quinta-feira, abril 02, 2009

Financiar a criatividade, parte 2: financiamento público.

O Desidério sugeriu que o financiamento público da criatividade é errado porque é «tirar dinheiro às pessoas contra a sua vontade, através de impostos, para financiar o que elas na verdade se recusam a financiar voluntariamente»(1). Rejeito este argumento geral contra os impostos porque há situações em que são uma forma razoável de colmatar os defeitos do mercado livre. Para financiar infra-estruturas, bens públicos, cuidados médicos, educação e assim por diante. E a criatividade.

Antes de defender esta posição quero apontar que muito do financiamento à criatividade que julgamos privado é, na verdade, financiamento público. Por exemplo, as patentes sobre a produção de medicamentos distorcem o mercado e exigem que o estado comparticipe a compra. O copyright digital restringe a todos, contra a sua vontade, a liberdade de trocar informação e exige que o erário sustente os mecanismos que obrigam milhões de pessoas a respeitar o monopólio. Mais ou menos disfarçado, salvo raras excepções a criatividade já é um investimento público. Mas o que quero justificar é que deve ser um investimento público e não apenas que já é.

A criatividade transforma material público. O bolo que faço é meu porque o trabalho e os ingredientes são meus. Mas se faço uma escultura na areia ou limpo um monumento público não fico dono do produto final porque a matéria prima não era minha. O mesmo se passa com este texto. O trabalho de o escrever é meu mas as palavras não são. Tal como quem limpa monumentos, quem escreve pode legitimamente vender o seu trabalho, mas não o produto desse trabalho. E o principal produto da criatividade são ideias, o que não é propriedade. O pintor pinta com as suas tintas na sua tela e, por isso, o quadro é seu. O objecto material, de tela e tinta. Mas a imagem, em abstracto, não é de ninguém. Sendo a criatividade a transformação de algo público naquilo que não pode ter dono não é razoável que seja o mercado a financiá-la.

Além disso, a criatividade vale, principalmente, como infra-estrutura e a longo prazo. Houve alguns benefícios imediatos da invenção da roda ou de formas de produzir electricidade mas nada que se comparasse ao valor acumulado de tudo o que estas inovações permitiram criar. O financiamento privado não serve para aquilo que traz valor aos outros ou que tenha retornos apenas a longo prazo. Como demostra o uso de patentes e direitos de cópia para impedir a inovação por parte de terceiros e maximizar o lucro imediato do detentor.

Finalmente, o melhor incentivo à criatividade é o acesso às criações. Aos artigos científicos, às músicas, à literatura e aos filmes. Isto é fundamental para a inovação. O Desidério quer um sistema menos aristocrático onde todos possam criar. Concordo com o objectivo. Não podemos depender só do talento dos ricos. Mas propõe que todos paguem pelo acesso àquilo de que usufruem, com a consequência que só os ricos poderão ter o acesso à cultura que é preciso para poder ser inovador.

Dificilmente se encontra um melhor candidato ao financiamento público. A matéria prima é de todos, o produto não é propriedade, a sua utilidade é pública e o seu maior valor vem a longo prazo. E para atrair o investimento privado é preciso restringir o acesso, por imposição legal, para que o mercado tenha algo que possa vender. O que, além de exigir financiamento público, acaba por inibir a criatividade que se quer incentivar.

Por isso rejeito o financiamento pela restrição ao acesso. Em vez disso deve-se pagar o trabalho de quem cria com um financiamento público transparente, onde se saiba quanto é gasto e em quê, em vez deste sistema opaco que financia a distribuição com privilégios legais e custos escondidos. Invista-se em escolas, bolsas de estudo e museus, por exemplo, e em tornar o mundo digital numa biblioteca pública.

O que não exclui o financiamento privado onde este funcione sem monopólios ou outros privilégios legais. Onde o mercado possa ser mesmo livre. Os carpinteiros, actores, músicos e escritores podem vender o seu trabalho directamente a quem o queira. Os filmes terão sucesso comercial enquanto alguém comprar bilhetes de cinema. E admito que haja casos excepcionais onde o financiamento público complemente o privado com algumas concessões legais como patentes. Mas estas excepções devem ser avaliadas caso a caso para garantir que são bons negócios para a sociedade. Não faz sentido o financiamento público pela concessão automática de monopólios a qualquer pessoa que junte de uma forma nova pedaços do que é de todos.

