sábado, outubro 13, 2007

Acreditar na ciência.

O leitor que assina «Alf» comentou:

«As pessoas deste blogue escolheram acreditar na Ciência e vêem aqui justificar esta escolha. [...]
Outras pessoas não têm necessidade de acreditar. Eu não tenho. Não é qualidade nem defeito, eu sou assim, outras pessoas são doutra maneira e ainda bem que somos diferentes, e há vantagem nisso.»


Acreditar na ciência é como comer culinária ou comprar economia. Podemos comer o que a culinária produz, comprar os bens que se trocam numa economia ou acreditar nas hipóteses que a ciência propõe. Mas não se confunda o processo com o produto. É importante distingui-los porque muitos dizem que não acreditam na ciência por se ter enganado nisto ou não concordarem com aquilo. Ou seja, rejeitam a culinária por não gostar de feijão frade.

«Alf» diz que não tem necessidade de acreditar. É improvável. Qualquer pessoa que ande de automóvel ou elevador, use electrodomésticos ou more num prédio de vários andares confia mais na ciência que a maioria dos devotos confia nos seus deuses. Confiamos à ciência a nossa vida, todos os dias, e é tanta a confiança que nem nos apercebemos disso.

Parece-me que confunde a crença, que é aceitar algo como verdadeiro, com o que motiva a crença. Aí há uma grande diferença entre as crenças que tiramos da ciência e as que tiramos de ideologias, seculares ou religiosas. A ciência dá-nos crenças que são ferramentas, sem as quais nem a luz da cozinha conseguíamos acender.

Mas as ideologias propõem certas crenças como um bem em si. É bom acreditar num Deus, por exemplo, não por ser prático ou útil mas porque é o que devemos fazer. Nem é bem visto que se acredite por interesse, mesmo que recompensas e castigos façam parte da propaganda.

Desfazendo estas confusões é mais fácil perceber o que é a ciência. É o método de gerar crenças úteis. Não é, em si, algo em que se creia. O método não é verdadeiro nem falso, tal como a culinária não é crua nem queimada. Não dá crenças boas ou louváveis. Não exige o dever de acreditarmos. Simplesmente procura hipóteses que sirvam para compreender e manipular o que nos rodeia quando as assumimos verdadeiras. A conservação do momento angular, a electricidade, a evolução por herança e modificações, e assim por diante.

Vários comentadores têm afirmado aqui não acreditar na ciência ou em certas teorias que esta propõe. A mecânica quântica, a relatividade, ou a evolução. No sentido de crer por dever, como quem tem fé porque acha que é assim que deve ser, eu também não acredito. Mas no sentido de aceitar como verdadeiro, é claro que acredito, e vejo essa alegada descrença como alguém que diz não acreditar na combustão mas que vai de carro para o emprego todos os dias. É mais confusão que cepticismo informado.

1- Comentário a Pode-se curar. Mas é incurável.

17 comentários:

  1. Ludwig, muito bom o seu post, como de costume.

    é interessante a sua afirmação de que Ciência é "o método de gerar crenças úteis". Na realidade, esse é o objectivo que está por detrás das religiões.

    Para os crentes, religião tem a ver com com coisas extraterrenas, mas para quem gere a religião, a religião foi uma forma de gerir a humanidade desenvolvida num tempo em que não existiam polícias, constituições nem sistemas para ver o que se passava dentro dos nossos computadores nem satélites para saberem qd vamos de fim de semana. O objectivo das religiões é a sociedade humana!

    As religiões são como são por que os humanos são como são! E como é que os humanos são?

    Pois, é isso que eu ando a querer entender. Mas é fácil concordarmos em que os humanos, como todos os seres vivos, tem um enorme potencial de violência; que os humanos podem facilmente ser induzidos a aceitar ideias que permitem manipulá-los com a maior das facilidades, nomeadamente envia-los para a guerra cantando e rindo, convencê-los a realizar as maiores das barbaridades.

    Mas os seres humanos são mais perigosos do que isso. Há dias o presidente do Irão disse que no Irão não existiam homossexuais; a assistência riu-se; mas nos EUA também não existiam há poucas décadas atrás - os que eram descobertos eram mortos, se possível.

