sábado, outubro 25, 2008

Treta da Semana: Para sua conveniência.

No Público de hoje saiu a notícia de um carro de compras “inteligente”, com um computador e um monitor, que indica a localização de cada produto seleccionado e as promoções do dia. É um sistema personalizado, com login e password, que guarda a lista de compras e até informação acerca de alergias para avisar quem queira comprar produtos aos quais é alérgico. «É uma forma de ajudar o consumidor a poupar e a fazer as compras num mais curto período de tempo.»(1) Como sabemos, o objectivo das lojas e supermercados é ajudar o consumidor a poupar.

Este é um descendente mais sofisticado dos cartões de cliente, tão comuns agora, onde os supermercados registam tudo o que compramos. Só que o novo sistema não só regista o que compramos como também o que tencionávamos comprar, por onde passámos no supermercado e quanto tempo ficámos em cada sítio. E tira partido dos chips RFID*, que começam a substituir os códigos de barras. Os chips RFID podem ser lidos à distância, via rádio, e cada chip tem um código único. Ao contrário dos códigos de barras, que são atribuídos a um tipo e modelo de produto, o código de RFID identifica cada objecto. Cada par de sapatos ou calças, cada mochila ou casaco terá um código que poderá ser lido em cada loja onde entramos.

A capacidade de armazenar, recolher e processar informação cresce tão depressa que apanha a sociedade de surpresa; as leis contrárias aos interesses económicos e as atitudes das pessoas têm ambas demasiada inércia para responder a mudanças rápidas. Por isso a lei promove a recolha e retenção de dados pessoais e os consumidores não se preocupam com a informação que dão. E não percebem que os dados recolhidos ficam lá para sempre. Não lhes preocupa que a seguradora a quem vão pedir um seguro de saúde daqui a dez anos possa saber se compraram mais presunto e chocolates do que iogurtes e fruta. Ou que na entrevista para um emprego a empresa saiba se compraram fraldas e leite para bebé nos últimos meses. Ou que se guarde registos dos telefonemas que fizeram, das portagens por onde passaram e assim por diante.

Interesses económicos levam a lei a proteger a informação em função do valor comercial dos monopólios, e o estado a proibir, fiscalizar e punir com prisão a troca de ficheiros de músicas que são vendidas ao público a menos de um euro cada uma. Mas o que a lei devia proteger primeiro é a privacidade. Muito antes de regular o comércio de informação que foi voluntariamente tornada pública devia restringir a recolha e retenção não autorizada de dados privados. Se publico isto aqui abdico voluntariamente do direito exclusivo a estas palavras. Mas não é por ir ao supermercado ou fazer um telefonema que dou a outros o direito de bisbilhotar as minhas compras ou chamadas telefónicas.

Além de dificultar a distribuição e o acesso à cultura, a noção corrente de informação como propriedade faz perder de vista o que nos interessa na informação. Não são os bytes em que se codifica mas aquilo acerca do que ela é. E se há informação que merece um monopólio é a informação acerca da nossa vida pessoal, não a informação acerca de obras disponíveis ao público. Não é da nossa conveniência que a lei proteja o negócio das empresas em vez da privacidade das pessoas.

* Radio-Frequency Identification, mais detalhes na Wikipedia
1- Público, 25-10-08, Empresa portuguesa desenvolve carrinho de compras que ajuda consumidor a poupar

13 comentários:

  1. No debate em Oeiras, ficamos a saber, pelo Ludwig, que o DNA não tem informação codificada!!

    A grande descoberta de Francis Crick e James Watson foi apenas a de que podemos usar a nossa linguagem para descrever o DNA.

    Com a nossa linguagem, e ao descrevermos o DNA, nós fazemos o código. No fundo, o código do DNA é o nosso próprio código.

    É claro que isso aplica-se ao DNA e a tudo o mais. Tudo tem um código, porque tudo pode ser descrito com base na nossa linguagem.

    Até uma pedra, uma cadeira, um sofá, uma pastilha elástica têm um código. Para o Ludwig, nós fazemos o código do DNA ao descrevermos o DNA. No fundo, o código é a nossa linguagem acerca do DNA.

