quinta-feira, julho 08, 2010

Woody Guthrie.

Woody Guthrie foi um músico e activista político famoso nos Estados Unidos. Nasceu em 1912, morreu em 1967 e viveu um período atribulado do século XX. Costumava tocar com um letreiro na guitarra a avisar que «esta máquina mata fascistas». Hoje é recordado principalmente por partes da música «This Land Is Your Land», de onde se omite alguns versos menos politicamente correctos como (1)

«As I was walkin’ I saw a sign there
And that sign said “No tresspassin’”
But on the other side, it didn’t say nothin’
Now that side was made for you and me

In the squares of the city / In the shadow of the steeple
Near the relief office, I see my people
And some are grumblin’ and some are wonderin’
If this land’s still made for you and me»


E este é o aviso de copyright que Woodie Guthrie costumava usar nas suas gravações:

«This song is Copyrighted in U.S., under Seal of Copyright #154085, for a period of 28 years, and anybody caught singin’ it without our permission, will be mighty good friends of ourn, ’cause we don’t give a dern. Publish it. Write it. Sing it. Swing to it. Yodel it. We wrote it, that’s all we wanted to do.»

Mas 64 anos depois, quando os irmãos Evan e Gregg Spiridellis usaram esta música numa paródia política às candidaturas de George W. Bush e John Kerry, a editora detentora do copyright ameaçou processá-los por deturpar a alegada «mensagem unificadora» desta música de Woody Guthrie (3). Se ele estivesse vivo tinha dado com a sua máquina de matar fascistas na cabeça dos advogados que se lembraram disso.

Dar direitos exclusivos a empresas que lucram restringindo o acesso a produtos comerciais não é a melhor maneira de promover a cultura nem respeitar os artistas. É uma receita para abusos, para a deturpação da arte e para nos privar da cultura com a desculpa de a “proteger”. Uma treta, pois a cultura protege-se divulgando-a, incorporando-a em obras novas e usando-a para nos exprimirmos.

1- Disinformation, Forgotten Verses From “This Land is Your Land”
2- EFF, This Land Isn't Your Land
3- CNN, 26-7-2004, A Jibjab showdown,

18 comentários:

  1. "assim não debatemos, carlos" :D

    Só para dizer que isso é o 80... 3 ou 5 anos acho que faria sentido proteger uma obra e apenas quando o detentor dos direitos, idealmente o criador mas pronto, o quisesse.

    Mas enfim, o debate é velho e nós já chegámos à discordancia fundamental. Ainda assim tem tido evolução positiva. Eu deixei de ligar tanto ao copyright e tu já demonstras uma alguma preocupação tangível com o impacto da total ausência de copyright na criação de arte. E isso é positivo.

    Para subscrever ainda mais os teus textos gostaria, se for essa a tua opinião claro, de ler nos teus textos algum encorajamento à compensação dos criadores isto no actual modelo. Porque como tu já disseste, no teu mundo ideal, se ninguém compensar um criador (com o crowd funding ou fan funding ou lá como se chama) ele pararia de produzir música e todos perdiam.

    Desta maneira se nos dias de hoje todos os que usufruem da música compensassem os criadores de alguma forma, quer comprando directamente o cd aos músicos (nas bandas mais underground isso é perfeitamente possivel) ou adquirindo algum merchandising isso seria um sinal para os musicos pararem de se preocupar tanto em vender discos mas sim a escrever música, não sei se me faço entender.

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  2. Wyrm,

    O problema começa logo com o termo "proteger". O que é que queres dizer com "proteger" a obra durante 3 a 5 anos? A obra está ameaçada? Precisamos de uma lei que impeça a sua destruição?

    Um problema nesta conversa é o uso disparatado de termos como "direito", "proteger", "roubo" e afins com sentidos que nada têm que ver com o seu significado normal.

