domingo, julho 25, 2010

Treta da semana: vinte porcento.

Tenho lido algumas críticas à sugestão do Carlos Azevedo, o bispo auxiliar de Lisboa, para que os políticos cristãos contribuam 20% do seu ordenado para um fundo social. Há quem o acuse de demagogia, populismo ou até de hipocrisia. Não digam isso, coitado do homem. A ideia dele é boa. Contribuir uma parte do ordenado para um fundo comum de onde se financia aquilo de que todos precisam é uma excelente prática.

É verdade que não é novidade nenhuma para a maioria de nós, e quem ganhar mais que 600€ por mês já paga 23,5% só de IRS, sem contar com o resto. Os 20% do Carlos Azevedo são uma estimativa modesta. Mas penso que não se deve criticar tanto o bispo auxiliar porque ele é um dos poucos adultos portugueses que é inocente em matéria de impostos. Falta-lhe a nossa prática nisto. Há duas coisas que quase todos reconhecemos como inevitáveis; o fisco e a morte. De uma dessas os padres só dão promessas vagas de salvação, mas da outra estão bem protegidos.

Carlos Azevedo pede este dinheiro aos políticos católicos «para um fundo que vai ser criado junto da Caritas para atender às situações mais criticas e que serão veiculadas através das paróquias»(1). Ou seja, para os católicos darem dinheiro à Igreja Católica para ajudar outros católicos. Mais uma vez, é uma boa ideia. Mas, talvez pela falta de prática com isto dos impostos e por ter passado uma vida a julgar que justiça social é dar esmola aos pobrezinhos, falta ao bispo auxiliar uma visão mais abrangente do problema.

A crise não é por os políticos católicos não darem dinheiro à igreja do bispo (auxiliar). A crise é, em boa parte, por não conseguirmos pagar a educação, infraestrutura, saúde, segurança, administração e outros serviços dos quais o país precisa. Não cada um de nós, individualmente, mas todos em conjunto. E com isso vamos afundando o país em dívidas. A sopa dos pobres, no meio disto, é uma fatia mais pequena do que as tolerâncias de ponto há uns meses atrás.

Por isso aqui vai a minha contra-proposta para o bispo auxiliar. A ver o que ele acha. Em vez desse tal «testemunho de modo voluntário» que pede aos políticos católicos, de mais uma esmola para a Igreja distribuir pelos pobres que julgue merecer, proponho que todos façamos a nossa parte. Todos. E não é só 20%. Eu, contando com IRS, CGA e o resto, já vou nos 35%. Não peço mais ao senhor bispo auxiliar nem à sua Igreja, mesmo que não tenham filhos para criar. 35% dos vossos ordenados e do negócio da fé já era uma ajuda para o país.

E mesmo os padres que já dêem parte do seu salário à Igreja Católica deviam pensar neste problema de forma mais abrangente. Não é para os fundos desta ou daquela organização que devemos contribuir, que os fundos sociais não devem ser de uma religião, clube ou empresa. Devemos contribuir, por justiça e não por pena ou caridade, para o fundo que é de todos.

Já agora, um conselho. A Igreja Católica tem tido algumas dificuldades em preservar a sua imagem, metendo o pé na boca em quase todas as oportunidades. Para contrariar essa tendência sugiro que, em tempo de crise, foquem mais em tentar contribuir e menos em pedir dinheiro.

1- RTP, Igreja pede parte dos vencimentos aos políticos católicos, via este post do Carlos Esperança no DA.

12 comentários:

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  2. Desde que vi as declarações desse senhor que eu espero por um post teu. : )

    O que o bispo veio propor é uma argolada. Mas a intenção parece-me boa. Mas aqui vai o meu comentário.

    Acho que a proposta só pode vir de alguém que não percebe lá muito bem como funciona e para que serve o sistema fiscal. Das duas umas: ou descobriu a pólvora e apercebeu-se que dos nossos rendimentos uma parte deverá ser transferida para um fundo que será de todos (vulgo "impostos"); ou percebendo como funciona o sistema fiscal, quer ter uma palavra a dizer na gestão desse fundo.