    Terá sido essa a descoberta de Francis Crick e James Watson? Será que eles descobriram apenas que o DNA poderia ser descrito através de linguagem? Será que eles se limitaram descobrir uma coisa tão óbvia? Claro que não.

    Eles descobriram que as sequências de nucleótidos codificam informação em quantidade e qualidade incompreensível pela mente humana, em que se contém todas as reacções químicas necessária à produção, manutenção, reprodução e adaptação de todos os seres vivos.

    Crick e Watson descobriram no DNA informação extremamente complexa para o fabrico de seres vivos extremamente complexos, passível de leitura, descodificação e execução precisas.


    São essas instruções que estão codificadas nas sequências de nucléótidos e aminoácidos, que depois nós tentamos descrever usando as letras do nosso código linguístico, embora sem conseguir descodificar toda a informação contida no DNA.

    Tanto basta para dizer que o Ludwig apenas disse mais um grande disparate.

    De resto, a ingenuidade intelectual do Ludwig é surpreendente. Ela é equiparável à de uma criança de 3 anos.

    Ele chega a pensar que existem objecções que ele pode formular ao criacionismo nas quais os criacionistas nunca tinham pensado.

    O caso da sobrevivência dos peixes de água doce no dilúvio é um exemplo.

    É por isso que iremos recordar frequentemente a resposta criacionista a estas e a outras questões.

    O problema apresenta várias linhas de solução que apresentaremos de forma esquemática. Um tratamento mais profundo pode obter-se na imensa literatura sobre o assunto que tem sido produzida pelos criacionistas e que se encontra à distância de um click.

    1) Muitas espécies de peixes hoje conseguem sobreviver a grandes alterações de salinidade.

    2) Existem espécies migratórias de peixes que viajam bem entre água salgada e água doce, podendo facilmente adaptar-se a ambas.

    3) Existe evidência de especialização rápida e selecção natural pós-diluviana, mesmo dentro da mesma espécie, tendo-se alguns peixes adaptado à água doce e outros à água salgada. Recorde-se que a especiação rápida e a selecção natural são importantes ingredientes do modelo criacionista bíblico.

    4) Muitas famílias de peixes contêm espécies de água doce e espécies de água salgada, sugerindo que a capacidade de adaptação e ambas era uma parte integrante do “pool” genético das mesmas no tempo do dilúvio. Com o tempo, a quantidade e qualidade de informação genética diminuiu por selecção natural.

    5) Têm sido encontradas espécies híbridas de peixes de água doce e água salgada, sugerindo que a diferença entre eles não é tão grande como geralmente se pensa. As diferenças são provavelmente mais quantitativas do que qualitativas.

    6) Muitos aquários públicos tiram partido da capacidade de adaptação dos peixes para exibirem nos mesmos tanques peixes de água doce e de água salgada. Mesmo hoje a adaptação é possível se a alteração de salinidade for gradual.

    7) Muitas espécies de peixes hoje têm a capacidade de mudarem de se adaptarem a mudanças de salinidade mesmo durante o seu tempo de vida.

    8) Baleias e golfinhos, por serem mamíferos, teriam ainda mais possibilidade de sobreviver ao dilúvio por não necessitarem de água limpa para obterem oxigénio.

    9) Muitos animais marinhos teriam sido destruídos pelo dilúvio, por causa da turbação da água e das mudanças de temperatura, o que é amplamente corroborado pelo registo fóssil, que é composto em 95% por este tipo de animais. Provavelmente os trilobites ter-se-ão extinto nessa altura. Lembre-se que muito antes da chuva, o dilúvio foi causado pela rotura das “fontes do abismo”.

    10) É igualmente possível a formação de camadas estáveis de água salgada e doce que terão permanecido em algumas partes do oceano. A água doce pode permanecer sobre a água salgada durante longos períodos de tempo. A turbulência pode ter sido bastante reduzida em altas latitudes, permitindo a formação dessas camadas e a sobrevivência de espécies de peixes de água doce e de água salgada.

    Isto é apenas um pequeno conjunto de tópicos. A literatura criacionista sobre o assunto abunda.

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  2. Perspectiva,

    Man! Tu até colocarias os teus comentários nas instruções de preenchimento dos impressos do IRS se te fosse possível.