    Se tu defendes um monopólio de 3 a 5 anos sobre a exploração comercial da obra, eu sou capaz de concordar na condição de assumirmos que isso é um subsídio e não um direito (não há direitos fundamentais a ter monopólios comerciais) e se ficar claro que esse subsídio é benéfico para todos. Mas isso não é um direito de cópia e não deve ser confundido com o copyright que temos agora.

    Se defendes a protecção da obra então o melhor a fazer é distribuir pelas bibliotecas e meter no BitTorrent. Dessa forma fica mais protegida que se a deixamos exclusivamente à mercê dos interesses comerciais.

    «Para subscrever ainda mais os teus textos gostaria, se for essa a tua opinião claro, de ler nos teus textos algum encorajamento à compensação dos criadores isto no actual modelo.»

    Essa é outra coisa que me aborrece um pouco. Eu sou um criador. Eu escrevo, ensino, investigo, invento algoritmos, implemento software. Eu sou 100% a favor da compensação dos criadores e de qualquer trabalhador. Mas como já expliquei, o modelo actual não é uma forma legítima de o fazer.

    O criador, ou seja quem for, pode fazer algo porque quer e o acto em si ser a sua própria compensação. Muito do que eu faço é assim. Até ensinar. É claro que preciso do ordenado para viver, mas se ganhasse a lotaria não deixava o meu trabalho. Gosto do que faço.

    O criador, ou qualquer trabalhador, tem também o direito de ser recompensado de acordo com os compromissos assumidos por quem lhe prometeu compensação em troco do seu trabalho.

    Ou então pode a sociedade decidir premiar algumas actividades para as incentivar. Bolsas de estudo, subsídios, etc. Esse dinheiro será recolhido de todos de acordo com o esforço que esse pagamento exige de cada um. Ou seja, dos impostos.

    O modelo corrente é uma treta. Vamos proibir uma data de coisas a toda a gente só para dar um monopólio absurdo a uns para esses encherem os bolsos e darem 5% ao criador? Isso não faz sentido nenhum...

    «Desta maneira se nos dias de hoje todos os que usufruem da música compensassem os criadores de alguma forma»

    E aqui está a terceira coisa que me aborrece. Acho que conseguiste pôr tudo num só comentário :)

    Não há nada de sagrado ou especial com a música, ou outra dessas "culturas" industrializadas. É uma actividade criativa como qualquer outra, do desporto à matemática, da filosofia à política, da ciência a uma sessão de D&D. E tal como em todas as outras actividades criativas humanas, o usufruto dos bens, conceitos, ideias ou princípios criados não implica, por si só, qualquer responsabilidade de remuneração. Não pagas por dizer "bit", por ler páginas em HTML, pela tabuada do 6 ou pelo uso do pretérito perfeito.

    O que precisamos é que as pessoas estejam dispostas a pagar aos artistas para que os artistas produzam a sua arte. E isso estão. Sempre estiveram, e hoje temos o sistema de comunicação necessário para que todos o possam fazer.

    São essas ideias que me parecem um disparate. Que é preciso restringir a cópia para proteger a cultura. Que só músicos, realizadores e escritores comerciais é que são criadores. Que o trabalho de criar essas coisas deve ser remunerado de forma diferente do trabalho de criar coisas como aulas, teoremas, leis, tratados ou passes de bola. E que usufruir de cultura implica ter de pagar -- bela civilização teríamos se isso fosse verdade...

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  3. Ludwig,

    "O que é que queres dizer com "proteger" a obra durante 3 a 5 anos? "

    Queria obviamente dizer que deverá ser protegida a exploração da obra seja pessoal ou comercial. Claro que legislar a respeito disto abre uma can of worms que já debatemos e é a principal razão pela qual eu não defendo legislação sobre o copyright mas sim uma moralização.


    "Eu sou um criador. Eu escrevo, ensino, investigo, invento algoritmos, implemento software. Eu sou 100% a favor da compensação dos criadores e de qualquer trabalhador."

