quarta-feira, março 26, 2008

Miscelânea Criacionista: O Propósito.

Um aspecto fascinante dos seres vivos é o propósito aparente das suas formas. Uma pedra não parece servir um propósito mas um pássaro parece ter sido criado para voar. Isto pede uma explicação. Queremos compreender os processos que criaram esta aparência de propósito. O «Mats» perguntou «Como é que o Ludwig sabe que o propósito é uma “aparência” e não uma realidade?»(1). Que é aparente salta à vista. Se é real ou não é uma boa pergunta.

Algo pode ter propósito por ter sido criado para servir um propósito do seu criador, como os martelos e os automóveis. Ou pode ter os seus próprios propósitos, como nós e alguns dos outros animais. Algumas religiões assumem que só os humanos podem ter propósitos próprios porque os restantes animais não têm “alma”, mas isso é treta para outra altura. Agora quero focar o propósito da criação, a premissa central do criacionismo. O pássaro parece ter sido criado com o propósito de voar, dirá o criacionista, porque foi criado de propósito por um deus omnipotente. A pergunta do «Mats» dá para os dois lados, mas eu já sei como é que ele responde. Leu num livro. E este não é o único defeito na sua hipótese.

Primeiro, a hipótese do deus omnipotente torna impossível compreender o mecanismo que deu ao pássaro essa aparência de propósito que nos intriga. Os detalhes ficam debaixo do tapete do milagre divino. Segundo, que propósito servirá o pássaro para um deus omnipotente? Nós agimos com propósito porque queremos resolver problemas. Levamos o guarda-chuva para não nos molharmos e fazemos o jantar para o comer. Ora um deus omnipotente não tem problemas para resolver. Por definição, está sempre tudo como ele quer. Não se percebe para que raio lhe serve um pássaro. Mais um mistério debaixo do tapete.

Com o criacionismo não sabemos o como nem percebemos o porquê, mas vamos assumir que o propósito real do pássaro é o seu propósito aparente. Deus criou os pássaros para voar, os peixes para nadar, os caracóis para rastejar lentamente e assim por diante. Como explicação é fraquinha porque cada caso tem a sua. E tem problemas. O pinguim é um pássaro que nada e não voa. Há peixes voadores, peixes com pulmão, 350,000 espécies de escaravelho (conhecidas), parasitas, varejeiras. O tapete já tem altos e não se vê ordem nisto. O que esta bicharada tem em comum é que todos propagam as suas características às gerações futuras. Será este o Propósito da vida? Porquê? E porquê asas, escamas, dentes, ferrões, cérebros, pólen e tanta tralha se o propósito é só a replicação? Para isso basta simples moléculas orgânicas. Não há tapete que tape tanto mistério...

A alternativa é supor que a propagação faz parte do mecanismo que cria a aparência de propósito em vez de ser o propósito em si. A herança com modificações, de geração em geração, favorece as combinações vantajosas à propagação. Isto tira o mecanismo de debaixo do tapete, explica porque todas as espécies propagam as suas características e explica a diversidade dos seres vivos. Esclarece também o mistério do propósito aparente. O pássaro parece feito de propósito porque seria muita coincidência ter tantas características a contribuir de forma coordenada para o voo. Mas não é coincidência. São milhões de anos de selecção natural que criaram o pássaro quase como se tivesse sido criado por um ser inteligente para o propósito de voar.

Resolve também o problema dos propósitos do tal deus e do propósito original. Os primeiros replicadores não tinham, nem aparentavam, propósito. Eram moléculas orgânicas simples que apenas se copiavam. Em vez de postular um propósito vindo sabe-se lá como e sabe-se lá porquê, com esta hipótese a aparência de propósito e, eventualmente, os propósitos de seres como nós, emergem de um processo sem propósito. E de forma compreensível, sem mistério ou milagre. Já não é preciso o tapete.

Respondendo à pergunta do «Mats», eu sei que o propósito aparente dos seres vivos é só aparência porque é a melhor explicação. A teoria da evolução explica os detalhes e encaixa bem no que sabemos. A alternativa criacionista só tenta disfarçar a ignorância dizendo, de forma rebuscada, que é assim porque um deus quis.

1- Mats, 23-3-08, Ludwig Krippahl - A origem da evolução – 4

8 comentários:

  1. Ora aqui sim sabemos do que estamos a falar.

    (Admiro de verdade quem nesta época da História mostra aos IDiotas, dia após dia, que não passam de fracos observadores de mais fraco raciocínio acerca do que observam - eu, pessoalmente chamo-lhes BURROS e EGOISTAS e há que combatê-los com todas as armas. Cospem no prato que comeram a vida toda, devem tudo o que são hoje aos homens da ciência mas pegam no pratinho e lá vai uma cuspidela antes de, por exemplo, pegar no pc e ligar a net. Não percebem que se uma coisa então... outra. Vivem agarrados a um Deus assassino, infanticida, mesquinho, racista, ditador e egocêntrico só para se salvarem do castigo divino: burros e egoístas)

