terça-feira, fevereiro 20, 2007

Censura?

Finalmente consegui discordar do Helder Sanches, em vez de andar à cata de desculpas para comentar um texto dele. No «YouTube censura Ateísmo» (1) ele conta como a YouTube baniu o ateu Nick Gisbourne (2) por ter lá colocado um vídeo sobre a violência no Corão. A YouTube afirmou mais tarde que era por questões de copyright, por causa da música que acompanhava as citações do Corão, mas concordo que deve ter sido por causa do conteúdo anti-religioso. Não concordo é que seja censura.

A YouTube não um serviço público. Não é claro como vão fazer dinheiro com aquilo, mas é um negócio, e o facto é que os computadores são deles, são eles que pagam o tráfego de dados, e ninguém que põe lá vídeos lhes paga seja o que for. À partida, parece-me razoável que eles detenham o controlo do conteúdo que hospedam e transmitem gratuitamente.

Por exemplo, ninguém chama censura à proibição de vídeos pornográficos no YouTube. Nem sequer é pudor, e certamente não é por falta de popularidade. É apenas porque esse nicho de mercado não lhes interessa, e permitir esse conteúdo pode impedir que se estabeleçam com o público que eles querem. E se há uma coisa que uma empresa deve poder decidir é o mercado que serve.

É discutível se banir este vídeo foi uma boa decisão. É indiscutível que não serviu de nada; há tanta gente que o continua a pôr lá o vídeo que nunca vai desaparecer de vez. Basta pesquisar islamic teachings youtube no Google (o dono da YouTube, curiosamente). Mas censura não é. A YouTube não está a impedir Nick Gisbourne de se exprimir. A empresa apenas tentou (sem sucesso) evitar pagar para o ajudar a fazê-lo, e nisso está no seu direito.

1- Helder Sanches, 19-2-07, no Penso, logo sou ateu e no Diário Ateista
2- http://www.gisburne.com/

30 comentários:

  1. Ludwig,

    Também me apetece gritar "Aleluia, meu irmão"! ;) Já era tempo de discordarmos.

    Contudo, acho que não discordamos no essencial. O vídeo terá sido mesmo tirado do ar pelo conteúdo da mensagem; tu acreditas em motivos comerciais e de mercado, eu fico-me pelas motivações ideológicas.

    Um abraço.

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  2. Ludwing

    "À partida, parece-me razoável que eles detenham o controlo do conteúdo que hospedam e transmitem gratuitamente."

    Então como é? O conteúdo não são só 0000 e 1111........ Controloar significa poder sobre, como se pode ter poder sobre 0000 e 1111, se eles não são de niguem, como tu já afirmaste.

    Pedro viriato

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  3. Helder,

    Por ideologia, foi concerteza. Não sei se foi pela ideologia de alguém da YouTube; o mais provável foi pelo que eles pensam que será a ideologia da sua audiência alvo.

    Eu só queria dizer que não é censura.

    Pedro,

    Pelo conteúdo não me referia á informação em abstracto (aos 0s e 1s), que evidentemente a YouTube não controla (vem lá escrito a bold nos terms of use).

    Referia-me à infraestrutura física. Aos discos, às ligações, à conta da electricidade e do tráfego gerado.

    Uma coisa é nem eu nem tu sermos donos de "2+2=4". Outra bem diferente é tu seres obrigado a pintar cartazes com "2+2=4" só porque eu quero transmitir isso para toda a gente.

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  4. Na na... Tu referiste explicitamente o "conteúdo".

    Pedro viriato

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  5. Sim. Duas vezes: uma no post, uma no comentário anterior.

    Penso é que estás a confundir o conteúdo do disco na YouTube (ou do meu disco, ou do teu), com a informação abstrata que as discográficas chamam conteúdo.

    O conteúdo do teu disco é o conteúdo do teu disco, e sobre isso tens todo o controlo. Não tens é legitimidade de proibir que no meu disco guarde as mesmas sequências de números que no teu.

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  6. Estás errado.

    Duas sequências idênticas podem ser coisas diferentes, por exemplo num disco desfragmentado e noutro não que não o está. Aí, como é?!



