quinta-feira, junho 24, 2010

Haverá cá pior?

Nem de propósito. Parece que enquanto eu escrevia o post de ontem, a gozar com as tretas da ACAPOR e do MAPiNET, a ACAPOR decidiu juntar o fútil ao ridículo e fazer uma denúncia contra a PT por “crime de usurpação” (1). Isto porque a PT é dona da SAPO, a SAPO aloja blogs, alguns desses blogs têm ligações para ficheiros que alguns estrangeiros anónimos colocaram em servidores de empresas estrangeiras como a Rapidshare e a Hotfile, e esses ficheiros codificam filmes sobre os quais a ACAPOR não tem direitos nenhuns.

Este último aspecto é talvez o mais emblemático da “luta contra a pirataria”. A ACAPOR é uma associação de clubes de vídeo. Não fazem filmes, não são autores de coisa nenhuma e nem sequer são os detentores legais de direitos de cópia sobre os filmes. São lojas que alugam DVDs. E alugar DVDs, hoje em dia, é como mudar a palha de colchões ou trocar agulhas de grafonolas. Não interessa a ninguém.

Se vendessem presunção talvez fossem mais longe. A legenda da figura no Público diz que «a indústria dos videoclubes está em crise» (2). A indústria. Não é indústria nenhuma. São sítios onde guardam rodelas de plástico. Melhor ainda, «A denúncia requer que seja deduzida acusação contra algumas empresas nacionais que escolheram aqueles blogues para aí investirem em publicidade à sua marca.» Já agora, processem também todos os clientes dessas empresas que, por lhes dar dinheiro, ajudam a que estas paguem a publicidade nos blogs que têm ligações para ficheiros que cidadãos estrangeiros puseram em servidores operados por outras empresas em violação dos direitos de ainda outras empresas estrangeiras que nada têm que ver com a ACAPOR.

Já agora, aproveitem para fazer também denúncia do carniceiro que matou o boi que bebeu a água que apagou o lume que queimou o pau que bateu no cão que mordeu o gato que comeu o rato que roeu o sebo que unta o cordel...

Via Facebook (acho... se calhar foi FriendFeed, ou o Twitter de alguém... eu sabia que devia ter ficado só pelos blogs) e Jonasnuts

1- ACAPOR, ACAPOR apresenta queixa crime contra PT e empresas que financiam sites piratas
2- Público, Videoclubes processam PT por pirataria

Só para chatear:
Cinema em Casa
Arquivos da Net
Baixa Perfect
Movie Box

Para facilitar o sacanço de hosters como Rapidshare e afins, Jdownloader. Se preferirem o BitTorrent (mais arriscado porque, em teoria, é ilegal distribuir os ficheiros, se bem que na prática é mais provável morrerem atropelados do que serem apanhados), aqui ficam umas dicas do Pirate Bay.

A ver se agora a ACAPOR faz uma queixa crime contra a Google por causa deste post. Depois só falta o nariz vermelho e os sapatos compridos.

32 comentários:

  1. Vimos que a PT tem como objectivo estratégico adquirir empresas de conteúdos, e para mim é claro que esta será uma das grandes indústrias do século, a gestão de conteúdos em circuito fechado.

    Porque é uma indústria multi - dimensional, encorpora os modelos de televisores que temos de adquirir , as boxes para ter acesso aos canais, os canais pagos, em breve o PC ligado a conteúdos específicos, etc etc
    Estamos a falar de monstros com uma força crescente e onde encontro apenas limitações orçamentais para não termos já uma universidade interactiva, um acesso directo a locais antes de l´irmos para se ver o ambiente, visitas guiadas virtuais, etc etc

    O negócio está a crescer e cada vez mais vai ser este o grande meio de fazer dinheiro.

    Obviamente que o clube de vídeo não pode competir com este tipo de plataforma e está condenado pelo avanço tecnológico e não pela pirataria. Diria que se seguem as lojas de venda de jogos que não fazem sentido uma vez que até o conceito de aluguer de jogo online tem lógica, é mais rápido e para a distribuidora poupa nos plásticos e manuais.

    Poderemos em breve voltar a ter as casas de máquinas, antros mas agora em nossa casa e sem a fauna duvidosa que passava cannabis :)))

    Nada parece ser capaz de parar esta tendência, e pelo caminho estes locais que vivem no passado irão acabar por morrer.

    Sendo mais céptico , acho que as livrarias acabarão por ir pelo mesmo caminho, talvez por um processo ligeiramente diferente mas é inevitável que se eu puder vender um livro virtual para um daqueles leitores e o possa descarregar da net, porque raios hei-de ir a uma loja ou ter uma com custos elevados de espaço e gestão?