    Tu és um criador e, dependendo do teu contracto de trabalho, seria perfeitamente legítimo editares as tuas aulas, software e afins e pretenderes ser compensado pelo usufruto. É uma escolha pessoal e não deves impor a tua escolha pessoal aos outros. Para mim, a unica diferença entre um músico e um cientista é a forma de comercializarem o fruto do seu trabalho. Nada impede que um cientista tente comercializar o fruto do seu trabalho como se se tratasse de um disco ou vice-versa, mas não daria muito resultado desconfio.


    "O modelo corrente é uma treta."

    Concordo. O modelo que propões seria igualmente uma treta porque apenas tens em vista um resultado. Só quem não faz a minima ideia das dificuldades de um músico em editar e fazer conhecer a sua obra pode escrever o que escreves e fazer disso chapa 5 para todas as situações. Os musicos não são palermas. Muitos sabem que estão a ser roubados quando assinam com uma major mas sabem igualmente que estão a ter acesso a um orçamento promocional que de outra maneira seria impossivel. Um cientista numa universidade não precisa de se preocupar com isso.

    "Não há nada de sagrado ou especial com a música, ou outra dessas "culturas" industrializadas. É uma actividade criativa como qualquer outra, do desporto à matemática, da filosofia à política, da ciência a uma sessão de D&D."

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  4. "Não pagas por dizer "bit", por ler páginas em HTML, pela tabuada do 6 ou pelo uso do pretérito perfeito."

    Ninguém diz que é sagrado ou deixa de ser. São formas de comercialização diferentes. A forma de comercializar laranjas é diferente da forma de comercializar lichias por diferentes razões mas ambas são actividades criativas, perdão, frutos. Se queres editar cd's com as tuas aulas, tens direito a ser compensado pelo usufruto dessas aulas. Se optas por distribui-los gratuitamente trata-se de uma opção pessoal. Se anunciares aqui que se te pagarmos passas a dar aulas sobre diferentes temas ou escrever sobre isto ou aquilo é na mesma outra opção. Longe de mim de te querer impor o que eu penso estar correcto. Se te pagar por uma aula de html eu não te estou a pagar pelo html, estou a pagar por uma aula dada pelo Ludwig. Se te pagar por um texto a respeito da teoria da evolução, eu estou a pagar pelo texto do Ludwig a respeito da teoria da evolução.

    Eu acho que é justo um musico ganhar pouco dinheiro se tem 3 fans ou ter muito dinheiro se tiver 3000000. E isso não me faz confusão nenhuma. Eu no meu trabalho também sou pago para escrever código e procedimentos de manutenção e tenho colegas que ainda hoje usam scripts que escrevi há 10 anos e nunca vi um tostão por isso alem do ordenado que me pagaram. E estou contente. Mas se um dia quisesse editar um livro gostaria que o comprassem ao invés de me dizer que "és muita bom e o teu livro ajudou-me! comprar? mas está na net, pah. eu não te pedi nada!".

    "E que usufruir de cultura implica ter de pagar -- bela civilização teríamos se isso fosse verdade... "

    Mas tu não és obrigado a nada. Nada te impede de apoiares artistas que editam musica através de crowd funding ou ires ler textos e livros que são disponibilizados na net. Aliás isso seria coerente com a tua posição e se todos os que pensam como tu agissem assim verias que as editoras cedo, cedo mudariam o modelo de negócio. O problema é que a grande generalidade dos opositores ao copyright apenas se opõem a este ultimo mas não aos investimentos em produções de qualidade. Mesmo nos livros, ninguém lê um livro cujo ficheiro consiste num txt mal formatado. Quer é o PDF da digitalização da edição em papel ou electrónica que teve o trabalho de designers, copy's, revisores etc...

    É esta hipocrisia que contesto: quem se queixa muito do copyright por inveja ou simplesmente porque pretende continuar a ter almoços grátis. Quem é honesto na sua opinião nem sequer se dá ao trabalho de cobiçar os tais produtos protegidos por copyright mas simplesmente consome cultura produzida por quem optou por outros modelos. E esse modo de agir seria mais frutífero do que o que temos agora em que muitos reclamam contra o copyright mas usufruem à borla de produtos editados por entidades que se batem pela manutenção da presente situação.

