domingo, março 02, 2008

O que está em causa.

O Desidério discorda da minha posição acerca da propriedade intelectual (1) e de muito que eu também discordo. Não exijo princípios à prova de fogo, não sou comunista, não quero que os autores dependam da bondade dos outros nem sou contra os intermediários. Mas como não espero que ele leia a tralha toda que eu escrevi sobre isto, e ele próprio admite não saber muito do assunto, vou deixar esses mal-entendidos de lado e focar o que interessa: «apesar desta ignorância, há um aspecto que me parece claro. [...] O que está em causa é apenas isto mesmo: a sustentabilidade económica dos criadores.»

Não. O que está em causa é promover a cultura. A ciência, a arte, a história, o desporto e todos os produtos da criatividade humana que podemos desfrutar e usar em criações novas. É esse o objectivo. A «sustentabilidade económica» é, no máximo, um dos meios a usar se os benefícios compensarem os custos.

Antes de Gutenberg os autores viviam de criar e não das cópias. Depois de Gutenberg a tecnologia foi regulada para censurar, depois pela «sustentabilidade económica» dos impressores e ao fim de uns séculos para beneficiar também um pouco os autores, mas financiou sempre mais quem fabricava cópias do que quem criava a obra. Impressores, fábricas, editores de discos e afins. O autor nunca recebeu mais que uma pequena fracção do preço da cópia.

Este sistema já não faz sentido porque a cópia agora é gratuita e pode ser feita por qualquer um. Dos €10 de um CD o autor recebe menos de €1 e o resto alimenta um sistema desnecessário. Não sou contra que ganhem esses €9 mas sou contra proibir a cópia só para que ganhem esses €9. O Desidério confunde a troca voluntária, que é o que se passa entre o agricultor, o merceeiro e o freguês, com uma proibição legal que cria escassez para beneficiar o distribuidor em detrimento dos outros.

O copyright só fez sentido porque a cópia era um bem escasso que exigia recursos consideráveis e era o factor limitante no acesso à obra. O monopólio sobre a cópia regulava a actividade comercial sem interferir na vida pessoal e ajudava a disseminar a pequena parte da criatividade humana à qual se aplica. Pequena porque a maior parte, da culinária à física nuclear e do desporto à matemática, nunca teve nada com isto por não depender do fabrico de cópias. Mas agora este sistema tem o efeito contrário, restringindo o acesso e dificultando a inovação. Quem não tem dinheiro fica privado da obra apesar da cópia ser gratuita e é preciso esperar setenta anos após a morte do autor para que a obra possa ser usada na criação de outras.

O Desidério diz que «É importante que haja diversidade; que alguns escritores sejam professores e possam oferecer as suas tretas de borla na Internet, mas que outros vivam directamente da escrita de livros.» E concordo que é importante. Mas também é importante que as pessoas possam comunicar livremente, que se aproveite a tecnologia que temos, que não se declare criminosa uma geração inteira só por querer partilhar aquilo que gosta e que a cultura seja acessível a todos. Qualquer sistema que se implemente não deve focar apenas uma coisa em detrimento de todas as outras que são mais importantes ainda.

Felizmente, proibir a cópia aos outros não é a única forma de permitir que alguém viva de um trabalho criativo. É o que acontece com físicos, cozinheiros, matemáticos, mestres de Xadrez, professores, políticos, juristas, filósofos, e tantos outros a quem o Código de Direitos de Autor exclui logo no primeiro artigo:

«As ideias, os processos, os sistemas, os métodos operacionais, os conceitos, os princípios ou as descobertas não são, por si só e enquanto tais, protegidos nos termos deste Código.»

O Desidério diz que é «pura e simplesmente falso que um músico ou um escritor possa viver do seu trabalho se o produto desse trabalho puder ser copiado livremente.» Está enganado. O produto pode ser copiado livremente mas o trabalho não. Se todos conseguissem fazer o trabalho de um bom músico então não precisávamos de músicos. Precisamos de músicos e escritores precisamente porque eles fazem algo que mais ninguém consegue fazer. E quem faz algo que outros querem e mais ninguém consegue fazer vai ganhar dinheiro com isso de certeza. Mas isso fica para outro post. Este era só para explicar que o que está em causa é muito mais fundamental, importante e complexo que a «sustentabilidade económica» desta ou daquela profissão.

1- Desidério Murcho, 1-3-08, Regresso a zero

48 comentários:

  1. Em primeiro lugar, usas um argumento circular: é mau criminalizar "toda uma geração". Bom, isso só é mau se pressupões que nada há de errado em usufruir do trabalho dos outros sem pagar. Dado que é precisamente isso que está em causa, o argumento é falacioso.

    Em segundo lugar, o que está em causa é mesmo a sustentabilidade económica dos criadores porque sem isso não há música, livros, etc., excepto amadora.

    Ora, o que está em causa é precisamente isto: os defensores da cópia à balda querem apenas usufruir do trabalho dos outros sem pagar. Nada mais. Tudo o resto é sofisma. É irrelevante que quem vende um CD de 10 euros ganhe 5, o editor 4 e o autor apenas 1 euro. Porque na cópia à balda o autor ganha zero e por isso não pode viver da música. E é isso que está em causa.

    O que tens de fazer é o seguinte:

    1) Mostra-me uma maneira de eu viver da minha música ou dos meus livros e ao mesmo tempo

    2) toda a gente andar a copiar isso na net sem me pagar nada e

    3) eu não ser obrigado a ir trabalhar para o estado ou para outra coisa qualquer para poder fazer a minha música nas horas vagas.

    É isto que está em causa, nada mais.

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  2. «Em primeiro lugar, usas um argumento circular: é mau criminalizar "toda uma geração". Bom, isso só é mau se pressupões que nada há de errado em usufruir do trabalho dos outros sem pagar.»

    Acho que isso não é O meu argumento. É 0.1% no máximo :)

    Mas não é circular. É mau criminalizar algo. É mau punir, pôr a polícia atrás, etc.

    Pode ser pior ainda não criminalizar, e por isso há muita coisa que devemos criminalizar. Mas criminalizar é mau mesmo nesses casos. É o mal menor.

    E sim, acho perfeitamente aceitável usufruir do trabalho dos outros sem pagar. Se os outros trabalharam voluntariamente sabendo que isso ia acontecer não há mal nenhum. Seria como ficar chateado por alguém ler o que tenho aqui ou ouvir as minhas aulas sem me pagar.

    O pagamento só é justo é exigível se houver um acordo prévio entre o que dá o trabalho e o que dá o dinheiro. De resto é como te obrigarem a cobrar a couvert que não pediste...

    «Em segundo lugar, o que está em causa é mesmo a sustentabilidade económica dos criadores porque sem isso não há música, livros, etc., excepto amadora.»

    O facto de não haver música profissional sem sustentabilidade económica não implica que esta esteja em causa. Nem no sentido de estar ameaçada nem no sentido de ser a prioridade a considerar.

    Nota que a prática do iô-iô é amadora. Isto não justifica uma lei de protecção sobre o cãozinho e o baloiço para se permitir a profissionalização da classe...

    «os defensores da cópia à balda querem apenas usufruir do trabalho dos outros sem pagar.»

    E do seu também. Mas sim. Querem usufruir dos algoritmos de encriptação quando compram coisas na net, dos protocolos de HTML e TCP/IP, da electricidade, do pensamento de filósofos, da escrita, da linguagem, das receitas culinárias e das anedotas sem ter que se sujeitar a um sistema de licenciamento.

    Mas se isso é má ideia, qual é a alternativa?

    «1) Mostra-me uma maneira de eu viver da minha música ou dos meus livros e ao mesmo tempo

    2) toda a gente andar a copiar isso na net sem me pagar nada e

    3) eu não ser obrigado a ir trabalhar para o estado ou para outra coisa qualquer para poder fazer a minha música nas horas vagas.»


