segunda-feira, maio 04, 2009

Financiar a criatividade, parte 5: o que é de borla e o que tem valor.

Recentemente, o Desidério tentou satirizar o acesso gratuito à informação mas confundiu aquilo que é abundante e, por isso, sem valor monetário num mercado competitivo, com aquilo que é escasso e valioso. Por exemplo, numa rábula acerca do ensino universitário o Desidério escreveu:

«O novo plano de financiamento exige que as universidades despeçam a generalidade dos seus professores, não sem antes gravar as suas aulas em vídeo de alta definição, que será disponibilizado gratuitamente na Internet,»(1)

Eu gravo as aulas para os meus alunos e cobrar por isso seria pouco razoável. Só à força de leis e processos em tribunal é que poderia fazê-lo, porque copiar um ficheiro é gratuito e trivial. Num mercado livre o preço de equilíbrio das gravações das minhas aulas é zero. E o mesmo para quaisquer outros ficheiros, sejam de músicas, filmes ou jogos. Por isso, se o trabalho de professor se reduzisse à gravação da aula o meu emprego só sobreviveria à custa de subsídios que me sustentassem para além da minha utilidade. Quer pagando directamente o meu ordenado quer criando leis que me permitissem cobrar por aquilo que é gratuito.

Mas o trabalho de professor exige muita coisa que não é trivial copiar e distribuir. Esclarecer dúvidas, orientar e avaliar trabalhos, manter a matéria actualizada e ajudar os alunos mais empenhados a aprofundar matérias que lhes interessem em particular. É por isto que me pagam. A gravação da aula é o copo de água no restaurante, com um custo marginal tão baixo que nem vale a pena cobrar por isso.

O Desidério tem-se insurgido contra o gratuito por julgar que a “mentalidade borlista” desvaloriza algo valioso como a criatividade ou a cultura. E por julgar que se trata de uma opção, criticando o gosto por “palermices” que leva muita gente a ver televisão ou a ler revistas cor de rosa à custa da publicidade. Engana-se em ambos os casos.

O acesso gratuito resulta da inovação tecnológica que faz com que a transmissão e armazenamento de bytes tenha um custo marginal irrisório. Uma vez criada a infraestrutura, mais ficheiro menos ficheiro não faz diferença. Antigamente vendia-se água nas ruas; hoje o copo de água é de graça porque o sistema de distribuição tornou-o barato demais para se cobrar. A realidade económica é que uma sequência de bytes não vale nada.

É obviamente fútil tentar contrariar esta realidade económica com leis que finjam tornar os bytes um bem escasso impondo restrições à cópia e ao acesso. Nem as leis cada vez mais draconianas que temos são eficazes, apesar do grande custo para a nossa liberdade e privacidade. É preciso aceitar os factos. Não se pode ganhar dinheiro a vender ficheiros tal como não se pode ganhar dinheiro a vender contas de email, acesso a motores de pesquisa ou copos de água. Os custos marginais são tão baixos que o mercado não lhes permite dar valor.

Mas isto afecta apenas as sequências de bytes. A cópia e a distribuição têm custos nulos, mas o trabalho criativo é um bem escasso que pode ter grande valor mesmo num mercado livre. A distribuição gratuita de música não implica que o músico trabalhe à borla. Implica apenas que este cobre pelo seu trabalho – o bem escasso que tem valor – em vez de tentar cobrar pela cópia do ficheiro que, de tão trivial que é, acaba por não valer nada. No post mais recente do Desidério nota-se bem esta confusão:

«Tudo o que quero é chamar a atenção das pessoas que ainda não decidiram que já sabem qual é o melhor modelo económico de financiamento da cultura, sublinhando que é preciso pagar aos criadores. E que a maneira mais simples de o fazer é pagar quando usufruímos dos seus trabalhos.» (2)

O melhor modelo de financiamento privado é aquele que funciona num mercado livre e não vale a pena querer obrigar o mercado a dar valor ao que não tem custos. A distribuição, cópia e usufruto de conteúdos digitais não valem mais que um click no botão do rato. Por isso esta proposta do Desidério é tão realista como querer fazer dos copos de água o principal rendimento dos restaurantes.

