segunda-feira, janeiro 08, 2007

Carros, astrologia, e muita treta.

No Diário de Notícias de ontem veio noticiado que:

«As companhias de seguros estão a estudar a possibilidade de os signos dos condutores determinarem a forma como conduzem.»

E citam Lee Romanov, que fez um estudo em 100,000 condutores:

«"Fiquei absolutamente chocado. Agora, para mim, é muito menos significativo um condutor mudar de código postal do que pertencer a alguns signos do Zodíaco", diz Romanov.»

Em primeiro lugar podemos ver a excelência jornalística desta reportagem na tradução de «shocked» para «chocado». Se forem à pagina onde a autora publicita o livro até podem ver uma foto que deixa poucas dúvidas quanto ao seu sexo (aqui). Será que o jornalista nem foi ver o site? Também pode ser culpa do editor, mas certamente não é culpa do editor afirmar que as companhias de seguros estão por trás disto. A autora é dona de um site (InsuranceHotline.com) que dá informações acerca de preços de seguros, e não de uma seguradora, e este “estudo” faz parte do livro que está a vender, intitulado «Car Carma».

Também podemos julgar a magnitude do efeito pela afirmação reveladora: «menos significativo um condutor mudar de código postal do que pertencer a alguns signos do Zodíaco». Para quem pensava que mudar de código postal era uma das principais causas de acidente rodoviário isto deve ser preocupante. Os restantes não terão razão para alarme.

Como escreve o Luis Grave Rodrigues (no Random Precision), é muito improvável que os 100,000 condutores se distribuam de forma exactamente igual pelos 12 signos. Seria importante aqui saber qual a significância estatística destes resultados. Isto, é claro, se fosse coisa para levar a sério. Segundo consta (nos comentários a esta notícia), isto é tudo uma brincadeira da autora para vender o livro:

«The references to astrology are meant to tickle the fancy and Lee had a great time writing this book, purely for your enjoyment.»

Resumindo, a dona de um site sobre preços de seguros escreve um livro que, a gozar, liga a astrologia aos acidentes, e um jornal de grande tiragem em Portugal relata que as companhias de seguros andam a estudar astrologia.

Exactamente:

Que treta!

4 comentários:

  1. Romanov não só é senhora, como não é nada de deitar fora...

    Já agora, parece que a mesma notícia foi dada pelo telejornal, numa das televisões 8não foi de certeza a TVI, que nunca é ligada lá em casa).

    Só mostra que os critérios jornalísticos da imprensa escrita andam alinhados com os das televisões.

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  2. Devem ter só uma pessoa a ver coisas na net (investigação), e depois passa aos outros (troca de informação) que relatam sem pensar (reportagem).

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  3. Sobre os códigos postais:

    Who do I run into but Lee Romanov? Now, you'll know Lee Romanov. She is the very talented young woman who operates the Web site that you can access to have insurance rates with all the auto insurers in Ontario. You can get them in one fell swoop. I think you pay a modest, $8 fee. It's www.insurancehotline.com. You go on that and put in your data -- your name, your age, the make of car you've got, any convictions -- and the computer will just whirl around a little bit and you'll have every insurance company in Ontario and their rate.

    One of the things that she discovered is that the rates vary 100%, 200% from one to the other. The other thing that Lee Romanov's discovered, if you go to her Web site -- www.insurancehotline.com -- you'll find that one letter change in a postal code can result in a 100% change in a premium. Pretty wacky, isn't it, Mr Baird?


    (http://www.ontla.on.ca/hansard/house_debates/38_parl/session1/L076B.htm)

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  4. Cara Laudindinha,

    Que o código postal esteja correlacionado com os prémios do seguro é compreensível. A probabilidade de ter o carro riscado ou vandalizado é maior nums bairros que noutros. E se os preços são livremente determinados pelas empresas estas podem cobrar mais a quem julgam ter mais poder de compra. Mas isto não sugere que a probabilidade de ter um acidente rodoviário seja afectada pelo código postal.

    Outro problema é a implicação de uma relação causal. Nem o código postal nem o signo são causas de acidente, ao contrário do que sugere a notícia.

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