    Simples. Faz como qualquer profissional. Oferece o teu trabalho a quem queira pagar por ele. Se alguém está interessado em que tu escrevas um artigo ou componhas uma música, negoceia com essa pessoa uma remuneração por esse trabalho.

    Se ninguém estiver interessado nos teus serviços então aconselho-te a arranjar outro emprego :)

    «É isto que está em causa, nada mais.»

    Não. Há muito mais em causa numa lei que nos proibe a todos de trocar informações acerca de obras de arte. Há polícia, sanções, tribunais, repressão, etc.

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  3. Caro Ludi

    "Faz como qualquer profissional. Oferece o teu trabalho a quem queira pagar por ele. Se alguém está interessado em que tu escrevas um artigo ou componhas uma música, negoceia com essa pessoa uma remuneração por esse trabalho. Se ninguém estiver interessado nos teus serviços então aconselho-te a arranjar outro emprego "

    É aqui que eu acho que está a má fé. Isto é completamente absurdo. E eu expliquei isso no meu artigo. A generalidade das pessoas não estão dipostas a pagar pelo que querem consumir a não ser que tenham mesmo de pagar. É sofística a ideia de que se eu for um autor muito bom meto o meu livro na net, peço às pessoas para pagar e elas pagam. Elas não vão pagar se conseguirem ler o livro sem pagar. É tão simples quanto isto. E portanto eu terei de ir trabalhar para um restaurante para escrever livros nas horas vagas.

    Por isso, repito: explica-me como pode um autor viver do seu trabalho intelectual se as pessoas poderem usufruir desse trabalho sem pagar. E enquanto não explicares isto, tudo o que argumentas é irrelevante porque não estar a responder ao fundamental. Estás sempre a erguer cortinas de fumo, como é o caso da ameaça do estado policial e tal. Isto é sofístico, Ludi. Seria como dizer que não devemos prender as pessoas que me entram em casa porque se o fizermos teremos de ter polícias e tal e isso é um estado policial. Não era muito melhor que eu abrisse o meu frigorífico à vizinhança toda?

    Outro exemplo de sofismas irrelevantes: argumentas que estás a defender o acesso livre à cultura. Mas não estás. Estás a defender o acesso livre ao trabalho dos outros, impossibilitando-os de viver desse trabalho. Defender o acesso livre à cultura é defender a sustentabilidade económica dos criadores e dos consumidores. Ou já agora queres acabar com o dinheiro? Afinal, o dinheiro é como a polícia: é uma chatice e era melhor não termos nem uma coisa nem outra.

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  4. Desidério,

    «A generalidade das pessoas não estão dipostas a pagar pelo que querem consumir a não ser que tenham mesmo de pagar. É sofística a ideia de que se eu for um autor muito bom meto o meu livro na net, peço às pessoas para pagar e elas pagam.»

    Obviamente que não vais pedir que te paguem pelo trabalho que já fizeste. Isso é absurdo. Só é legítimo exigir dinheiro se há algum acordo prévio.

    O que tens que fazer é pedir dinheiro para escrever o próximo livro. Se fores um bom escritor garanto-te que te pagam, e já há artistas a ganhar dinheiro assim.

    É claro que primeiro tens que mostrar que és alguém a quem vale a pena pagar para escrever livros. Mas isso é um problema em todas as profissões. Ou dás alguma garantia que és competente para o trabalho ou não te empregam.

    A Maria Schneider é um bom exemplo. Ela vende os discos antes de os gravar. Os fãs pagam para participar e financiar directamente o processo, e deve ser das poucas artistas na música que fazem dinheiro com os CDs. Na maior parte dos casos os CDs servem só para atraír pessoal para os concertos e encher os bolsos à editora. Ela não vende muito mas fica com o dinheiro todo das vendas, e isso faz uma grande diferença.

    E não precisa do copyright para nada, porque lhe pagam pelo trabalho e não pela cópia.

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  5. Estás a contar lérias, Ludi. Vamos ao site dessa música:

    http://www.mariaschneider.com/albuminfo.aspx?ID=773

    E o que vemos? Somos convidados a comprar o último CD dela. Muito bem. (Por 24 dólares, muito mais caro do que um CD normal.) Só que aposto que eu consigo obter o CD dela sem pagar cheta. E achas que se ela gostasse disso punha o CD à venda no site dela mesma? Claro que não. Punha lá os MP3 todos para eu fazer o download sem pagar nada. Escusava de me dar ao trabalho de andar à cata disso na Internet.

    O teu modelo de negócio não funciona porque nunca resolve o problema de fundo, Ludi, que é as pessoas consumirem o produto do trabalho dos outros sem pagar, o que significa que a pessoa fica sem poder sustentar-se. Terá de trabalhar noutra coisa qualquer. Estás a contar lérias.

    Eu compreendo que vês um Futuro Radioso, como os soviéticos viam, em que as relações económicas são reinventadas, toda a gente tem acesso à Cultura e tretas dessas. Só que isto são só fantasias. Quando chegamos ao ponto fundamental de me explicar como raio sobrevive um músico, contas lérias.

    Como tu, não me agrada muitas coisas do sistema económico actual. Só que não finjo que tenho uma alternativa plausível no bolso, e que implica toda a gente meter o resultado do trabalho dos outros de borla na Internet para toda a gente usufruir do meu trabalho enquanto eu tenho de lavar a loiça num restaurante para me sustentar. Lérias, pá. Olha, vou fazer um site de crítica ao teu chamado Lérias! :-)

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  6. Desidério,

    «Estás a contar lérias, Ludi. Vamos ao site dessa música:

    http://www.mariaschneider.com/albuminfo.aspx?ID=773

    E o que vemos? Somos convidados a comprar o último CD dela. Muito bem. (Por 24 dólares, muito mais caro do que um CD normal.) Só que aposto que eu consigo obter o CD dela sem pagar cheta.»


    Penso que o nosso diálogo corria melhor se tentasses perceber o que se passa em vez de chamar lérias :)

    Ela tem o álbum à venda. Se quiseres comprar ela ganha dinheiro e e levas umas fotos, a caixa, o cd impresso, etc. Se quiseres sacar da net não levas isso, mas a escolha é tua.

    O modelo funciona porque o álbum já está pago e ela já ganhou o dinheiro desse trabalho. Isto agora é extra e estritamente voluntário.

    Por exemplo, vê aqui o que ela fez com o Concert in the Garden.

    http://www.artistshare.com/projects/offer_details.aspx?artistID=1&projectID=2&productID=363&selection=1&salesTypeID=6&headerTx=participant+offers

    «I will release only 10,000 CDs of 'Concert in the Garden' --that's it, not one more.
    9,000 of these CDs are available for pre-order. 1,000 are being reserved for a special auction to be announced in the near future. All CDs will be Artist-Track items (click here to learn more about the Artist-Track program). After these CDs are sold, this recording will only be available as a digital download.»


    Ela vendeu os CDs antes, como pre-order. Com esse dinheiro gravou, ficou com uma parte para si, e tudo o que vier a mais é bónus, não é algo que ela precisa. Ela é paga para fazer os álbuns.

    Além disso dá aos fãs algo de único, algo que eles dão valor (e dão, tanto que ela consegue viver disto assim). Ela não faz mais que 10,000, e por muitas cópias que o pessoal faça (melhor publicidade para ela, mais gente para pagar o próximo) quem tem o original tem algo de valor, ao contrário dos originais das discográficas.

    Desculpa lá dizer isto assim, mas tem que ser. Tu estás a argumentar por ignorância. Chamas lérias às coisas, dizes que é indefensável, afirmas que é má fé comparar a música com a matemática e assim por diante, mas isso parece-me que é apenas por falta de conhecimento de detalhes que são importantes.

