terça-feira, novembro 13, 2007

A treta do copyright: biblioteca digital.

Até agora tenho criticado as justificações mais comuns do copyright, como o direito de restringir o acesso à cultura ou a necessidade de dificultar a cópia. Neste post tento consolidar estas críticas com um exemplo positivo e familiar. A biblioteca. Presumo que ninguém considera as bibliotecas imorais ou que o autor tem o direito de proibir que as bibliotecas disponibilizem a sua obra. Também vou assumir que ninguém condena o estado por financiar bibliotecas públicas.

As bibliotecas têm custos de infra-estrutura e pessoal, para armazenar os livros, discos e filmes, organizá-los e gerir os empréstimos ao público. Têm também custos de licenciamento pois têm que pagar aos gestores de direitos. Um exemplar na biblioteca é caro porque tira negócio ao distribuidor, e a sociedade precisa de quem faça milhões de cópias e as venda ao público.

Destas, o autor recebe uma percentagem muito pequena. A maior parte do custo de um livro, CD, ou bilhete de cinema está na distribuição e venda, não na criação artística. E a pequena percentagem que o autor recebe é um incentivo ineficaz. Os poucos que são famosos ganham fortunas muito além do incentivo e muitos ficam de fora por má publicidade ou simples azar, não por terem menos a contribuir. É o enorme custo de distribuição, muito superior ao de incentivar a criatividade, que justificou o mecanismo de «copyright» no século passado. Este sistema sustenta o distribuidor, a quem dá quase todo o lucro e controlo. Tem funcionado menos mal porque normalmente sobra algo para o autor.

Isto limitou o papel do estado na criação e distribuição de obras populares, ao contrário do que acontece com a ciência e outras actividades académicas. Não porque a criação em si seja diferente. É preciso profissionais qualificados em ambos os casos. Mas por não ser preciso milhões de cópias de um artigo científico as publicações científicas podem ser suportadas pelo estado, que é quem compra as assinaturas para as universidades e bibliotecas. Foi o custo de distribuição que obrigou a proteger o comércio privado concedendo direitos exclusivos de cópia. Até agora.

Uma biblioteca não precisa de um edifício nem de bibliotecários. A Wikipedia, o Pirate Bay e o defunto BTuga são exemplos da capacidade de organização espontânea dos utilizadores. Também não precisa de carimbar livros, arrumar ou sequer ter espaço de armazém. A rede garante que o material não se perde. E com o conteúdo digital é mais barato deixar distribuir que impedir a distribuição.

É absurdo gastar recursos a impedir a distribuição gratuita. Podemos incentivar a criatividade sem proibições, como já se faz noutras áreas. O estado não faz milionários de matemáticos, filósofos ou cientistas, mas também não é preciso ser milionário para ser criativo. E nada impede que o mercado torne milionários quem cria ciência ou arte. Nem é preciso alterar a venda de livros, CDs e bilhetes de cinema, onde o sistema de direitos exclusivos funciona. Funciona mal, mas é melhor que pôr o estado a gerir o enorme investimento na distribuição. Mas o conteúdo digital é diferente.

Economicamente, faz sentido considerar a rede digital uma biblioteca de acesso livre. A proibição é dispendiosa, tanto pelo custo directo de fiscalizar e punir como pelo enorme custo de oportunidade, e a informação na rede é partilhada e organizada espontaneamente, a custo zero. Mesmo não considerando que é imoral restringir o acesso à cultura em função do poder de compra e que os zeros e uns já eram de todos antes de inventarem os computadores, só pela economia da distribuição digital devemos substituir o copyright por direitos comerciais. E, se for necessário, pode-se financiar directamente os artistas. É muito mais barato convencer artistas a criar arte do que impedir todos os outros de a partilhar.

33 comentários:

  1. "A proibição é dispendiosa, tanto pelo custo directo de fiscalizar e punir"

    Pode-se abolir o Código Penal, o sistema judicial e fechar as prisões. Em seguida estabelece-se uma única lei: é proibido proibir. Desaparece o copyright e poupa-se dinheiro aos contribuintes.

    Hoje li um artigo contra o copyright com um argumento bizarro: beneficia as empresas de telecomunicações e de fornecimento de serviços de acesso à internet ao estimular a troca de ficheiros. Mas pelo menos afasta outro argumento mais bizantino: a tragédia dos comuns.

