sábado, janeiro 13, 2007

«Sabendo que já bate um coração»

Este slogan é a treta mais emblemática da treta de campanha para a treta do referendo. Já foi criticado pelos partidários do sim por ser falacioso e apelar à emoção. Mas o outro de acabar com a humilhação também apela à emoção. E nenhum deles é falacioso. A treta vai mais fundo.

Mais uma vez: uma falácia é um erro de raciocínio, uma inferência inválida. É falácia de apelo à emoção dizer que o aborto é imoral porque tenho pena do feto, ou dizer que a lei é injusta porque me revolta ver mulheres condenadas por abortar. São falácias por inferir a verdade de uma proposição a partir de um estado emocional. Mas estes slogans não são inferências, e sem inferência não há falácia.

O da humilhação é factualmente questionável, pois provavelmente continuará a haver humilhação a partir das 11 semanas, mas não é completamente disparatado. Como apelo à emoção cumpre o seu papel: foca a atenção na mulher, e desvia-a do acto do aborto, que é exactamente o que se quer para motivar o voto pelo sim.

O do coração é uma parvoíce. Se fosse «Abortar por opção quando bate um coração?» ainda se safava. Mas começam logo por estragar a métrica com o «Sabendo que». Fica uma frase horrível que se cola à língua e não quer sair. E quem é que sabe que? A mãe. A desgraçada que está desesperada, que pode nem saber que bate um coração, que mesmo que saiba é natural que numa situação dessas não esteja a pensar nisso. Em vez de focarem o feto, desviam a atenção para a mãe e até exigem dela que saiba que.

É este o estado da democracia em Portugal. Perante um problema ético e social que afecta dezenas de milhares de vidas por ano vendem ideologias como se fossem sabonetes. E estes nem arranjam alguém com a competência de um lava mais branco para fazer os slogans.

Para não me acusarem de só dizer mal e não propor soluções, que tal esta. Em vez de legalizar o aborto até às 10 semanas, legalizemo-lo a partir dos 18 anos. Nessa idade já se vê melhor quem é que deve ser abortado.

4 comentários:

  1. Ludwig,

    A campanha para o referendo vai ser de intoxicação e não de esclarecimento. De qualquer forma, custa-me a acreditar que os portugueses não estejam já suficientemente esclarecidos sobre o assunto.
    E isto ainda nem começou a sério...

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  2. Um post muito mal finalizado, com uma atitude que o proprio Ludwig criticou

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  3. Hmmm... se calhar saiu mal, mas achei desecessário mencionar que não estava a sério a sugerir matar alguém.

    Pareceu-me foi que esta ideia do «aborto» a partir dos 18 chamava atenção para o que se passa com o aborto em qualquer idade. Não é o coração ou os impostos ou a humilhação. É decidir quem vive e quem morre. O problema aqui é a morte deliberada, intencional, e por conveniencia. O resto são desculpas da treta.

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  4. Ludwig, eu sei bem que não precisas da minha validação para nada, mas não posso deixar de dizer que, ao contrário do que pensa o Luís (e que eu respeito, obviamente), considero o final do teu post brilhante, e lapidar. Poderia justificar aqui esta minha opinião, mas a tua frase dispensa bem justificações.

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