    POde-se argumentar com o prazer do papel, concordo, mas se o mesmo livro em papel custar 10X mais que a versão electrónica a coisa muda de figura.


    Deixamos de ter o prazer das estantes com os livros, ou talvez passemos só a adquirir os livros que realmente queremos, os especiais e tudo o resto ficará em formato digital.

    Penso que ainda há muito caminho para andar em tornar os conteúdos originais apetecíveis, talvez com prémios , com sorteios, com acessos mais privilegiado com os autores.
    Talvez os autores de maior sucesso comercial tenham de voltar a ter de aturar os leitores, talvez tenha de haver sugestões dos fãs , não sei e não consigo adivinhar o futuro, mas é certo que o tempo das vacas gordas acabou.

    Tenho pena porque aparentemente este mercado de conteúdos exige uma grande rotatividade que é feita à custa da qualidade, deixaremos de ter as séries inglesas de elevada qualidade e teremos mais dr. house e afins.

    Não há-de ser o dilúvio .
    Entretanto nesta fase de mudança e crise é sempre triste ver as pessoas a perderem os empregos, é um facto, mas também não se podem proteger artificialmente as actividades , acho que seria ainda pior.

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  2. Nuvens,

    Antigamente, nas universidades, o professor dava a aula e no final cada aluno pagava pela lição. Hoje em dia o aluno paga propinas, o Estado dá o resto e o professor ganha o mesmo quer dê aulas a 20 quer dê a 200. Mas ninguém tem saudades do sistema antigo e voltar atrás não ia ser boa ideia.

    Penso que daqui a uns anos pagar para ter um texto para ler ou um filme para ver vai ser tão anacrónico quanto sacar das notas no final da aula para dar ao professor.

    É claro que o futuro pode assustar (assusta sempre). Como é que vamos pagar ao criador, como vamos financiar séries de jeito, etc. Mas uma coisa é importante ter em mente. Custa tanto escrever um livro que ninguém lê como um livro que milhões de pessoas adoram. E, hoje em dia, uma vez escrito não custa nada levá-lo a quem quer.

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  3. "Custa tanto escrever um livro que ninguém lê como um livro que milhões de pessoas adoram."

    Porque dizes isso? Achas que se eu escrever um monte de frases aleatórias até ter a mesma quantidade de palavras que o "Ensaio sobre a Cegueira" me custou tanto escrever as minhas frases como ao Saramago escrever o livro?

    Eu acho que seria confrangedor ver um individuo lido por milhões sem ter dinheiro para comprar um aparelho de dentes à filha, para dar um pouco de melodrama ao exemplo.

    No mundo ideal isso não aconteceria. Mas num mundo ideal tu não terias este blog pois por ser ideal teria forçosamente menos tretas. :)

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  4. Wyrm,

    «Porque dizes isso? Achas que se eu escrever um monte de frases aleatórias até ter a mesma quantidade de palavras que o "Ensaio sobre a Cegueira" me custou tanto escrever as minhas frases como ao Saramago escrever o livro?»

    Imagina: o Saramago escreve um livro. Investe X horas de trabalho e S litros de suor. Agora pode acontecer uma de duas coisas: A) milhões de pessoas lêem o livro. B) ninguém quer saber.

    A minha proposta é que X e S não variam em função de ser A ou B o resultado final. Concordas?

    «Eu acho que seria confrangedor ver um individuo lido por milhões sem ter dinheiro para comprar um aparelho de dentes à filha, para dar um pouco de melodrama ao exemplo.»

    Concordo. Mas compete ao tipo decidir se cobra pelo seu trabalho ou se trabalha sem cobrar. Se primeiro escreve o livro, publica e depois pede o dinheiro está a fazer as coisas mal feitas. É como o gajo que limpa o vidro dos carros no semáforo sem ninguém lho pedir e depois estende a mão. Se quer trabalhar como profissional tem de dar um orçamento primeiro e cobrar especificamente a quem lhe deve dinheiro.

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  5. De caminho apresentem outra queixa contra a PT e já agora também a Clix por permitirem aos seus clientes alugarem filmes sem sairem de casa, contribuindo assim para acelerar a destruição da "indústria" dos clubes de vídeo:

    MEO Videoclube
    Catálogo com mais de 2500 filmes

    http://www.meo.pt/MyMeo/VideoClube/Pages/Destaques.aspx

    Videoclube - Optimus Clix

    http://acesso.clix.pt/videoclube/

    Se fossem mas é para o raio que os parta é que era!