    Pedro Viriato

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  7. Boa pergunta. Eu diria que, por definição, duas sequências idênticas não podem ser coisas diferentes. Se forem diferentes, não serão idênticas.

    Mas penso que a dificuldade maior é não perceber onde queres ir com isto. Afinal, qual é a dúvida?

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  8. Duas sequências idênticas podem ser coisas diferentes e vice-versa (caso ficheiro fragmentado).
    A tua definição de sequências idênticas é pobre (muito limitada), pois não contempla o que acabei de dizer...

    Respondendo a "Afinal, qual é a dúvida?"

    Não é dúvida: o que digo acima invalida o que disseste em

    "Não tens é legitimidade de proibir que no meu disco guarde as mesmas sequências de números que no teu."

    Arrastando os raciocínios anteriores...

    Pedro Viriato

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  9. Cada vez percebo menos do que tu dizes... talvez seja da hora :)

    O que eu digo é:

    Não faz sentido que alguem seja dono de um número ou de sequências de números. Por isso é disparate falar de propriedade intelectual de conteudo digital em abstracto. Por exemplo, alguém ser dono de todas as sequências que codificam uma musica, sejam quais forem e onde estejam.

    Mas faz todo o sentido ser dono de um objecto físico como um computador ou um disco rígido. E se os tipos da YouTube não querem por os PCs deles ao serviço de alguém a quem não devem nada, estão no seu direito.

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  10. De facto nem eu te entendo...
    É da hora... É da hora.

    A frase não está correcta:

    "detenham o controlo do conteúdo"

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  11. Do dicionário online:

    http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx

    conteúdo
    do Lat. contenutu
    s. m.,
    o que está contido em alguma coisa;

    controlo
    do Fr. contrôle
    s. m.,
    vigilância superior;
    orientação fiscalizadora;


    Permite-me então que corrija "detenham controlo do conteúdo que hospedam" para "exerçam orientação fiscalizadora e/ou vigilância superior sobre o que está contido nos seus servidores"

    Melhor?

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  12. Ludwig,

    Se uma mensagem é impedida de ser difundida, independentemente dos motivos, está a ser alvo de censura. Talvez aches que a censura só pode ser exercida por órgãos de poder. Eu acho que não.

    Custa-me a acreditar que a preocupação com as preferências do seu público alvo estejam por detrás desta decisão. Pela minha parte, teriam muito que apagar: nazismo, execuções, acidentes, guerra e golos contra o Benfica. E considero-me um gajo mainstream que utiliza o YouTube com regularidade.

    Espero estar enganado mas a atitude que a sociedade norte-americana tem com os ateus ainda lhes vai trazer muitos amargos de boca (aos ateus americanos).

    Estou a preparar um artigo para breve sobre essa matéria.

    Um abraço.

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  13. Custou mas esta melhor...
    Mas lonje do óptimo! E tu sabe-lo.
    Desculpa o ser lacónico, gosto pouco de escrever.

    Pedro Viriato

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  14. Helder,

    «Se uma mensagem é impedida de ser difundida, independentemente dos motivos, está a ser alvo de censura.»

    Estou de acordo. Os motivos não têm nada com a censura.

    Mas a palavra chave aqui é «impedir». Não foi o que a YouTube fez.

    Por exemplo, neste blog qualquer pessoa pode comentar. Mas não é censura se eu apagar alguns comentários. Já apaguei um uma vez, que era uma parvoice racista qualquer que não tinha nada a ver com o post que comentava. Não é censura porque não impede essa pessoa de dizer as parvoices racistas que quiser, nem eu tenho obrigação de ajudar a divulgá-las.

    O que a YouTube fez não foi impedir, foi recusar-se a divulgar. E isso não é censura.

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  15. Sim, certamente que é censura o que o youtube fez ao n permitir a afixação do video, mas para a sociedade funcionar terá sempre que haver censura.
    Mesmo cada um de nós individualmente, tb censura opiniões que n coincidem com a nossa. O problema está em decidir até que ponto a censura será aceitável e a partir de que ponto começa a ser opressiva.