Salvo excepções como a pintura ou escultura, o financiamento privado da criatividade dependerá da prestação do serviço em vez da venda de produtos. Hoje, músicos e escritores estão como médicos, professores ou físicos. Só podem cobrar pelo trabalho que vão fazer porque, depois de feito, já não conseguem cobrar por usufruto, cópia ou acesso. O mercado só funciona com bens escassos e qualquer coisa que se multiplique sem limite deixa de ser transaccionável. Este é um facto inescapável, ainda que arruine os distribuidores, agora tão supérfluos como o vendedor de água, e que preocupe os autores que ainda não perceberam onde está o valor do seu trabalho. Não na cópia, distribuição ou acesso ao que fizeram mas no acto de o criar.

1- Desidério Murcho, 14-4-09, Mudanças na universidade portuguesa
2- Desidério Murcho, 4-5-09,Financiar a cultura

Recomendo também o artigo Free! Why $0.00 Is the Future of Business, Chris Anderson. Já é do ano passado, mas reli-o recentemente graças a uma referência do Desidério ao novo livro deste autor.

41 comentários:

  1. António Parente05/05/09, 00:21

    Ludwig

    Há vários erros na sua análise. Permita-me apontar-lhe dois:

    1) O trabalho que desenvolve na universidade é remunerado e por esse motivo é propriedade da sua entidade patronal, não é seu; para pagar a sua remuneração a sua entidade patronal cobra propinas aos alunos e impostos aos contribuintes; a gravação das suas aulas poderia ser cobrada pela sua entidade patronal e nunca pelo Ludwig;

    2) Se uma sequência de bytes não valesse nada, como afirma, o pessoal não tentava copiá-la; cada um produzia a sua sequência de bites e ficava feliz; o que se passa é que a sequência de bites tem valor para quem copia porque tem características especiais (não é indiferente o Ludwig copiar a sequência de bytes da canção "Don't Cry for me, Argentina" cantada pelo Quim Barreiros ou pela Madonna);

    O Ludwig tenta encontrar justificações para o injustificável. Não é moral usar o trabalho dos outros sem o pagar. Se é de borla, todos têm direito a copiar. Se não, não têm esse direito e deviam respeitar o trabalho dos outros. Despreza o papel dos distribuidores mas um músico precisa de uma máquina de propaganda e de marketing bem oleada. Sem isso, nem o músico seria conhecido nem o Ludwig o conheceria.

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  2. António Parente,

    Se sou eu ou o meu empregador a cobrar os ficheiros das aulas é irrelevante para o meu argumento, por isso nem vou disputar essa alegação.

    Quanto ao segundo "erro", aponto-lhe que as pessoas bebem copos de água nos restaurantes (e usam as casas de banho, etc) mas isso é gratuito. Num mercado competitivo um bem de custo marginal nulo tenderá a ser gratuito. Veja, por exemplo, o aumento de pacotes de serviço telefónico com chamadas ilimitadas. Não porque as pessoas deixem de telefonar, mas porque o custo marginal por chamada está a desaparecer e a concorrência faz cair os preços.

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  3. Noutro registo, ainda o António Parente:

    «Não é moral usar o trabalho dos outros sem o pagar.»

    Isso é treta. Só pelo simples acto de escrever essa frase está a usar o trabalho de quem contribuiu para criar e lhe ensinar a nossa língua e não está a pagar por isso.

    Essa "moral" é mera propaganda dos distribuidores, que querem que se considere como trabalho criativo apenas músicas, jogos, livros e essas coisas que eles distribuem. Mas não é imoral contar anedotas, jogar à apanhada ou fazer cozido à portuguesa sem pagar. Como regra geral o ridículo dessa "moral" é mais que evidente.

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  4. António Parente05/05/09, 08:42

    "Só pelo simples acto de escrever essa frase está a usar o trabalho de quem contribuiu para criar e lhe ensinar a nossa língua e não está a pagar por isso."

    Criar a nossa língua penso que decorreu há umas largas centenas de anos. Como sabe os direitos de autor caducam ao fim de um certo tempo.

    Quem me ensinou a nossa língua foi pago. Frequentei escolas públicas mas alguém pagou aos professores para darem aulas.

    "as pessoas bebem copos de água nos restaurantes (e usam as casas de banho, etc) mas isso é gratuito."

    Não pode comparar o uso de uma casa de banho ou um copo de água à cópia de bytes. No caso de um copo de água ainda lho dão porque a água é considerada importante para a sobrevivência humana, é um bem essencial. Julgo que qualquer pessoa consegue sobreviver sem o Quim Barreiros, a última versão dos pokemons ou o último filme do chuck norris.

