terça-feira, outubro 24, 2006

Pessoa ou não: um exemplo.

O Pedro, o Paulo e o José sofrem um acidente de automóvel. O Pedro e o Paulo estão em coma irreversível. O José vai perder toda a memória, e vai estar em coma durante 9 meses, mas será capaz de aprender a falar, a pensar, e eventualmente de levar uma vida normal.

Os pais do Pedro consideram que mesmo em coma irreversível ele é uma pessoa, e vão cuidar dele até que morra naturalmente, leve o tempo que levar. Os pais do Paulo acham que o seu filho já não é pessoa, pois nunca poderá ter consciência de si como tal, faça-se o que se fizer. Assim decidem desligar o ventilador e terminar a vida do Paulo.

Em ambos os casos penso que não podemos impor aos pais a nossa definição de pessoa, pois qualquer critério que seguíssemos iria ser tão subjectivo como os destes pais, e para o Pedro e Paulo não faz qualquer diferença.

O caso do José é diferente. Com tempo e cuidados, ele será capaz de se pronunciar acerca do seu estatuto como pessoa. Qualquer que seja a nossa opinião ou a dos pais, não a podemos impor ao José desligando-lhe a máquina.

Todos vocês podem formar opinião acerca de quando me tornei pessoa. Uns dirão que foi quando apareceram os primeiros neurónios, outros quando me tornei capaz de sobreviver fora do útero, outros dirão que foi só meses ou anos depois de ter nascido, quando finalmente desenvolvi capacidades mentais acima das dos outros animais que não consideramos pessoas. Se o problema é apenas rotular um ser de pessoa ou não pessoa, escolham o critério que mais vos agrade. É indiferente, e sempre subjectivo.

Mas precisamente por ser subjectivo, desde que haja a possibilidade de eu vir a discordar do vosso critério não é legítimo que eu sofra as consequências das vossas opiniões. Só quando essa possibilidade desaparecer de vez é que terão o direito de me tratar como não sendo pessoa.

6 comentários:

  1. Começo a pensar que é urgente emigrar. Este país não está mentalmente são.

    ResponderEliminar
  2. Caro António, não se contenha. Explique-se!

    ResponderEliminar
  3. Pois, António. Mas emigrar para onde? O problema parece ser global... :)

    ResponderEliminar
  4. Na verdade é curioso o comentário do António quando seguimos o link para o perfil dele, e vemos que tem um blog intitulado Razão Crítica: Critica, Razão, e Diálogo.

    O comentário dele talvez seja uma crítica, mas razões não apresenta, e também não parece muito estimulador de diálogo. Espero que tenha sido apenas por falta de tempo...

    ResponderEliminar
  5. Caro Ludwig

    "Crítica" significa "análise", "reflexão".

    "Razão" significa o método de análise, o caminho da reflexão.

    "Diálogo" é o caminho da filosofia, a minha conversa pessoal com o teclado.

    Penso que ficou esclarecido.

    ResponderEliminar
  6. Ah bom, se o António conversa com o teclado, então estou esclarecido. Não diga mais.

    ResponderEliminar

Se quiser filtrar algum ou alguns comentadores consulte este post.