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  6. "Se quer trabalhar como profissional tem de dar um orçamento primeiro e cobrar especificamente a quem lhe deve dinheiro."

    É por isso que por vezes penso que tens um enorme desprezo pelo trabalho artístico. Um fulano escreve um livro. Aproxima-se de uma editora. Estes apreciam o livro e investem. Pagam a pessoas para rever o livro. Pagam a designers para estruturar a capa, escolher o tipo de letra. Pagam a impressoras para usarem este tipo de papel e não outro. E editam o livro.

    Um fulano qualquer de modo a ter pontos no site que utiliza pega no livro, digitaliza-o e coloca-o na net. O escritor não colocou nada na net. Ele simplesmente escreveu um livro e eu penso que seja justo ele ser compensado na proporção da sua popularidade (por isto entenda-se a quantidade de pessoas que leu e apreciou o livro).

    Eu estou 100% de acordo contigo quando dizes que os modelos de comercialização têm de mudar. Papel e rodelas de plástico fazem cada vez menos sentido. Restringir a cópia e a distribuição tampouco. Mas esse teu sense of entitlement relativamente a criações dos outros é algo que me faz confusão.

    "A minha proposta é que X e S não variam em função de ser A ou B o resultado final. Concordas?"

    Mas A e B variam em função de X e S... É por isso que alguns escritores são procurados por milhões e outros ficam-se pelas fan fics. Porque se esforçam mais na criação de uma obra que o escritor amador que apenas escreve nas horas vagas e não tem como despender tempo a fazer pesquisa para o livro. Já para não falar no talento. Não tenho a mínima dúvida que gastas muito menos S que eu a escrever as tuas argumentações mas sou o primeiro a admitir que debates muito melhor que eu. É por isso que eu faria uma doação ao teu blog mas não ao meu. :)

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  7. Wyrm,

    Supõe que um tipo passava uma década a dissecar cadáveres, a espreitar pelo microscópio, a detalhar escrupulosamente tudo o que via, a corresponder-se com outros tipos que faziam o mesmo até que concluiam que muitas doenças são causadas por organismos tão pequenos que nem se vêem a olho nu e que se lavarmos as mãos regularmente apanhamos menos doenças.

    Depois deste trabalho todo e do muito dinheiro investido um gajo qualquer põe na net "lavem as mãos que ajuda a prevenir doenças que são causadas por microorganismos".

    Eu proponho que isto não é falta de respeito. É bom senso. Porque uma vez feito o trabalho, seria muito estúpido não o aproveitar ou prejudicar pessoas restringindo o acesso.

    É claro que se o pessoal que descobriu isto não foi pago, foi explorado, maltratado, lhe puxaram os pelos do nariz ou algo assim acho mal. Mas isso é um problema diferente da restrição à divulgação do resultado uma vez que ele é publicado. É essa separação que me parece teres dificuldade em fazer.

    O escritor e o compositor, como qualquer outro profissional, merecem remuneração pelo seu trabalho. Merecem a remuneração que conseguirem negociar num mercado em que os intervenientes tenham a liberdade de decidir quanto dão por o quê, sem coagir ninguém.

    «Mas A e B variam em função de X e S... É por isso que alguns escritores são procurados por milhões e outros ficam-se pelas fan fics.»

    Não. Uns têm mais sucesso que outros, mas isso não é função de quanto suam para compôr ou escrever.

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  8. "Uns têm mais sucesso que outros, mas isso não é função de quanto suam para compôr ou escrever."

    Disparate. Talento, esforço... Tudo isso são importantes para o sucesso. Dizer o contrário só pode advir do não conheceres muita coisa para lá do comercial ou simplesmente por desprezares o trabalho artístico.

    De resto mais uma vez te lembro que eu não defendo qualquer restrição. Parece que por vezes pretendes mais "ganhar" o debate do que encontrar plataformas de entendimento. É o que parece quando teimas em responder ao que eu não afirmei.

    E estou, novamente te lembro, a falar de uma área diferente da medicina ou investigação. Em que é que o mundo sai prejudicado se uma pessoa decidir não ouvir mais uma dada música apenas porque entende que o autor não merece ser uma compensação por tê-la escrito?

    Eu puxei o ultimo álbum de Ramstein e achei uma bosta. Ouvi duas ou três vezes e apaguei. No entanto fiz questão de comprar o Sehnsucht e o Mutter porque são dois álbuns fabulosos (é de salientar que Rammstein é provavelmente o mais comercial que oiço).