    Quanto às chamadas telefónicas a questão é que as margens de lucro eram muito elevadas. Com a transferência de consumidores para telemóveis e a concorrência (nisto estamos de acordo) os fornecedores da rede fixa tiveram de criar incentivos. Todavia, continua a pagar a mensalidade de assinatura.

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  5. António Parente05/05/09, 08:50

    Não é imoral contar anedotas porque aí não há cópia. Se eu lhe contar uma anedota, pode crer que não vai rir, nem sequer sorrir, porque eu não sei contar anedotas. Sou um fracasso. A mesma anedota contada pelo Fernando Rocha, Herman José ou António Parente não é a mesma anedota. Pode ter o mesmo texto mas a reacção do público é completamente diferente. Cada contador introduz-lhe um toque pessoal, recria-a o que a torna original.

    O mesmo raciocínio se aplica ao cozido à portuguesa. Asseguro-lhe que ninguém comerá umcozido à portuguesa feito por mim mas se for pelo Vitor Sobral ali no Terreiro do Paço pagam-no a preço do ouro. E continua a ser um cozido à portuguesa. Não há dois cozidos à portuguesa iguais. A qualidade paga-se.

    Quanto aos jogos, eu não percebo de programação para fazer os meus próprios jogos. Nem tenho imaginação suficiente para isso. Se quero jogar tenho de usar o trabalho de outra pessoa. É um trabalho criativo porque poucos o fazem. Podem-se encontrar exemplos que mostrem a inconsistência dos seus argumentos nos outros produtos que referiu.

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  6. António Parente,

    «Criar a nossa língua penso que decorreu há umas largas centenas de anos.»

    Então tem de justificar que é imoral usar o trabalho alheio sem o pagar mas, com o passar dos anos, o imoral torna-se moralmente aceitável. Tem também de explicar como calcula o número de anos necessários para essa transmutação aparentemente milagrosa do imoral em moral...

    «Quem me ensinou a nossa língua foi pago.»

    Exacto. Pago por um trabalho e no âmbito de um contrato acordado antes de fazer o trabalho.

    Não pago pelo uso do conhecimento que pelo seu trabalho transmitiu. Daí o disparate de «Não é moral usar o trabalho dos outros sem o pagar.» É imoral contratar um professor e depois não lhe pagar de acordo com o estipulado. Mas não há nada de imoral em usar o conhecimento adquirido sem pagar coisa nenhuma.

    «Não pode comparar o uso de uma casa de banho ou um copo de água à cópia de bytes.»

    Porquê? Porque não lhe dá jeito que eu os compare?

    O facto permanece que, em ambos os casos, os custos marginais irrisórios levam um mercado competitivo baixar o seu preço de venda até zero. Não interessa se é bytes ou água. Se o custo marginal é praticamente nulo o preço acaba por ser zero a menos que se imponha monopólios à força. Não é por o António me proibir de os comparar que as coisas mudam.

    «Não é imoral contar anedotas porque aí não há cópia.»

    Primeiro, se o António inventa uma anedota, eu ouço-o contá-la e a conto tal e qual a ouvi há cópia. Mas, mais importante que isso, a sua afirmação foi «Não é moral usar o trabalho dos outros sem o pagar.» Mesmo que não haja cópia (não vejo como...) eu contar a anedota que o António teve o trabalho de inventar é claramente usar o seu trabalho.

    Mas não se preocupe que já sei intepretar esse nível de desconversa como um sinal análogo a deitar o rei no xadrez.

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  7. O que eu mais gostei foi do exemplo do compositor paralítico.
    Acho que a falta de sistematização levou a conversa a dispersar-se em tantos pedaços que nunca mais se chegou a nenhuma conclusão.
    No fundo o D. achava que tudo tinha de ser pago, e acabou a meio caminho.
    Sobretudo não soube responder ao que deveria ser feito.
    Enunciar princípios universais mas de uma inocência saloioa qualquer um pode.
    Não devemos fazer mal aos outros...
    Enfim, o difícil é desenhar o ponto intermédio, com cedências e ganhos de forma a podermos avançar. Ficará para outra geração

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  8. Nuvens de fumo,

    «O que eu mais gostei foi do exemplo do compositor paralítico.»

    Sim... como se a prioridade fosse conceber legislação que promova o sucesso comercial de compositores paralíticos.