    Hoje em dia é possível fazer carreira na música começando por distribuir umas coisas de borla e dar concertos em bares até ter fãs e depois pedir dinheiro pelo trabalho em vez de contar com a lei para cobrar pela cópia. É difícil ainda porque tem que se competir com o monopólio legal das discográficas, com os seus batalhões de advogados a processar um tipo que use 2 segundos de uma música "proprietária" e assim por diante. Mas se acabássemos com estes monopólios legais o sistema funcionava bem. Tão bem como em qualquer outra profissão.

    O truque, como em geral, é fazer o trabalho só quando se chega a acordo quanto à remuneração.

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  7. http://www.wired.com/entertainment/music/magazine/16-01/ff_yorke?currentPage=all

    talvez isto ajude a discussão

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  8. Mas é errado supor que aquele que copia um livro e compartilha uma música compraria um livro ou CD, caso não pudesse copiá-lo. Eles são caros e, com ou sem cópia, poderiam ficar parados nas prateleiras. Isso vale para todos os países do mundo.
    Conclusão: os bens culturais são inacessíveis para a maior parte da nossa população.

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  9. Ludwig

    O seu comentário das 20:38 tem incorrecções:

    1) "Artist Share" é uma empresa com base na internet, fundada por Brian Camelio em 2003, com o objectivo de propor um novo modelo de negócio aos artistas e potenciar os seus ganhos;

    2) Esse modelo de negócio consiste em vender os cd's exclusivamente através da internet, em edições limitadas de coleccionador (por isso os 10 mil exemplares referidos) de modo a valorizá-los e a incentivar o comprador a não permitir a sua cópia e, em alternativa, a vendê-lo com lucro;

    3) Cada cd de coleccionador tem um um sistema de protecção de propriedade: cada um dos dez mil cd's vendidos é registado em nome do comprador;

    4) Segundo a empresa, o possuidor de um cd de colecção poderá vendê-lo mas terá de transmitir a propriedade do cd e a empresa fará um novo registo de propriedade cobrando uma comissão que é uma parte do preço do cd negociado entre esse vendedor e o comprador, dividindo-a com a artista; com este processo se o cd for vendido 20 vezes o artista receberá dinheiro por cada uma das transacções e não só com a primeira venda; é um "ovo de colombo": se existirem 10 milhões de interessados no cd e só existirem 10 mil cópías no mercado então o mercado secundário de cd's fará aumentar o preço dos cd's originais e o artista produzindo apenas 10 mil consegue receber o equivalente (pura especulação) a 100 mil, por exemplo...

    3) Os direitos de autor são divididos entre o músico (85%) e a empresa (15%);

    4) O objectivo deste modelo de negócio é impedir a pirataria e a cópia, como o fundador da empresa e a Maria Scheineider disseram à revista "All About Jazz";

    5) Em relação ao download digital, não é gratuito (paga-se 12,95 ou 9,95 dólares): deverá ser efectuado através do site da "artist share" e quando se compre (como eu fiz) aparece a página do termos e condições onde se escreve que não pode ser copiado, etc, etc; para além disso só permite fazer dois downloads.

    Dado que a "Artist Share" tem patentes "pendentes" desconheço se nas versões em mp3 introduziu algum mecanismo anti-cópia. Vou ver nos próximos dias.

    Como pode verificar o exemplo que escolheu não foi muito feliz. Quer a empresa quer a artista não pensam em divulgar cultura ou arte. Estão preocupados com a pirataria e tentam "inventar" novos modelos de negócios que lhes protejam os rendimentos e os direitos de autor, apresentando novas embalagens, acrescentando conteúdo e valor ao mesmo produto, e tentando condicionar a permissão dos fans em permitirem cópias. É lógico que é muito mais valorizado no mercado de leilões um produto que tem 10 mil cópias do que outro que tem 10 milhões, como referi anteriromente.

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  10. Isto parece ter sido um tiro no pé.

    «Desculpa lá dizer isto assim, mas tem que ser. Tu estás a argumentar por ignorância. Chamas lérias às coisas, dizes que é indefensável, afirmas que é má fé comparar a música com a matemática e assim por diante, mas isso parece-me que é apenas por falta de conhecimento de detalhes que são importantes.»

    Aí pois é...

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  11. Obrigado ao Desidério por nos dar mais "angulos" sobre este assunto, bastante enriquecedor, embora me parece que terá uma certa inveja do Ludwig bem como do seu blog. O Ludwig por sua vez picou-se como nunca vi, nem mesmo com o Jonatas, que lhe "chamou nomes", não se picando desta forma. Será que o ponto de rotura do Ludwig é onde começa a perder o debate devido a argumentos do tipo do Desidério? O Desidérios chamou lérias aos argumentos do Ludwing (ataque aos argumentos), o Ludwing chamou ignorante ao Desidério (ataque à pessoa), o que me parece um sintoma de desnorteio. Poderei estar enganado.

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  12. Caro Parente

    Obrigado por desmontares as lérias do Ludi. Não compreendo o que se passa na cabeça desta gente. Se aquela moça não se importasse que a malta andasse por aí a copiar o CD dela, punha-o todo para download gratuito no site dela.

    Ludi: lá estás tu a atirar areia para os olhos, méne. A conversa não tem nada a ver com o teu Admirável Mundo Novo em que o artista primeiro faz não sei o quê para ser reconhecido e depois assina um contrato com não sei quem mais. Nada disso interessa. Porque nada disso funciona se depois as pessoas desatarem a fazer cópias e a espalhá-las na Internet. Queres uma aposta que se eu fizer um site amanhã e meter lá as músicas todas desta moça, ela vai tentar fechar-me o site? Estás a delirar, ou quê? Isto -- e só isto -- é que está em causa. O resto é desviar é atirar areia para os olhos. Porque o resto significa apenas o seguinte: dado a realidade da pirataria, e dada a imensa dificuldade ou impossibilidade em impedi-la, os criadores estão a inventar novas maneiras de sobreviver para contornar esse problema.

    Mas nenhuma delas implica bater palmas de contentamento por ver as pessoas a usufruir do seu trabalho sem pagar nada contra a vontade do criador. Tás a delirar, ou quê?

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  13. Não gosto da forma com que o Disidério intervém, um bocado cínica,
    embora não possa deixar de concordar com ela, no conteúdo.

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  14. Mas concordo numa coisa.
    Se o autor quiser, e só nesse caso, que distribua de borla, mesmo que seja só ao fim de algum tempo (depois de já ter vendido o suficiente). Isto devia ser o que eles deveriam fazer MAS de forma voluntária. Agora se não quiserem, estão no direito deles.

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  15. «Agora se não quiserem, estão no direito deles.»

    anónimo:

    Esta discussão entre o Ludwig e o Desisério tem um mérito: ambos colocam o problema em termos do seu aspecto essencial: as consequências sociais e económicas dos diferentes sistemas.
    Qual garante melhor acesso à cultura; qual garante melhor incentivo à criação; qual garante o melhor incentivo à difusão; qual o melhor balanço.

    Não faz sentido considerar que os autores têm algum "direito natural" ao que produzem, pois aí o Ludwig teria razão ao dizer que não poderíamos usufruir de quase nada: desde o português à matemática, passando pelas anedotas, vivemos constantemente a usufruir de invenções alheias sem pagar por isso - e ainda bem!
    Nem faz sentido, em termos de direitos naturais, que o direito a susufruir do monopólio de uma ideia original termine ao fim de um tempo arbitrário.
    E nem faria sentido, em termos de justiça, que o primeiro autor ganhe o monopólio de uma ideia apenas por se ter lembrado antes dos outros: outros podiam chegar lá mesmo sem o primeiro o ter feito, e ficariam impedidos de usufruir de ideias que poderiam ter alcançado.

    O Desidério não argumenta com base em pretensos direitos naturais, mas sim com base na viabilidade económica da actividade criativa. O Ludwig argumenta que há actividades em que as ideias não são protegidas, nas quais os criadores sobrevivem.