1- Desidério Murcho, 2-3-09, Comprar e vender ideias.

25 comentários:

  1. Não concordo contigo em relação às patentes. Embora ache que o modelo actual de patentes está completamente obsoleto e cria, como dizes e bem, grandes distorções de mercado que arrastam o erário público, em princípio são um bom modelo de incentivação para inovar. Estimula a ambição de quem vai ganhar dinheiro por fazer algo totalmente novo, e acho que é a razão principal porque foi nos estados unidos que se criou a grande aventura do computador e não noutro lado.

    Agora, que as patentes tenham mais de x anos de validade é que me parece insano. Eu seria mais a favor de, por exemplo, obrigar a um sistema de patentes mundial em que o detentor da patente só pode beneficiar dela no máximo de cinco anos, no caso tecnológico e medicinal, e porventura no artístico.

    Deste modo, estaríamos a ter o melhor dos dois mundos. Se por um lado, a ambição capitalista obrigaria à constante inovação, por outro impedir-se-ia a eternização das vacas de leite que são a aspirina, o windows, o Pinóquio (que acabou de fazer 70! anos e, pasme-se, para celebrar o acto, vendem o dvd por 20 euros!)

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  2. Ludwig,

    Acho que continuas a confundir as coisas. Ideias, como opiniões, são públicas, ideias, como arte, não.
    Esse conceito comunista de arte para o povo, nunca funcionou, e só serve para criar aberrações. A arte enquanto objecto de gosto, não pode ser financiada por formas que não a demonstração do gosto, ou seja, pagando pelo usufruto.
    Um bom exemplo é a música portuguesa. Recuso-me a sustentar aberrações como Tony Carreiras, e afins. Mas, por outro lado, tem mais motivos para ser pago, do que a Maria João Pires, pois vende mais do que ela.
    E se por azar, um qualquer iluminado do ministério da cultura achasse o máximo aos Repórter Estrábico, e lhes andasse a pagar desde meados da década de 90? Onde é que se estabeleceria o limite até onde o erário público paga? Se não for pela expressão do mercado, onde é que achas que se estabelecia o limite e se dizia: Meus amigos! Acabou! Vocês não recebem mais um centavo! Não estás de certeza a pensar mandar a votos os artistas.

    O estado não pode sustentar objectos de gosto pessoal. Por muito imperfeito que seja, o copyright é a única forma de garantir o sustento e a sustentabilidade de quem cria com talento, e se a cópia reduz o lucro, melhor funciona o filtro, pois só os excepcionais conseguem sobreviver com o pouco que sobra. Deve-se impedir o uso público de cópias ilegais, deve-se perseguir quem lucra com cópias ilegais, mas, não quem copia para uso pessoal. Aí não concordo com a perseguição que tem sido feita de forma aberrante.
    Se olhares para o passado vais vêr que os bons artistas, e aqueles cujas obras marcaram os respectivos períodos, eram sustentados por mecenas, que apreciavam e encomendavam o trabalho, para dele usufruírem. Nunca foi o estado a sustentar os artistas de forma directa. A arte é o gosto de alguém, e se quer usar, paga, um burocrata dizer que gosta, e que sou eu que tenho de pagar, isso é que não! Isso da cultura pública é um tique do comunismo, que como tu gostas de salientar em relação à religião, se está provado que não acerta no resto (economia, politica, etc.) não há motivos para aceitar que sirva para a cultura. E podes me chamar elitista, e o que mais quiseres, mas, a cultura não é para as massas. A cultura é para os nichos! Uns gostam de pintura, eles que a sustentem, outros gostam de Tony Carreira, eles que o sustentem, outros gostam de musica erudita, eles que a sustentem.

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  3. Barba,

    «Não concordo contigo em relação às patentes.»