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  2. «Pode-se abolir o Código Penal»

    Depende. Pode-se abolir penas para o consumo de alcool e marijuana ou para as mulheres que andam na rua sem véu. É pior castigar essas coisas que deixar as pessoas fazê-las. Outras, como a violação e o homicidio, mais vale punir e tentar prevenir.

    Neste caso, trocar bits para uso pessoal não é algo que mereça castigo, mesmo que outros haja que julgam que os bits são seus ou que as mulheres têm que andar de véu. Mas as sanções ao comércio sem licença podem valer a por tornar o mercado mais eficiente sem interferir com direitos individuais.

    O argumento do beneficio às telecomunicações não é muito bizarro. Muitos argumentos a favor do copyright baseiam-se no mercado, e é preciso compreender que o copyright protege um comércio proibindo outro. E a razão pela qual o copyright foi criado foi precisamente como um subsidio ao que na altura equivalia às telecomunicações: a imprensa.

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  3. Se o copyright acabar voltaremos aos tempos dos trovadores. Ninguém gravará para não ser copiado.

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  4. http://www.rlslog.net/piracy-isnt-that-bad-and-they-know-it/

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  5. Pois é, o tipo não refere quantos lhe pagaram. Se se tem de borla porquê pagar? É o que a incontornável esmagadora maioria irá fazer.

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  6. «Destas, o autor recebe uma percentagem muito pequena. A maior parte do custo de um livro, CD, ou bilhete de cinema está na distribuição e venda, não na criação artística. E a pequena percentagem que o autor recebe é um incentivo ineficaz. Os poucos que são famosos ganham fortunas muito além do incentivo e muitos ficam de fora por má publicidade ou simples azar, não por terem menos a contribuir. É o enorme custo de distribuição, muito superior ao de incentivar a criatividade, que justificou o mecanismo de «copyright» no século passado. Este sistema sustenta o distribuidor, a quem dá quase todo o lucro e controlo.»

    Acho que tu estás a comparar coisas diferentes. O CD por um lado, uma tecnologia antiga, é o copyrigth, e o ficheiro mp3 representa a abolição de copyright.

    Mas isso não é assim. Como copyright ou sem ele pode existir venda de CDs e podem existir ficheiros mp3. As editoras vendem ficheiros para download.
    Se ninguem violasse o copyright, seria expectavel que a concorrencia levasse as editoras a ir basixando os pre;os, e percentagem dos lucros que fosse indo para o autor iria aumentando. Ou entao, os autores deixavam de recorrer as editoras.

    Porque um erro que tu cometes e' o de dizer que o copyright da' direitos 'as editoras. Isso e' falso> o copyright da' direitos aos autores que o podem vender. Mas atencao ninguem os obriga, eles so' o vendem se isso for da sua conveniencia.

    E' importante atentar neste ponto. Os autores apenas vendem os direitos se ganham com isso. Aqui vai/se logo um dos grandes argumentos que usas: que o copyright serve para financiar os distribuidores. Isso e' falso!

    Se a tecnologia nao necessitar de nenhum trabalho de distribuicao, as musicas ficam mais baratas porque os autores cortam nos intermediarios, e porque os autores concorrem entre si. Tudo isto com copyright!

    Sera' que isso vai acontecer? Nao creio: os autores jovens vao sempre precisar de quem aposte neles, e quem aposta corre um risco e precisa de ser compensado por isso.
    Mas o copyright nao vem para aqui chamado.


    Portanto o primeiro ponto que eu discordo veementemente, e' tu dizeres que o copyright serve para incentivar a distribuicao. Estou convencido que o objectivo e' incentivar a criacao, e que sem copyright se faria distribuicao 'a mesma: simplesmente os distribuidores nao teriam nenhuma razao para pagar aos autores originais.

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  7. Posto isto, acho que nao tens razao quando dizes que muitos recebem balurdios, muito acima do necessario para os incentivar.

    Esses balurdios correspondem a um enorme incentivo. Nao para os que os recebem obviamente, que bem podem ficar com o rabo na cadeira enquanto fumam notas de 500e qd lhes faltarem as mortalhas.