    «Enfim, o difícil é desenhar o ponto intermédio, com cedências e ganhos de forma a podermos avançar. Ficará para outra geração»

    Disso discordo. O importante e urgente é delimitar o âmbito dessas cedências. O moralismo bacoco de o autor ser dono das ideias deve ser rejeitado de vez e não permitir que o financiamento seja feito à custa dos direitos à privacidade, expressão criativa, partilha de informação e participação na cultura. Por isso nada de conceder direitos exclusivos sobre cópia, criação de obras derivadas ou acesso.

    Uma vez restrito o âmbito do financiamento ao equilíbrio entre regulações comerciais para empurrar o mercado e financiamento público para o restante o problema passa a ser trivial por ser pouco consequente. Decidir se os jogos de computador dão aos autores quatro anos de comparticipação nas vendas ou seis anos, se os romances dão cinco ou dez, etc, está ao nível de decidir quanto de taxa camarária deve pagar um restaurante ou um taxista.

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  9. Já tinha lido o texto do Chris Anderson quando saiu, há bastante tempo e também me fez uma boa impressão. Li igualmente um livro interessante sobre o assunto que estava até há pouco tempo nas livrarias de uns italianos, "Low Cost", que também discute esta problemática mas a uma luz mais geral, global.

    Concordo com o Ludwig neste texto. O Desidério desceu muitos pontos na minha consideração desde que começou nesta luta contra tudo o que é gratuito, desde o wikipédia, o Gutenberg e a Google. Irritam-me este tipo de hipocrisias, porque ainda por cima, o DRN existe no Blogspot (que eu saiba), e quase que aposto que o mail pessoal do Desidério é gratuito - e ainda arrisco a adivinhar que é o gmail). E por mais que eu e tantos outros tenhamos tentado fazê-lo ver isto, ele simplesmente ignora todos os comentários e continua na sua quixotesca demanda.

    Fartei-me do personagem.

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  10. Em relação às propostas mais idealistas do Ludwig, não concordo tanto. Considero-me mais próximo do Lessig neste considerando do que do Ludwig. Mas é um debate muito interessante.

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  11. LK
    para mim definir o âmbito é um negócio, mas é deformação profissional : )
    Mas essa definição terá sempre de ser um compromisso político e a política é a "ciência" ou arte do possível.

    O meio termo aqui já referido entre o privado (>livre) e o profissional/comercial com direitos restritos e a serem mediados entre o interesse pessoal do inventor e a dinâmica do mercado parece-me um muito bom ponto de partida.

    é pena não haver debate a sério na sociedade civil, mas esse é o nosso calcanhar de Aquiles.
    Ao delegar tudo nos governos ,.....já se sabe o que se pode esperar.

    Vejo com muita preocupação as notícias de hoje do estado da nossa economia, os próximos anos vão ser magros para quem vende e preocupa-me esta tentativa de "sangrar o porco" até ao limite através de inventar regras artificiais.

    Nesta busca de centavos em tudo o que mexe , ainda perdemos mais do que se pensa.

    Mas tenho a certeza que para cada estocada há uma parada : )

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  12. António Parente05/05/09, 10:53

    Ludwig

    Ao estabelecer-se um período em que os direitos de autor vigora, possibilita-se ao autor usufruir de um rendimento durante um certo período de tempo. A imoralidade está em não respeitar as regras, aquilo que está estipulado na lei. Não entendo como é que o Ludwig invoca a Constituição - uma lei - quando se refere ao laicismo mas esquece as outras que não lhe interessam.

    Quando copia os bytes de uma músia, de um jogo ou de um filme aquilo de que beneficia é de um momento de lazer. Não me parece que ouvir a Madonna aumente a cultura, nem jogar pokemon nem ver filmes do Chuck Norris. Dá prazer para quem gosta mas mais nada do que isso.

    Não pode comparar a casa de banho e o copo de água com a cópia de bytes porque é uma analogia que não faz sentido. Parece-me simples mas se quiser explicarei com mais detalhe.

    O seu exemplo da cópia da anedota é fraco e entra em contradição com os seus próprios argumentos. A anedota não acrescenta nada ao seu conhecimento. A mesma anedota contada por pessoas diferentes não tem o mesmo efeito. Parece-me ´fácil de perceber.

    Quanto ao rei do xadrez, o seu já foi deitado há muito tempo abaixo mas é um rei sempre em pé, que resiste em cair por pura teimosia.

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  13. António Parente,

    «Não entendo como é que o Ludwig invoca a Constituição - uma lei - quando se refere ao laicismo mas esquece as outras que não lhe interessam.»