    Puxar um album é como pedir para o ouvir numa loja de discos. O que é diferente de achar que tenho todo o direito a ele só porque alguém fez o upload.

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  9. Wyrm,

    É discutível se haverá um mínimo indispensável de esforço para criar arte ou se é possível criar arte por puro prazer. Mas parece-me consensual que o esforço em si é insuficiente, e que não podes determinar o resultado -- se milhões te vão seguir ou ignorar -- só pela quantidade de força que fazes para criar a tua arte.

    «De resto mais uma vez te lembro que eu não defendo qualquer restrição. Parece que por vezes pretendes mais "ganhar" o debate do que encontrar plataformas de entendimento.»

    Primeiro, estou interessado em identificar onde discordamos. Se não defendes qualquer restrição à cópia e distribuição para uso privado, já concordamos no mais importante e discordamos apenas em detalhes. Como:

    «estou, novamente te lembro, a falar de uma área diferente da medicina ou investigação. Em que é que o mundo sai prejudicado se uma pessoa decidir não ouvir mais uma dada música apenas porque entende que o autor não merece ser uma compensação por tê-la escrito?»

    Tu estás a falar do autor merecer ser recompensado pelo usufruto. É uma regra que tu propões. Ora concordamos que esse "merecer" não é tal que justifique obrigar por lei as pessoas a pagar só pelo usufruto, e que se deve permitir a cópia para uso pessoal, etc. Mas ainda discordamos do princípio.

    Quando tu dizes que a música é diferente da medicina porque a falta de música não prejudica tanto, estás a dizer, no fundo, que o usufruto da medicina é maior do que o da música. Temos um benefício maior das descobertas científicas do que temos das canções.

    Se daí concluis que um cantor merece mais receber recompensa pelo usufruto do que um cientista, estás-te a contradizer. Porque da tua regra infere-se que quanto maior o usufruto maior a recompensa devida.

    É por causa destes problemas que eu rejeito essa regra. Vejo as coisas de uma maneira diferente.

    Há vários factores que nos motivam. Um desses é ganhar dinheiro com o nosso trabalho. Ou seja, vender o nosso trabalho em troco do dinheiro que outros nos dão. É uma transacção comercial.

    Numa transacção comercial o que é justo e correcto é que as partes envolvidas cheguem a acordo acerca dos detalhes, livremente, e depois troquem o que querem trocar sem obrigar terceiros a nada.

    Por isso se eu quero escrever um poema porque me dá na gana não "mereço" dinheiro por isso. Ninguém me prometeu nada.

    Se eu quero escrever um poema a troco de dinheiro tenho de vender esse trabalho a quem mo pague, numa transacção como qualquer outra. E quem não tiver nada com isso não me fica a dever nada independentemente do que usufrua desta transacção.

    Por isso oponho as restrições à cópia privada como forma de inflaccionar estes bens não apenas por questões práticas de implementação (policiamento, privacidade, etc), nas quais penso estamos de acordo, mas também pelo princípio que rege uma transacção comercial. Deve pagar por uma coisa quem se comprometeu a pagá-la ao fornecedor. O usufruto, a distinção entre criatividade científica ou musical, dividir entre o usufruto da cópia do CD ou de descarregar, ouvir e apagar, e assim por diante, parece-me complicações inúteis.

    E insisto nessa parte porque é a única que vale a pena discutir contigo. Não dá gozo nenhum discutirmos acerca daquilo em que estamos de acordo :)

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  10. "Quando tu dizes que a música é diferente da medicina porque a falta de música não prejudica tanto, estás a dizer, no fundo, que o usufruto da medicina é maior do que o da música. Temos um benefício maior das descobertas científicas do que temos das canções."

    Eu digo que a musica é diferente porque tu usas frequentemente o argumento das descobertas medicas para afirmar que o copyright é mau e por isso a arte também não o deve ter. Parece-me um certo ressentimento por haver fulanos que a abanar o cabelo e a tocar umas musicas da treta tenham mais reconhecimento e dinheiro que um investigador que descobre, sei lá, uma proteína essencial para um fim médico qualquer. Como os jogadores da bola em que muitos ganham fortunas sem sequer articular uma frase. :)

    Mas seja como for eu não faço a distinção. Tu é que dizes que a propriedade intelectual vai fazer o mundo acabar em chamas. Parece-me que para lá da actividade normal de tratar pessoas, se um médico descobre um tratamento novo que salva milhares de vidas ele merece ser compensado, e bem!