    A única coisa que passa é que de facto a esmagadora maioria quer almoços grátis e que a justiça, a cultura e outras desculpas são isso mesmo: desculpas.

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  6. Wyrm,

    «Claro que legislar a respeito disto abre uma can of worms que já debatemos e é a principal razão pela qual eu não defendo legislação sobre o copyright mas sim uma moralização.»

    O que baralha porque o copyright só tem sentido legal. Não há qualquer direito moral à cópia. A própria noção de cultura assenta no princípio de ser legítimo copiar os outros.

    «Tu és um criador e, dependendo do teu contracto de trabalho, seria perfeitamente legítimo editares as tuas aulas, software e afins e pretenderes ser compensado pelo usufruto.»

    Concordo, desde que não haja nenhuma lei que obrigue os outros a conceder-me monopólios.

    «Só quem não faz a minima ideia das dificuldades de um músico em editar e fazer conhecer a sua obra pode escrever o que escreves»

    Eu sei que é difícil. Mas também é difícil ser neurocirurgião, astronauta, general ou presidente da república. Até eu, para ser professor auxiliar, tive de fazer licenciatura, mestrado, doutoramento e alguns anos como post-doc.

    Independentemente de ser fácil ou difícil, o ponto principal é que uma vez que se o músico decide compor e publicar a sua música não tem legitimidade para depois dizer que lhe devemos alguma coisa só porque gostamos.

    Se gostar da música que saquei me obriga moralmente a dar algum dinheiro ao músico, mesmo sem lhe ter prometido nada, então se não gostar tenho o direito moral de lhe cobrar pelo tempo que perdi a descarregar e ouvir a música dele? Isto não faz sentido, pois tanto eu como ele fizemos o que fizemos voluntariamente sem pedir nada ao outro.

    «Mas se um dia quisesse editar um livro gostaria que o comprassem ao invés de me dizer que "és muita bom e o teu livro ajudou-me! comprar? mas está na net, pah. eu não te pedi nada!".»

    Então tens duas hipóteses, como em qualquer outro trabalho. Ou fazes primeiro o trabalho sem ninguém te pedir nada e sujeitas-te a darem-te dinheiro só se quiserem, ou dás primeiro o orçamento e fazes o trabalho só se houver um compromisso para te pagar.

    E se achas que isso é difícil, então faz outra coisa que te pareça mais fácil... :)

    «Quem é honesto na sua opinião nem sequer se dá ao trabalho de cobiçar os tais produtos protegidos por copyright mas simplesmente consome cultura produzida por quem optou por outros modelos.»

    Isso é como dizer que quem é contra a escravatura basta ficar calado e não ter escravos, e deixar ter escravos quem quiser.

    A minha oposição ao copyright é uma oposição a uma lei injusta e prejudicial à sociedade. É claro que quando vou comprar um jogo compro um sem DRM, se pago por um livro prefiro dar dinheiro ao autor e assim. Mas isso é algo independente da minha oposição a uma lei que está a prejudicar a cultura, a criatividade e todos nós.

    A lei, e essa visão errada da cultura como um bem de consumo, do "usufruto", em vez de algo partilhado e participativo como devia ser.

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  7. "Eu sei que é difícil. Mas também é difícil ser neurocirurgião, astronauta, general ou presidente da república. Até eu, para ser professor auxiliar, tive de fazer licenciatura, mestrado, doutoramento e alguns anos como post-doc."