    Mas a questão parece estar colocada nos termos correctos:

    a) Quais serão as consequências económicas de acabar com o sistema de copyright?

    b) Essas consequências beneficiarão a sociedade ou prejudicá-la-ão?


    Há discordância no ponto a) e b).
    O Ludwig argumenta que a maioria dos criadores ficará em vantagem(!) com o fim do copyright. Poderão ganhar mais dinheiro. Vemos que há pouco acordo quanto ao ponto a).

    Além disso o Ludwig também acredita que o facto de se tornarem inviáveis as mega-produções de hollywood (devido ao facto de não poderem negociar com o público com antecedência) não é grave. Acredita que as pessoas apenas valorizam tanto estes filmes face a outros muito mais baratos porque o "marketing" lhes dá a volta à cabeça. É uma perspectiva muito conotada com a esquerda (menos moderada, diria) e deve ser uma razão que levou o Desidério a chamar "comunista" ao Ludwig. Isto é uma discordância face ao ponto b).


    Quanto ao Ludwig, não creio que faça sentido dizer que o Desidério argumenta por ignorância: ele está a defender aquilo que a teoria económica clássica defende - as atitudes puramente altruistas são tão raras, que é inviável fundamentar um negócio acima de certa dimensão quando ele permite a "free ride" sem usar qualquer forma de desincentivar os "parasitas".
    Os exemplos que dás Ludwig são interessantes precisamente por serem excepcionais. Representam uma percentagem irrisória do negócio da música, e é fácil argumentar que seria inviável a criação se todos adoptassem esse modelo de negócios.

    Ludwig: a única coisa que nos separa nesta discussão toda (além daquela outra que estamos a discutir por e-mail) é o teu optimismo face ao comportamento das pessoas.

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  16. Basicamente isto:

    o autor diz: preciso de vender 10 000 cópias para tornar público o album. Vamos assumir que o autor tem 9000 fãs, e 100 000 apreciadores moderados. Os 100 000 apreciadores moderados estariam dispostos a pagar 12 moedas pelo album, e o album só custa 10 moedas.

    Os fãs não pensam racionalmente e vão logo comprar o album. Só 10 moedas? Nem hesitam.

    Falta o autor vender 1000 albuns, e há 100 000 apreciadores que estariam dispostos a pagar 12 moedas pelo album, quando ele só custa 10. Parece fácil.
    Mas não é. Cada um dos apreciadores pensa assim: "basta esperar um pouco, e alguém compra o album, e eu fico com ele gratuito". Basicamente: podem ganhar 12 modas em vez de 2. Em termos das alternativas que dispõem, comprar o album seria deitar 10 moedas para o lixo, ou para ajudar a sociedade.

    Sabes que quanto mais concorrentes mais previsível é o desfecho do jogo do prisioneiro...

    Cada um dos 100 000 apreciadores moderados opta por não gastar 10 moedas, para poder ganhar 12.
    No fim, todos perdem 2. Não são apenas 200 000 moedas que se perdem: todos os 9000 fãs ficam sem acesso à sua música. E o artista sem acesso ao seu ganha-pão.

    Todos ficam a perder.

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  17. "Não faz sentido considerar que os autores têm algum "direito natural" ao que produzem, pois aí o Ludwig teria razão ao dizer que não poderíamos usufruir de quase nada: desde o português à matemática, passando pelas anedotas, vivemos constantemente a usufruir de invenções alheias sem pagar por isso - e ainda bem!"

    Têm, e tanto é que eles vão buscar essa base aos autores (a partir de onde fazem o seu acréscimo), esses autores não refilam, pois de forma natural sabem que não podem, pois fizeram o mesmo. O que um autor faz é vender o seu "incremento" ao que já há. Têm direito sim, como proteger, ou desproteger (dar). Nesse seu caso, então, não teriam direito a uma coisa ou outra, ou seja: a nada.

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  18. Claro que o autor pode mudar a sua estratégia: esquece os apreciadores moderados, e apenas se dirige aos fãs. Se conseguir ter 10 001 fãs e nenhum apreciador moderado, vai conseguir lançar o album.

    Isto é positivo ou negativo? É óbvio que tem um enorme aspecto negativo visto que a esmagadora maioria das pessoas é muito mais "apreciadora moderada" do que "fã incondicional" da maioria dos bens culturais que usufrui.
    Uma cultura que apenas encontra sustentabilidade económica no mercado dos fãs incondicionais é uma cultura que não serve as pessoas - a maioria pelo menos.

    Justifica-se controlar a difusão de ideias para que a cultura possa servir melhor as pessoas?

    É uma pertgunta difícil.

    Podes ter razão ao considerar que a resposta deve ser negativa. Mas não tens razão ao assumir que não existirão consequências desastrosas ao nível da produção cultural em abolir o copyright.

    Enfim, estou a repetir-me, mas acho que agora o debate ficou mais estruturado (ou não?).

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  19. anónimo:

    Nem entendi a lógica daquilo que escreveu.
    Mas o facto é que se eu invento uma nova receita, eu não devia ter o direito de proibir os outros de a usarem sem me pagarem, visto que outros também poderiam ter tido essa ideia mesmo que eu não contasse nada a ninguém.

    Só faz sentido proibir outros de usarem a minha receita sem me pagarem, se o objectivo for encontrar uma forma expedita de encorajar a criação de receitas. No caso das receitas é parvo, mas no caso da música faz sentido.
    Por isso é que a razão é de ordem prática e não de ordem fundamental: se fosse de ordem fundamental seria tão válida para receitas como para músicas.

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  20. Desidério,
    Não entendo o que se passa com vocês !
    Aquilo que reparo é que o Ludwig teve a coragem de assumir publicamente uma posição "politicamente incorrecta", uma posição que vai contra o "statu quo".
    Aquilo que me choca é constatar que tanta gente com uma inteligência superior não conseguir entender que é chegada a hora de uma mudança de paradigma.
    O trabalho de alguns tipos de criadores tem sido, quase sempre, sobreavaliado desde a invenção da imprensa. O modelo implementado perpetua por tempo indeterminado o rendimento do trabalho desses criadores. É isso o que faz o copyright. É isso que está errado.
    Não existe qualquer motivo para que a remuneração dos criadores seja diferente da de qualquer mortal; se a produção de determinado criador é mais original e apreciada então remunera-se melhor. MAS UMA ÚNICA VEZ !!!

    Olhe-se para os rendimentos dos artistas da actualidade! Que parte desses biliões corresponde a trabalho efectivamente realizado. Queria pensar num termo mas só me ocorre "pornográfico".
    Reparem o que a sociedade anda a fazer com o mito do copyright. reparem como o copyright anda a distribuir a riqueza.

    O trabalho (remunerável) do criador esgota-se na produção da obra. É um trabalho digno e apreciado mas não é diferente do trabalho do carpinteiro ou do professor.

    A revolução da tecnologia da informação teve entre outros o mérito de pôr a nu a inverosimilhança do copyright.

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  21. António Parente e Desidério,

    O António escreveu:

    «Esse modelo de negócio consiste em vender os cd's exclusivamente através da internet, em edições limitadas de coleccionador (por isso os 10 mil exemplares referidos) de modo a valorizá-los e a incentivar o comprador a não permitir a sua cópia e, em alternativa, a vendê-lo com lucro;

    3) Cada cd de coleccionador tem um um sistema de protecção de propriedade: cada um dos dez mil cd's vendidos é registado em nome do comprador;»


    Penso que vocês não compreenderam o sistema. Isto não visa impedir a cópia. Isto visa dar ao comprador algo que é escasso. Há 10.000 originais, ponto. Cada um registado individualmente. Pode haver as cópias que houver que isto não muda. Originais só há estes, e pessoas listadas como participantes só há estas.