    Não deve haver restrições à cópia privada mas deve haver a noção que sim, deve-se alguma coisa a quem criou se isso nos dá prazer. Um médico que investiga, ou um administrador de bases de dados que escreveu uns procedimentos eficientes para manter tabelas particionadas (coff, coff) foi de facto pago para o fazer e o seu contrato contempla esses trabalhos. É um modelo de negócio diferente da produção artística logo tendo formas de compensações diferentes.

    Mas eu não me oponho a restrições à copia. No post anterior eu disse que já puxei albuns que não vim a comprar. Mas isso porque os achei horriveis. De resto toda a musica ou arte que de facto me marcou eu tratei sempre de tentar compensar quem ma proporcionou. Agora venha lá o exemplo do criador da Internet e tal... :D

    E antes de ir jogar um pouco o teu "não pedi nada" não cola. Também ninguém te pediu para ires puxar o album/livro/jogo. Tu só terias razão se a tua exposição a uma dada obra fosse involuntária e isso não é o caso.

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  11. Wyrm,

    Eu uso os paralelos com a ciência, cantar no duche, emprestar, etc, para refutar duas justificações comuns para o copyright:

    1- O autor tem o direito de exigir que lhe paguem para aceder à obra que ele criou, mesmo depois de a vender ao público, e restringir como lhe apetecer o acesso à obra.

    2- O autor tem o direito de ser remunerado pelo benefício (usufruto) que qualquer pessoa possa auferir por causa da sua obra.

    Quando consideramos quer as actividades criativas humanas em geral (do desporto à ciência, e não apenas as que se vendem às rodelas ou resmas) ou as formas de usufruir da nossa cultura é evidente que nenhuma destas proposições é verdadeira. Quem publica uma coisa não tem o direito de proibir ou restringir o acesso, e ninguém tem o dever de remunerar só porque beneficia de algo.

    Mas isto não quer dizer automaticamente que o copyright seja mau. Quer apenas dizer que a justificação tem de ser outra.

    E a única que encontrei foi a necessidade, até recentemente, de subsidiar o sistema de distribuição. É precisamente aí que o monopólio sobre a cópia faz sentido (e é precisamente os distribuidores que o detêm).

    Só que agora essa justificação desapareceu, e o sistema de monopólio sobre a cópia passou a ter muito mais desvantagens que vantagens, excepto se o restringirmos estritamente às actividades comerciais (e mesmo nesse caso estou indeciso).

    «Não deve haver restrições à cópia privada mas deve haver a noção que sim, deve-se alguma coisa a quem criou se isso nos dá prazer.»

    Concordo com a primeira parte mas modificaria a segunda.

    Eu diria que se queremos que alguém crie uma obra devemos fazer por isso dando-lhe dinheiro. Não dever no sentido de obrigação moral mas dever no sentido de ser o que melhor nos ajuda a atingir o objectivo de ver essa obra criada.

    Mas a obrigação de remunerar só pode legitimamente surgir de um contrato voluntário pelo qual nos comprometemos a uma transacção. É esse que tem de ser o modelo remuneratório.

    Por exemplo:

    Um cantor toca a sua música na viola, põe no youtube e diz se querem aquilo gravado como deve ser em estúdio arranjem-lhe 50,000€.

    Um escritor põe online o primeiro capítulo do livro e pede 10,000€ para escrever o resto.

    Um estúdio investe num trailer e publicidade para atrair encomendas antecipadas do DVD, e faz o filme se tiver um número suficiente de interessados.

    Etc.

    E qualquer artista que queira ser profissional terá de fazer o mesmo que qualquer outro profissional qualificado. Estar disposto a perder uns anos primeiro a mostrar o que vale antes de começar a cobrar pelo que gosta de fazer.

    «Mas eu não me oponho a restrições à copia.»

    Não percebo o que queres dizer com isto. Se quere dizer DRM, concordo que quem vende tem o direito de estropiar o produto como quiser. Mas se queres dizer as leis que restringem a cópia, essas oponho -- pela carrada de razões que já para aqui despejei várias vezes :)

    «E antes de ir jogar um pouco o teu "não pedi nada" não cola. Também ninguém te pediu para ires puxar o album/livro/jogo. Tu só terias razão se a tua exposição a uma dada obra fosse involuntária e isso não é o caso.»

    O facto de eu copiar um ficheiro sem que tu me tenhas encomendado esse serviço implica que eu não tenho legitimidade para te exigir dinheiro pela cópia do ficheiro. Exactamente pelo mesmo raciocínio, o facto de eu escrever um poema sem que tu mo tenhas encomendado ou prometido remuneração implica que não me deves nada pelo poema que eu escrevi. Ou os posts aqui no blog.