    Mas sim para todos os outros que querem conquistar o mesmo lugar. Seguir por essa via envolve riscos: muitos pais, familiares, e amigos desaconselham seguir esse caminho, por causa dos riscos que envolve. E' bom que envolva riscos, porque so' poucos tem competencia suficiente para fazer um trabalho realmente util, mas nunca se pode saber 'a priori quem sao. O facto de alguns com sucesso ganharem balurdios e' uma motivacao importante para que varios corram esse risco.


    Depois tu dizes que nao e' necessario e falas na ciencia, etc... Mas eu acho que com o copyright, as coisas estao quase analogas.
    Na ciencia existe trabalho teorico e aplicado. Grande percentagem da investigacao e' paga pelas empresas. Estas podem pagar a cientistas e engenheiros, devido ao mecanismo das patentes, que ja te expliquei porque e' que considero analogo ao copyright.
    Sem patentes, seria tudo mais complicado..

    Bem sei que tu achas que a analogia nao existe. Achas que sao o oposto. Mas eu ja expliquei em que medida e' que discordo. Na verdade acho mesmo errado assumires que o objectivo das patentes e' o de fazer com que os empresarios revelem os seus segredos. Se estes sabem que os conseguem proteger, nao vao patentear nada: so patenteiam aquilo que sabem que pode ser facilmente descoberto.

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  8. Ludwig,

    Esta conversa do copyright é uma grande treta, só por um motivo. Todas as referencias que tens conseguido angariar contra o copyright, são no mundo da música. E nesse particular temos várias coisas em que não é possivel concordar contigo:
    1- A musica gravada actualmente é demasiado má e popularucha para poder ser considerada cultura com direito a protecção, portanto, a abolição do copyright não visa defender a cultura, mas, sim uma moda de consumo adolescente e alguns yuppies que querem manter pela vida fora os hábitos que ganharam nas universidades.
    As leis não se podem reger por modas, nem pela vontade de consumo desenfreado de alguns. Ninguém consegue ouvir 1000 novos discos por ano, e só o faz se for gratuito. A cultura que interessa preservar é a que permanece, e quando se houvem 1000 por ano, nenhuma permanece, por isso, restringir o consumo poderá ter o efeito contrário de melhorar a preservação de algo.

    E olha que o anónimo tem razão. É tão válido pedir a abolição do copyright como de qualquer outro código. A facilidade não serve de desculpa.

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  9. Nick,

    Se milhões vêem o filme basta que uma minoria pague.

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  10. João,

    «Porque um erro que tu cometes e' o de dizer que o copyright da' direitos 'as editoras. Isso e' falso> o copyright da' direitos aos autores que o podem vender.»

    O copyright foi criado numa altura em que os editores de livros controlavam todo o negócio. Nenhum autor podia imprimir por si milhares de exemplares. O que a lei fez na prática foi criar um sistema em que o autor vende os direitos ao editor e recebe uma parte do dinheiro. E o propósito disso foi financiar a distribuição.

    Hoje em dia o copyright digital faz tanto sentido como o copyright sobre anedotas faria em 1886.

    «Se a tecnologia nao necessitar de nenhum trabalho de distribuicao, as musicas ficam mais baratas»

    Não sem alterar a lei. Porque a lei permite proibir esta distribuição. O que o copyright faz é o equivalente a proibir que as pessoas contem anedotas, só podendo usufruir delas pagando o livro. Isto faz subir o preço e dá o controlo a quem imprime o livro.

    Quanto ao incentivo, é melhor dar a cada artista jovem algo como uma bolsa ou subsídio temporário para mostrar o que vale que lhe dar 0.000001% de probabilidade de ganhar um balúrdio. Para muitos essa chance não lhes permite comer enquanto tentam fazer arte, e é uma má distribuição de recursos.

    Nota que não me oponho a que o mercado faça isso, como não tenho nada contra que uma jogadora de ténis ganhe milhões em contractos publicitários. Mas desde que isso aconteça sem leis que proibam.

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  11. António,

    O que é cultura ou não é discutível e subjectivo. O malhão malhão e foleiro mas é cultura...

