubar cigarros por os dar."

    Claro.

    PS: devias ler o ultimo livro do hawking. Tens um review no meu blogue.

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  10. João,

    «Quem produz uma obra deve ter uma palavra a dizer no modo como ela vai ser distribuida.»

    Claro. Se escreves um poema tens o direito de querer mantê-lo privado. A lei garante-te esse direito e pune, como deve punir, quem quiser publicar o teu poema sem a tua autorização.

    Mas se vais para a rua vender papelinhos com o teu poema escrito, não faz sentido que depois queiras outra lei para proibir as pessoas de copiar o que está escrito no papelinho que compraram. É contra esse alegado direito que eu me oponho.

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  11. Ludwig:

    " É contra esse alegado direito que eu me oponho."

    Eu sei. Mas eu oponho-me a que só pelas razões que tu tens apresentado que se retire a possibilidade de fazer contractos acerca da cópia.

    Eu penso que o mercado está desiquilibrado e muitos dos teus argumentos são válidos. Mas o pouco que percebo de economia diz-me que os produtos livres vão ter de fazer o trabalho que tu queres que se faça alterando a lei. Mesmo que deixes andar as coisas, neste caso, vai ter de se chegar a um equilibrio em que a qualidade e as vantagens dos produtos pagos vai ter de ser muito superior ao dos livres. Ou então vão ter de baixar o preço até compensar o desfazamento actual.

    No meu ver, a melhor arma contra a ma qualidade e o abuso que se passa no copyright é a propaganda dos produtos livres. Tipos como tu, e se calhar até como eu, deviam propangandear de graça esses produtos. Para ter exatamente o efeito que tu queres, excepto que não tornarias impossivel negociar um contracto de copia a quem quisesse.

    Tu neste momento, quer queiras quer não quando descarregas um ficheiro estas a quebrar um contracto. Ou quebras o da copia que estas a descarregar no caso de teres ido a material legal ou se alguem ja quebrou esse contracto estas a partilhar material obtido ilegalmente. O que em si é ilegal e indiferenciavel do meu ponto de vista se és o primeiro ou o segundo a fazer as coisas à margem da lei.

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  12. João,

    Eu não me oponho à celebração de contratos. Mas é fundamental respeitar o princípio de que um contrato entre duas partes obriga apenas as partes contratantes a respeitá-lo. Tu fazeres um contrato com um cliente teu não deve obrigar-me a mim seja ao que for.

    «Mas o pouco que percebo de economia diz-me que os produtos livres vão ter de fazer o trabalho que tu queres que se faça alterando a lei.»

    A cultura, a arte e a criatividade não são produtos. São serviços. E o serviço de criar arte e cultura é algo que não é "livre" no sentido de obrigatoriamente gratuito, porque quem tem capacidade de prestar esses serviços pode cobrar, e é algo que devia ser livre no sentido de não sofrer restrições impostas por esquemas de licenciamento, intermediários, etc.

    Por estas razões os monopólios sobre a cópia não deviam sair do âmbito estritamente comercial, de forma a não restringir a arte, a difusão cultural, a criatividade, a educação, etc.

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  13. "A cultura, a arte e a criatividade não são produtos"

    Discordo. Serviço é o acto de os criar. Produto é aquilo que tu és capaz de identificar como obra e que de uma maneira ou de outra tem significado para ti enquanto ser consnciente.

    "Tu fazeres um contrato com um cliente teu não deve obrigar-me a mim seja ao que for."

    Não é assim se tu quiseres o que eu estou a dispensar com contrato e quiseres ficar à espera para usufruir à margem do contrato.

    Não consegues fazer isso sem usufruir de um produto onde algures alguem quebrou o contrato. Portanto se achas bem que se possam celebrar contratos nãop devias estar a beneficiar de quem os quebra. Não é uma posição consistente.

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  14. UMA BOA NOTÍCIA:

    Graças ao patrocínio da Sociedade Portuguesa de Neurociências (bem-hajam!) acaba de ser restaurado, digitalizado e colocado na Web, no sítio Alma Mater, o que deve ser o único exemplar em Portugal do livro do século XVI "Fábrica do Corpo Humano" de André Vesalius, que é propriedade da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. Os que gostam de livros antigos ou de história da ciência podem deliciar-se a vê-lo aqui.

    Vê-lo obviamente não disponibilizam uma obra cujos direitos de autor
    inexistentes quando morreu já se teriam extinguido há 400 anos

    e o projecto guttenberg nem tem cópias de livros científicos

    é verdade que o livro é propriedade da universidade
    que teve custos na sua digitalização

    mas neste caso se disponibilizasse por dinheiro a digitalização de uma obra que já não tem herdeiros existentes

    não estará a haver apropriação de obra alheia...