    É triste que não entenda...

    As leis podem ser boas e podem ser más. Se vai derivar a sua moral da lei, assumindo, como diz, « A imoralidade está em não respeitar as regras, aquilo que está estipulado na lei», então está condenado a aceitar todas as leis, boas ou más, e a não cumprir a sua obrigação como cidadão de as distinguir.

    O problema neste momento são as leis imorais. Dizer que a imoralidade é desrespeitar a lei é apenas fugir ao problema.

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  14. Barba Rija,

    «Em relação às propostas mais idealistas do Ludwig, não concordo tanto.»

    Pelo que me lembro, aquilo de que discordas é mais as propostas que julgas que eu faço do que as que eu realmente defendo... :)

    «Considero-me mais próximo do Lessig neste considerando do que do Ludwig.»

    O Lessig está a tentar reformar o sistema promovendo alternativas dentro da mesma estrutura legal. Isso tem a vantagem de poder resolver rapidamente muitos problemas práticos mas a desvantagem de não corrigir os defeitos fundamentais.

    Por isso também estou de acordo com o Lessig, mas, eventualmente, temos de ir mais longe. Mesmo que toda a gente use licenças do Creative Commons resta o problema da lei permitir que um editor compre direitos exclusivos de cópia e processe pessoas, incluindo o autor, por descarregar ficheiros.

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  15. António Parente05/05/09, 11:51

    Ludwig

    Se cumprirmos apenas as leis com que concordamos então é o caos. Uma coisa é não concordar com uma lei e lutarmos para a mudar. Outra coisa é defender que essa lei não conta e boicotá-la.

    Depois há uma gradualidade naquilo que devemos aceitar ou não. Desobediência civil contra uma lei que proiba a liberdade de expressão é uma coisa. Desoediência só para termos um pokemon de borla é outra...

    Fico deprimido por o Ludwig não perceber esta diferença...

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  16. Penso que há pontos interessantes nas duas análises.
    Penso que a cópia será gratuita quer queiram quer não e que por mais musculado que seja o sistema não terá capacidade para suster a avalanche.
    Nisto concordo com o Ludwig.

    Também concordo com o Ludwig quando diz que há excesso de meios para valor jurídico que se pretende acautelar, dando de barato que esse valor jurídico existe.

    Por outro lado, tenho dificuldade em entender o que se pode ou não pode considerar cópia. Por exemplo, se a Mona Lisa fosse objecto de protecção Duchamp podia ter pintado os seus bigodes?

    Mas também percebo que a cultura do gratuito tende para a cultura do amador e que isso é perigo e um constrangimento para o desenvolvimento da cultura.
    Nesta preocupação aproximo-me mais do Desidério.

    Finalmente, Ludwig, onde é que as aulas estão disponíveis? Podemos todos beber dessa água?

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  17. António,

    «Fico deprimido por o Ludwig não perceber esta diferença...»

    Não fique deprimido porque eu percebo, e sempre percebi, esta diferença. É precisamente por isso que rejeitei a sua afirmação categórica que é imoral descarregar ficheiros por ser contra a lei. Não só não é contra a lei (ilegal é enviá-los, não descarregá-los) como essa generalização é inaceitável (nem sempre é imoral desrespeitar uma lei).

    Se quer defender que é imoral descarregar um episódio de uma série da Internet (tecnicamente legal) mas não é imoral gravá-lo no VCR e emprestar a um amigo (que é tecnicamente ilegal por ser distribuição não autorizada) então tem de procurar um fundamento melhor que essas moralidades de algibeira de "é imoral usar o trabalho dos outros sem pagar" ou "é imoral desrespeitar a lei".

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  18. NCD,

    «Finalmente, Ludwig, onde é que as aulas estão disponíveis?»

    Vai à minha página. Nas aulas tens links para as cadeiras que lecciono. Em geral, só há gravações naquelas em que sou regente (a moda não pegou ainda :) e os videos são mais recentes (dantes só gravava o audio em algumas).

    Mas as deste ano e do ano passado pelo menos tens lá.