    Em relação às sequencias de bytes, foi referida uma questão interessante, que não sei se já alguma vez abordaste num post anterior:

    A mm sequencia de bytes pode ter significados completamente diferentes, de acordo com o programa que a interpreta. Eu por exemplo posso pegar num ficheiro MP3 e criar um programa que gere uma imagem a partir desses mm bytes. Será q essa imagem tb teria copyright?

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  16. Ludwig:

    Concordo com o teu ponto de vista: não é censura (no sentido mais estrito), e os gestores do youtube estão no seu direito.

    Mas os consumidores também estão no direito de achar lamentável a política seguida pelo youtube e criticá-la abertamente.
    Quanto a mim o mais importante no artigo do Helder era mesmo denunciar esta situação, criticando a atitude dos gestores.
    Estou de acordo com o artigo, e a google desce assim na minha consideração. Lamento, pois até tendia a simpatizar com essa empresa.

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  17. Fulano,

    Esse problema da descodificaçãod e um ficheiro ser completamente arbitrária é uma das coisas que eu tenho repetido várias vezes (senilidade precoce, talvez... :)

    Clica na tag copyright

    João,

    Eu também acho lamentável esta decisão da YouTube. Mas acho também lamentável que se chame censura a tudo e mais alguma coisa.

    Censura é reprimir, impedir, punir a expressão. Mas o direito de dizer o que se quiser não é o direito de ser ouvido ou que os outros o divulguem.

    Se eu escrevo uma carta para um jornal e eles não publicam, não é censura nenhuma. Não têm obrigação do fazer. Isto por muito lamentável que seja que os jornais não publiquem o que eu escrevo :)

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  18. Ludwig:

    Portanto parece que estamos de acordo em tudo tirando na leitura que fazemos do artigo. Para mim pareceu-me que o essencial do artigo era denunciar a situação. Mesmo que não concorde com o uso da palavra, acho que ninguém foi enganado por ela, todos entenderam o contexto em que estava a ser usada, e certamente acho que não é essa a questão central do artigo.

    A questão central do artigo é a denúncia. O youtube está no seu direito, mas enquanto consumidor (quando vou lá e vejo a publicidade) prefiro sentir que os gestores desse espaço não interferem grandemente com aquilo que é lá colocado.
    Muitos consumidores valorizam mais esse serviço se sentirem que os gestores não interferem, e quando clamam "censura!" não estão necessariamente a dizer que os gestores não estão no seu direito, mas sim a lamentar que o serviço prestado não seja um em que existe pouca interferência dos gestores.

    Além disso, tu podes "censurar" uma atitude sem qualquer imposição. Neste caso censura quer dizer que consideras que o acto é errado, do teu ponto de vista. Este sentido para a palavra censura também existe, e esse possível uso torna mais compreensível o uso que é dado nesta situação.

    Por outro lado, uma vez que a administração abdica de uma política de não-interferência, fazendo valer o seu direito de não divulgar mensagens que não concorda, os consumidores também podem considerar que uma atitude coerente seria louvável: como poderia tal empresa desresponsabilizar-se por mensagens nazis que estivessem alojadas nos seus servidores? (por exemplo). Se não existisse igual esforço para as suprimir, poder-se-ia dizer que estão objectivamente a colaborar com a divulgação de mensagens nazis. E sabendo que a gestão tem sempre uma capacidade limitada para lidar com a informação que é lá colocada, e que mesmo que tentem evitar videos nazis, etc... mesmo assim eles continuariam a surgir nos servidores (como suponho que acontece), os consumidores podem perguntar: «então não deviam estar a dedicar mais esforço a evitar conteúdo nazi do que conteúdo ateísta?». Os consumidores podem entender que a youtube está no seu direito ao ter esta atitude, mas mesmo assim achar revoltante que sejam estes os critérios usados.

    Posto isto, o youtube está mesmo cheio de videos que fazem a promoção do ateísmo. Espero bem que esta polémica seja pouco mais que um caso isolado.
    Se eles fizerem "valer os seus direitos" e começarem a impedir a colocação de videos ateístas em geral, começo a fazer os meus esforços para evitar o youtube.

    Por isso é importante assistir ao desfecho desta polémica.