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  15. "herdeiros existentes" ??

    Se já não é claro que por ler/ouvir algo deva pagar ao autor, de certeza que quem nada teve a ver com a sua produção não tem direitos sobre o seu uso.

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  16. ardoRic,

    Concordo plenamente contigo, mas pela lei actual depois de falecido o autor ficam os herdeiros (ou seja quem for que tenha adquirido os direitos entretanto) a mamar durante 70 anos.

    one hundred trillion dollars,

    Mesmo que esse livro alguma vez tenha estado sob a "protecção" dos direitos de autor, está no domínio publico há mts anos. Não estou a ver como legalmente a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra se possa opor à distribuição da digitalização.

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  17. Ludwig:

    Os teus argumentos fazem todo o sentido, e acredito realmente que os músicos estejam a beneficiar dos downloads.

    No entanto, estou farto de pensar, e não consigo imaginar um modelo de negócio sustentável para os filmes. A menos que acabemos com o cinema e voltemos ao teatro.

    Fernando

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  18. Mas ciberneticamente já que isto é uma questão de comando opõe-se à distribuição e apenas possibilita vizualização da digitalização

    Muitas universidades cobram pelo envio de pdf's de obras científicas do século XIX, não sei se é o caso, outras disponibilizam gratuitamente as publicações da universidade e os livros que digitalizam, não apenas aos alunos mas à comunidade em geral.

    o pdf não permite cópia e copiar o ecrã em 300 páginas dá muito trabalho

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  19. João,

    «Serviço é o acto de os criar.»

    E transmitir, partilhar, etc.

    «Produto é aquilo que tu és capaz de identificar como obra»

    E que, no caso de ser uma representação digital, vale zero.

    Imagina que tens uma equação difícil de resolver e contratas um matemático para te dar a solução. O que tem valor aqui é o serviço que o matemático presta. O X=321.3 não tem valor comercial, e é parvoíce estar a inventar leis só para que tenha.

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  20. Fernando,

    Não é preciso pensar muito. Basta olhar para os recordes de bilheteira todos os anos. O cinema dá cada vez mais dinheiro.

    E suspeito que seja por ter praticamente acabado a pirataria. A pirataria mesmo, a de vender DVDs copiados. Essa desapareceu porque agora dá para sacar tudo de borla na net. E o dinheiro que sobra daí vai, em parte, para as bilheteiras do cinema.

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  21. Pois mas deixas de ter dinheiro para construir obras épicas (porque ricas no seu conteúdo) como o Mass Effect, por exemplo, que pode custar uns bons milhões de dólares.

    Por mais que eu goste do projecto Freespace SCP, não se pode comparar o esforço financeiro de um produto fechado para um produto aberto.

    E mesmo assim estaria mais do que disposto a "sacrificar" essa falta de obras desse calibre.

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  22. Barba Rija disse...
    eu jogo o Mass Effect

    Por mais que eu goste do projecto Freespace SCP
    o Sporting tem um Freeeport ?

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  23. Barba Rija,

    Jogos como o Mass Effect já são mt "piratados", mas não deixam de vender. Como em tudo há uma grande correlação entre mais vendidos/mais "sacados". Além de haver inúmeras maneiras de vender (mensalidades, conteúdos extra...) e de financiar a produção (publicidade).

    Eu digo-te que também ADOREI o Mass Effect 2. Já joguei 2 vezes e ando com vontade de jogar 3ª vez antes de sair o ME3. E comecei por jogar uma cópia "pirata". Mas gostei tanto q comprei, e ainda mandei vir o Mass Effect 1 também. Claro que não foi aos preços de cá... isso não... mandei vir da amazon.co.uk. :)

    Há que haver uma certa consciência que se ninguém comprar, deixam de se fazer jogos para PC. Passam a só fazer jogos para as consolas onde vendem melhor. Gostando e tendo dinheiro para comprar... compro!

    Acho que a indústria tinha mais a ganhar se tentasse incutir essa consciência às pessoas, do q andar a chamar-lhes piratas e a ameaçar cortar-lhes a internet ou processa-los, etc. Até é curioso que não vês muito a "industria" dos jogos nessas andanças. Sempre tiveram de lidar com pirataria em larga escala. Cresceram e continuam a crescer com ela. Parece-me que terão outra percepção do problema. (O que não impede q metam tecnologias anti-cópia que só servem para chatear quem compra... mas pronto...)

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  24. one hundred trillion dollars,

    A Universidade de Coimbra disponibiliza a obra em JPG (imagens sem qq protecção). E também em PDFs com as permissões todas ligadas (pode-se extrair conteúdos, imprimir... tudo).