    Eu acho que concordas :)

    Já defendi várias vezes o sistema e, como tu, penso que é uma forma razoável de incentivar a inovação e, principalmente, de pagar pela sua divulgação. Esse é o papel principal da patente -- convencer alguém que teve uma boa ideia a divulgar essa ideia.

    E nem me queixo do número de anos e essas coisas. O meu problema principal com as patentes é ser visto como um direito do inventor, e por isso concedidos os mesmos privilégios a qualquer patente, em vez de ser visto correctamente como um negócio entre o estado e a entidade detentora.

    Por isso o que eu acho que deveriamos fazer era o estado negociar com os inventores em função do que se espera receber e das necessidades de financiamento.

    «acho que é a razão principal porque foi nos estados unidos que se criou a grande aventura do computador e não noutro lado.»

    Eu não. Porque todos os países têm patentes, mas os EUA destacaram-se nos anos 50, 60 e 70 por um enorme investimento público em ciência e tecnologia. Além disso, a motivação fundamental para desenvolver os computadores (e a teoria da computação) foi a segunda guerra mundial. Penso que o papel das patentes nisso foi muito pequeno -- principalmente quando consideras que o primeiro computador pessoal foi criado numa garagem juntando peças compradas em lojas e o Windows e o Office surgiram antes de haver patentes de software...

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  4. António,

    «Ideias, como opiniões, são públicas, ideias, como arte, não.»

    Isso é fácil dizer. Mas a justificação sobressai pela sua ausência :)

    Nota que eu não me refiro apenas a opiniões. Refiro-me a modelos matemáticos, a descrições de processos físicos, a cenários hipotéticos, a jogadas de xadrez, a sequências de números, etc. Isso não é público?

    «Esse conceito comunista de arte para o povo, nunca funcionou, e só serve para criar aberrações.»

    O conceito que uma música não é propriedade não é um conceito particularmente comunista. Primeiro, porque é muitos milhares de anos mais antigo que o comunismo. Segundo, porque até nos países mais capitalistas podes cantar no duche (excepto se cantares contra el ditador... :)

    E a noção que a música tem dono nem sequer é capitalista. É simplesmente absurda.

    «O estado não pode sustentar objectos de gosto pessoal.»

    Parques, reservas naturais, monumentos, jardins infantis, museus, espetáculos, etc... Nada disso pode ter financiamento público? Onde é que tu vives?

    «Se olhares para o passado vais vêr que os bons artistas, e aqueles cujas obras marcaram os respectivos períodos, eram sustentados por mecenas, que apreciavam e encomendavam o trabalho, para dele usufruírem. Nunca foi o estado a sustentar os artistas de forma directa.»

    Primeiro, essa afirmação é enganadora porque quando um músico ou escritor era pago pelo rei ou alguém da família real estava a ser pago pelo estado da altura.

    E, segundo, nada impede que continuem a fazê-lo. A mesma tecnologia que permite cópias sem limite permite que um artista seja financiado por tantas pessoas quantas queiram pagar o seu trabalho.

    E esse sistema já funciona. A minha impressão é que as pessoas que não conseguem vingar com esse sistema preferem culpar as cópias do que admitir que o seu talento não seja suficiente...

    Concordo que é um problema ter funcionários públicos a decidir onde investir. Mas isso resolve-se diluindo o problema. Se dás bolsas por mérito nas escolas de música, prémios a artistas em concursos com participação do público, financiar projectos avaliados por paineis independentes e assim por diante esses erros tornam-se menos relevantes.

    E o sistema actual sofre muito desse problema. Quando um produtor da TVI escolhe quatro raparigas para formar as "Just girls" e investe uma data de massa em publicidade para convencer a miudagem a comprar temos exactamente o mesmo problema. Mas, nesse caso, não temos maneira de o resolver.

    Mas o meu ponto principal é que os sistemas de restrição de acesso são um enorme financiamento público que exige um grande sacrifício por parte de todos e que não vale a pena. Esse dinheiro pode ser aplicado melhor sem a perda de liberdades e com resultados melhores.

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  5. DARWIN E A PROPRIEDADE INTELECTUAL

    A ideia de selecção natural, longe de ter sido uma descoberta científica de Charles Darwin, já tinha sido proposta por outros autores.