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  19. João,

    Se censura quer dizer reprovação, então não é só a YouTube que censura, mas nós que a censuramos. Ateus censuram a YouTube seria um título igualmente aceitável. Mas não foi isso que me pareceu.

    Da mesma forma que defendo que a liberdade de religião inclui a liberdade de não ter religião, também defendo que a liberdade de expressão incluid a liberdade de não exprimir algo do qual se discorda.

    Se eu fosse a YouTube teria agido de forma diferente. Mas isso é irrelevante. A YouTube, ou seja quem for, tem nestas condições tanto direito de banir o video ateu como o ateu tem o direito de divulgar o video. E ambos estes direitos são liberdade de expressão: a liberdade de exprimir ou não exprimir o que se quiser, sem proibições ou obrigações.

    Criticamos, com razão, a injustiça na assimetria com que alguns religiosos aplicam a liberdade religiosa -- sim quando os favorece, não quando estão contra. Gostava que os ateus não fizessem o mesmo.

    O que a YouTube fez não é nem censura nem um atentado à liberdade de expressão. É o exercício dessa liberdade, e como tal deve ser respeitado mesmo (especialmente!) por quem dele discorda.

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  20. Ludwig:

    Repara que tu estás a insistir num ponto em relação ao qual não discordamos: que eles estão no seu direito.

    Mas repara que nós também estamos no direito de achar essa atitude errada. Discordo contigo quando começas a falar de "respeito": ninguém está a pensar em pôr bombas nos servidores da youtube, ou de os impedir coercivamente de proceder como querem.

    Aquilo que te referes como "não respeitar" é discordar da decisão deles? É reagir a ela enquanto consumidor dos seus serviços?
    Se é isso, então discordo da tua posição.
    Acho que os comsumidores dos serviços da youtube não estão a desrespeitar ninguém por terem uma atitude crítica em relação às decisões dos gestores desse serviço.

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  21. A atitude critica não é desrespeito, concordo.

    Mas censurar, no sentido que penso que o Helder tinha em mente, quer dizer violar a liberdade de expressão. O que a YouTube fez foi exercer a sua liberdade de expressão sem violar a liberdade de expressão de ninguém.

    É errado chamar a isto censura, e parece-me também ser falta de respeito pela liberdade de expressão dos tipos da YouTube.

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  22. Caro Ludwig,

    É claro que a YouTube, enquanto empresa privada, pode escolher os seus conteúdos conforme muito bem lhe apetecer desde que não viole as leis federais dos Estados Unidos.

    No entanto, esse direito não a exclui de entidade censurante no caso em análise. Ou seja, o facto de a YouTube optar por negar determinados conteúdos, embora no seu direito, não deixa de estar, de facto, a censurar os mesmos. Seja por razões de mercado, ideológicas ou de simples birra.

    A tua definição de censura é, provavelmente, menos aberta que a minha.

    Um abraço.

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  23. Ludwing,


    Estás a fazer uma grande confusão.

    Presumo que o que tu queres dizer é que se uma entidade impede uma outra de exibir “algo” sobre o qual tinha controlo, então temos censura.

    Se o que eu presumo está correcto, neste caso concordo.

    Se temos uma entidade que opta por banir algo, não procedendo à sua divulgação, então não temos censura.

    Discordo completamente,

    No primeiro caso, depende das circunstâncias, temos censura que com maior probabilidade pode atentar contra a liberdade de expressão, neste caso, não tendo esse direito mas tendo o poder.

    No segundo, estão na posse desse direito bem como do poder para.

    Mas em qualquer dos casos temos censura, numa poderá não haver legitimidade do censor no outro há.

    Mas será sempre censura, legitimada ou não, não percebo qual é a tua fobia relativamente a esta palavra.

    Recorro a estas definições:

    Censura:

    “exame a que são submetidos trabalhos de cunho artístico ou informativo, ger. com base em critérios de carácter moral ou político, para decidir sobre a conveniência de serem ou não disponíveis para apresentação ou exibição ao público em geral”

    No caso do YouTube temos o carácter político em jogo

    Politicas:

    “série de medidas para a obtenção de um fim”


    Mário Miguel

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  24. Caros Helder e Miguel,

    Penso que estamos de acordo que há varios sentidos para a palavra censura, que uns se aplicam e outros não.