    Isto não proibe a cópia. Isto torna o copyright irrelevante, que é algo muito diferente.

    Este sistema do artistshare funcionava igualmente bem sem o copyright porque as pessoas estão a comprar a participação no processo criativo.

    «"Our mission statement is very simple," explains Chief Executive Brian Camelio, who founded ArtistShare in 2001. "It's to develop relationships with fans, and make the biggest return we can for the artists. The fundamental premise is that music's true values are based upon the individual creativity and the unique process that each artist brings to a recording."»

    http://www.calendarlive.com/music/jazz/cl-ca-schneider10feb10,0,711706.story

    Neste caso houve um fã que pagou $18,000 para ficar como «executive producer» no CD. Isto não é o mesmo que comprar pedaços de plástico no supermercado. O modelo é completamente diferente. É um modelo assente no processo criativo e não na cópia, numa comunidade de fãs a apoiar o artista durante todo o processo em vez de consumidores a pagar por cada cópia do produto final a uma empresa impessoal.

    Ao anónimo: não é um ataque pessoal dizer que as críticas do António e do Desidério, neste caso, são devido a ignorância. O Desidério admitiu a sua ignorância, e é óbvio que não estão a perceber a diferença. O que a Maria Schneider e outros no artist share estão a vender não é a cópia. É o trabalho de criação. E para isso não precisam do copyright.

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  22. João,

    «Quanto ao Ludwig, não creio que faça sentido dizer que o Desidério argumenta por ignorância: ele está a defender aquilo que a teoria económica clássica defende - as atitudes puramente altruistas são tão raras...»

    Não tem nada a ver com altruismo. Tem a ver com alguém ser capaz de criar uma coisa que outros querem e estão dispostos a pagar por essa criação. Nota que é impossível copiar uma música que ainda não foi composta. O músico tem por isso grande poder de negociar com os seus clientes.

    O que o artistshare faz é criar essa comunidade de músicos e fãs e permitir esta negociação. Não há altruismo mas sim interesses de ambas as partes. O músico quer fazer música e ganhar dinheiro, o fã quer ouvir a música e participar no processo de criação. Dizer "eu ajudei a criar este algum".

    Johnny Koerber pagou $18000 para ficar como produtor executivo do álbum Sky Blue. Fê-lo certamente porque lhe interessou a ideia, como fã de Jazz e não por pena da artista ou por altruismo.

    Estes músicos no artistshare são profissionais que vendem o seu trabalho, como quaisquer outros profissionais, e não dependem nem de altruismo nem de monopólios sobre cópias de CDs. Pagam-lhes para criar as músicas porque é isso que eles fazem bem.

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  23. João,

    «Só faz sentido proibir outros de usarem a minha receita sem me pagarem, se o objectivo for encontrar uma forma expedita de encorajar a criação de receitas.»

    Aqui é que te enganas, e é onde muita gente se engana. Se dizes a um tipo que inventou uma receita que pode viver a vida toda dos rendimentos de quem usa essa receita não estás a incentivar a criação. Incentivar a criação é pagar-lhe bem para ele criar receitas. É isso que se faz com os físicos, os matemáticos, etc.

    Essa de pagar á cópia é um incentivo a montar negócios de distribuição. Foi sempre esse o papel principal desta regulação: financiar os custos de fazer e distribuir cópias. Como incentivo à criatividade é uma bosta, como aliás se vê bem quando comparas o progresso na música com o progresso na ciência neste último século. Se usássemos o sistema de copyright para incentivar a ciência ainda andava tudo a licenciar a electricidade aos descendentes do Maxwell e ninguém sabia explicar a precessão da órbita de Mercúrio.

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  24. - com - dá +

    Eu defendo que um criador tenha direitos. Não concordo com a visão que o Ludwig dá que é tudo mais ou menos igual ao litro e que produzir música é igual ou menos que produzir batatas (não foi bem isso que ele disse, sou eu a exagerar um bocado). Mas numa coisa tem razão: há que pôr as coisas em causa e ver qual a melhor maneira de as coisas funcionarem e serem justas.

    Não concordando com muito do que diz (mas acho que o objectivo é pôr-me a pensar e não a concordar), também há que pôr em causa o poder das distribuidoras porque as regras e custos da distribuição se alteraram. O que não é o mesmo que ter uma visão quase socialista da criação artística: é tudo do povo. É simplesmente cuidar dos interesses de todos (artistas e consumidores)e da justeza e exequibilidade dos processos.

    Não me mete necessariamente impressão as quantidades obscenas de dinheiro que ganham os artistas, porque esses vão de encontro a uma necessidade. A necessidade do mercado é a de entretenimento! As maiores indústrias não são de agricultura nem de transformação, mas de entretenimento. O mercado deve controlar tudo? Não sei! Que sociedade é esta em que a necessidade mais urgente não parece ser a de se alimentar nem de vestir nem de ser mais solidário mas de ser entretido? E ainda por cima tudo em regime "mainstream". E porquê? Ultimamente tenho andado mais virada para produções alternativas, mas isso é uma opção. Porque é que outros não optam pelo mesmo, dando uma machadada nos lucros obscenos dos actores e produtores? Possivelmente porque não lhes interessa e porque querem ler acerca disso nas revistas.

    Uma questão que não se levantou aqui foi a dos subsídios. Ainda um dia destes o Filipe La Féria dizia em entrevista ao Público (acho que na quinta-feira) a propósito da consessão do Rivoli no Porto que eram sempre os mesmos com os subsídios e que faziam disso modo de vida e de subsistência. E a ele acusavam-no de ser comercial, o que para alguns é o oposto de ser artístico. Essa é uma questão muito boa e que poucos se atrevem a levantar: até que ponto se cuida da cultura subsidiando tipos que sorvem subsídios e vivem de salas vazias, dizendo mal da falta de gosto e de cultura dos outros? É relevante para esta discussão porque se levantou a questão de estar a cultura em causa.

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  25. Ludwig

    Lamento mas não tem razão no que afirma. Pode repeti-lo mil vezes mas o modelo da Artist Share não é o modelo do Ludwig. O trabalho criativo de Maria Schneider terminou em Junho de 2004 e o cd continua à venda na internet. O que se passa é que os artistas optam por um modelo de negócio em que utilizam um canal de comercialização alternativo: a internet. Quando compra o cd aparece o "I agree" com os "terms & conditions" que lhe dizem não poder copiar nada, que os direitos estão reservados, etc.

    Leia o seguinte link:

    http://www.allaboutjazz.com/
    php/article.php?id=20137

    e verá que não tem razão. Se continuar a insistir então não vale a pena discutir mais este assunto. Cada um é livre de construir a realidade como quer, independentemente do que ela na verdade seja.

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  26. "The $18,000 executive producer -- which is limited to one participant -- gets, among other things, a credit listing as executive producer on the "Sky Blue" album; an invitation to a recording session; VIP access for a year to the Schneider Orchestra's performances; an inscribed copy of the limited edition "Sky Blue" CD; and monthly "Sky Blue" video updates."

    Pode crer, Ludwig, que se a Michelle Pfeiffer precisasse de um executive producer e se isso desse direito a passar umas horas com ela, só a conversar, o título era meu. Marketing puro, business as usual.

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  27. Pois...

    "Mas o facto é que se eu invento uma nova receita, eu não devia ter o direito de proibir os outros de a usarem sem me pagarem"

    Mas uma receita em casa, não envolve os custo de uma música num cd.