    Assim sucedeu, entre outros, com o próprio Erasmus Darwin, avô de Charles Darwin, o geólogo James Hutton, o médico William Wells, o naturalista Patrick Mathew e o químico e zoólogo criacionista inglês Edwin Blyth.

    Este último foi, talvez, para além do avô, quem em maior medida influenciou Charles Darwin em matéria de selecção natural.

    Pouco depois de ter publicado a sua obra A Origem das Espécies, Charles Darwin foi acusado de não reconhecer a influência do pensamento destes autores.

    Na 6ª e última edição da sua obra, depois de muitas críticas, Charles Darwin lá acabou por reconhecer que antes dele 34 autores tinham escrito sobre a selecção natural.

    Actualmente alguns sustentam que Charles Darwin plagiou Edwin Blyth e apropriou-se indevidamente do trabalho de Alfred Russel Wallace.

    Convém lembrar que os criacionistas não negam nem as mutações, nem a selecção natural, nem as variações adaptativas nem a especiação.

    Apenas afirmam que nenhum desses mecanismos consegue criar e codificar informação genética em qualidade, quantidade e diversidade que consiga transformar partículas em pessoas.

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  6. Mário Miguel03/04/09, 11:02

    Não acredito em mim...

    Consegui ler por completo um comentário do Jánatas Machado (Perspectiva),e de uma vez só. Ainda não estou em mim.

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  7. mama eu quero03/04/09, 11:15

    Jónatas,

    puto, isso já é má educação!

    Não poluas isto faz favor! Deixa-me lá tentar perceber porque não concordo com o LK sem andar aqui a rodar a rodinha do rato constantemente.

    Agradecido.

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  8. Concordo que é um problema ter funcionários públicos a decidir onde investir. Mas isso resolve-se diluindo o problema. Se dás bolsas por mérito nas escolas de música, prémios a artistas em concursos com participação do público, financiar projectos avaliados por paineis independentes e assim por diante esses erros tornam-se menos relevantes.

    É aqui que discordamos totalmente. Eu não quero que nenhum comité público ou privado decida qual a melhor música por "critérios" ditos "objectivos". O carácter privado ao menos tenta diluir o problema na diversidade da quantidade de privados diferentes e pouco importantes. É claro que isto tem menos fundamento numa indústria que tem canibalizado todas as pequenas editoras de música, por exemplo, e onde os principais detentores de capital sejam hedge funds apenas interessados no lucro do final de trimestre.

    A solução não passa por uma ainda maior monopolização da escolha, através do estado, mas pela maior diversificação possível.

    Ou seja, investir na destruição das leis que permitem a cartelização da indústria musical, e incentivar a maior diversidade privada no investimento artístico.

    Isto é uma visão profundamente ideológica. E quando te acusam de "marxismo", não é sem fundamento embora concorde que é algo vago. Isto é porque na base do teu juízo tens que a determinação estatal tem mais "juízo" e "valor" do que as determinações privadas.

    Não tenho tanta confiança no sector público. Há coisas que o sector público faz melhor do que o privado, as coisas que nenhum privado faz por si, mas que todos concordamos que têm de ser feitas, pontes, estradas, um serviço nacional de saúde, educação distribuída, etc.

    Mas aquilo que uma pessoa por si só faz é sempre melhor do que aquilo que é determinado por um estado por quaisquer critérios "objectivos" que imagines.

    Mais uma vez, a solução é mais capitalismo, mas do sério, onde a distribuição se dilui até quase desaparecer, os métodos disponíveis para a criação de arte embaratecem, e a arte se torna bem mais barata. Este capitalismo "saudável" só é possível num estado de direito que tenha em consideração uma justiça que mais beneficie a sociedade como um todo do que uns manfios bilionários que tratam estas coisas como galinhas de ovos de ouro.

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  9. Penso que o papel das patentes nisso foi muito pequeno -- principalmente quando consideras que o primeiro computador pessoal foi criado numa garagem juntando peças compradas em lojas e o Windows e o Office surgiram antes de haver patentes de software...