    Mas o mais importante aqui é que a informação não deve ser restringida por interesses comerciais. O direito à expressão, educação e partilha de informação é muito mais fundamental que o direito ao lucro, e o copyright só se justificou até agora porque sem ele não se conseguia viabilizar o sistema de distribuição dos editores de livros, discos e filmes. Como acontece regularmente, a melhor solução de antigamente tornou-se um empecilho com a nova tecnologia. Hoje em dia só precisamos de incentivar a criatividade, e a distribuição que se amanhe sozinha porque há alternativas acessíveis a todos.

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  12. Errata:
    houvem=ouvem
    Dhuuu! Isto hoje não está a correr lá muito bem!

    Continuando com os pontos:
    2- As analogias com a ciencia e o conhecimento em geral também não se aplicam, porque por um lado a patente é o motor de grande parte da investigação feita hoje em dia, e o cientista, tal como o musico recebe à cabeça pelo trabalho, e depois a editora e a empresa detentoras dos direitos comercializam o que compraram aos autores. Portanto não é diferente nesse aspecto. E o facto de a musica ser mero entretenimento, faz dela um negócio sem necessidades de liberalização. É mais importante alimentar o mundo, do que dar-lhes musica moderna inutil.

    3- Existe algo em que não posso concordar contigo. A banalização de uma ilegalidade, por muito simplificada e facilitada que seja não pode ser usada como argumento para nada. É facil conduzir a 80 na cidade, e a mais de 50 no geral mais fácil é. Se vires o número de infracções em Lisboa, detectadas pelos radares, que são apenas uma amostra, percebes o quanto a facilidade não é válida como argumento. E se me falares da moral do perigo que é a infracção de velocidade, vou te dizer que a estatistica prova a tanga que isso é. Tens 150 mil infracções num só mês. Se fores vêr a percentagem de acidentes de viação em Lisboa nesse periodo, mesmo considerando a percentagem sobre a amostra e não sobre o todo das infracções, é muito baixa. Portanto, a facilidade e a usualidade das infracções, comparada com as taxas de acidentes, não serve para aligeirar a pena, nem, mudar a penalização. Sobre o copyright é a mesma coisa. A incidencia de um mal económico sobre uma industria é maior em percentagem, e como tal milhares de pessoas são afectadas, mais do que pelos acidentes de viação em percentagem, e é menos frequente copiar que transgredir no transito, e é mais fácil a um condutor transgredir do que copiar um CD. Se não é válido para o código da estrada, qualquer pedido de anulação de uma infracção, porque é que o será para o copyright. É porque é moda pegar nesse tema hoje em dia...

    4- Sobre as modas...
    Pegar num tema porque é moda, está-se a banalizar. Ninguém ligou ao problema na Birmânia até que este ano alguém começou a fazer barulho. Estranhamente já é um problema com decadas. Continua-se a morrer de fome em Africa, mas, só em 85 é que isso foi moda o suficiente para se animar o povo com eventos.
    Na decada de 60 era moda o sexo livre, ninguém se casava, um monte de outras parvoices ideológicas reinavam. Hoje nem querem saber.
    A moda da abolição do copyright é isso mesmo. Uma moda. Deve deixar vestigios e novas formas de distribuição em vigor para quem as quiser no futuro, mas, acabar com o copyright de quem pretende manter o mesmo, para algo que não é fundamental à humanidade, não vejo porquê.

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  13. «O copyright foi criado numa altura em que os editores de livros controlavam todo o negócio. Nenhum autor podia imprimir por si milhares de exemplares. O que a lei fez na prática foi criar um sistema em que o autor vende os direitos ao editor e recebe uma parte do dinheiro. E o propósito disso foi financiar a distribuição.»

    Isso não faz sentido nenhum. Sem copyright poderias distribuir à mesma. Prestavas um serviço, e ganhavas lucro. Não existiria nenhuma razão para não surgir um negócio de distribição sem copyright.

    Nota bem isto.

    Assumindo que a ideia é gratuita, o distribuidor apenas "fabrica" um produto. Esse produto pode perfeitamente ser vendido, como qualquer outro produto fabricado, sem leis de cpyright.
    Este ponto é muito importante.