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  19. LK
    Vou colocar uma provocação para complicar a discussão ;)
    Vamos imaginar que o LK tem centenas de aulas, sobre dezenas de temas, o suficiente para fazer uma pequena base de dados. As pessoas começam a procurar estas, mas devido à procura querem que estejam classificadas por tema, ou melhor ainda , indexadas de forma a que eu possa procurar com nomes referidos nas mesmas, temas de mais alto nível, etc e de forma simples encontra a aula que melhor serve o meu propósito.
    Esta procura começa a fazer com que o LK perca muito do seu tempo com essa organização e desta forma não o gaste noutro local, no fundo começa a perder mesmo tempo : )

    Era ou não legítimo cobrar por esse tempo ; )
    Afinal poderia estar na praia , ou a fazer outra coisa qualquer e não , está com um dos piores trabalhos - a classificação ainda por cima cruzada. ( :S )

    Este é um dos casos onde eu acho que ao haver uma objectiva mais valia deve ser cobrado carcamanho.
    No entanto e devido à cópia ilegal que eu me encarregaria de fazer ( faço aqui de pirata maldoso) , essa versão , feita digamos em Access, ficava disponível no Pirate Bay.

    Quid iuris ?
    Penso que este é um dos problemas da cópia a este nível, porque de facto desincentiva o trabalho que não valendo muito, pode ser cobrado justamente, e beneficia é as grandes empresas ao divulgar standard como o Office, diversifica jogos e faz com modas possam aparecer em semanas.
    Não podia escrever isto antes de o Desiderio terminar a sua apresentação paralítica : )

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  20. Ludwig:

    Mas propões mesmo que um musico se feche num estudio meses a fio para produzir trabalho sem ser pago especificamente para isso? E se sim de onde vem o dinheiro? Se sim, porque não deve vir o dinheiro destinado a pagar as horas de gravação dos bolsos daqueles que querem usufruir de copias do produto desse trabalho?

    Como é que surgiam albuns como o St Peppers, ou o Dark side of the Moon, se nessa altura as horas de trabalho em estudio não fossem largamente compensadas? (São albuns de um excelente nivel de produção, por isso dei como exemplos, mas ha mais exemplos possiveis claro). E se propoes que gravem de graça, quem paga a estrutura nesseçaria para que haja um estudio de som com equipamento capaz de produzir obras daquelas? O dinheiro para montar um estudio e pagar aos artistas não deve vir da copia do bem criado por esse investimento?

    Ainda não percebi mesmo...

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  21. Nuvens de fumo:

    Não me parece que esta questão se colocasse. Se as aulas do ludwig tivessem assim tanta procura, de certeza que existiria algures no planeta uma pessoa ou um grupo delas, que criaria essa indexação de forma gratuita. Isto tendo em conta que os videos não tinham copyright :p

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  22. Nuvens de fumo,

    Vamos assumir, para simplificar, que eu podia ganhar dinheiro como eu quisesse (penso que o meu contracto impõe restrições nessas coisas, mas vamos ignorar isso).

    Uma opção era eu escrever na página "querem indexação e tal? Comprometam-se a pagar, entre vocês, 500 euros e eu trato disso". Isto pode ser mais ou menos organizado, pode ser com donativos paypal ou um contrato escrito, tanto faz. A ideia é que eu dou um orçamento e avanço com o trabalho quando alguém se compromente, individualmente ou em grupo, a cobrir a despesa.

    Outra opção seria eu, ou outra pessoa qualquer, avançar com o trabalho sem combinar remuneração. Nesse caso fazia-o por sua conta e risco porque ninguém estaria comprometido a pagar nada.

    Uma terceira opção seria o estado decidir que a indexação das minhas aulas era um serviço de utilidade pública e pagar a alguém para o fazer. Tal como se repara as estradas, contrata polícias ou se paga médicos nas urgências.

    Mas não é viável criar leis para tentar fingir que a indexação dos meus ficheiros é um produto que se possa vender à peça.

    Em suma, é perfeitamente legítimo cobrar pelo tempo e trabalho. Ou no mercado, onde cobrar é parte de uma interacção voluntária entre várias partes, ou como investimento público em que o pagamento é imposto (mas proporcional aos rendimentos) e depois desse dinheiro se paga serviços de utilidade pública.

    A misturada de impôr por força da lei uma escassez artificial para forçar os preços a subir e obrigar a pagar ao criador é uma treta.

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  23. João,

    «Mas propões mesmo que um musico se feche num estudio meses a fio para produzir trabalho sem ser pago especificamente para isso? »

    Não, a menos que o queira fazer.

    Proponho que um músico desconhecido se dedique primeiro a demonstrar as suas capacidades como qualquer futuro profissional em formação. Eu passei meses a desenvolver software como parte do estágio no final da minha licenciatura e sem receber nada por isso.