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  28. Anónimo,

    Eu ainda ajudo mais ao argumento.
    Se eu gostar muito de uma música, posso tocar a mesma em casa (execução musical), para meu usufruto, sem que me possam cobrar nada por isso. Mas, se quiser ter o autor ou o interprete a executar a mesma, o que eu quero não é a música mas, o trabalho especifico que alguém teve para a executar.
    Eu cozinho, e comprei vário livro de receitas. Executar uma dessas receitas é como por o CD a tocar. Não pago mais por isso. O que o Ludwig quer é por o CD a tocar copiado de um original que diz não ter interesse em comprar.
    Como o Desidério disse: Lérias. :-)

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  29. Acho que a questão central se prende com aquilo que os autores ganham e aquilo que as editoras ganham. Na entrevista que alguém linkou nestes comentários, Thom Yorke referiu que o último álbum dos Radiohead rendeu mais na Internet que os outros todos juntos. Porquê? A editora ficava com todo o lucro das vendas online. Penso que será apenas uma questão de tempo até que o regime de mecenato volte a aparecer. A internet favorece isso.

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  30. Que grande confusão que vai para aqui...

    O que se discute?

    O copyright ou a propriedade intelectual?

    A propriedade intelectual é e tem e ser um direito inalienável do ser humano numa sociedade dita livre e democrática. O plágio tem que ser punido. Queremos viver numa sociedade onde se incentiva o copianço e o roubo de ideias ou numa sociedade onde se incentiva a criatividade e a descoberta? A propriedade intelectual tem de ser protegida.

    O copyright....
    Antes, alguns números:
    Equipar um estúdio de som "a sério", custa muito dinheiro. Vejamos:
    Sistema de gravação baseado em computador (DAW), mesa de mistura, tratamento acúsctico, insonorização, local, microfones, compressores, amplificadores e toda a parefernália que equipa as reggies custa mais de 50 000 euros num estúdio dito "a sério" mas pode, com alguma facilidade, chegar ao milhão. Sabendo que um album demora a gravar, em média, 3 semanas, mais uma ou duas para a mistura (mais outra para a masterização num estúdio ainda mais caro e mais especializado). Sabendo que um ano tem doze meses e que engenheiro ou técnico tem direito a mês de férias, um estúdio grava 11 bandas num ano. Se o ordenado do técnico for mil euros, o do assistente for 500, o do administrativo for outros mil euros temos 2500 euros por mês. Mais os leasings do equipamento, mais a renda do espaço, electricidades e consumiveis de escritório, fará 4000 euros mês.Comissão do estúdio, mais mil euros dá um total de 5000 euros. Os custos de duplicação de CD's ficam na ordem 0.30 euros por CD vezes 20 000 unidades o que dá 6 000 euros. Somemos o ordenado do produtor, digamos 1500 euros(por baixo) e ficamos numa conta de 11500 euros, mais o custo da masterização (1000 euros), 12500 euros, mais o trabalho de arte da capa (digamos á volta dos 500), mais a promoção, mais o licenciamento (e aqui já não tenho ideia dos valores). Um artista, para compensar o investimento nele feito pela editora tem de vender 20000 unidades. Quantos artistas portugueses vendem 20 000 unidades? Poucos e muito do que se vende serve muito para compensar aqueles que não vendem. E quantos dos que vendem trazem valor acrscentadao à arte em si?
    Se a editora não vender CD's não há artistas a gravar albuns. Por isso existe o copyright, para proteger o investimento feito pelas editora, para que não entrem em bancarrota, para poderem avançar os 20 000 ou mais euros que custa produzir um album de um artista desconhecido que não tem esse dinheiro para investir. Apesar de os artistas apenas receberem uma percentagem que pode chegar aos 12% do preço bruto do album, sem o copyright não haveria artistas.

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  31. Já tem uns aninhos mas parece-me interessante pela a perspectva histórica

    http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2002/06/29908.shtml

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  32. http://www.midiaindependente.org/pt
    /blue/2002/06/29908.shtml

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  33. O que se discute?

    A acessibilidade da cultura a todos?

    Não faz sentido. Podemos ouvir música sem pagar pela rádio, pela televisão, etc. É a única forma de arte que está tão abrangentemente disponível a todos. A pintura e a escultura, só em museus e galerias. Quero ver a mona lisa, só no louvre. O pensador de rodin apenas podemos vê-lo também em paris. Até os manuais escolares estão sujeitos ao copyright e á propriedade intelectual e não estão disponíveis pela rádio ou televisão. O teatro e a dança apenas são acessíveis nos locais de espectáculo. Como podemos falar da cultura acessível a todos em relação à música quando esta e o cinema são os únicas formas de arte a que podemos aceder gratuitamente em qualquer sítio onde haja um rádio e uma televisão?
    Não é o argumento em si que falha, o que falha é o facto de ser convenientemente usado hermeticamente em relação à música. E é aqui que concordo em absoluto com o Desidério Murcho quando diz "os defensores da cópia à balda querem apenas usufruir do trabalho dos outros sem pagar", porque se estão positivamente a borrifar para arte, porque a arte não é só música e a música não é só aquilo que passa na MTV e na MCM que é o grosso dos downloads ilegais.

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  34. "Antes de Gutenberg os autores viviam de criar e não das cópias"

    Este argumento é fraco, muito fraco.
    A frase correcta seria " Antes de gutemberg os autores SOBREviviam de criar e não das cópias". Ainda mais correcta ficaria se fosse ". Antes de Gutemberg viviamos todos na obscuridade científica e na miséria".

    Aliás, se pensarmos que Bach é do sec XVIII e Gutemberg do sec XV ...

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  35. "O copyright só fez sentido porque a cópia era um bem escasso que exigia recursos consideráveis e era o factor limitante no acesso à obra."

    Explique-me em como é que isto mudou para um artista que se inicie agora.

    "Quem não tem dinheiro fica privado da obra apesar da cópia ser gratuita e é preciso esperar setenta anos após a morte do autor para que a obra possa ser usada na criação de outras. "

    Quem não tem dinheiro fica privado não da música, mas sim de uma música comcreta que quer ter.
    A segunda parte da frase é falsa. Pode usar a música na criação de outras, não pode é fazê-lo sem autorização nem apresentar-se como o compositor, da obra. Quanto aos setenta anos até ser considerada domínio público, não vejo mal nehum nisso, afinal também herdamos as coisas dos nossos pais. Mas atenção, esses 70 anos só lhe dão o direito de poder tocar ou gravar essa música em publico sem pedir autorização a ninguém. Se fizer download dessa música estará a cometer uma ilegalidade pois os 70 anos apenas se referem à propriedade intelectual e não ao copyright.

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  36. Ludwig:

    Dizes que não tem a ver com altruismo, mas tem.

    E eu expliquei em que medida é que tem. Viste o exemplo do indivíduo com os 100 000 apreciadores moderados?
    Ele precisa de 1000 moedas destes apreciadores para poder lançar o album. Cada um destes apreciadores acha que o album vale 12 moedas, e o album pode ser comprado por 10.

    Por isso, no sistema antigo do copyrigth, todos eles iram comprar os CDs. O artista e a editora teriam lucro, e todos eles ficariam a ganhar 2 moedas.

    Num sistema sem copyrigth eles têm outra opção. Podem não comprar e copiar a música de outros. Se comprarem ganham 2 moedas. Se não comprarem ganham 12.

    Visto que é preciso que 1000 comprem, e cada um deles não lida com a maioria dos restantes, cada um deles sente que da sua decisão individual não vai depender a saída ou não do album. Então, eles não vão comprar. Só comprariam se fossem altruistas.

    Peço-te qe releias os exemplos que dei, e até as observações que fiz a respeito da cultura ficar mais direccionada para os fãs.

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  37. não me dei ao trabalho de ler os comentários todos, portanto não tenho a certeza de já alguém ter mencionado isto:


    Os Nine Inch Nails também decidiram seguir, de certa forma, o modelo dos Radiohead e utilizar a internet para vender o novo álbum deles em vez de usar uma 'label'.

    Ao mesmo tempo, no site ao lado (mininova.org) já está um torrent com a versão MP3 do álbum.

    No entanto, surpreendentemente para o Desidério aposto, mesmo assim os NIN queixam-se que os servidores estão de rastos e pedem desculpa aos fãs, mas estão a tentar arranjar mais servidores para atender todos os pedidos.