    Estás completamente errado nisto, Ludwig. Compreendes que se não houvesse investimento privado, a Apple nunca sairía da sua garagem. E compreendes também que se não fossem as alíneas enevoadas num contracto entre a Apple e a Microsoft, a MS nunca poderia ter copiado o ambiente da Apple, como o fez. E se não fossem essas mesmas patentes, a Apple nunca poderia ter destruído a competição da MS nesse domínio (ironicamente). Podes dizer que as patentes não estavam tão delimitadas como estão hoje, mas que já existiam, isso existiam.

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  10. mama eu quero03/04/09, 13:39

    Sim essas coisas nos States são diferentes.

    Há sempre um monte de investidores privados à caça de gajos com ideias cheias de potencial comercial.

    Por exemplo, a google nunca seria o que é se fosse um projecto de garagem tuga.

    Um financiador privado e anónimo até hoje, pegou em 100.000 dólares e financiou a saída da garagem para o mundo como única condição dos dois fundadores ficarem 20 anos à frente da empresa.

    Estas coisas, na minha opinião, não podem ter estado à mistura. Só dá asneira.

    Pelo que sei ninguém por lá precisa de subsídios para fazer teatro, cinema, música ou pintura, etc.

    O olho do egoísmo (a financiar) é sempre melhor que o rabo sentado do estado.

    Mas não consigo justificar decentemente.

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  11. mama eu quero03/04/09, 13:55

    Afinal faz uns anos que já não é anónimo.
    Tou mesmo velho.

    Andy Bechtolsheim, fundador da Sun.

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  12. Barba,

    «Eu não quero que nenhum comité público ou privado decida qual a melhor música por "critérios" ditos "objectivos".»

    Serão sempre subjectivos. E disto não te safas. Se é por financiares a distribuição, como temos agora, vai ser decidida por comités de "gestores de direitos". Se cada artista vender directamente ao público vai ser decidido por comités de fãs. Etc.

    «A solução não passa por uma ainda maior monopolização da escolha, através do estado, mas pela maior diversificação possível.»

    Claro. Por isso é que acho que haver escolas pública de arte é um melhor investimento do que legislação para encher os bolsos às discográficas.

    «Isto é uma visão profundamente ideológica. E quando te acusam de "marxismo", não é sem fundamento embora concorde que é algo vago. Isto é porque na base do teu juízo tens que a determinação estatal tem mais "juízo" e "valor" do que as determinações privadas.»

    Não é nada disso. A minha defesa do investimento público neste caso, como expliquei no post, é porque não estamos a lidar com propriedade privada. Estamos a lidar com a transformação de um bem público, que é a cultura, as ideias, a arte, a ciência, a ética, etc.

    Não defendo que seja o estado a cuidar dos monumentos por achar que o estado os aprecia melhor que os privados. Defendo-o porque não concordo em dar a privados os monumentos que são de todos. O mesmo para a nossa cultura.

    O que se vende, e isso sim é propriedade privada, é o trabalho. E aí estou de acordo que haja investimento privado e mercado livre. Mas mesmo livre, sem a fantochada dos monopólios que temos.

    «Mais uma vez, a solução é mais capitalismo, mas do sério, onde a distribuição se dilui até quase desaparecer, os métodos disponíveis para a criação de arte embaratecem, e a arte se torna bem mais barata. Este capitalismo "saudável" só é possível num estado de direito que tenha em consideração uma justiça que mais beneficie a sociedade como um todo do que uns manfios bilionários que tratam estas coisas como galinhas de ovos de ouro.»

    Exacto. Passo 1, restringir o copyright à regulação estritamente necessária de alguns negócios. Passo 2, conceder patentes apenas àquilo que vale a pena para a sociedade pagar a custo de monopólio. E o capitalismo que faça o que faz melhor.

    Aquilo que o capitalismo não conseguir financiar, desde a ciência fundamental à filosofia e arte com menos sucesso comercial financia-se pelo estado a bem de todos.

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  13. Barba,

    «Estás completamente errado nisto, Ludwig. Compreendes que se não houvesse investimento privado, a Apple nunca sairía da sua garagem.»