    Isso só pode ser comparável à dificuldade em formar um músico. O Jimi Hendrix não sabia ler uma pauta do tamanho de uma casa, mas tocava guitarra como poucos o consequiram. Se quiseres contratar um musico para tocar em tua casa podes fazê-lo e podes por no contrato que tudo o que ele compõe enquanto ao teu serviço é teu. Essa é a unica situação em que podes comparar a actividade musical aos exemplos que descreves. De resto eu também defenderia o direito ao neuro-cirurgião a escrever um livro e ser compensado por quem gostasse dele ou não. Ou o astronauta publicar as suas memórias e quem quer ler que compre o livro. Ou que tu pedisses donativos ou fechasses o blog mediante o pagamento de uma mensalidade. Apoiava pois era a tua legitima decisão pelo fruto do teu trabalho.

    "Ou fazes primeiro o trabalho sem ninguém te pedir nada e sujeitas-te a darem-te dinheiro só se quiserem"

    Mas eu também não pedi para me lerem. Não obriguei ninguém a ler e a pagar-me por isso. Escrevi um livro, disponibilizei o livro para venda nos formatos que quero e pronto. Toda a gente é livre de não ler o meu livro e como tal não é obrigado a pagar por isso. A situação que falas é mais típica dos restaurantes que põem as entradas sem tu pedires nada e depois apresentam-te a conta. :)

    "Isso é como dizer que quem é contra a escravatura basta ficar calado e não ter escravos, e deixar ter escravos quem quiser."

    Et tu, Ludovicus? Goodwin's Law? :D Há muitas leis, estás a dizer-me que sistematicamente violas as leis que não concordas? Escravatura em tempos foi lei e ainda bem que muitos não só a desrespeitaram como entraram em guerra civil por isso. Esperemos no entanto que ninguém seja contra leis de burla, de transito, etc. É que até o "nocivo para a sociedade" é questão de opinião. Muitos acham que é nocivo haver leis que restrinjam o uso e o porte de arma.

    "A lei, e essa visão errada da cultura como um bem de consumo, do "usufruto", em vez de algo partilhado e participativo como devia ser. "

    Ora aí está. É errada para ti. Trata-se de uma opinião pessoal. A cultura é, também, um bem de consumo. A ciência é um bem de consumo e há cientistas beneméritos e há outros tantos que fazem as editoras parecerem associações filantrópicas. O meu ponto não é elevar ou diminuir a cultura nem achar que a shakira é mais ou menos importante que um professor ou médico. Tanto que eu não oiço shakira mas ainda hoje recorro a professores e médicos.

    O meu ponto é sim que um bem que alguém produziu não deixa de lhe pertencer apenas porque há tecnologia para o copiar sem grande maçada.

    A questão fundamental é que eu considero que bens digitais são bens em todo o caso e quem os produz tem direito a ser compensado pelo seu usufruto. Rejeito a tua noção de que assim que publica perde todos os direitos sobre o que criou e todos os exemplos que citas caem sempre em:

    1) passaram milhares de anos sobre as inovações logo fora de qualquer periodo razoável de copyright
    2) os autores nunca pretenderam copyright pela sua obra/criação
    3) fazia parte do contracto de trabalho a inexistência de direitos sobre a criação.

    De resto não percebo como é que a sociedade vai sair prejudicada se existir um periodo de graça em que o autor tenha direito a ser compensado pelo usufruto... O universo vai implodir se um geek não gastar energia a colocar o torrent de um filme ou disco que ainda não sairam?

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  8. Wyrm,

    « Se quiseres contratar um musico para tocar em tua casa podes fazê-lo e podes por no contrato que tudo o que ele compõe enquanto ao teu serviço é teu.»

    Vamos focar este ponto então, que penso estar fundamentalmente errado.

    Algo ser meu aplica-se a objectos materiais. Posso pôr num contrato com o carpinteiro que a cadeira que ele vai fazer é minha, porque a cadeira é aquela cadeira. Tanto faz que tu tenhas uma cadeira igual, diferente, maior ou menor, ou que tenhas mil cadeiras iguais àquela.

    Mas a música não é um bem material. O que quer dizer ser minha? Se for como a cadeira, então aquele suporte material -- CD, cassete, pauta -- é meu mas tu podes ter mil iguais que tanto faz. Se for isso que defendes, tudo bem.