    O problema não está nas religiões ou na ciência, ou na teoria económica, está no Homem. Está na sua capacidade / necessidade de ser violento e na sua capacidade de ser "crente". Que, sendo necessária ao funcionamento da sociedade, tem um lado muito perigoso, e não podemos perder de vista este lado pelo facto de ter também um lado útil.

    Ludwig, importa não confundir ciência com tecnologia. São duas coisas muito diferentes. A Ciência busca entender a raiz última das coisas, os princípios gerais e fundamentais que permanecem ao longo do tempo. A tecnologia pretende conhecer o comportamento global dos sistemas sem estar interessada nas causas profundas desse comportamento que não sejam relevantes para ele.

    Ou seja, o problema da tecnologia é o "Como" e o da ciência é o "Porquê".

    Noutros tempos, a crença numa religião serviu para conduzir a humanidade; mas hoje, a crença na ciência está a ser usada da mesma maneira.

    Foi já a crença na ciência que levou os alemães a acreditarem que a sua raça era a "pura" e que necessitavam de exterminar as restantes raças do planeta para garantir o lugar à raça pura, não é verdade? Não foi a crença numa religião, pois não?

    a liberdade de informação foi a forma encontrada para tentar impedir que estas coisas se voltem a repetir. Mas fico um bocado assustado com a facilidade com que a informação é hoje manipulada.

    se eu disser que o tabaco não causa o cancro, toda a gente dirá que sou maluco; que o colesterol não tem a haver com os ataques cardíacos idem, que o aquecimento global não tem nada a ver com o precioso CO2 idem. Se disser que o Big bang não têm consistência física sou tratado da mesma maneira que um hereje de uma religião.

    E isso acontece por causa dos crentes na ciência. Os políticos podem ser discutidos, tudo pode ser discutido e posto em causa excepto o que a ciência diz! Porque a Ciência tornou-se algo transcendente, com processos de conhecimento fora do alcance e do escrutinio dos restantes humanos.

    Mas a ciência está ao serviço dos lideres politicos, que decidem que dinheiro dar à ciência e para quê!.

    Queres dinheiro para provar que o CO2 causa aquecimento global? toma lá! queres dinheiro para provar que o tabaco não tem a haver com o cancro? Vai catar piolhos!

    Desta forma se chegou de novo à situação em que os lideres políticos têm o poder de conduzir os povos para onde entendem - usando a indiscutível Ciência e a crença nela!

    Mas não é tudo. A Ciência erra, errar é humano. Mas não reconhece a ninguém que o diga. A Ciência perseguiu Galileu, como tem perseguido quase todos aqueles que depois classificou de "génios". Tal como as religiões perseguem os hereges, porque ser crente é uma caracteristica humana que afecta tanto cientistas como religiosos.

    E a ciência pode estar errada em coisas que vão determinar o futuro não muito distante da humanidade. E a crença na Ciência pode impedir que esse erro seja corrigido.

    Desculpem lá o testamento, devia dizer estas coisas às pinguinhas mas não tenho tempo.

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  2. «Foi já a crença na ciência que levou os alemães a acreditarem que a sua raça era a "pura" e que necessitavam de exterminar as restantes raças do planeta para garantir o lugar à raça pura, não é verdade? Não foi a crença numa religião, pois não?»

    Isto é falso.
    Hitler era criacionista e dise-o várias vezes explicitamente.


    «E isso acontece por causa dos crentes na ciência. Os políticos podem ser discutidos, tudo pode ser discutido e posto em causa excepto o que a ciência diz! Porque a Ciência tornou-se algo transcendente, com processos de conhecimento fora do alcance e do escrutinio dos restantes humanos.»

    Então os humanos não podem tornar-se cientistas e contestar o que os outros dizem??
    Pelo contrário: se demonstrarem que têm boas razões, recebem fama e reconhecimento por isso!

    Claro que sem estudar um assunto pode fazer pouco sentido merecer grande credibilidade. Se eu disser que os Romanos nunca invadiram a penísnula ibérica, é bom que tenha e apresente boas razões, ou então claro que mereço que se riam na minha cara...
    E sem estudar o assunto a fundo, é difícil que tenha boas razões...