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  12. Engraçado, mas contrariamente a si, sou a favor dos copyrhigts.
    Pelo esforço envolvido na pesquisa, por ex:a Monsanto, patenteia formas de vida, mas gastou milhões no seu desenvolvimento.
    Podem-se produzir essas formas, com menos custos mesmo em pequenos laboratórios, o problema é que o controle do produto final é menor e as consequências mais gravosas.
    Assim pessoas a favor dos copy's serem abolidas, criam um caos potencial, qual a diferença entre um bioterrorista e um freelancer genético, trabalha-se em equipes multidisciplinares, mas temos vantagens.

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  13. Falhou algo no fairy ring, o "corpo" massa hifal do fungo está no centro, por isso dá azar pisar no centro, libertação de esporos, se tiver alergias é mauzito.
    Assim a partir de um ponto de germinação espalham-se radialmente os micélios produzindo corpos de frutificação (cogumelos-visíveis ou não).
    Na maior parte dos casos apenas há manchas, por vezes apenas há crescimento do micélio aquilo da falta de nutrientes no centro é uma falácia, não cresce no centro porque como as árvores e muitos seres vivos alarga a sua área por expansão radial a partir do sua massa parasitica ou saprófaga sobre as raízes pastadeiras da árvore.
    Os seus links são interessantes

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  14. ah, já agora - uma miúda de 16 anos No Blogger desde Abril de 2010
    Consultas ao perfil (aproximadamente) 6704
    e de visitas mais de meio milhão e algarvia ainda por cima!!!!
    bom tenho de continuar a trabalhar
    isto dos blogs sempre descomprime

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  15. Roskoff,

    «Pelo esforço envolvido na pesquisa, por ex:a Monsanto, patenteia formas de vida, mas gastou milhões no seu desenvolvimento.»

    As patentes são o contrário do copyright. O copyright é o direito exclusivo de copiar e distribuir a informação acerca de algo (pautas, ficheiros, etc), sem direitos sobre a sua aplicação (cantar, tocar, etc). A patente é um documento público que descreve detalhadamente um processo e pode ser distribuído e copiado, porque é um documento legal. Mas concede um direito exclusivo sobre algumas aplicações (principalmente comerciais) do processo patenteado.

    Além disso a patente só é atribuida mediante registo e aprovação, enquanto que o copyright é automático.

    São coisa muito diferentes...

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  16. A patente apenas pode ser aplicada a propriedade industrial, não se pode patentiar ideias.

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  17. Nuvens,

    Era bom era...

    AMAZON.COM IS GRANTED A U.S. PATENT FOR A "SOCIAL NETWORKING SYSTEM"

    «A networked computer system provides various services for assisting users in locating, and establishing contact relationships with, other users.»

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  18. LK

    Na lei portuguesa é assim, ou pelo menos será esse o espírito da lei.

    No caso apresentado é simplesmente ridículo, conceptualmente uma rede social existe desde que o número de seres humanos ultrapassou a unidae e nem sequer entendo o que a patente pretende proteger.

    Sem querer ser muito simplista diria que :

    The U.S. patent, granted June 15, "provides a mechanism for a user to selectively establish contact relationships or connections with other users" and "automatically notify users of personal information updates made by their respective contacts."

    Define também a internet, serviços de email, netsend ... ridículo ....

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  19. Ludwig:

    "Custa tanto escrever um livro que ninguém lê como um livro que milhões de pessoas adoram."

    Sem alterares qualquer outro factor penso que encontraras uma correlação positiva entre esforço e sucesso de vendas.

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  20. ASSI é que é,mas há algo a notar todo o trabalho humano se vende:E alugar DVDs, hoje em dia, é como mudar a palha de colchões ou trocar agulhas de grafonolas. Não interessa a ninguém.interessa destrói postos de trabalho nos serviços que é ainda o nosso maior sector

    Se vendessem presunção talvez fossem mais longe.Provavelmente ou religião Não é indústria nenhuma. São sítios onde guardam rodelas de plástico.
    I agree with ThePsychoReturns, science and mathematics enhances my appreciation of the world e o copyrhigt ajuda na manutenção dos padrões de vida do artista, poderiam é ser muito menores do que são...os copies tá-se a ber
    For me it's the difference between appreciating a sculpture and appreciating how the sculpture is made. You can do both at the same time, but to look on as the artist creates is an unparalleled bliss