    A questão em aberto é se a discussão se deve à interpretação que eu dei ao título do Helder ou se se deve a uma opinião diferente acerca do que a YouTube fez.

    Para testar estas alternativas proponho uma experiência conceptual:

    Se eu enviar para as cartas ao editor do Publico um texto com citações do corão para mostrar como o Islão é violento, e eles me respondem que não vão publicar isso porque não consideram apropriado, concordam com o título «O Público censura o ateismo»?

    Se concordam, então a nossa divergência é apenas na forma mais ou menos estreita de usar a palavra "censura".

    Se não concordam com esse título, então penso que há um problema mais fundamental. Porque top que a YouTube fez foi a mesma coisa: exercer o seu direito de decidir o que vai publicar. Tal como o jornal. Não foi impedir coisa nenhuma, foi negar-se a usar os seur recursos na divulgação de uma mensagem que considera não ser apropriada.

    Eu acho que "censura" é uma palavra excelente para apontar violações à liberdade de expressão. Se reconhecem que a YouTube exerceu legitimamente a sua liberdade de expressão, custa-me ver esta palavra adulterada desta forma.

    Se acham que há diferença entre a recusa do jornal e da YouTube, fico ainda mais preocupado, porque parece-me haver aí uma certa injustiça.

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  25. «Se acham que há diferença entre a recusa do jornal e da YouTube, fico ainda mais preocupado, porque parece-me haver aí uma certa injustiça.»

    Pode não existir.

    Imaginemos que o Público se chamava "Jornal do leitor", e era totalmente constituído por cartas que os leitores mandavam ao jornal.

    Imaginemos que este jornal esclarecia que se dava ao direito de apenas publicar as cartas que quisesse, mas que uma das coisas que tornava esse jornal popular era a sensação que a direcção pouco ou nada intervinha nas cartas publicadas.
    Ou seja: que os compradores do jornal tivessem a sensação que quase não havia censura, e que quando existia era para não divulgar mensagens nazis, etc...

    Se um dia o director começasse a censurar cartas de pessoas que defendessem políticas de esquerda, suponho que seria natural que as pessoas dissessem "jornal do leitor censura cartas de esquerda". Não porque o jornal não estivesse no seu direito: claramente estava.
    Mas porque os leitores pensavam que estavam a aceder a um serviço em que o poder de censura não era exercido tendo em base esse tipo de critérios (se as cartas revelam preferências ideológicas de esquerda ou direita - creio que a xenofobia é mesmo um caso aparte).

    Assim sendo, sabendo que a direcção está legitimamente a censurar cartas que revelem uma determinada orientação partidária ou ideológica, é legítimo que quem considera que o serviço piora devido ao facto desse poder legítimo ser exercido, o denuncie.


    (Mas eu também não usaria a expressão "censura" - entendo que a conotação associada à violação da liberdade de expressão é muito forte - apenas considero que é legítimo usá-la (não é injusto distinguir os dois casos que apresentaste), e que no essencial o artigo do Helder denuncia um episódio que convém acompanhar, sem nunca negar que a youtube está no seu direito em fazer o que fez)

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  26. João,

    Se também não usarias a expressão "censura", estamos de acordo :)

    O teu cenário falha num detalhe importante: a YouTube não está a censurar videos com conteudo ateu. Baniu um utilizador ateu.

    E o ponto principal parece ser, citando o Helder, «Se uma mensagem é impedida de ser difundida, independentemente dos motivos, está a ser alvo de censura.»

    Não me parece que a YouTube tenha impedido, ou sequer tentado impedir, a difusão do ateísmo. Recusou-se apenas de difundir as mensagens de um ateu em particular, não afectando sequer a possibilidade desse ateu de as difundir pelos seus meios.

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  27. Sim, nesse ponto estamos de acordo, como escrevi logo no primeiro comentário que fiz sobre este artigo:

    «Portanto parece que estamos de acordo em tudo tirando na leitura que fazemos do artigo. Para mim pareceu-me que o essencial do artigo era denunciar a situação. Mesmo que não concorde com o uso da palavra, acho que ninguém foi enganado por ela, [...]»