    «queres dinheiro para provar que o tabaco não tem a haver com o cancro? Vai catar piolhos!»

    Se é difícil que as tabaqueiras financiem isso, é porque elas já devem ter as suas razões para achar que tal estudo não vai da ra lado nenhum. Se não, eram capazes de dar o triplo daquilo que pedisses...
    Quanto ao CO2, tens as petrolíferas, e aí até houve um caso da Mobil ter feito isso mesmo (fdeve haver muitos mais que não se sabem..)

    Isto tudo não tem mal nenhum, porque sem boas razões, não vais a lado nenhum, por muito dinheiro que tenhas.
    Fazem muita propaganda, como os criacionistas, mas não sais da cepa torta em termos cientifícos.


    «A Ciência perseguiu Galileu, como tem perseguido quase todos aqueles que depois classificou de "génios".»

    Que disparate!

    A ciência não perseguiu ninguém.
    Quando muito os "cientistas da altura" poderiam ter perseguido, mas se hoje consideramos isso errado foi porque a ciência não deu valor aos "cientistas da altura" precisamente porque quem tem razão é que tende a sobreviver.

    Posto isto, nem sequer é verdade que isso se suceda em geral aos génios. Gauss foi reconhecido na altura como um génio, Euler também, Newton também, Eratóstenes, Euclides, Arquimedes, Bernouli, Maxwell, Einstein, Bohr, Eisenberg, enfim... praticamente todos os génios foram reconhecidos em vida como tal. Incluindo...

    Galileu!

    Sim, Galileu era visto como um génio na altura. E quem o perseguiu foi a Igreja! Tanto é que enquanto ele esteve longe da alçada da Igreja o seu único problema eram as financças: ninguém o queria pôr no cadafalso por defender isto ou aquilo!

    E os cientistas da época tinham tal admiração por ele e respeitavam tanto as suas ideias, que mesmo enquanto ele estava preso domiciliariamente sob apertada vigilância da igreja, os livros que ia escrevendo eram contrabandeados e lidos em toda a Europa pela academia.

    Por acaso, os cientistas não se têm portado mal, pelo menos quando comparados aos sacerdotes e outros poderes.

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  3. Alf,

    Os nazis acreditavam que a sua raça devia ser pura. Isto é uma prescrição. A ciência é descriptiva, não prescriptiva. À parte do detalhe da evolução só nos dizer que uma raça pura provavelmetne está tramada, pois mais cedo ou mais tarde a diversidade genética vai ser necessária, cometeram o grande erro de confundir uma descrição do que as coisas são em certas condições com a noção daquilo que as coisas deveriam ser.

    Quanto à ciência errar, calha bem porque falei nisso nas aulas da semana passada. A ver se dá um post entre hoje e amanhã...

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  4. Alf
    A distinção que faz entre tecnologia e ciência é errada. Tecnologia é ciência aplicada. E se às vezes essa tecnologia surge com base em investigação aplicada, querendo dizer que o objectivo do que se investiga é encontrar uma solução para um determinado problema, na maior parte das vezes isso não é assim. Quando Newton, Einstein, Maxwell, Bohr, etc, elaboraram as suas teorias, estas permitiram explicar muitos factos e predizer outros, o que naturalmente trazia consequências importantes ao nível do conhecimento. Mas a sua maior consequência, sentida por todos, é a tecnologia que essas teorias possibilitaram (e possibilitarão no futuro pois não estão esgotadas) desenvolver e que não era de todo antecipável, nem eram a motivação dos seus criadores.

    Daí que não haja de facto essa diferença, ao nível do método, entre aquilo que normalmente se designa por ciência pura e ciência aplicada, sendo que é verdade que maioritariamente a primeira precede a segunda, embora também existam muitas situações na história em que há descobertas semi fortuitas (a chamada serindipidade) e que naturalmente permitiram algumas aplicações práticas, sem um conhecimento teórico ou até empírico suficientes para poderem ser compreendidas.