    Acho que esta históriazinha vai mesmo contra a ideia do Desidério de que se for dada uma versão grátis, nenhum ouvinte vai pagar.

    A $5 o download (mais barato), sinto que os servidores estarem a ter tantos downloads (mesmo havendo a versão completa, grátis ao lado) que não conseguem aguentar, é prova que os fãs de facto pagam, e que o sistema não é tão atroz quanto isso.

    É também verdade que estamos a falar de uma banda já estabelecida, com muitos fãs, o que torna estas atitudes mais fáceis.

    Eu também sou da opinião que esta limitação sobre o que é que se pode ou não copiar quando a cópia é tão barata é ridicula. Quando (se) um dia for 'de borla' produzir uma maçã (vide replicator (star trek)) será que vamos proibir a cópia da maçã para dar ao pobre só porque o merceeiro precisa do seu ganha-pão?

    Acho que era muito melhor que se arranjassem outras profissões, outras coisas para fazer, que certamente haverão.

    Hoje em dia já não há ferreiros (em abundância) e ninguém lamenta o avanço que houve na tecnologia de transporte, porque é que haveremos de lamentar um negócio que cada vez mais faz menos sentido?

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  38. Para muinta gente ainda não é tão fácil descarregar mp3 pirata. Embora esteja acessível.

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  39. Caro ardoric:

    "Quando (se) um dia for 'de borla' produzir uma maçã (vide replicator (star trek)) será que vamos proibir a cópia da maçã para dar ao pobre só porque o merceeiro precisa do seu ganha-pão?"

    Provavelmente (não o digo com satisfação).

    Há algum tempo que se conseguem produzir diamantes (e rubis e etc) em laboratório. O seu grau de pureza é mais elevado do que o dos diamantes "naturais" mas no entanto o seu valor é inferior. A sua produção também é controlada em quantidade (foi o que me disseram) para proteger as economias.

    Não se esqueça que o custo de duplicação da moeda é inferior ao valor facial dela e não é por aí que se ajudam as economias mais débeis, como a minha...

    E repare que o álbum custa 5$, não é de borla como no caso dos Radiohead. E mesmo assim as músicas de ambas as bandas têm copyright.
    E já agora, o Trent Reznor (líder dos Nine Inch Nails) é também o produtor de Niggy Stardust, o album de Saul Williams. Este album foi lançado um mês ou dois antes do album do Nine Inch Nails num sistema semelhante ao dos Radiohead. Não sei qual foi o resultado mas suponho que tenha sido mau e que o Trent Reznor tenha percebido que este tipo de aventuras só resulta para artistas conceituados, "de culto", com muitos fãs. Se tivesse sido bom teria feito o mesmo com o album da sua banda a menos que obrigações contratuais o tivessem proibído.

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  40. António Parente:

    «Quando compra o cd aparece o "I agree" com os "terms & conditions" que lhe dizem não poder copiar nada, que os direitos estão reservados, etc.»

    Desidério:

    «Queres uma aposta que se eu fizer um site amanhã e meter lá as músicas todas desta moça, ela vai tentar fechar-me o site?»

    Se a lei lhe dá o privilégio de exigir que não se copie a música e de fechar os sites que distribuam a música, é natural que ela usufrua disso. Se a lei obrigasse a que todas as pessoas chamadas Desidério dessem €50 por mês a todos com o nome Ludwig eu também me sentia tentado a aprovetar :)

    Mas o que eu estou a dizer é que um sistema como o do artistshare não depende desta lei nem destes monopólios sobre a cópia. O artista ganha dinheiro à mesma porque os fãs estão a pagar para que o artista crie a música. Pode ganhar um pouco menos dinheiro, talvez, mas isso não vai fazer grande diferença na criatividade. E se compararmos com o impacto positivo que tem ter toda a arte no domínio público, é mais que compensada pela eliminação destes obstáculos à criação de obras derivadas.

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  41. Caro Ludi

    O que tens em mente é uma maneira diferente de os criadores se financiarem. O resto não interessa para nada -- todas as pretensas justificações políticas, morais, sociais e eu sei lá que mais da cópia de ficheiros contra o consentimento dos autores. Toda essa treta é poeira que não ajuda nada. É tentar dar um ar de sofisticação conceptual ao puro vento.

    O que está em causa é esse modelo de financiamento. No teu Admirável Mundo Novo, será tudo uma maravilha. Mas isto é falso por duas razões.

    Primeiro, o modelo que tens em vista, e a que já estamos a assistir, é o modelo do 1%. Serviços como o Flickr podem ser gratuitos porque basta que 1% dos seus utilizadores paguem a versão PRO para dar lucro. Isto é muito giro para tretas como o Flickr, mas para um músico independente, que no melhor dos mundos terá uns 30 mil ouvintes no mundo inteiro, isto é impraticável. Porque se só pagar a música do gajo quem lhe der na telha pagar, o músico só consegue ganhar a vida como músico se tiver milhões de fãs. Portanto, este sistema não ajuda nada os músicos independentes. Ajuda as grandes companhias da Internet e ajuda os grandes músicos com uma carteira imensa de fãs. Os outros, vão trabalhar para um restaurante. E agora vou ser mauzinho: que é o que queres, já que tens inveja do Tom Hanks.

    Segundo, o modelo é injusto porque faz 1% das pessoas altruístas pagar pelos outros todos. Em termos económicos chama-se sucker a estas pessoas. (Eu sou um sucker, por exemplo: paguei todo o software que uso no meu computador, apesar de uma parte substancial ser de pagamento opcional, como o FileZilla ou o Izarc ou o Lanchy ou o CCleaner; mas fiz questão de pagar aos autores.) E os outros são todos free-riders. O que pode haver de tão maravilhoso neste modelo económico? Que ele está aí, é óbvio. Mas que se bata palmas de alegria por esta imbecilidade é imbecil. :-)

    Vale a pena ler este artigo para se perceber do que estou a falar:
    http://www.wired.com/techbiz/it/magazine/16-03/ff_free
    Eu compreendo muito bem este modelo de negócio. Terá aspectos positivos e negativos. Mas não me venhas com lérias de que isto é o paraíso sobre a Terra, que estimula a criação, que apoia os criadores independentes e que tira o cacau das mãos das grandes empresas, distribuindo cultura de borla a rodos. Tudo isto é treta pura, Ludi. Em grande parte, uma treta inventada para apaziguar o ego de quem quer consumir o trabalho dos outros sem pagar, os imensos free-riders do mundo. Mas neste modelo económico nada há de maravilhoso. Note-se que não estou a dizer que no modelo económico anterior, e que ainda existe, era o melhor dos mundos. Não era. Não há modelos perfeitos. Só estou a atacar duas coisas: 1) que o novo modelo seja uma maravilha e 2) que seja de aplaudir a cópia de ficheiros contra a vontade dos criadores.

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  42. Correcção:
    Disse que os albuns de Radiohead e de Nine Inch Nail têm copyright mas não é verdade. Não têm copyright (podemos copiar) mas todos os direitos das músicas são deles (propriedade intelectual).
    Peço desculpa.

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  43. João,

    «E eu expliquei em que medida é que tem. Viste o exemplo do indivíduo com os 100 000 apreciadores moderados?»

    Tu usas muito estes exemplos mas têm sempre um problema fundamental. Tu estipulas que há N pessoas dispostas a pagar X mas que na verdade nem sequer pagam um Y<X, e dizes que isto é mau porque as pessoas pagariam X se a tal fossem obrigadas.

    Isto, na verdade, é o mesmo que dizeres que todas as vendas são injustas se forem feitas abaixo do preço máximo absoluto que o comprador estaria disposto a dar. Não é uma negociação realista.