    Qual é que é o "senão" disto? É o seguinte: o distribuidor bem pode publicar livros à vontade, mas não tem nenhuma razão para pagar ao autor.
    Pior, aquele que pagar ao autor vai estar em desvantagem face ao que não paga, visto que este tendom menos despesas pode vender o mesmo produto mais barato.

    O copyright, logo desde o início, surge para incentivar a criação. Nenhuma lei seria necessária para incentivar a distribuição.



    «Quanto ao incentivo, é melhor dar a cada artista jovem algo como uma bolsa ou subsídio temporário para mostrar o que vale que lhe dar 0.000001% de probabilidade de ganhar um balúrdio. »

    Nota bem que o sistema actual dá a tal "bolsa", insegura e temporária. São as editoras, quando procuram talentos, para depois ganharem dinheiro com eles.

    Se fosse o estado, o caso era complicado, pois os critérios de atribuição da bolsa poderiam ser influenciados por motivos políticos. Em certa medida isso já acontece com a arte financiada pelo estado, mas eu acho que o financiamento do estado à cultura ainda assim vale a pena. Mas se toda a cultura for produzida dessa forma, esse problema torna-se muito grave.
    Em alternativa poderiam não existir critério para a atribuição de tal bolsa, mas imagino que concordarás que isso seria ainda pior.

    Mas assumindo que as "bolsas" já existem, aquilo que eu digo é que o facto de alguns artistas ganharem balúrdios é um incentivo muito forte e significativo à criação.
    A probabilidade pode ser baixa, mas as pessoas não funcionam assim, ou não houvesse tanta gente a comprar a lotaria e o totoloto. E naquilo que depende da avaliação que fazem dos seus talentos, esse tipo de incentivos pode ser ainda maior!

    Mas isto é um detalhe lateral, nem é uma questão muito relevante.


    Para mim relevante aqui é este ponto: eu creio que o copyright serve para proteger a criação, e não a distribuição.

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  14. António,

    Estás a confundir ciência com tecnologia. As patentes servem para criar medicamentos e máquinas, coisas que custam dinheiro a distribuir e pôr a funcionar.

    Ninguém tem a patente da massa do neutrino ou terá patente sobre o bosão de Higgs. E o motor principal da tecnologia é a investigação fundamental e a partilha de conhecimento.

    Sem patentes era preciso outra forma de financiar a construção de fábricas e a produção de medicamentos. Mas sem a investigação fundamental não havia solução nenhuma.

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  15. João,

    «Isso não faz sentido nenhum. Sem copyright poderias distribuir à mesma. Prestavas um serviço, e ganhavas lucro. Não existiria nenhuma razão para não surgir um negócio de distribição sem copyright.»

    Penso que terás que te informar melhor acerca do contexto histórico. O negócio de distribuição sempre esteve ligado a direitos exclusivos. Normalmente eram atribuidos a guildas de impressores ou por acordos entre os vários comerciantes de uma zona, mas com a melhoria na tecnologia dos transportes começou a haver mais concorrência entre países, especialmente países de língua Inglesa. Isto levou eventualmente a tratados internacionais e culminou na convenção de Berne.

    O problema sempre foi que era menos arriscado imprimir os livros que já tinham fama que os livros que ninguém sabia se iam ser vendidos. E os autores não tinham dinheiro para mandar imprimir, tinham que vender os direitos para o conseguir.

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  16. "Ninguém tem a patente da massa do neutrino ou terá patente sobre o bosão de Higgs."


    Ninguém pode ter patente sobre coisas que se supõem existir apenas por observação indirecta. Mau exemplo.

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  17. Então a Lua é um exemplo melhor? Que tal as equações de Maxwell? Os números primos? Pi? A mecânica quântica?

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  18. Ludwig,

    As coisas que explicitas, são pagas pelas universidades e fundos privados, com intuitos comerciais. Não têm patentes sobre essas coisas porque não podem. Mas, as universidades pagam a investigação para atrair professores, e ganharem credibilidade junto do alvo comercial que são os alunos, e as empresas que lhes compram serviços de investigação.
    O desenvolvimentos da tecnologia acompanha o avanço cientifico, e financia este para seu proveito.
    Para se desenvolver uma arma nuclear é preciso que a ciencia explique todos factores envolvidos, e com base nisso, depois desenvolve-se a tecnologia, a qual será patenteavel. Isto aplica-se a todo o resto. O que é ridiculo é patentear-se algo que é do senso comum, ou de conhecimento colectivo.