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  21. Referia-me a um organismo vivo, que produza cópias de si próprio, não se pode dizer que a monsanto tenha uma patente sobre o DNA, tem é direitos de autor sobre as suas criações.
    Seja um código químico,bioquímico ou electrónico o princípio é o mesmo.
    ou como diz o que fala aparentemente em dissílabos como dar prémios iguais a um artista que cria an unparalleled bliss , o que quer que isso seja e um Rodrigues dos Santos que cria milhões de cópias de lixo?

    não se pode simplificar. redução dos direitos de autor, mas não extinção.
    mesmo princípio para as patentes

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  22. "a patente só é atribuida mediante registo e aprovação, enquanto que o copyright é automático", depende da nação e ouve tempos em que os conceitos eram vagos, de reston o direito de cópia é uma derivação recente sobre a propriedade intelectual, já de si um conceito irrisório, aplicado a quem põe um pedaço de cola num papel e cria um post-it.
    Ou a quem aplica a arte do origami a um receptáculo e lhe chama Tetra-Pak.

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  23. Ludwig,
    Um livro é muito mais do que um meio como qualquer outro de divulgar um texto. Pode ser levado no bolso para qualquer lado, lido no metro, na cama, na praia, na esplanada da nossa rua. Não tem um ecran que à luz do dia fica ilegível, não precisa de baterias que têm de ser recarregadas, pode ser sublinhado. Levou alguns séculos a adequar-se confortavelmente ao olhar humano, oferece uma certa relação entre mancha de texto e papel em branco (margens) que facilita a leitura sem esforçar os olhos (chama-se medida áurea) e permite-nos descansar das longas horas de monitor. Embora haja bibliografia de trabalho que dá jeito trazer sempre na pen (para não termos que trazer a biblioteca atrás), não se usufrui de um bom romance no kindle como numa numa boa edição em papel. Já para não falar da ilustração, claro, não a científico-informativa mas a artística.
    O livro (objecto material, não confundir com o texto) é um objecto cultural e muitas vezes um objecto artístico. Tem valor cultural e artístico por si mesmo. Não me apetece prescindir dele e pago para isso.
    Lecciono uma cadeira chamada História do Livro e da Leitura e costumo mostrar aos alunos este video:
    http://www.youtube.com/watch?v=iwPj0qgvfIs&feature=player_embedded

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  24. Vicente,

    Concordo. Também gosto de livros, se bem que cada vez mais vá pelo pdf (em parte por falta de espaço para pôr mais estantes...)

    Mas penso que é uma questão de tempo até o suporte digital apanhar, ou ultrapassar, o papel em vantagens. Por exemplo, para ler na cama ou à mesa o tablet que tenho é melhor que a maioria dos livros (não é preciso segurá-lo para ficar aberto, é mais leve, etc...).

    Que o livro em si é um objecto cultural e que vai haver ainda durante muito tempo quem o aprecie não duvido. Mas penso que daqui a uns anos vai estar para o texto como o vinil está para a música.

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  25. Sim, para alguns tipos de texto. Quem é que quer ter a Enciclopedia Britânica em estantes?
    Mas penso que os livros ficarão sempre para certo tipo de textos. Hoje já se faz a distinção entre livros de bolso (papel mau, lombada colada com má cola, capa pobre, corpo minúsculo em página quase sem margens) e edição de qualidade. Penso que os livros de bolso podem bem desaparecer se os kindles do futuro forem igualmente portáteis mas as boas edições, reservadas só para certas obras, não desaparecerão nos próximos séculos.
    Além disso, há outros problemas. Têm-me dito que o suporte digital desmagnetiza em poucos anos, o que obrigará a recomprar o que já se tinha comprado. Em 2000 comprei uma obra de cerca de 1500 páginas em papel e em cd. O cd estava gravado num formato que entretanto deixou de ser lido pelos computadores. Já o mostrei a mais de um informático e todos me dizem o mesmo: pode deitar fora. Acho uma chatice. Ainda tenho os dois volumes em papel (por sinal excelente edição italiana)e estão como novos mas perdi as funcionalidades de busca que o cd me oferecia. E não há nada a fazer. Se tivesse comprado só o cd tinha atirado dinheiro à rua.

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  26. A Arte da Computação Analógica:

    http://vimeo.com/12433033

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  27. Vicente,

    «Têm-me dito que o suporte digital desmagnetiza em poucos anos, o que obrigará a recomprar o que já se tinha comprado»

    Um disco rigido dura bastante. Tenho aqui uns com 15 anos que ainda funcionam bem. Além disso um disco de 1TB custa uns 50€ e dá para uns 10,000 a 100,000 livros (com ilustrações). Compra dois e podes ter cópias de tudo em duplicado (eu tenho vários discos com os meus documentos -- dantes fazia os backups em DVD, mas além de ocupar mais espaço e ser mais caro são menos fiáveis).