    Mas o que defendes é algo diferente. É que eu ser dono da música é ter o direito de proibir outros de ter algo igual a essa música. E isso é totalmente diferente. Ser dono de uma camisola não é o mesmo que proibir os outros de vestir camisolas.

    Por isso é que não faz sentido que se eu contrato um cozinheiro eu fique dono da receita que ele invente. Ou se contrato um matemático fique dono das expressões que ele escreve, das ideias de um filósofo, das hipóteses de um cientista ou das jogadas de um mestre de xadrez.

    E esse é um problema fundamental aqui: alguém ser dono de uma música é um disparate e tentar pôr isso na lei uma asneira. Autor, sim. Isso é claro, foi o tipo que a compôs. Tal como há o autor de uma anedota ou de um teorema. Mas dono, não.

    Por isso este é um princípio que eu proponho, a ver se concordamos nos fundamentos: ninguém pode ser dono de algo imaterial como ideias, histórias, números ou músicas.

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  9. Então o tipo vendeu os direitos de autor e depois diz que eles não existem? Ou não estou a perceber?

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  10. João,

    Não. O tipo tinha os direitos sobre a sua música. Mas quando morreu os "direitos de autor" ficaram só da empresa discográfica. É uma forma de incentivar a criatividade e recompensar o autor... so they say...

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  11. "Por isso este é um princípio que eu proponho, a ver se concordamos nos fundamentos: ninguém pode ser dono de algo imaterial como ideias, histórias, números ou músicas."

    E é aqui a nossa discordância fundamental. Eu acho que um bem imaterial tem propriedade. Ou melhor, quem cria algo seja isso físico ou não deve ter direito a alguma compensação mediante o usufruto.

    Concordo que legislar sobre isso é perigoso porque o enforcing de leis de copyright na net poria em causa uma série de liberdades individuais e seria pior a emenda que o soneto.

    Isto no fundo devia ser peanuts pois, por exemplo, não concebo alguém gostar de uma banda e nem sequer se sentir na obrigação de comprar um pin porque até nem lhes pediu nada...

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  12. Wyrm,

    «E é aqui a nossa discordância fundamental. Eu acho que um bem imaterial tem propriedade. Ou melhor, quem cria algo seja isso físico ou não deve ter direito a alguma compensação mediante o usufruto.»

    Nota que isso são duas coisas muito diferentes. Eu ser dono das minhas calças não é o mesmo que eu ter direito a compensação mediante o usufruto das minhas calças. Essa ideia da compensação por usufruto não é o mesmo que a noção de propriedade. Talvez seja melhor esclareceres isso primeiro...

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  13. TRO-© Copyright 1956 (Renewed) 1970 (Renewed) 1972 (Renewed) Ludlow Music, Incand
    a matança de fascistas ou de ateístas deve ser desencorajada
    é contraproducente
    as máquinas de fazer dinheiro (um conceito divino)
    subsistem pois são evolutivamente construidas para isso
    assim como os Copyright's


    This Land Is Your Land
    As I was walking that ribbon of highway
    I saw above me that endless skyway
    I saw below me that golden valley
    This land was made for you and me

    This land is your land, this land is my land
    From California to the New York Island
    From the redwood forest to the gulf stream waters
    This land was made for you and me

    I've roamed and rambled, and I've followed my footsteps
    To the sparkling sands of her diamond deserts
    And all around me a voice was sounding
    This land was made for you and me

    This land is your land, this land is my land
    From California to the New York Island
    From the redwood forest to the gulf stream waters
    This land was made for you and me

    The sun comes shining as I was strolling
    The wheat fields waving and the dust clouds rolling
    The fog was lifting a voice come chanting
    This land was made for you and me

    This land is your land, this land is my land
    From California to the New York Isl
    From the redwood forest to the gulf stream waters
    This land was made for you and me

    As I was walkin', I saw a sign there
    And that sign said, "No Tresspassin'"
    But on the other side it didn't say nothin'
    Now that side was made for you and me!