    Copyright é proteger trabalho. Se 500 maestros gravarem a 5a sinfonia de Bethoveen, a mim só me interessa a do Karajan. Se 499 distribuirem a deles à borla, não é motivo para que o Karajan o faça, pois mesmo a pagar eu vou preferir e comprar a dele! Tu, que gosta de cultura à borla podes copiar uma das outras, mas, se quiseres a do Karajan, e ele a quer protegida tu não tens um argumento válido que justifique que ele te permita uma borla!
    Podes tocar tu a 5a sinfonia, podes ouvir as outras 499, por isso não perdeste o teu acesso, mas, se ele quer rentabilizar os 200000 euros que a gravação custou, de uma actuação, tu não tens o direito, nem a moral do teu lado, para exigir nada. Isso é a birra que as crianças fazem quando olham para a loja de brinquedos e querem tudo, sem pagar nada, só que é triste quando é feita por adultos.
    Há uns anos era moda ser comunista, e acreditar que se vivia muito melhor e mais justamente nos paises comunistas. Exigia-se tudo igual ao que os comunistas tinham. A nossa constituição e legislação seguiu esse caminho, mas, agora vemos o quanto isso era fachada, e nós estamos a pagar a factura. Toda a gente só tinha direitos. Deveres, nem vê-los. Agora apertamos o cinto por conta da boa vida de uns.
    Com a história do copyright, parece-me que o caminho é o mesmo. Alega-se umas tretas intelectuais para justificar a massificação da distribuição gratuita, mas, só têm interesse naquilo que as editoras publicitaram e promoveram. Sem o copyright, deixa de haver publicidade e promoção, e deixa de haver interesse em copiar tanta coisa, e depois vão surgir as queixas do costume - "Quando era para pago, todos acediam a pouco, mas, tinham muito disponível, e muito era bom, e cobiçavam ter mais para cada um. Agora têm tudo, nada é tão bom como antes, e despreza-se quase tudo pois não satisfaz ninguém." Que é exactamente a conversa que agora se vê. Os comunistas tinham tudo do lado de lá da cortina de ferro, mas, só havia Trabants e nós queremos é BMWs, todos tinham o mesmo numero de senhas, mas, estavam horas para ir buscar o que quer que fosse, e todos tinham senhas de queijo, mas, 90% queriam era caviar, e por aí fora.
    Tudo o que é gratuito perde o interesse para as massas, e por isso (não perco a oportunidade de me sair com esta, por muito elitista que me queiras depois apelidar) defender o copyright é defender as massas da sua própria ignorancia! Podes citar-me quando mudares de opinião :-) que não te cobro nada por isso. :-)

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  19. «E os autores não tinham dinheiro para mandar imprimir, tinham que vender os direitos para o conseguir.»

    Ena pá, parece que afinal o problema eram mesmo os autores.


    Posto isto, até podiam haver leis a conferir o monopólio das batatas a esta e aquela família. Não importa. Sem essas eis, o negócio das batatas não estará em causa.

    Com o copyrigth é a mesma coisa. É arriscado vender livros que não se sabe que o público vai gostar? Isso é arriscado quer com copyright, quer sem ele.

    Sem copyright eu não tenho de pagar nada aos autores. Mas com copyright ou sem ele, a concorrência garante que o meu lucro económico tenda para zero.

    Simplesmente sem copyrigth as obras todas ficarão mais baratas, e a tendência é para os autores não receberem um tostão.

    Isso é assim muito antes da internet.


    Agora faz este exercício: imagina que não há internet (ainda), e não há leis de copyright. Qual a diferença entre vender um livro, e vender torneiras? Ou parafusos? É a mesma coisa: tens uma máquina, alguns operários, há matéria prima, e há um produto que é valorizado por alguns clientes. Se os clientes valorizam esse produto acima daquilo que te custa construir, tens lucro. A concorrência encarregar-se-á de garantir que o teu lucro económico não é excessivo, visto que não há barreiras significativas à entrada nesse mercado.

