quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Borlas.

Recebi por email uma ligação ao LectureFox (1), um directório para aulas e cursos universitários sobre vários temas. Fundamentos de física, teoria das cordas, química geral, geoquímica orgânica marinha, linguagens de programação, história da informação, introdução ao Antigo Testamento, há lá de tudo. E é tudo gratuito.

Muitas universidades têm cursos inteiros online, mas se são públicas é natural que disponibilizem as aulas gratuitamente. O interessante é universidades privadas como Yale e Harvard fazerem isto. Sem DRM, sem processar quem partilha, sem chatear ninguém nem cobrar nada. E é justo. Mesmo quem não tem dinheiro para propinas e livros deve poder aprender física ou psicologia ou matemática. Se é prático difundir esta informação gratuitamente a sociedade deve fazê-lo, porque todos, ricos ou não, têm direito ao acesso à cultura. Seja ciência seja arte.

Mostra também que a distribuição gratuita é compatível com a remuneração. Um professor em Harvard é bem remunerado. Porque a remuneração justa é a que recompensa a criação de um valor, como preparar e dar as aulas, dar um concerto, fazer uma descoberta científica ou compor uma música. Copiar bits não cria valor nenhum, e no conteúdo digital não é a cópia que merece recompensa.

É verdade que o compositor não dá aulas, mas se cria algo de valor pode negociar com quem lhe queira pagar por isso. E podia dar aulas. Tal como na ciência, é não só é vantajoso incentivar o autor a criar mas também a ensinar outros. Infelizmente, a tendência neste momento é restringir a disseminação ao ponto de estrangular a criatividade artística. Enquanto as universidades distribuem o conteúdo de graça as discográficas exigem que se corte a internet a quem partilhe canções. Enquanto se organiza o acesso gratuito à investigação científica legisla-se mais restrições ao acesso à arte.

A diferença é que as universidades, mesmo as privadas, vivem da inovação. E a inovação é tanto maior quanto mais fácil for o acesso à cultura e educação e quanto maior for a liberdade de usar essa cultura em criações novas. As universidades, a criatividade científica e a sociedade prosperam mais quando a cultura é abundante e gratuita.

As discográficas vivem da cópia e não da inovação. Lucram quando a cultura é escassa, de difícil acesso e fornecimento controlado. A inovação, a educação musical e a liberdade de criar são inimigos deste modelo de negócio assente em copyrigths de setenta anos e no fabrico de sucessos artísticos pela publicidade e controlo dos meios de comunicação.

O que me traz a outra borla, o filme Good Copy, Bad Copy (2), que vi hoje seguindo a recomendação do leitor «ardoRic». É um documentário interessante, bem feito, e gratuito. O vídeo em boa qualidade tem quase 700Mb, mas descarreguei-o com o μTorrent (3) em menos de uma hora aqui de casa. Mais um exemplo das vantagens da distribuição digital livre.

Finalmente, a última borla de hoje é mais sobre censura que copyright, se bem que não esteja totalmente fora da mira dos proprietários «intelectuais». A Wikileaks (4) é uma wiki que usa vários métodos de encriptação e redirecionamento de tráfego para garantir a segurança de quem submete documentos. Criada por um grupo de jornalistas, o objectivo é facilitar denuncias por parte de funcionários de companhias e governos que tenham coisas a esconder. Agora um juiz na Califórnia mandou encerrar o domínio wikileaks.org a pedido dos advogados de um banco nas ilhas Caimão que quer impedir o acesso a alguns documentos que foram colocados neste site (5).

É claro, sendo a internet o que é, a única coisa que o juiz conseguiu foi tirar-lhes o nome do domínio. O resto está lá tudo, inclusive no mesmo endereço IP (88.80.13.160). Viva o digital.

1- LectureFox.
2- Good Copy, Bad Copy
3- μTorrent
4- Wikileaks
5- Stephen Soldz, Daily Kos, 18-2-2008Wikileaks Under Attack: California Court Wipes Wikileaks.org Out of Existence

2 comentários:

  1. Obrigado pela dica sobre a matéria administrada nas aulas e nos cursos universitários.

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  2. Muito bom! Deviam ser todas assim

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