    Uma vez estabelecida a sua reputação e competência, proponho que negoceie o seu trabalho com os compradores. Se querem um álbum novo, dirá o músico, terão de se comprometer a pagar pelo menos 20.000 euros. Isto exige que haja mil pessoas dispostas a dar 20€ cada pelo trabalho do músico, mas se ao fim dos seus anos de formação profissional não conseguir chegar a esse número o que proponho é que arranje outra profissão.

    E nota que trabalhar sem saber se vai receber é o que os músicos fazem agora, e ainda por cima têm de ceder partes dos seus direitos sobre a obra que criaram.

    «Como é que surgiam albuns como o St Peppers, ou o Dark side of the Moon, se nessa altura as horas de trabalho em estudio não fossem largamente compensadas?»

    Pelo compromisso dos fãs em pagar o trabalho dos artistas, como parte de um acordo voluntário celebrado entre os prestadores desse serviço e os seus clientes.

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  24. António Parente05/05/09, 14:26

    Ludwig

    Eu não deixo copiar cd's nem filmes. Já os tenho oferecido a amigos. Cumpro rigorosamente a lei, sou coerente com aquilo que defendo aqui.

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  25. Nuvens de fumo:
    por acaso a questão que colocas é daquelas que demonstra as virtualidades deste sistema de disponibilidade e colaboração.

    Indexar as aulas do Ludwig para que todos usufruam disso dá o mesmo trabalho que fazê-lo só para mim. Isto significa que há vantagem para o todo em que eu disponibilize o meu trabalho mas também há vantagem para mim pela expectativa que o mesmo sistema venha a funcionar em meu favor noutra situação.

    Imagina o que seria se nas Universidades cada pessoa tivesse de desgravar todas as aulas e as guardasse só para si. Que perda de tempo!

    Ou, em sentido inverso, se já nos tivéssemos desembaraçado do modelo de copyright, imagina o que seria se em vez de tirar fotocópias nas bibliotecas fizéssemos scans e ficasse cópia nos servidores das respectivas bibliotecas... os livros mais usados estariam rapidamente disponíveis em digital.

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  26. Ludwig,

    "Vai à minha página. Nas aulas tens links para as cadeiras que lecciono."Parabéns pela organização e pela disponibilização de todo o material. Até eu estou com vontade de fazer a cadeira... :-)

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  27. Ludwig:

    " Se querem um álbum novo, dirá o músico, terão de se comprometer a pagar pelo menos 20.000 euros"

    "Pelo compromisso dos fãs em pagar o trabalho dos artistas"

    Mas como? Os fã passam então a pagar previamente o usufruto de uma copia das sessoes de estudio? Ou comprometem-se a pagar para usufruir das copias se gostaram do trabalho?
    Aumentando o preço cobrado nos concertos para financiar as sessoes de estudio não penso que desse origem a albuns superproduzidos como os mencionados ou como o Pet Sounds para dar mais um exemplo.

    Não me leves a mal, mas não estou a ver como pode funcionar a tua proposta e gostava de perceber.

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  28. João,

    esta entrevista com a Maria Schneider. Dá também uma olhada no site da Artist Share. E nota que isto já funciona mesmo tendo de competir com discográficas que podem usar a lei para se financiar (por exemplo, obrigando a comprar 19 músicas de porcaria só para ter o CD com aquela que o cliente quer).

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  29. que tal os Einsturzenden Neubaten ? :)

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  30. Ludwig:

    Já li.
    Acho que não é solução para todos. É no entanto um meio valioso que deve coexistir com o já instaurado para oferecer mais alternativas aos musicos.

    Parece-me também que eles continuam a precisar de vender copias. (A Maria Schenider até as partituras vende - aos outros musicos!)

    Parece-me que o pré-pagamento é o resumo do sistema descrito. Com o recurso a mecenato.

    Acho que é mais justo pagar depois de ouvir.

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  31. João,

    «Acho que não é solução para todos.»

    Claro que não é solução para todos. É só para aqueles que mostraram ter competência para a música. Mas isso é o mesmo com qualquer profissão. Não contratas qualquer pessoa para te operar, projectar a casa ou conduzir um autocarro.

    «Acho que é mais justo pagar depois de ouvir.»

    Isso discordo. É muito mais justo que um profissional trabalhe depois de se comprometerem a pagar por isso do que primeiro fazer o trabalho de borla e depois mostrar o chapéu para lhe darem moedinhas...