    Nisto tudo, como bem disseste, existem indivíduos que ficam a arder: os autores. Mas não são os únicos: por falta de incentivo à criação, os clientes e distribuidores também ficam sem os produtos a que poderiam ter acesso.
    Por isso, todos ficaram em vantagem em implementar o copyright.

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  20. Ludwig,

    Um esclarecimento. Podes citar-me, mas, não podes dizer que sou contra a distribuição gratuita de musica ou outra arte qualquer. Nesse aspecto já disse que sou a favor da vontade dos autores, e estes devem poder optar por copyright ou livre distribuição do seu trabalho. Impor-lhes uma é que é mau, e é o estilo de governação comunista que levou ao descalabro da economia dos paises de leste, que exemplifiquei.

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  21. António,

    « Não têm patentes sobre essas coisas porque não podem.»

    O que demonstra que esse sistema não é essencial para a criatividade. Talvez seja conveniente em algumas situações, mas há alternativas.

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  22. João,

    «Agora faz este exercício: imagina que não há internet (ainda), e não há leis de copyright. Qual a diferença entre vender um livro, e vender torneiras?»

    É o problema de distribuir um livro novo. Pode ser um grande sucesso, pode ser um fracasso. Não sabemos. Para não arriscar, não imprimimos esse livro, porque para imprimir o livro é preciso gastar muito dinheiro a compôr as chapas para cada página. O melhor é imprimir outro que já esteja a vender bem.

    O resultado é que, ao contrário das torneiras, os editores de livros ficariam sempre à espera que os outros arriscassem para vender os maiores sucessos, e o sistema colapsava.

    Faz as contas. Imagina que demora uma semana a preparar a impressão de um livro e cada um consegue imprimir mil exemplares por semana. Imagina que só a partir dos cinco mil exemplares é que compensa o investimento.

    95% dos livros dá prejuízo e 5% vende cem mil exemplares de cada livro. Nesta situação era esperar a ver quais os que vendiam mais e começar a imprimir esses. Quem acertasse no livro que vendia ficava logo sem negócio quando todos começassem a vender esse livro, e isso não compensava os fracassos todos. Por isso tinham que chegar a um acordo acerca de quem vendia o quê.

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  23. Ludwig,

    Não metas a criatividade ao barulho. :-)
    Trabalhar em ciencia e criar arte não são ambos actividades criativas, por muito artista que queiras ser. :-)
    Este blog é mais artistico que qualquer actividade cientifica tua, e por isso é criativo, ao contrário da ciencia, onde não é a criatividade mas a perspicácia e raciocinio que contam.

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  24. António:

    Estás muito enganado.
    A ciência é uma actividade extremamente criativa.

    Criatividade está relacionada com imaginação, com criação de ideias. Não só com arte.

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  25. «Se milhões vêem o filme basta que uma minoria pague.»

    Aí está! Parece-me que essa minoria não conseguirá sustentar o que temos hoje. Nem que a "vaca tussa".

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  26. Nick,

    Claro que não. Sem o copyright não se poderá sustentar monstros como a Sony BMG e a EMI. Não se vai poder esbanjar 95% do custo de uma obra em publicidade e margens de lucro de vários intermediários.

    Por outro lado, com o criador a vender directamente ao público isso será desnecessário. E não há alternativa viável.

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  27. Poizé! Mas a estrutura que temos hoje, dá toda esta fartura de oferta a perder de vista. E isto é que importa à maioria, e é isto a que eu me referia

    Tenho 4 amigos, todos eles têm uma banda. Só um é que eu acho que têm alguma qualidade, mas isso é imensamente subjectivo. Os quatro vão desistir de avançar com as bandas, primeiro porque o mercado não tá fácil e depois olham para a pirataria com receio, sendo este factor um dos mais relevantes. Mas o engraçado é que todos eles se "lambuzam" em MP3, e argumentam o seguinte. Só os otários é que compram, e é quase uma questão de honra não comprarem. Não sei se dá para ver a "fotografia", mas é assim que a ESMAGADORA maioria procede. Lamento, mas a perspectiva vertida por estes lados é por demais poética, e não é porque eu o diga.

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  28. Ludwig:
    Sem o copyright não se poderá sustentar monstros como a Sony BMG e a EMI. Não se vai poder esbanjar 95% do custo de uma obra em publicidade e margens de lucro de vários intermediários.