    Bom Post

    (O Dir T.I. do post anterior)

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  2. brgegkatBurros talvez sejam, mas egoistas não creio. Existem muitas Madres Teresas de Calcutá em todas as religiôes que agem pelos melhores motivos.O problema aquí é mesmo a falta de capacidade de raciocínio crítico autónomo: os creacionistas aprendem logo em pequenos certos Leitmotive e não são capazes de deixar de os tocar. Tornam-se teimosos e dogmáticos por receio de quebrarem a sua rotina de crênças e a sua vida deixar de fazer sentido.
    Já agora pergunto qual a necessidade de a nossa vida fazer sentido? Desconfio que a minha não faz sentido nenhum, mas isso não faz de mim uma pessoa infeliz ou perdida ou whatever. O que a minha vida tem de ser é agradável, saudável e interessante, e que se dane o tal de sentido.
    Mas para quem precisa mesmo dum sentido, aconselho o filme dos Monty Pyton "The meaning of life".
    Karin

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  3. Ludwig,

    Estou curioso para saber como correu a conferência com o jonatas machado em braga...

    Sempre foi fimaldo?

    Para quando um relato?

    MC

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  4. Mas para quem precisa mesmo dum sentido, aconselho o filme dos Monty Python "The meaning of life".


    Olha a Karin... pretty face to be seen! :)

    Ena! e raciocínio crítico autónomo... diapasão e metrónomo!!! :D

    Antes ainda, ó Bela, há uma dádiva que a Vida consciente nos concede... sentir antes de sequer pensar ou ser senciente para além de racional.

    Sim, o grande óbice com aquilo que se aprende nos livros... whatever book may be!... é que talvez muito pouco dessa sabedoria se dirige a essa incrível magia que é o "íntimo sentimento". Deveras, apenas sabemos aquilo que sentimos ou na alma intuímos!

    "Ler é viajar na alma de alguém!" Adoro esta frase sobre a leitura, porque não é da mente racional que se fala, mas sim da alma comum universal que podemos reconhecer no outro nessa imediata empatia do sentir... eso es vivir! :)

    Oh... mas das 3 Ursinhas só conheço a Abobrinha, não a Cristy nem a Karin(ha)!

    Logo, sinto aquilo que não sei...

    Rui leprechaun

    (...e sem saber sentirei! :))


    Monty Python's "The Meaning of Life" - Galaxy Song

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  5. Ludwig disse:

    "São milhões de anos de selecção natural que criaram o pássaro quase como se tivesse sido criado por um ser inteligente para o propósito de voar."

    Alguém observou esses supostos milhões de anos?

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  6. O Ludwig Krippahl e a Palmira Silva são especialistas em propaganda, metendo os pés pelas mãos quando confunde a estrutura de um cristal com a informação codificada contida no DNA.

    A informação não é uma qualquer sequência de nucleótidos, por mais improvável que seja.

    Assim como uma qualquer sequência de letras não contém informação.

    A informação consiste no significado adscrito a algumas sequências de nucleótidos (código), informação essa com base na qual se pode construir estruturas e funções com características, propriedades e funções não inerentes aos compostos químicos do DNA.

    Contrariamente ao que o Ludwig Krippahl a Palmira Silva sugerem (sem nunca o provar) a informação só pode ser o produto de uma inteligência, porque só com base em inteligência se pode conceber uma ideia e construir um código para armazenar a respectiva informação.


    E no entanto, nós temos a vida, a complexidade especificada e integrada do DNA, com quantidades de informação que mesmo os mais inteligentes consideram esmagadora.

    Para existir, a vida necessita de DNA, que necessita de enzimas, que necessitam de RNA que necessita de DNA.

    O circuito informacional da vida está fechado. Ele foi fechado na criação.

    A probabilidade de a vida surgir por acaso é simplesmente zero.

    A vida teve que ser inteligente e instantaneamente criada para poder funcionar.

    Defender o contrário é pura propaganda.

    O mais incrível é que o Francis Crick pode escrever livremente nas revistas científicas sobre a sua teoria da “panspermia”, Carl Sagan pode escrever livremente sobre os “contactos com inteligências extra-terrestras”, Richard Dawkins pode especular livremente sobre a “selecção natural de universos”, mas os criacionistas são criticados por dizerem o que é óbvio:

    A quantidade de informação codificada no DNA (genes e códigos epigenéticos) é produto de um Criador omnipotente e omnisciente.

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  7. Caro Jónatas,

    «O Ludwig Krippahl e a Palmira Silva são especialistas em propaganda, metendo os pés pelas mãos quando confunde a estrutura de um cristal com a informação codificada contida no DNA.»

    Pode citar as minhas palavras onde eu confundi a estrutura do cristal com a informação no DNA? Estou interessado em corrigir o meu erro se for caso disso, ou gostava de o ver corrigir o erro da sua acusação no caso contrário. Seja como for, peço-lhe que ajude a esclarecer isto.

    Obrigado.

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