    João

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Realmente não percebo porque acreditar na ciência implica necessáriamente não acreditar em Deus e vice-versa. Devo dizer que concordo consigo quando diz:
    "«Alf» diz que não tem necessidade de acreditar. É improvável. Qualquer pessoa que ande de automóvel ou elevador, use electrodomésticos ou more num prédio de vários andares confia mais na ciência que a maioria dos devotos confia nos seus deuses. Confiamos à ciência a nossa vida, todos os dias, e é tanta a confiança que nem nos apercebemos disso."
    Não interpreto isso como uma questão de acreditar ou não na ciência. Isto é mais confiar nos produtos da ciência, que aliás, como disse e bem, convêm distinguir a ciência dos seus produtos. O que é facto é que a maioria das pessoas não se interessa como os produtos funcionam, desde que funcionem. Essa filosofia faz com que se continue a usar derivados de petróleo como fonte energética dos automóveis, indústria e cogeração de energia.

    Ainda a acrescentar, os produtos maus da ciência devem-se exclusivamente ao homem. Como em tudo, a ciência é usada para o bem e para o mal. Não há conhecimentos puramente bons nem conhecimentos puramente maus. O lado bom ou mau está em quem os usa. A fé religiosa tembém não escapa a esta dualidade entre o bem e de mal. Muitas atrocidades, assim como muitas benevolências, foram cometidas em actos feitos em nome de Deus. Convêm não sermos extremistas...

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  7. Caro Bocas,

    Penso que se acreditamos nas hipóteses que propõe a ciência moderna não podemos acreditar nos deuses das religiões monoteistas, ou qualquer deus alegadamente capaz de fazer uma coisa que a ciência diz ser impossível.

    O que as pessoas fazem é desligar e ligar as crenças. Se fazem física, ligam as da ciência. Quando vão à missa usam as outras. Mas ao mesmo tempo não dá. Só a ideia de um ser imaterial e inteligente já é contrária ao que sabemos ser possível.

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  8. Bocas:

    Tendo em conta os usos que os homens fazem das ideias, tanto a ciência como a religião têm consequências boas e más.

    Creio que na ciência as consequências positivas são muito mais importantes que as negativas.

    Creio que na religião acontece o contrário. As coisas foram ficando melhores à medida que o peso da religião na sociedade e na vida das pessos foi diminuindo, e ainda hoje podemos olhar para a Arábia Saudita e confirmar o mal que a religião pode fazer... o Cristianismo fez o mesmo, basta lembrar a idade média.

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  9. Caro Ludwig:
    Eu compreendo o seu ponto de vista, mas não é assim que eu vejo Deus. A ciência ainda só provou que há três dimensões espaciais, apesar de ocorrerem determinadas anomalias que não são explicadas pelas ditas. É como viver numa folha de papel. Imagine que o Lugwig viver em duas dimensões dentro de uma folha de papel. Só poderia mover-se até às margens deste, certo? Agora eu desempenharia o papel de Deus e conferia-lhe um grau de liberdade infinito ao unir uns dos lados ao lado oposto. Como é que o Ludwig explicaria o facto de haver um grau de liberdade finito e outro infinito, do seu ponto de vista da folha de papel, sem observações exteriores? Como é que discerniria se a folha de papel tem um comprimento infinito ou faz um círculo? Já há teorias que afirmam a existência de 10 dimensões espaciais, e nós só nos movemos em três, ou seja, movimentamo-nos em x, y, Z e estamos fixos nas outras dimensões (A, B, C, D, E, F, G). Para agravar, não conseguimos ver ou sentir qualquer objecto que tenha a dimensão A, B, C, D, E, F ou G diferentes daquelas em que nós estamos. Nada nos diz, por exemplo, quando vemos um cubo, se afinal não estamos a ver uma das partes de um hipercubo que irrompe pelo nosso plano.
    Como vê, não pode assumir se Deus é material ou imaginação só porque não o vê. O mundo não pode ser visto de um ponto de vista Descartiano. Há muito na ciência por explicar. A humanidade ainda mal deu os seus primeiros passos da sua infância.

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  10. A acrescentar, não sou daqueles que vão à igreija para acreditar em Deus, ou daqueles que têm um interruptor fé/ciência, qual Dr. Jeckyl e Hr. Hyde. Eu tenho uma visão muito própria de Deus, e acho que Deus e matéria/mundo físico estão ligados. Como vê, pode-se dizer que é uma visão mais científica de Deus. Já reparou que a simetria é um tema recorrente? E no entanto não é obrigatória. As coisas sem simetria funcionariam na mesma.