    Como não acredito que o bispo não saiba minimamente como funciona o sistema fiscal, suponho que seja a segunda. Mas aí tem apenas uma opção: candidate-se como cidadão (e não como bispo, dada a laicidade do Estado) ao Governo e faça a gestão que lhe pareça adequada. A sensação que me deu, foi que o bispo acha que consegue fazer uma melhor gestão do dinheiro público. Não o censuro, pois eu também acho que conseguia tomar opções mais sensatas na gestão do dinheiro público...

    A argolada foi mesmo pedir aos cidadãos que, para além dos impostos, paguem um imposto adicional de 20% para um fundo que será gerido, directa ou indirectamente pela ICAR. O homem tem todo o direito de pedir o que quiser. Mas se a moda pega, serão as Universidades a pedir 20% adicionais para investigação que tanta falta faz, as Câmaras Municipais a pedir 20% adicionais para melhorar as condições de vida dos munícipes, etc, etc, etc.

    Eu não duvido da boa intenção desse bispo nem tão pouco estou a tentar insinuar que as suas preocupações não são genuínas. Eu partilho também dessas mesmas preocupações genuínas do bispo. Para mim, as prioridades seriam, sem sombra de dúvidas, olhar para os piores indicadores do País, e investir exactamente aí. E há dois que me ocorrem de rajada:

    (1) os 10% mais ricos em Portugal ganham 14 vezes mais que os 10% mais pobres. Somos os piores da Europa. O segundo pior neste indicador é a Espanha salvo erro com (apenas) 7 vezes mais.

    (2) Portugal é o País com menor percentagem de indivíduos com grau de educação elevado no mercado de trabalho.

    Atacar estes dois problemas, era atacar a pobreza do País.

    Eu também tenho ideias para o País. Mas para as implementar, usaria o dinheiro que já é recolhido através dos impostos. E se os problemas fossem atacados com seriedade, então não haveria margem de manobra para um bispo (ou seja lá quem for) propor um imposto adicional de 20%.

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  3. De acordo com a Bíblia, Deus criou o mundo com tudo o que o ser humano necessitava para viver bem e sem escassez.

    Mas o pecado afectou a relação do ser humano com o seu semelhante, abrindo as portas à opressão e à injustiça, à corrupção, à tributação e à morte.

    É interessante notar que o Velho Testamento já consagrava normas sobre contribuições para os necessitados.

    Todos deviam contribuir 10% do seu salário para sustentar o clero, para cuidar dos necessitados (v.g. órfãos, viúvas, estrangeiros) e para o financiamento de festividades públicas.

    De 50 em 50 anos, no ano do jubileu, havia lugar à redistribuição das terras.

    O objectivo era evitar que existissem pessoas a passar necessidades e garantir a redistribuição periódica dos rendimentos, impedindo o agravamento insustentável das desigualdades sociais.

    O Velho testamento é bem claro quando diz que quem oprime o pobre insulta o seu Criador.

    Do mesmo modo, as igrejas cristãs foram encorajadas por Jesus e pelos seus discípulos a partilharem com os necessitados, para que não existissem pobres nas comunidades cristãs.

    Jesus Crista sempre disse que o modo com tratamos os necessitados exemplifica o modo como amamos a Deus.

    A mensagem da Bíblia não é sobre a sobrevivência dos mais aptos, mas sim sobre o cuidado devido aos mais fracos.

    As igrejas são inconsistentes com a mensagem de Jesus Cristo sempre que acumulam para si riquezas e poder e se esquecem da promoção do bem-estar espiritual e físico dos indivíduos e das populações.

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  4. Acho este post "peca" por alguma desonestidade intelectual:

    -O repto dos 20% foi feito aos políticos, que estão claramente na categoria de quem mais ganha neste país. Não a quem ganha 600 euros por mês.
    -como é óbvio em Portugal já se paga e bem de impostos que deveriam ser canalizados, entre outras coisas, para acorrer a quem mais precisa e se encontra em situação desfavorecida. Mas também sabemos que não tem sido por aí e continuamos a ter 2 milhões de portugueses a viver abaixo do limiar da pobreza. Vamos esperar por um Governo competente que faça reformas eficazes para os tirar da pobreza, ou vamos ajudar essas pessoas a pelo menos não passarem fome?
    -Há muita falta de informação e cultura sobre a obra Social da Igreja: a Caritas e a Igreja não dão só aos pobres que são católicos. Dão e ajudam quem precisa. Há muita gente não Católica que recorre às paróquias e não é por isso que deixa de ser ajudada. Sugiro informarem-se como deve de ser sobre a acção social da Igreja antes de se porem a ditar sentenças destas.
    -Caro autor, se a obra social da Igreja parasse neste país, o próprio país parava. Literalmente. Por isso sugiro que seja mais informado nos seus comentários e menos jacobino