    Além disso tens tudo armazenado na Internet. Se perdes o livro descarregas de novo. Está bem que por enquanto isso não é inteiramente legal (depende de como o descarregas, essencialmente), mas isso é um problema burocrático e não técnico.

    «Em 2000 comprei uma obra de cerca de 1500 páginas em papel e em cd. O cd estava gravado num formato que entretanto deixou de ser lido pelos computadores. Já o mostrei a mais de um informático e todos me dizem o mesmo: pode deitar fora. Acho uma chatice. Ainda tenho os dois volumes em papel (por sinal excelente edição italiana)e estão como novos mas perdi as funcionalidades de busca que o cd me oferecia. E não há nada a fazer. Se tivesse comprado só o cd tinha atirado dinheiro à rua.»

    Esse é um problema diferente. O CD está num formato estranho, provavelmente com software próprio, para dificultar que usem essa informação de forma "não autorizada". Se tivesses descarregado a mesma coisa do PirateBay em pdf, html ou algum outro formato aberto não terias problema nenhum.

    Mais uma vez, essa limitação não é um problema técnico. Não é um defeito da tecnologia. É burrice e teimosia de quem vende essas coisas.

    (experimenta procurar no google por essa edição, talvez acrescentando o termo rapidshare ou megaupload, e pode ser que encontres a solução :)

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  28. O cd diz assim:
    «DBT 4- Data Base Testuale per Windows di Eugenio Picchi» e tem o copyright do Consiglio Nazionale delle Ricerche, Italia.
    Se eu sei que isto é uma coisa feita de propósito para não poder ser copiada, palavra que escrevo para a editora a pedir que me susbstituam o cd! Afinal paguei-o!

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  29. Caro Vicente,

    Não sei se isto ajuda, a informação parece já estar desactualizada e os links também:

    DBT: http://www.ilc.pi.cnr.it/pisystem/terza.htm

    DBT is the Textual Data Base component of the PiSystem suite made by Eugenio Picchi at the Pisa ILC. It is the more widespread software of this category in Italy (it is, for example, used by the popular LIZ text collection of Italian Literature).
    + Commercial versions of DBT is licensed by the CNR and can be buyed from LEXIS distribution house, via Acireale 19 - ROMA - Italia; Tel./Fax: +39-6-70302626; E-mail; cf. also the web page.
    + DBT is now (April 2001) available at discount price (480.000 IL) also from Libreria Chiari.
    + There is also a web version with a demo online.
    + For a detailed list of the moduli of this procedure see the following page.

    Fonte: http://www.bmanuel.org/clr/clr2_tt.html#DBT

    PiSystem: http://www.ilc.pi.cnr.it/pisystem/intro.htm

    PiSystem is a complex but well integrated suite of tools by Eugenio Picchi and his "DBTficio" specially designed for linguistic and lexicographic anaysis of italian litterary texts. The core module of this system is the well known DBT, but a lot of other components are already available or under development for more specific works. The DBT system is patented by CNR and is adopted also by the renowned LIZ collection.

    Fonte: http://www.bmanuel.org/clr/clr2_tt.html#PiSystem

    Este link parece funcionar:

    http://www.ilc.cnr.it/pisystem/prodotti/index.html

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  30. sxzoeyjbrhg,

    Muito obrigado, vou investigar o assunto.

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  31. Parece que a União Europeia está a negociar no tratado ACTA a implantação de sanções criminais até para violações de direitos de autor "sem motivação directa ou indirecta de ganho financeiro", assim como o "incitar e ajudar" essas ofensas.

    http://www.laquadrature.net/en/leak-eu-pushes-for-criminalizing-non-commercial-usages-in-acta

    Isto significa, Ludwig, que poderás ir preso pela parte final deste post, e quem sabe até pelo resto. Bonito, ha?

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  32. Mais uma notícia dos EUA que me fez lembrar a luta da ACAPOR e MAPiNET cá em Portugal. Em Nova York o aluguer "por noite" de quartos, residências e apartamentos, organizado através de vários sites na internet, está a fazer mossa no negócio dos (dispendiosos) hotéis da cidade. E qual foi a solução que arranjaram? Baixar os preços? Melhores serviços? Nada disso!!! O ideal mesmo é uma lei a proibir o aluguer privado por períodos inferiores a 1 mês!

    http://techdirt.com/articles/20100628/0037599977.shtml

    Isto ainda é melhor do que a analogia com as limpezas domésticas. :)

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