    Qualquer dia, nos pacotes de açúcar que são dados nos cafés, em vez das anedotas, encontrarei comentários do Perspectiva (feitos à mão).

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  3. Caro Jónatas,

    Um comentário com o dobro do tamanho e nenhuma relação com o post que comenta dá uma impressão muito negativa a quem aqui vier.

    Penso que deveria considerar se quer apresentar o criacionismo como uma posição legítima ou como mero spam intelectual...

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  4. Ludwig,

    Sapm? Ah! S.P.A.M: Santíssima Anedota do Perpectiva Marado.

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  5. Spam intelectual? "intelctual"?

    Fogo! Quando eu tento rebater os teus teus argumentos, dos quais discordo, tu não és tão generoso comigo:)

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  6. Mário,

    "Intelectual" no sentido lato de afectar o intelecto. Como, por exemplo, uma trombose ou AVC... :)

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  7. Ops! O meu comentário das 16:46 sofre de uma certa dislexia .

    S.P.A.M: Santíssimo Perspectiva Apóstolo Marado.

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  8. "Isto é apenas um pequeno conjunto de tópicos. A literatura criacionista sobre o assunto abunda."

    Excelentes obras de comédia ou como amparo de sofás quando se lhes parte uma perna.
    Já agora, o que é uma "fonte do abismo"?

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  9. Asno imoral - Espécie canora cavernícola psitaciforme que afirma "Deus está em todo o lado" referindo-se ao hipotético criador do Universo e ao resultado final obtido. Semelhante ao asno trepador mas com tarsos descobertos, é facilmente visto a frequentar e prosperar no vazio consciente, não necessariamente evangélico.
    Habitat: onde haja soldo e girassol. Desova model dependent.
    Curiosidades: no famoso Utopia, Thomas More coloca o asno imoral em reservas naturais geograficamente definidas e separadas do progresso. Na actual objectividade civilizada, a preocupação política em não beliscar inadvertidamente o monstro católico tem ao mesmo tempo dificultado a observação e categorização do asno imoral, levando ao entrosamento desregulado desta espécie na urbanidade. Estudos recentes indicam que o pluralismo decai na sua presença para uma nova patologia com consequências imprevisíveis no ecossistema e nas religiões.

    (Ludwig, estou a aprender com o PAC o meu controlo de emoções. Sobre este post, nada a acrescentar)

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  10. Eu pensava que podia comentar um pouquinho sobre copyrights, e abusos de informação, mas, pelo que vejo, este é mais um post sobre criacionismo, e, espécies de asno.

    Sinceramente Ludwig, eu já teria apagado o lençol do senhor em causa, pois assim, o que aqui tens é um total desvio do tema que pretendias falar. Eu pessoalmente sinto-me com vontade de enxovalhar o dito senhor neste post, mais do que falar contigo sobre o post em sí. Começo a ter vontade de criar um pseudónimo para escrever lençois de palavrões e começar a encher os blogs do "grupinho" criacionista.

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  11. António,

    Tens razão que estas coisas desviam a conversa e impedem o diálogo sobre os temas dos posts. Mas não quero apagar comentários só porque se desviam do tema do post; por vezes podem dar discussões interessantes.

    E mesmo sabendo que este não é o caso, visto que o Jónatas faz sempre o mesmo comentário, prefiro dar-lhe mais oportunidades para perceber a asneira ou, falhando isso, que alguém do lados dos criacionistas o avise que aborrecer as pessoas com criacionismo quando não tem nada a ver é contrário aos seus propósitos.

    Ao Jónatas deixo novamente a sugestão de criar o seu próprio blog. Até prometo ir lá visitar de vez em quando. A sua ideia de usar a audiência dos outros blogs pode parecer boa em princípio mas é muito má na prática porque as pessoas percebem a intenção e sentem-se insultadas com essa esperteza. Mais vale ter poucos leitores interessados do que incomodar uma data de gente impingindo-lhes coisas que não lhes interessa.

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  12. Pela minha parte acho os lençóis do Perspectiva muito úteis. Acabo de perceber que o criacionismo evoluiu da má-criação.
    Cristy

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