    This land is your land, this land is my land
    From California to the New York Island


    From the redwood forest to the gulf stream waters
    This land was made for you and me

    In the squares of the city, in the shadow of the steeple
    Near the relief office I see my people And some are grumblin', and some are wonderin'
    If this land's still made for you and me

    This land is your land, this land is my land From California to the New York Island
    From the redwood forest to the gulf stream waters
    This land was made for you and me

    Nobody living can ever stop me
    As I go walking that freedom highway


    Nobody living can make me turn back
    This land was made for you and me

    This land is your land, this land is my land From California to the New York Island
    From the redwood forest to the gulf stream waters
    This land was made for you and me

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  14. A (excelente) animação dos irmãos Spiridellis que deu origem a este caso, está aqui:
    http://jibjab.com/originals/this_land

    Recomendo ver as outras animações deles. Como estas:
    http://sendables.jibjab.com/originals/what_we_call_the_news
    http://sendables.jibjab.com/originals/never_a_year_like_09
    http://sendables.jibjab.com/originals/time_for_some_campaignin

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  15. No fundo vai dar ao mesmo.
    Se algo é me pertence eu tenho o direito de fazer o que me der na telha com isso.
    Se eu quero disponibilizar algo a troco de dinheiro então seja.
    Se quero dar livremente então seja.
    Eu concordo contigo no ponto em que se eu por ter algo ninguém deixa de ter esse algo então não faz sentido que as leis sobre esse tipo de bens sejam iguais a leis de propriedade sobre bens físicos.
    Mas também não significa que não devam existir nenhumas.

    Afinal se aquela música foi composta ou aquele texto foi escrito é porque aquele individuo, ou grupo de individuos, se prestou a isso. E se ele tivesse ficado quieto ou tivesse trabalhado apenas para um mecenas teria sido bem pior (se não a divulgasse, claro).

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  16. Ludwig:

    Deixa-me ca dar uma para a tua causa (mais ou menos):

    Aqui ha uns anos comprei o "5 minutes Vet consult c.f." e instalei no PDA para windows pocket pc. O PDA ao fim de uns meses teve um destino semelhante ao do criacionismo mas fiquei sempre com aquela de voltar a dar uso aos quase 80 euros que custou o programa.

    Perdi o telemovel que usava e ao procurar outro encontrei uma promoção para um telemovel portugues (ndrive) com windows e pensei que era porreiro. DAva para fazer tudo o que queria e ainda podia voltar a por la o 5 minutes.

    Mas não da. Como o windows mobile evoluiu, apesar de eu ter uma licença valida para usar o programa num aparelho novo, não o posso fazer porque não corre neste windows mobile novo.

    Do suporte da Skyscape (editora e de onde confirmaram os meus dados todos) disseram-me que teria de comprar a nova versão que ja é compativel. Ou então provavelmente (digo eu) instalar uma versão antiga do S.O. no telemovel.

    Eu não quero a versão actual. O 5 minutes não é para me manter actualizado, é como o nome diz, para dar uma vista de olhos rapida e fazer uma especie de "check list". Para me manter actualizado vou a congressos e pesquiso.

    Um tipo quer ser honesto e fazer as coisas como acha que devem ser e depois fazem-nos destas. :C

    Ate nem me importava muito de pagar uma difereça pequena para a versão actual mas não é uma opção.

    Pronto, ja desabafei.

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  17. Porque eu acho que podes:

    " É uma forma de incentivar a criatividade e recompensar o autor... so they say..."

    Sem fazer amor (vulgo f.) à carteira do comprador.

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  18. PS: entretanto achei um five minutes na net. Sem precisar de instalar. Basta ir la e pimba. É mais velho que o que eu tinha direito, mas paciencia. Vou passar a usar. E não sei se volto a fazer negocio com a netscape.

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