    Os teus exemplos dizem isto: se não há leis a restringir o acesso, as pessoas estão só dispostas a pagar X. Se há leis a restringir o acesso as pessoas estarão dispostas a pagar mais que X. Ou seja, o monopólio aumenta o preço do bem. Não é novidade nem justifica a criação do monopólio.

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  44. Durante décadas gravamos fitas cassetes uns para os outros, e ninguém chamava isso de crime. Talvez porque a qualidade da cópia era inferior à do LP; se as cópias fossem feitas a partir da fita cassete, então, a qualidade piorava ainda mais.

    Acho que agora eles consideram crime porque se perde muito pouca qualidade ao copiar-se o CD original e principalmente porque fica fácil disponibilizar as músicas na Internet.

    Eu, por exemplo, baixo clássicos pela comunidade Opera Share. Quando encontro uma versão de que gosto imenso ou uma obra desconhecida maravilhosa, de um compositor como Kalliwoda, a tendência é que eu compre o CD original quando o encontro em alguma prateleira ou que eu faça a compra online. Tenho prazer em apagar os mp3 quando recebo o CD original. A capa, o encarte, o libretto, a impressão no CD, a sensação de estar contribuindo para a indústria fonográfica erudita - tudo isso, confesso, me dá um prazer extra. E o prazer de colecionador também. Não suportaria ter uma discoteca de clássicos queimados pelo Nero... Se as músicas não me agradam, por outro lado, apago o mp3 de qualquer jeito.

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  45. As pessoas não presenteiam cópias piratas. Quando se dá de presente um CD ou um DVD, compra-se sempre o original.

    Baixo um CD do Black Eyed Peas, ouço uma ou outra vez o álbum inteiro e apago os mp3. Eu NUNCA compraria o CD daqueles medíocres. Baixo para ouvir, para conhecer, porque está na moda, talvez, e porque o ritmo dançante e cai bem no som do carro... Esses rappers não receberão dinheiro de mim de qualquer maneira. A diferença possível, neste caso, é eu ouvi-los ou não ouvi-los. Se for obrigado a comprá-los, deixo de ouvir. Se posso ouvi-los sem comprar, ouço e depois de um tempo apago os arquivos.

    Aí me pergunto: para eles, é melhor que eu os conheça ou que não os conheça?

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  46. e porque o ritmo dançante cai bem no som do carro*

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  47. Ludwig:

    Já é a segunda vez que me respondes e me parece que não leste o que escrevi com atenção.

    Nunca estaria em jogo as pessoas pagarem X (as 12 moedas), mas sim Y (as 10 moedas que o autor pediu por elas).

    E o problema central aqui é o financiamento. O autor precisa de dinheiro para fazer a sua música, como vai proceder?

    Peço desculpa pela repetição, mas aqui vai tudo de novo:

    «o autor diz: preciso de vender 10 000 cópias para tornar público o album. Vamos assumir que o autor tem 9000 fãs, e 100 000 apreciadores moderados. Os 100 000 apreciadores moderados estariam dispostos a pagar 12 moedas pelo album, e o album só custa 10 moedas.»

    Ele precisa de 100 000 moedas para pagar as despesas que o album envolveu, e ter um lucro que compense o risco que correu e o trabalho que investiu.
    Por isso, na internet "vende" o album por 10 moedas. Se atingir as 10 000 vendas publica o album que se torna gratuito. Se não, devolve o dinheiro e o album nunca se tornará público.


    «Os fãs não pensam racionalmente e vão logo comprar o album. Só 10 moedas? Nem hesitam.

    Falta o autor vender 1000 albuns, e há 100 000 apreciadores moderados que estariam dispostos a pagar 12 moedas pelo album, quando ele só custa 10. Parece fácil.»

    Parece, não parece?
    O autor já só precisa de 10 000 moedas para lançar o album, e existem 1 200 000 potenciais moedas, que gerariam uma mais valia de 200 000 moedas para os possíveis clientes. No mundo perfeito em que tu acreditas, isto vai acontecer. Mas o mundo real é diferente:

    «Parece fácil.
    Mas não é. Cada um dos apreciadores pensa assim: "basta esperar um pouco, e alguém compra o album, e eu fico com ele gratuito". Basicamente: podem ganhar 12 modas em vez de 2. Em termos das alternativas que dispõem, comprar o album seria deitar 10 moedas para o lixo, ou para ajudar a sociedade.

    Sabes que quanto mais concorrentes mais previsível é o desfecho do jogo do prisioneiro...

    Cada um dos 100 000 apreciadores moderados opta por não gastar 10 moedas, para poder ganhar 12.
    No fim, todos perdem 2. Não são apenas 200 000 moedas que se perdem: todos os 9000 fãs ficam sem acesso à sua música. E o artista sem acesso ao seu ganha-pão.

    Todos ficam a perder.»

    Nota que aqui não considerei NADA imoral alguém ficar gratuitamente com algo pelo qual estaria disposto a pagar 12 moedas. Isso não é imoral: é óptimo!

    O que não é óptimo é que todos percam as 2 moedas que poderiam ganhar, e o artista fique sem ganha pão, e os fãs fiquem a ver navios. Que fiquem todos a perder.

    E ninguém é o culpado. Apenas o egoísmo e a ganância individuais, tão naturais como a gravidade.


    Por fim acrescentei noutro comentário à frente:

    «Claro que o autor pode mudar a sua estratégia: esquece os apreciadores moderados, e apenas se dirige aos fãs. Se conseguir ter 10 001 fãs e nenhum apreciador moderado, vai conseguir lançar o album.

    Isto é positivo ou negativo? É óbvio que tem um enorme aspecto negativo visto que a esmagadora maioria das pessoas é muito mais "apreciadora moderada" do que "fã incondicional" da maioria dos bens culturais que usufrui.
    Uma cultura que apenas encontra sustentabilidade económica no mercado dos fãs incondicionais é uma cultura que não serve as pessoas - a maioria pelo menos.»

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  48. Caros João Vasco e Ludi

    Gostaria de sublinhar isto que o João disse e bem:

    “O que não é óptimo é que todos percam as 2 moedas que poderiam ganhar, e o artista fique sem ganha pão, e os fãs fiquem a ver navios. Que fiquem todos a perder. E ninguém é o culpado. Apenas o egoísmo e a ganância individuais, tão naturais como a gravidade.”

    Isto é o que já acontece com pequenos criadores de software muito bom — por vezes muito melhor do que as suas contrapartes profissionais. Como metem o software de borla na Net, só 1% das pessoas, os suckers como eu, o pagam. E o gajo lá tem de continuar a trabalhar na empresa onde trabalha e ir melhorando o seu software ao fim-de-semana, quando poderia tranquilamente viver disso — se todos os free-riders que usam o software dele pagassem uma quantia risível, 10 dólares ou menos.

    Este modelo de negócio é uma patranha. Só beneficia as grandes empresas porque só as grandes empresas como o Google, o Yahoo, etc., podem sustentar-se de um negócio em que só 1% das pessoas que consomem o produto o pagam.

    O que acho absolutamente surpreendente é que os Evangelistas do Admirável Mundo Novo Digital não vejam isto. Faz-me lembrar os comunistas que eram grandes defensores da Liberdade: viu-se bem a liberdade incrível que os regimes comunistas proporcionam às pessoas... Mas eu não duvido que a generalidade dos comunistas pensavam genuinamente que no seu modelo social haveria maior liberdade. Mas estavam enganados. Estavam enganados porque quando concebiam o seu Novo Modelo Social esqueciam-se que a generalidade das pessoas não são santinhas. Tal como tu, Ludi. O sistema que tens em mente só seria melhor do que o actual se houvesse apenas 1% de free-riders e 99% de suckers. Se isso fosse assim, a vida seria mais simples, eu concordaria contigo, e o futuro digital seria brilhante. Infelizmente, as coisas não são assim e o futuro digital não é brilhante.

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