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  5. Mpa,

    - Quem ganha como os políticos já paga uns 40% do seu ordenado para o Estado.
    - A sopa dos pobres não combate a pobreza. Apenas alivia os sintomas por um dia, e à custa da dignidade do pobre que recebe esmola em vez de uma parte justa daquilo que devia ser de todos.
    - Não é razoável que o dinheiro para o apoio social seja entregue a uma organização privada. A sociedade somos todos.
    - O fundo proposto pelo bispo foi para ser gerido pelas paróquias, porque as paróquias têm contacto com os pobres. Mas, obviamente, tem um contacto preferencial com os pobres da sua religião, pois são esses que se dirigem às igrejas católicas a mendigar o dinheiro que a Igreja devia ter dado ao Estado.
    - O problema fundamental é que o orçamento não chega para pagar os serviços de que a nossa sociedade precisa. Pode ser por ineficiência, preguiça, corrupção, especulação ou o que for, mas o facto é que, entre outras coisas, precisamos de aumentar o rendimento do Estado. E é mais justo fazê-lo pondo a pagar impostos quem deles se está a safar do que aumentando a carga fiscal aos que já os pagam.

    Mais uma vez se vê a grande diferença entre a justiça e a noção católica de caridade...

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  6. Caro Mpa,

    Sabe por acaso dizer-me qual é a percentagem de todos os proventos da igreja destinada à acção social? Acaso me responda, agradeço fundamentação em documentos válidos. Obrigado.

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  7. perspectiva,

    "Jesus Crista sempre disse que o modo com tratamos os necessitados exemplifica o modo como amamos a Deus."

    Quem foi Jesus Crista? :)

    PS: Eu sei que é infantil pegar por um erro ortográfico. Mas neste caso até se justifica, pois estamos perante algo de completamente novo nestes seus comentários, coisa que já não acontecia há largos meses.

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  8. «Sabe por acaso dizer-me qual é a percentagem de todos os proventos da igreja destinada à acção social?»

    Essa não sei, mas a percentagem de financiamento estatal às obras de assistência social da ICAR que recebem dinheiro do Estado é de 59%.

    http://www.publico.pt/Sociedade/estado-financia-maior-parte-das-receitas-de-instituicoes-sociais-ligadas-a-igreja_1431743

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  9. E, segundo a notícia que ouvi, a Igreja Católica disponibilizou trinta mil euros para esse fundo da Cáritas. É menos de um terço do que gastaram só em Lisboa em cartazes de publicidade pela vinda do Papa...

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  10. Epa não falem em dinheiro que isso é um ninho de víboras...

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Dos MUROS MENTAIS
    ONDE KRIPPAHL VÊ MOINHHOS; Os da FALSA Fé VÊEM GIGANTES
    Vês MOINHOS São MOINHOS Vês GIGANTES São gigantes

    é HORA de erguer muros mais altos
    pois barbocas quando se fala em $ os judeus aparecem


    É que não há pachorra para tanta lamexice lameth ? é uma letra
    lamechice? solipsista disfarçada de racionalidade.


    Quand j'étais prisonnier
    On m'a volé ma femme
    On m'a volé mon âme
    Et tout mon cher passé



    Demain de bon matin
    Je fermerai ma porte
    Au nez des années mortes
    J'irai sur les chemins



    Je mendierai ma vie
    Sur les routes de France
    De Bretagne en Provence
    Et je dirai aux gens:



    «Refusez d'obéir
    Refusez de la faire
    N'allez pas à la guerre
    Refusez de partir»



    S'il faut donner son sang
    Allez donner le vôtre
    Vous êtes bon apôtre
    Monsieur le président



    Si vous me poursuivez
    Prévenez vos gendarmes
    Que je n'aurai pas d'armes
    Et qu'ils pourront tirer

    não posso dizer que gostei muito mas tudo tem um fim
    espero sinceramente que continuem porque se não se entreterem com algo
    ainda fazem manifestações ou escrevem cartas nos jornais

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