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  11. o bocas:

    Nós podemos imaginar sempre realidades que não pudessem ser demonstráveis. Tanto lhes podemos chamar Deus como Riso Sagrado, ou Suprema Essência.

    Mas não temos nenhuma boa razão para acreditar que elas existem, apenas porque alguém as imaginou. A maior parte daquilo que se imaginou a respeito da forma como funciona o mundo era falso, a ciência foi fazendo com que as ideias mais adequadas sobrevivessem.

    De resto, tanto pode existir um como 30 ou 50 Deues indemonstráveis. A grande questão é: temos alguma razão para acreditar neles?

    A ciência não saber explicar isto ou aquilo sempre foi uma péssima razão para pôr deuses ao barulho, porque à medida que foi explicando coisas que antes eram inexplicáveis, mostrou que as invenções religiosas que vinham sendo dadas afinal não passavam de fraudes...

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  12. Caro João Vasco:
    "Tanto lhes podemos chamar Deus como Riso Sagrado, ou Suprema Essência."
    Mais uma vez, não estou a falar de religião como forma de explicação. Se tivesse lido os meus posts, veria que eu nem sequer a mencionei, e por uma boa razão. Esta não faz parte da minha solução. Não acredito em riso sagrado, nem em pózinhos mágicos, só em Deus como entidade, e pronto.
    Mencionou e muito bem que a ciência sempre encontrou caminho para dar a resposta a fenómenos que eram ridiculamente explicados pela religião cristã (que eu saiba, só essa é que dá explicações ridículas). Também concordo, e plenamente.
    Mas também há de ver que a ciência ainda não explica muitas coisas. Com certeza as irá explicar, se o planeta sobreviver a mais uma guerra e ao aquecimento global. Quando disse:
    "Há muito na ciência por explicar. A humanidade ainda mal deu os seus primeiros passos da sua infância.";
    foi para demosntrar que a ciência que nós temos (ciência=sabedoria) ainda está muito verde. Mas parece-me que o senhor inferiu que eu estava a dizer que a religião tinha todas as respostas, quando na verdade até ache que está muito mais longe de as ter, nessa remota possibilidade.
    Como nota final, não está provada ciêntificamente a existência de Deus. mas também não está provada a sua inexistência. Se não acreditar em Deus, então certamente não acreditará em almas (por acaso, não acredito nelas), e achará os cemitérios ridículos.

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  13. «Não acredito em riso sagrado, nem em pózinhos mágicos, só em Deus como entidade, e pronto.»

    A única coisa que eu disse é que não temos nenhuma boa razão para acreditar em "Deus como entidade" mais do que na "Sagrada Essência".

    Claro que "Sagrada Essência" é um termo indefinido, e se com ela eu quero dizer "ar", então é ridículo não acreditar na sagrada essência. Mas como é tolo e confuso usar a expressão "sagrada essência" para me referir ao ar, é relativamente seguro assumir que não há boas razões para acreditar na existência de "riso sagrado" ou "sagrada essência" ou tretas deste tipo.

    O que é "Deus" para o bocas? É a natureza? O universo? A harmonia das leis da física? Se é isto, acho disparatado que lhes chame Deus.
    Se por outro lado é uma entidade consciente e imortal que criou o universo, então há boas razões para não acreditar na existência dessa entidade, e nenhuma boa razão para acreditar.

    «Mencionou e muito bem que a ciência sempre encontrou caminho para dar a resposta a fenómenos que eram ridiculamente explicados pela religião cristã (que eu saiba, só essa é que dá explicações ridículas).»
    O choro de Isis provoca a chuva, é Anubis a causa das cheias do Nilo, o martelo de Thor provoca os trovões, ou então eles são forjados por Vulcano e lançados por Júpiter. Não, não foi só o cristianismo que lançou explicações erradas para os fenómenos naturais. Os Aztecas até tinham de sacrificar milhares de escravos para que o Sol continuasse a nascer..


    «parece-me que o senhor inferiu»
    não, não inferi.