    Não vejo onde esteja qualquer restrição.

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  25. URL da coisa aqui:
    http://almamater.uc.pt/wrapper.asp?t=[Andreae+Vesalii+Bruxellensis,+Scholae+Medicorum+Patavinae+Professoris,+De+humani+corporis+fabrica+libri+septem]&d=http://bdigital.sib.uc.pt/manuscritos/UCBG-4A-21-14-1/globalItems.html

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  26. Barba,

    A razão pela qual esta lei do copyright ainda existe é precisamente não ser possível aplicá-la. Se já tivessem prendido mesmo que uma pequena fracção de quem copia jogos, músicas e filmes, já há muito que a lei tinha sido mudada. Não só porque as prisões não têm capacidade, mas também porque ao fim de prenderem meia dúzia de filhos de deputados e ministros, a lei desaparecia num instante.

    Felizmente, uma lei de copyright com impacto em actos não-comerciais não é necessária para a indústria, e os jogos são um bom exemplo disso, como o Nelson aponta. Quem copia uns jogos fica com mais dinheiro para comprar outros, pelo que o volume total de negócio não muda. E quem faz os jogos e os vende arranja maneira de convencer as pessoas a comprar. A prova disso é que continuam a vender jogos, e não é pela proibição da cópia.

    Os únicos afectados são aqueles que não têm qualquer papel na criação das obras. Os que apenas copiam e distribuem. Esses precisam da lei porque, sem a lei, o seu trabalho não vale nada.

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  27. Há outra coisa importante, neste negócio da arte. O modelo económico por omissão é que as pessoas só pagam se forem obrigadas, porque assume que dar dinheiro é um custo e o que se recebe em troca é que compensa. Assim, não se pode competir com a borla.

    Um erro deste modelo é que, quando algo é mesmo de borla, deixa de competir com o pago porque não reduz o dinheiro disponível para comprar coisas.

    Mas o erro mais importante deste modelo é que, na relação entre os admiradores de uma obra e os seus criadores, pagar é uma forma de participar. Contribuir para aquela obra de que gostamos e aquele autor que admiramos é algo que tem valor em si. E hoje em dia temos tecnologia que permite que toda a gente faça isso, e não apenas os mais ricos.

    Esta coisa de exigir que se obrigue as pessoas a pagar é uma necessidade para os que alugam DVDs e que vendem fonogramas, mas é irrelevante para aqueles que criam as obras. Esses, quando merecem, arranjam quem lhes pague.

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  28. Ludwig:

    "E que, no caso de ser uma representação digital, vale zero."

    Vale tanto zero, que te dás ao trabalho de escrever longos textos para lhes pores as mãos em cima. Não vês a contradição em que te colocas?

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  29. João,

    «Vale tanto zero»

    Quando digo vale zero estou a falar em euros. É como a receita do bacalhau com natas. Pode ter valor gastronómico, mas não é coisa que se venda só por si. Se queres vender receitas tens de pôr fotos bonitas, etc. A informação em si tem um valor de mercado nulo.

    É esse o valor de mercado de qualquer sequência de 0s e 1s, a menos que se invente leis só para inflaccionar o preço criando escassez por decreto.

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  30. Olha, em vez de quereres ir buscar filmes piratas e musicas pirata, pega neste bocado de numeros e vê tudo o que te apetece, distribui e diz aos outros que são todos os filmes no mesmo etc:

    479508234750234871

    Lindo hã? E quando a heroina morre com MRSA? Até o House saltava da cadeira. E aquele outro western do pistoleiro filosofo? De rir ate às lágrimas.

    :-P

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  31. Assim deixas de precisar de ir buscar outras sequencias não é? afinal todas podem dizer qualquer coisa, certo? E as sequencias de numeros não têm valor.

    Por isso, e sem utilizares nenhuma outra sequencia de numeros com copyright conhecido, em nenhuma outra parte do processo, envia-me um programa que transforme a sequencia acima no avatar. MAs uma em que eles não sejam azuis, que sejam verdes e não tenham cauda.

    Não deve custar nada. AFinal isto está naquela sequencia que eu deixei. E o valor das sequencias de numeros é o mesmo em qualquer contexto, por isso não devias precisar de mais nada.

    PS: Nota bem que o que eu escrevi impede que uses qualquer video do avatar como input numa sequencia de codigo do genero If "479508234750234871" then f!king play "Avatar" (sou um Às de pseudocódigo, mas infelizmente não lhe dão o mesmo valor a quem sabe programar verdadeiro código. Já viste o meu azar?)

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  32. João,

    O que custa e gerar a sequência certa. Esse trabalho tem valor comercial, porque se pode cobrar para o fazer (dar um orçamento e só fazer esse serviço se alguém se comprometer a pagar). É isso que se faz kickstarter.