    Por outro lado, com o criador a vender directamente ao público isso será desnecessário. E não há alternativa viável.


    Interessante. Tantos artigos e comentários a defender a distribuição gratuita por qualquer um, mesmo sem autorização do autor, e acaba a dizer que a única alternativa viável à situação actual é ser o CRIADOR (ou autor) a VENDER o que produz directamente ao público.

    Mais palavras para quê?

    A não ser que insista na decisão administrativa de quanto o autor deve ganhar com o que produz, independentemente de serem 10 mil ou 100 milhões a obterem e usufruirem de cópias das obras criadas por aquele, sendo que só alguns desses 10 mil ou 100 milhões pagarão pelo usufruto do produto e os outros poderão usufruir dele à borla.

    Ou seja, o que produz algo interessante para 100 milhões receberá exactamente o mesmo que o que produz algo interessante apenas para 10 mil, se fôr o valor pago por esses 10 mil o considerado adequado para pagar o trabalho de uma obra, seja qual fôr a qualidade desta.

    Enfim, é um artista português a querer decidir pela distribuição gratuita do que os OUTROS produzem.

    Já agora, por que não decidir quanto é que um concerto deve render aos artistas e promotores e determinar assim quantos bilhetes serão pagos, com todos os outros bilhetes a serem distribuidos gratuitamente?

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  29. http://freakonomics.blogs.nytimes.com/2007/09/20/whats-the-future-of-the-music-industry-a-freakonomics-quorum/

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  30. Joaquim,

    «Interessante. Tantos artigos e comentários a defender a distribuição gratuita por qualquer um, mesmo sem autorização do autor, e acaba a dizer que a única alternativa viável à situação actual é ser o CRIADOR (ou autor) a VENDER o que produz directamente ao público.

    Mais palavras para quê?»


    Boa pergunta. Na verdade parece ter surtido pouco efeito.

    O que se transmite livremente são instruções para recrear a música. Se tiver uma máquina programável para fazer sopa, poderá trocar pela internet instruções para a máquina fazer várias sopas. Fique descansado que não vai entupir a fibra óptica com restos de caldo verde. E se encostar o ouvido ao cabo quando descarrega um mp3 também não deverá ouvir a Britney Spears a cantarolar.

    A minha posição é que a partilha de informação acerca da sopa, qualquer que seja a informação e qualquer que seja a sopa, deve estar fora da regulação do mercado da sopa. Os fabricantes de sopas têm o direito de a vender, terão lucros pela venda da sopa, terão o direito exclusivo ao uso da marca para fins comerciais, poderão até ter direitos comerciais sobre vários tipos e nomes de sopas. Não me apoquenta.

    Mas, em paralelo, toda a gente terá o direito de trocar receitas e fazer em casa a sopa que quiser sem ter que pedir licença. Mesmo que para tal use sistemas completamente automáticos de fazer sopa, que reproduzam fielmente as sopas vendidas no supermercado.

    Com a música é o mesmo.

    Resumindo, quem quiser vender tem que oferecer mais que aquilo que se pode obter à borla. Pode ser um CD bonito, um obrigado do autor, uma foto autografada.

    Vender sequências de zeros e uns à custa de uma lei que proibe a cópia desses números é que é inaceitável.

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  31. Ludwig,

    Nem por isso é inaceitável.
    A lei é o que se faz dela, e quem quer leis para algo gratuito não tem dinheiro para fazer lobby, nem um estado estaria na disposição de deixar de receber 21% de IVA sobre o valor total das vendas, por isso, a questão do copyright demorará muito tempo a cair, se algum dia.

    O artigo do freakonomics apontado pelo cometador anónimo é mais do mesmo. A questão para as editoras é o formato, e será sempre por aí que se vão adaptar, pelo formato. Um dia destes em vez de um CD, gravam chpis minusculos e baratos, com 64Mb de MP3, e vendem-nos. O copyright vão sempre agarrar-se a ele.

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  32. André,

    Já tinha lido, mas obrigado à mesma.

    António,

    O copyright não é um autocolante. É o direito de proibir os outros de copiar, e qualquer forma de implementar isso é hoje muito pior que viver sem ele.

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