    Esperimenta dizer ao dentista para te arranjar os dentes que logo lhe pagas se gostares do resultado.

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  32. Esperimenta dizer ao dentista para te arranjar os dentes que logo lhe pagas se gostares do resultado.Na prática, é isso mesmo que acontece :D. Pelo menos eu nunca paguei a consulta antes de a ter...

    Low Blow? Sim, mas não resisti...

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  33. Barba,

    Mas penso que acertaste numa coisa que se calhar baralhou o João. Este sistema não precisa funcionar com pagamento adiantado; basta que haja um compromisso de pagamento, tal como há com o dentistas, o quando pedes comida no restaurante, etc.

    Muitos sistemas funcionam com o dinheiro em escrow (não sei traduzir... fica guardado para ser entregue ao artista quando o contrato é cumprido ou devolvido aos clientes se o artista não o cumpre).

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  34. em principio é porque o orçamento só é feito depois do trabalho realizado (+ ou menos destartarização, +- raioX, +-brocagem)...

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  35. Ludwig:

    Não compares com produtos ou serviços que tu preves com algum rigor como serão ou como devem ser.

    Se não houver má practica sabes o que o dentista tem de fazer e vai fazer. Se houver má practica o assunto é outro. Não é uma questão de gosto.

    Falas de qualidade, mas não é só isso que conta. Mas mesmo assim, como avalias a qualidade de uma musica antes de a ouvir?

    Afinal, de quantos artistas patrocinavas os discos todos?

    Não é mais facil pagar so por aquilo de que se gosta depois de avaliar com o produto completo e ouvindo varias vezes?

    Não tenho confusão com o pré pagamento, mas se é para pagar depois de conhecer, pague então que gostou.

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  36. Queria dizer:

    pague então quem gostou.

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  37. João,

    esse problema da subjectividade há em muitos casos. No restaurante podes não gostar da comida, ou quando vais fazer uma tatuagem, um corte diferente no cabeleireiro, uma cirurgia plástica, ou se contratas um web designer ou uma campanha de publicidade, um fotógrafo para o casamento, catering, etc.

    Mas isso funciona sempre assim. Fazem o orçamento ou comprometes-te a pagar o que encomedas e só em casos excepcionais é que se declara um incumprimento do contrato. Em geral, como a reputação do vendedor também está em jogo, a coisa funciona.

    O método que tu defendes é injusto para quem vende o seu serviço. Primeiro tem o trabalho todo, e depois está à mercê dos caprichos de quem não lhe prometeu nada. Não faz sentido.

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  38. Ludwig:

    So ficam a merce de caprichos se as pessoas não pagarem pelo que estão a consumir.

    Trabalhar primeiro e receber depois não é um problema em essencia.


    Não estou convencido que a unica diferença entre o teu modelo e o actual não seja o momento em que se faz a compra. Seja quando for que se pague.

    Acho que só funcionaria de modo a proporcionar o aparecimento de muitos albuns e musicas de elevada produção num mundo mais "bonito" que o nosso.

    Acho mais simples pagar pelo que se gosta directamente. Mas idealmente ambos os sistemas devem co-existir. Tem de haver uma maneira de o musico receber tambem de trabalho ja feito por quem tambem quer usufruir da sua musica.
    O que só é um problema se se quiser erradicar o conceito de propriedade intelectual.

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  39. João,

    O problema não é a altura em que se recebe. No supermercado pagas quando queres sair com as coisas, no cinema pagas antes de entrar e no restaurante pagas depois de comer. Mas tudo isto funciona porque há um compromisso prévio de ambas as partes. Quando pedes o bitoque entras voluntariamente num contracto com o restaurante e comprometes-te a cumprir a tua parte. Só depois desse compromisso é que te prestam o serviço.

    Isto é muito diferente de tocar realejo à entrada do Metro com o chapéu no chão para quem gostar pôr uma moedinha. É a diferença entre um profissional e um mendigo.

    «Acho mais simples pagar pelo que se gosta directamente. Mas idealmente ambos os sistemas devem co-existir.»

    E coexistem. Não defendo nenhuma lei que te proiba de tocar com o chapéu à frente ou de pôr músicas na net e pedir donativos. Acho isso perfeitamente legítimo.

    Oponho-me é a uma lei que obrigue alguém a dar donativos destes e discordo da ideia que esta é a melhor forma de um músico exercer a sua profissão porque não tem profissionalismo nenhum....

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