    O que não faz sentido é criar leis que proíbem a distribuição de números só para que cobrem depois do trabalho feito. Isso é um disparate que só interessa aos intermediários, e que exige violar direitos fundamentais (por exemplo, a Ley Sinde que estão a aprovar em Espanha, que permite fechar sites por ordem administrativa, sem sequer passar por um juiz).

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  33. "Isso é um disparate que só interessa aos intermediários, e que exige violar direitos fundamentais "

    Não. Interessa tambem em quem queira material de alta qualidade.

    A unica area onde o free esta ao nivel do comercial é em software de produtividade e em noticias.

    Jogos, musica, cinema, romances, artigos e livros de ciencia, está tudo muito, mas muito atrás do free. Isso para ja sugere que deves ser cauteloso a dizer que só interessa aos intermediários.

    Longe de ser um disparate. O kikstarter ainda tem de demonstrar que é um pontapé de saida viavel. Vão investir em ti como se fossem empresários, não? Duvido. Menos dinheiro envolvido, piores produções.

    PS: a minha sequencia "não é a certa"? Mas não são todas iguais? Não vais mesmo transformar a minha agua em vinho? Acho que vais para pilatos outra vez, vais, vais.

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  34. "A informação em si tem um valor de mercado nulo."

    O que é que deste ao mercado? Marijuana? É que deve estar muita maluco para não dar valor à informação. Não te preocupes, isso passa-lhe.

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  35. Nelson Cruz disse...
    URL da coisa aqui:
    http://almamater.uc.pt/wrapper.asp?t=[Andreae+Vesalii+Bruxellensis,+Scholae+Medicorum+Patavinae+Professoris,+De+humani+corporis+fabrica+libri+septem]&d=http://bdigital.sib.uc.pt/manuscritos/UCBG-4A-21-14-1/globalItems.html

    OK Deo Gratias

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  36. O David Ghetta parece que já percebeu:
    http://www.dailystar.co.uk/posts/view/174773/David-Guetta-Guett-it-for-free-/

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  37. João,

    Acho que o Ludwig queria dizer que depois de criada uma certa informação (ou obra), copiá-la digitalmente sai a custo zero. O que não quer dizer que não tenha grande VALOR, mas não confundir isso com preço. É que num mercado qualquer produto em que haja concorrência feroz o PVP tende a baixar em direcção ao custo de produção de cada unidade, que neste caso é zero.

    Outra forma de ver a coisa: a informação e as obras ainda têm valor (as pessoas desejam-nas). Os serviços de distribuição, especialmente através de discos de plástico e outros objectos físicos, é que já não têm ou acrescentam tanto valor como antes (aos olhos do público, ou seja do mercado). Logo, a distribuição por esses métodos já não é um meio adequado de capturar o valor da obra. Já os serviços que dão acesso aos conteúdos 'a la carte' através da internet, com mensalidades de poucos euros, estão a ter algum sucesso. Receitas de cinema tb estão boas e recomendam-se. E os concertos ao vivo também.

    É preciso ver o que rende no mercado actual e apostar nisso. E é preciso também ajustar os orçamentos de produção às receitas que é possível extrair do mercado. Dizer "queremos fazer filmes de 1 bilião de dólares, logo precisamos de leis XPTO para rentabilizar a coisa" é meter o carro à frente dos bois.

    Quando a igreja católica tinha o monopólio da religião na europa também se faziam muitas mais catedrais grandiosas. Achas que devemos voltar a esses tempos só para termos arquitectura de grande orçamento? Não me parece...

    A indústria da musica andou durante décadas a lucrar com o "free" e ainda nem se apercebeu disso. Sempre usou o "free" (música na rádio, gratuita para o ouvinte) para vender algo valorizado por esse free (discos de plástico com as músicas q passavam na rádio e mais algumas). Agora têm novamente de apostar nas coisas pelas quais o mercado está disposto a pagar e que são valorizadas pela circulação da música gratuita (concertos, acesso aos músicos, músicas por encomenda/patrocínio, etc, etc.). Actualmente mesmo quem compra música digital, compra sobretudo músicas soltas, logo o modelo antigo de tocar 1 na rádio e vender discos com 10-15 está em crise. Com ou sem partilha de ficheiros, os velhos lucros já não voltam. Esse dinheiro está agora noutros lados.

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  38. O kickstarter teria um impacto brutal se o copyright fosse às urtigas.

    Em vez dos poucos milhões que conseguem reunir, reuniriam centenas de milhões. Isto parece-me óbvio. É a existência de um mercado protegido pelo copyright que faz com que as pessoas prefiram esse mecanismo.

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