    Estás a confundir o investimento privado com as patentes. As patentes são uma forma de investimento público... Concedes um monopólio legal e, por força da lei, obrigas o pessoal a pagar mais do que pagaria num mercado livre, com concorrência.

    E, pelo que sei de informática, parece-me que mais concorrência dá mais inovação e produtos melhores. Monopólios de duas décadas ou mais nesta área são um travaão à inovação.

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  14. Oscar Pereira03/04/09, 17:56

    E, pelo que sei de informática, parece-me que mais concorrência dá mais inovação e produtos melhores. Monopólios de duas décadas ou mais nesta área são um travaão à inovação.

    O Bill Gates concorda:

    If people had understood how patents would be granted when most of today's ideas were invented, and had taken out patents, the industry would be at a complete standstill today.

    * Challenges and Strategy Memo (16 May 1991)

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  15. Se eu faço um pequeno programa informático , se não tenho forma de o comercializar, a única maneira justa de não ser roubado por uma grande empresa quando fizer uma apresentação ou o enviar é estar protegido por direitos, sejam eles quais forem.

    o não registo, a livre circulação de material funciona muito melhor para as grandes empresas. O windows ficou um standard por ser copiado por milhões, o office a mesma coisa. Depois de termos milhões de pessoas a usar um produtos começar a cobrar por ele é uma questão de tempo, o difícil é chegar ao standard : )

    é o pequeno criador que vê o seu trabalho a ser partilhado num torrent é que é o grande prejudicado.

    por isso não estou tão certo que se se aplicasse um sistema de diminuição da protecção não acabássemos em imenso monopólios.

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  16. Monopólios de duas décadas ou mais nesta área são um travaão à inovação.

    Nesse ponto estamos de acordo.

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  17. Nuvem de Fumo,

    «Se eu faço um pequeno programa informático , se não tenho forma de o comercializar, a única maneira justa de não ser roubado por uma grande empresa quando fizer uma apresentação ou o enviar é estar protegido por direitos, sejam eles quais forem.»

    Se tu fazes um programa informático a única forma de to roubarem é proibindo-te de o usarem. Não há outra forma de te privarem do seu uso (e isso é que é roubar, uma coisa muito diferente de copiar).

    Compreendo que se fazes um programa de informática pode não haver ninguém que o queira comprar. O mesmo se inventares uma receita, uma nova jogada de xadrez ou uma função matemática. Na verdade, em rigor um programa informàtico é uma função matemática. Algo que transforma números de input em números de output.

    Agora se tu queres trabalhar garantindo que vais ser remunerado tens todo o direito de o fazer. O truque aí, como em qualquer profissão, é fazeres o trabalho só depois de te prometerem pagar por ele. Se fazes porque te dá na gana não chores quando não to pagam...

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  18. Ludwig,

    A questão de um rei decidir, não é sequer comparável à tua visão comunista da cultura. Em primeiro lugar tens de voltar muito atrás, à origem dos impostos, para perceber que não eram cobrados para o bem público, mas, para sustentar um bando de lorpas que diziam ter por decisão divina, o direito de não trabalhar e serem sustentados pela remanescente comunidade. O "rei", é apenas um tipo com um "salário" brutal, pago pelos impostos, por isso esquece lá a ideia de dizeres que é como o estado a pagar pela cultura. Era os gosto pessoal do rei, que era sustentado desse "salário", tal como a peruca, o ouro, e todas as outras ostentações reais.