    «Como nota final, não está provada ciêntificamente a existência de Deus. mas também não está provada a sua inexistência. »

    Se definir Deus como cadeira, dificilmente alguém iria duvidar da sua existência.
    Se definir Deus como entidade consciente e imaterial, a ciência actual diz-lhe que há excelentes razões para duvidar da sua existência. Tanto quanto sabemos é impossível ter consciência sem suporte material.
    Claro que um dia a ciência pode descobir que afinal estava errada e tal. Mas isso também se aplica ao facto da terra ser redonda, um dia podemos descobrir que afinal sempre foi plana, mas não é por isso que não devemos agir hoje com uma certeza razoável que ela é redonda.
    Perante a informação que temos, o mais razoável é assumir que a terra é redonda. É para isso que serve a ciência, para nos dar os modelos mais plausíveis de funcionamento do universo perante a informação incompleta a que temos acesso.

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  14. João Vasco disse:
    "Se definir Deus como entidade consciente e imaterial, a ciência actual diz-lhe que há excelentes razões para duvidar da sua existência. Tanto quanto sabemos é impossível ter consciência sem suporte material."
    E agora peço-lhe que me mencione um estudo, no qual a inexistência de Deus foi provada. Não podemos vendar os olhos, pois assim não estamos a ser diferentes dos creacionistas ou da igreja que se recusa a ter uma mente aberta. Até agora, não cheguei à conclusão que a ciência (sendo ciência=conhecimento) corrobora ou invalida a presença de Deus. Acho que até agora, a ciência apenas explicou fenómenos que eram erradamente atribuidos a Deus ou a deuses. Como qualquer bom cientista faz, não se deve extrapolar com base em tão poucas e tão descabidas provas.
    Não vejo porquê não acreditar numa entidade inteligente. Não será descabido.

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  15. bocas:

    Mostra-me um estudo que prove a inexistência de sereias e dragões no nosso planeta, e eu mostro-te um estudo que prova a que a consciência, tanto quanto se sabe, emerge de um suporte material.

    Sei que nenhum de nós vai apresentar nada, mas garanto-te que o meu trabaçho seria bem mais fácil que o teu...

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  16. Só mais uma palavra em relação à "crença" na ciência. É engraçado como se discute a crença num Deus, mas a ciência (ou tecnologia, que como disseram e muito bem, nada mais é que ciência aplicada - a ciência é descobrir as regras do jogo; a tecnologia é usar as regras em nosso favor para jogarmos melhor o jogo) torna-se num dado adquirido. E portanto a "crença" na ciência é sempre descartada, porque a tecnologia uma vez implantada passa a ser algo tão natural como o que já existia.

    Veja-se bem, ainda hoje se discute se um senhor que foi crucificado há dois mil anos é ou não um ser sobre-natural e se influencia activamente o mundo e as vidas dos que cá andam.

    No entanto, coisas tão "transcendentais" (no sentido de serem pouco ou nada óbvias) como a mecânica quântica, que tanto foram discutidas há cinquenta anos, hoje nem sequer são questionadas. Porquê, porque estão nos nossos computadores, telemóveis ou máquinas fotográficas. Hoje em dia, lêem-se bits nos discos rígidos usando electrões que atravessam, literalmente, paredes. Mas ninguém crê na mecânica quântica, ninguém deposita de forma consciente as suas esperanças, expectativas e (in)seguranças na ciência e na sua aplicação. Porquê? Porque se torna num dado adquirido, comprovado e experimentado.

    Ninguém reza ao santo padroeiro dos engenheiros quando passa sobre a ponte 25 de Abril, ou quando vai de avião a Porto Galinhas, ninguém duvida de que ao depositar o dinheiro no Multibanco, ele vai aparecer na conta. Mas garanto que diariamente têm mais influência essas "crenças inconscientes" na ciência" - porque no fundo, só os eremitas é que não as têm - do que as crenças religiosas e afins.

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  17. Este post é excelente... bem explicado e concordo com quase todo ele. Mas mesmo assim, e não no aspecto superficial e pragmático da ciência e das suas aplicações. É, a meu ver, a nível da filosofia das ciências que a questão do acredito ou não, a questão da fé na ciencia realmente ganha importancia. E o termo Fé e crença é bem aplicado na questão cientifica.

    cumpz.

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