    Escreves que: «O teu cenário falha num detalhe importante: a YouTube não está a censurar videos com conteudo ateu. Baniu um utilizador ateu.»

    Então suponho que penses, como eu, que se a youtube tivesse claramente uma política de evitar filmes ateus nos seus servidores, não seria descabido usar a palavra "censura" para denunciar essa situação (mesmo que, como eu, não usasses tal palavra para o fazer), mesmo estando eles no seu direito.


    Não foi isto que se passou, mas esta situação deve ser acompanhada por causa do risco que isso aconteça. Se a comunidade ateísta se mostrar indignada com este episódio (enquanto consumidores desse serviço), quem presta o serviço vai levar isso em consideração quando define as políticas, e vai ser desencorajado de adoptar uma política que evite videos com uma mensagem ateísta. É um desencorajamento legítimo relacionado com as nossas escolhas enquanto consumidores.

    Através de denúncias como as do Helder, os consumidores ateus (e não só) do youtube mostram que estão atentos, e mostram que preferem esse serviço quando a gestão opta por intervir menos na escolha dos videos que aloja (conteúdo pornográfico, nazi, etc... à parte - aí acredito que existem muito que preferem uma intervenção da gestão. Por muito que antipatize com o nazismo, não é o meu caso).

    De resto, como já tinha escrito:

    «Posto isto, o youtube está mesmo cheio de videos que fazem a promoção do ateísmo. Espero bem que esta polémica seja pouco mais que um caso isolado.»

    Para fazer desta situação um caso isolado, importa mostrar que enquanto consumidores estamos vigilantes. Foi isso que o Helder fez.
    Se fosse eu a denunciar não usaria a palavra "censura", mas o uso desta palavra não me parece injustificável. Nem um desrespeito.

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  28. Ludwing,

    Acho que estás a pôr a cabeça no cepo.

    A censura pode ou não ser legítima

    Um exemplo simplicíssimo:
    Eu censuro-me. Gostaria de dizer, F*%$#”e Ludwing, estás errado! Mas não o digo, desta forma, censuro-me porque, obviamente, acho que não é correcto a forma em causa. É o meu critério, que não vai contra a minha liberdade de expressão, pois isso é o que eu sinto, tão pouco a situação me é desagradável (o me ter cesurado), logo constato na primeira pessoa que pode haver censura, legítima, sem haver o resto que tu consideras nefasto, mais simples que isto acho que não pode haver.


    Nota:

    “O teu cenário falha num detalhe importante: a YouTube não está a censurar videos com conteudo ateu. Baniu um utilizador ateu.”

    O “YouTube” baniu o tipo e simultaneamente retirou de lá o vídeo; o vídeo esteve visível, e depois deixou de o estar; o que to disseste “parece” escamotear este facto. Baniu um utilizador e simultaneamente retirou o vídeo… Censura.

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  29. Miguel,

    Já concordámos aqui todos que censura tem vários sentidos, todos legítimos. O que escreves são mais exemplos do mesmo. Nada a discordar.

    O problema é que o título e o texto do Helder dava uma ideia de censura no seu sentido mais forte de violação de liberdade de expressão. O Helder até o esclareceu:

    «Se uma mensagem é impedida de ser difundida, independentemente dos motivos, está a ser alvo de censura.»

    E este sentido parece-me que não é apropriado ao que se passou.

    Se em vez de banir um utilizador ateu a YouTube ameaçar despedir todos os empregados que exprimirem opiniões ateias seja onde for, em blogs privados, nos jornais, por conta própria, vamos ter que escrever "A YouTube censura o ateismo, mas agora a sério» :)

    A minha crítica não é às mil e uma formas de usar esta palavra, mas ao que me parece ser um exagero no uso específico que o Helder lhe deu neste caso. O que pode não ser bom para quem defende o ateísmo (Lobo! Lobo! Lobo!... ;)

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  30. Ludwing,

    ""A YouTube censura o ateismo, mas agora a sério» :)"

    O que estás a fazer é atribuir uma escala à censura, quantificando-a

    Neste último caso dizes que é censura
    num grau mais elevado, mais nada.

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