    A tua insistência na cultura como bem público, é quase patética. A cultura ser de nichos, como eu afirmo, é algo que salta à vista. Em 10 milhões de "tugas" não consegues unanimidade na escolha de nenhuma forma cultural. Uns são eruditos, outros são rascas, outros são intelectuais, outros são básicos, uns gostam de Maria João Pires a tocar musica de origem germânica, outros do puto Saul, outros gostam de pintura, outros lêem os cartoons da bola, etc. E tudo isto é cultura. Nenhuma é universal, e como tal, não pode haver ninguém a decidir o que apoiar e o que deixar para trás, sob o risco de um "iluminado" decidir subsidiar pianistas que toquem em estilo clássico ao tempero do bacalhau.
    Esta cultura que não contribui em nada para o progresso universal da humanidade, só pode viver do gosto das pessoas, que os sustentam pelas formas possíveis, incluindo concertos, discos, exposições, etc.
    Coisas que não são de "gosto", como a ciência, já se podem dar ao luxo de ser financiáveis pelo estado, pois visam o progresso universal da humanidade. E isso é demonstrável. A tua insistência em juntar tudo no mesmo saco, e chamar-lhe genericamente "ideias", parece-me um argumento desonesto, equiparável a juntar a ciência e a religião no mesmo saco e chamar-lhes "explicações da realidade". Não é por quereres chamar "ideias" à cultura e à ciência, que as coloca em patamares equiparáveis de tratamento legal, e de apoio público. É como comparar bens essenciais com luxos. Uns podem e devem ser apoiados e regulados publicamente, outros são mera demonstração de gostos pessoais. Por exemplo, acho menos razoável a "perseguição" politica dos americanos ao cartel dos diamantes Sul Africano, do que aos vendedores de feira que vivem das cópias do trabalho alheio. Ninguém precisa de diamantes naturais para nada! Se pagar 1 milhão de euros por 1 grama de "terra brilhante", é porque se quer exibir. Não é o diamante que vale, mas sim a demonstração de capacidade para o comprar. Tem o mesmo valor que um quadro todo verde, pintado a rolo. O que interessa ao dono é poder dizer que o tem, e que vale o que ele pagou.
    Com a cópia é a mesma coisa. Não é uma necessidade, mas, a mera vontade de dizer que tem.

    Acho que perseguir quem copia para uso pessoal é uma aberração, tal como tu também o achas. O que não acho aberração é combater a cópia com fins comerciais. Não me chateia que o artista não viva da arte (pois os amadores também sabem fazer arte e cultura) por ver o seu trabalho copiado gratuitamente, mas, ver um conjunto de parasitas sociais que vivem da arte alheia sem contribuir para o sustento do criador (que é a peça fundamental do processo) isso, é que não posso aceitar. E só por argumento infantil alguém poderá incluir nestes últimos os editores. Por muito que ganhem com os artistas, a liberdade negocial não obriga nenhum artista a vender o que não quer, e se não negoceiam melhores contratos é porque não sabem.

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  19. Sem ler mais do que 2 coments!...

    “Na verdade, em rigor um programa informático é uma função matemática.
    Algo que transforma números de input em números de output.”


    Ou talvez um algoritmo genial (e personalizado) para implementar uma função!!!
    É esse golpe de génio pessoal, que pode render milhões a um qualquer capitalista, que deve ser pago ao génio criador.

    ”Se fazes porque te dá na gana não chores quando não to pagam...”

    De assim fosse sempre, os inventores, os pais da ciência moderna, nunca teriam criado nada. Para quê? Que lucravam com isso?

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  20. Zeca,

    «É esse golpe de génio pessoal, que pode render milhões a um qualquer capitalista, que deve ser pago ao génio criador.»

    Génio como o Bill Gates ou génio como Einstein?

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  21. Zeca,
    "Sem ler mais do que 2 coments!..."

    Nós estamos cientes das tuas limitações cognitivas, podes ficar descansado.

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  22. mama eu quero04/04/09, 10:41

    A verdade é que o Zeca conseguiu escrever um comentário sem insultar ninguém.

    :)

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  23. "Génio como o Bill Gates ou génio como Einstein?"

    Nedidas as barreira e observadas as distâncias, não são tão diferentes como isso.

    Sendo que o primeiro teve a dita de ser muito mais prático e hábil.

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  24. Tão hábil como qualquer vigarista da melhor espécie. Não tenho qualquer respeito pela moralidade desse senhor Gates. Depois de destruir o desktop, quase conseguiu destruir a internet e fazer de nós seus vassalos incondicionais. O que nos vale é que outras empresas não deixaram que isso acontecesse. (Aliando à extrema incompetência da empresa em causa).

    A fundação Gates melhorou a imagem que tenho dele. Pode ser que faça melhores coisas nesta parte da vida. É curioso e irónico que se tenha inspirado a fazer isto com outra excelência da moral, o senhor Rockefeller.

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